
Sob A Tutela da Palavra
Sob A Tutela da Palavra
Série Transformando A Fé numa Realidade na Terra – Parte 4
Tiago 1.19-21
Introdução
Li recentemente que aproximadamente 3 mil livros novos são publicados a cada dia. O número de mensagens de texto via celular enviadas por dia é maior do que o número da população mundial. O conhecimento técnico que dobrava a cada cinco anos desde 1983 agora dobra a cada 72 horas. Os empregos mais bem pagos hoje nem sequer existiam poucos anos atrás.
Nós somos inundados com informação e a habilidade de comunicação é maior do que nunca, graças à tecnologia da internet. Existe uma explosão de anúncios online, negócios online, compras online, namoros online, comércio online e pesquisa online. Ninguém imaginava isso há 25 anos, mas estou feliz que isso aconteceu, uma vez que podemos realizar ministérios incríveis por meio da internet. Muitas igrejas transmitem ao vivo os cultos, pregações e louvores em vários países diferentes. Essa é uma ferramenta excelente de grande potencial para a proclamação do Evangelho.
Outro dia, eu estava lendo sobre a venda desenfreada de dispositivos móveis como celular e tablet que já ultrapassou o número de computadores. Nadamos num oceano de informação, e aí jaz grande parte do problema.
Nossa geração já prefere ouvir porções de áudio e assistir a vídeos curtos. Programas de televisão já não passam a mesma cena por mais de 10 segundos. Vivemos em um mundo bombardeado por mensagens curtas, e podemos ser tocados pelo que vemos e ouvimos—tocados, porém não transformados. Existe uma grande diferença entre informação e transformação. 3 mil novos livros publicados todos os dias podem oferecer informação, encorajá-lo, sensibilizá-lo e até enganá-lo, mas apenas um livro pode transformar você.
Ao escrever para o seu filho na fé, Timóteo, Paulo disse:
e que, desde a infância, sabes as sagradas letras, que podem tornar-te sábio para a salvação pela fé em Cristo Jesus.
Outras fontes de informação podem entretê-lo, mas apenas a Bíblia pode despertá-lo da vida para a morte. Paulo continuou e disse a Timóteo que essas Escrituras eram inspiradas ou “sopradas” por Deus, e úteis em 4 aspectos diferentes:
- Úteis para ensino/doutrina;
- Úteis para reprovação;
- Úteis para correção; e
- Úteis para educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra (2 Timóteo 3.16–17).
Portanto:
- A Bíblia é útil para o ensino—ou seja, ela nos diz em que devemos crer;
- Ela também é boa para repreensão—ela nos informa o que estamos fazendo errado;
- Além disso, a Bíblia serve para correção—isto é, ela nos fala o que fazemos de correto;
- E a Bíblia também é útil para educação na justiça—ou seja, ela nos diz como fazer o que é correto.
Gosto da forma como Warren Wiersbe, ex-pastor da Igreja Moody, esboçou esse texto. Ele escreveu:
- A Bíblia é útil para doutrina—nos diz o que é certo;
- A Bíblia é útil para repreensão—nos diz o que não é certo;
- A Bíblia é útil para correção—nos diz como consertar as coisas;
- E a Bíblia é útil para treinamento na justiça—nos diz como permanecer corretos.
Por esse motivo, Paulo disse a Timóteo: Exercita-te, pessoalmente, na piedade. O verbo para exercita-te é gymnazo, que indica um exercício trabalhoso. Em outras palavras, vá para a Palavra e sue em seu exercício ao estudá-la. Isso suscita uma imagem do crente completamente diferente para muitos que preferem receber uma mensagem rápida de Deus, algo curto. O crente em geral tem a ideia de que devocional é abrir a Bíblia e dizer: “Certo, Senhor, dá-me um verso hoje, algo que realmente chame minha atenção, que fale comigo, algo óbvio; e tenho só 5 minutos.”
A Bíblia, amigo, não está interessada em pressa. Ela não funciona como mensagens instantâneas; a intenção da Bíblia é transformá-lo pela renovação da sua mente, ou seja, literalmente modificar a forma como você pensa (Romanos 12.1–2).
E, caso queiramos crescer na fé, como Tiago ardentemente deseja, existem várias coisas que precisamos fazer corretamente. E, até o momento, não é surpresa alguma que Tiago já tenha tratado de algumas questões importantes. Até agora em Tiago capítulo 1, temos sido desafiados a como reagir às provações difíceis. Em seguida, Tiago nos desafiou quanto à maneira como reagimos às tentações do dia-a-dia. Agora, começando no verso 19, ele nos desafiará em relação a como reagir à verdade divina.
Ele inicia o verso 19 dizendo: Sabeis estas coisas, meus amados irmãos. Podemos entender isso como mais um dos imperativos de Tiago. Ele diz: “Vocês precisam saber disso; precisam entender isso corretamente.”
Geralmente, passamos os olhos por cima desse texto de maneira superficial, da mesma forma como olhamos para a tela do computador quando baixamos um aplicativo, ou preenchemos um formulário e temos que clicar no botão “concordo” para concordar com todas as regras antes de finalizar a instalação ou inscrição. Passamos os olhos por cima até a última página, segurando o botão do mouse e lendo basicamente nada.
Tiago diz: “Isto é algo que você realmente precisa saber. Não olhe de forma superficial. Você precisará disso para enfrentar as provações da vida.”
E Tiago fornece 5 imperativos para o crente quando ele se aproxima da Palavra de Deus a fim de ser instruído pela verdade.
- O primeiro imperativo é: “Venha com os ouvidos abertos.”
Tiago escreve no verso 19: Todo homem, pois, seja pronto para ouvir.
Agora, a maioria dos leitores pega esse texto, tira de seu contexto e o transforma numa declaração genérica, ou um provérbio sábio vindo de Deus; ele é, mas está inserido em um contexto.
Não vá para sua casa e diga ao seu cônjuge: “Veja só o verso-chave que eu tenho para a sua vida. Na verdade, esse é o verso-chave do nosso casamento. Você tem que ser pronto para ouvir; é Tiago 1, verso 19.”
Existem outros versos mais apropriados que você pode usar com seu marido. Esse não é o foco de Tiago aqui. Ele escreve esse verso dentro do contexto do relacionamento com a Palavra de Deus. No verso 18, Tiago nos informou que fomos trazidos à vida pela palavra da verdade. Em seguida, no verso 21, ele nos diz que devemos receber a Palavra com humildade e depois, no verso 22, para sermos não somente ouvintes, mas praticantes da Palavra.
Apesar de “ser pronto para ouvir” servir como verdade em todas as áreas da vida, Tiago está falando sobre ouvir primariamente à Palavra de Deus com zelo e prontidão.
Você tem enfrentado provações, tentações perigosas. A questão é: a quem você está dando ouvidos? Talvez o motivo por que você não passa nos testes ou vence as tentações seja que coloca a Palavra de Deus em último lugar. Ouvimos todas as outras pessoas e coisas; por fim, talvez, ouvimos a instrução da verdade divina. Precisamos entender que Tiago ordena a ouvirmos o que a Palavra de Deus tem a dizer.
É consenso entre os estudiosos que a epístola de Tiago foi escrita cedo na história da igreja primitiva, o que significa que os escritos do Novo Testamento ainda não tinham se completado. As cartas de Paulo, Pedro, Tiago e João estavam circulando nas igrejas, onde deveriam ser lidas. Os cultos das igrejas primitivas incluíam leitura pública das Escrituras e instrução verbal na fé. Então, quando Tiago diz que o crente deve ser pronto para ouvir, ele se refere à atitude da pessoa ao ouvir a verdade da Palavra; pronto para ouvir significa o mesmo que “ávido para ouvir.” E para a nossa geração, talvez diferente de todas as demais gerações, ouvir se tornou uma arte do passado.
Um autor escreveu:
A saturação da mídia em nossa sociedade tem um efeito destruidor: ela acaba com a nossa sensibilidade. Somos bombardeados por estímulos visuais que condicionam e diminuem nossa habilidade de ouvir... a comunidade ocidental hoje [tem se tornado] uma cultura guiada pelos olhos ao invés de pelos ouvidos. Essa tendência de depender dos olhos tem crescido e nossa habilidade de ouvir se atrofiado por causa do desuso.
Isso é verdade, mas o problema ao qual Tiago se refere aqui é tão velho quanto o coração do homem e é presente em toda geração. Você se lembra de como Jesus constantemente perguntava aos fariseus e líderes religiosos: “Vocês não ouviram dizer?” É claro que a resposta óbvia era “sim,” eles tinham ouvido e tinham lido, mas não davam ouvidos ao que ouviam e liam. O problema deles não era que não ouviam; o problema deles era que não davam ouvidos. Hebreus 5, verso 11, chama isso de “tardios para ouvir.”
E nós temos o mesmo problema. Entramos no avião e ouvimos os comissários de bordo dando instruções sobre como colocar o cinto de segurança, como colocar a máscara de oxigênio se a cabine perder a pressurização, como usar seu assento como uma boia flutuante; podemos até consultar o cartão com essas instruções que ficam nos bolsos das poltronas à frente. Mas a verdade é que os comissários de bordo são as pessoas mais ignoradas no avião. Na maioria das vezes, eu não presto atenção ao que dizem e até sinto pena deles. Seu trabalho é se colocar de pé diante de pessoas que não estão nem sequer prestando atenção ao que dizem. E eu recebo para isso também!
Mas espere até o avião passar por turbulência! Todo mundo começa a agarrar um cartão com as instruções de emergência. De repente, precisamos saber; ficamos desesperados para aprender—“Por favor, repita para nós o que vocês disseram antes!”
Tiago diz: “Como você deseja crescer ou sobreviver, se não dá ouvidos às instruções? Existe muita turbulência ainda à sua frente, mais do que consegue imaginar; um voo tranquilo pela vida é um mito.”
E aqui está a questão: se você deseja crescer, não dê ouvidos a qualquer um. Primeiramente e acima de tudo, dê ouvidos ao seu tutor, a Palavra de Deus, que é capaz de equipar sua vida.
- Tiago continua dizendo que devemos nos aproximar da Palavra de Deus com os ouvidos abertos e, em segundo lugar, com a boca fechada.
Note o verso 19:
Sabeis estas coisas, meus amados irmãos. Todo homem, pois, seja pronto para ouvir, tardio para falar...
Os adjetivos pronto e tardio não descrevem nossas ações, mas nossa atitude interior. E, nesse contexto, ser tardio para falar se refere a ser devagar para retrucar. Essa é a ideia.
Sinceramente, você pode até não gostar do que a Palavra de Deus diz; pode querer argumentar com ela, talvez não em voz alta, mas com seu coração e mente. Não se esqueça de que, no contexto da igreja primitiva no século primeiro, os cultos eram informais. Com bastante frequência, os ouvintes falavam em voz alta e até debatiam com o pregador.
Parece que foi exatamente isso o que aconteceu a Paulo em Éfeso quando ele disse a Timóteo:
Alexandre, o latoeiro, causou-me muitos males; o Senhor lhe dará a paga segundo as suas obras. Tu, guarda-te também dele, porque resistiu fortemente às nossas palavras.
Ou seja, Paulo estava pregando a verdade e Alexandre se levantou e se opôs fortemente a ele.
Apesar de não fazer isso enquanto seu pastor prega, você pode ter essa atitude em seu coração. Pode estar sentado exteriormente, mas interiormente se levanta e argumenta contra a Palavra de Deus sendo pregada. A Palavra de Deus é inconveniente, desconfortável, exigente, e nós somos tentados a retrucá-la.
Uma das marcas de imaturidade é a falta de habilidade de se calar quando pensamos ter algo a dizer, não é verdade? Não importa qual a sua idade, esse desejo de falar começa logo cedo na vida.
Não sei se eles ainda fazem isso, mas lembro que, quando eu era pequeno na escola, os professores anotavam no boletim não só as notas, mas as atitudes e comportamentos dos alunos. Havia uma coluna para as notas e outra para comportamento e atitudes. Meus pais se importavam mais com essa última coluna. Eu poderia até ter um 7,5 em alguma matéria, mas se o professor escrevesse que eu falava muito em sala, atrapalhava a aula ou tinha dificuldades em permanecer quieto... daí, o problema em casa seria sério para mim. O 7,5 não era o problema. Meus pais até ignoravam isso e iam direto à coluna do comportamento. Uma das marcas da imaturidade é a falta de habilidade em se calar para ouvir.
E o contexto em Tiago é que a maturidade espiritual se revela ou é obtida quando nos calamos e não retrucamos a Palavra.
Jó passou por uma transformação enorme. Ele era a epítome da maturidade. Daí, ele foi lançado no tipo de turbulência que jamais vimos antes—todos os 7 filhos morreram, sua fonte de renda foi destruída e sua saúde substituída por feridas abertas e agonizantes. Seus amigos chegaram até ele e começaram a falar. E Jó começou a falar também, primariamente exigindo uma explicação da parte de Deus. E Deus, finalmente, vem e começa a falar. Deus, porém, não revela as respostas para os problemas de Jó, mas revela a sua soberania e propósitos e Jó reage dizendo:
Sou indigno; que te responderia eu? Ponho a mão na minha boca.
Quando você estiver em meio às provações e tentações, a marca de sua maturidade será sua habilidade de não retrucar ou argumentar com o seu tutor, mas descansar e saber que ele é Deus. Tiago escreve no verso 19: “Abra seus ouvidos e feche sua boca.”
- E a terceira maneira de aproveitar ao máximo a instrução da Palavra de Deus é mantendo um espírito ensinável.
Podemos notar uma digressão. Começa com a atitude de não ouvir; depois avança para a argumentação; e, finalmente, a ira explode e acaba com o processo de maturação. O contexto sugere uma ira contra Deus por causa das exigências da sua Palavra.
E o problema é que, para começar, já não estávamos ouvindo; daí, lemos uma ou duas coisas ali, interpretamos errado ou não gostamos e começamos a argumentar. Mas a vida não ficou nem um pouco melhor—as provações simplesmente continuam chegando e as tentações nunca diminuíram. Finalmente, explodimos: “Senhor, o que você está pensando?”
Tiago continua e nos diz no verso 20: a ira do homem não produz a justiça de Deus. Podemos entender Tiago da seguinte forma: “Ira contra Deus não produz uma vida justa diante de Deus; na verdade, ela acaba com o processo.” Ou seja, quando você fica irado com Deus por causa das turbulências da vida, acaba indo na direção errada. Quando não consegue o que deseja ou pensa merecer e fica irado, você não realiza nada; na verdade, apenas piora as coisas. Tiago diz: “Ira contra Deus não ajuda em nada!”
Deixe-me perguntar: seu filho alguma vez já ficou de mal humor? É hora de dormir e ele não comeu o lanche que queria. Então, começa a lutar. Você fica impressionado com o temperamento dele? Porventura, observa aquilo e pensa: “Nossa, que emoção profunda, que fervor enorme, que maneira clara que exprimir um desejo! Certo, certo, você pode comer seu chocolate antes de dormir; sua atitude foi muito poderosa!”? Longe disso! Minha mãe me dizia: “Se não parar de chorar, vou dar a você um verdadeiro motivo para chorar.” Onde os pais aprendem isso? E por que nós repetimos essas coisas? A verdade é que o seu mau temperamento não produz nada, a não ser mais problemas do que antes.
Então, aqui está a progressão na direção errada: você se recusa a ouvir; retruca o tutor divino inspirado por Deus; por fim, fica irado com Deus por não ajudá-lo. Dessa maneira, você não cumpre a justiça de Deus; ou seja, não amadurece, mas permanece imaturo. E a imaturidade consciente ainda trará mais problema para você, como veremos em instantes.
Não se esqueça de que Tiago escreve para crentes. Lembre-se: eles eram crentes judeus cujas vidas foram radicalmente modificadas. Eles estavam na diáspora (verso 1) ou dispersos, espalhados, sem herança, distantes e removidos de sua terra. E tudo o que Tiago disse até agora não foi fácil de dizer, e foi ainda mais difícil para os crentes ouvirem.
Acho até humorado da parte de Tiago escrever no verso 19: meus amados irmãos. É como se ele dissesse: “Eu amo muito vocês; então, não fiquem bravos comigo quando eu disser essa verdade dura.” Como Paulo, que perguntou aos crentes gálatas: Tornei-me, porventura, vosso inimigo, por vos dizer a verdade? (Gálatas 4.16). Não fira o mensageiro! E aqui está o foco de Tiago: um espírito de ira nunca é um espírito ensinável.
- Aproximamo-nos do tutor da verdade divina inspirada com ouvidos abertos, boca fechada, com um espírito ensinável. Em quarto lugar, chegamos à instrução da Palavra de Deus com mãos limpas.
Tiago escreve no verso 21:
Portanto, despojando-vos de toda impureza e acúmulo de maldade, acolhei, com mansidão, a palavra em vós implantada, a qual é poderosa para salvar a vossa alma.
O apóstolo Paulo usa a mesma ideia de retirar o pecado como se fosse retirar uma roupa suja e podre. Ele escreveu em Efésios 4, versos 22 a 24:
no sentido de que, quanto ao trato passado, vos despojeis do velho homem, que se corrompe segundo as concupiscências do engano, e vos renoveis no espírito do vosso entendimento, e vos revistais do novo homem, criado segundo Deus, em justiça e retidão procedentes da verdade.
Novamente, em Colossenses 3, versos 8 e 9:
Agora, porém, despojai-vos, igualmente, de tudo isto: ira, indignação, maldade, maledicência, linguagem obscena do vosso falar. Não mintais uns aos outros, uma vez que vos despistes do velho homem com os seus feitos
É impossível não notar como o tutor divino é específico; a Bíblia dá nome aos pecados, não é mesmo? E ela não se refere a pecado como “más escolhas,” “fraquezas humanas” ou ainda “decisões infelizes.” Os escritores da verdade divina chamam o pecado por aquilo que ele é.
A palavra escolhida por Tiago traduzida aqui como impureza é o termo grego rhyparia, utilizado tanto para se referir a roupa suja como para corrupção moral. Retire de sua vida todas as coisas e atitudes moralmente corruptas.
Achei ainda interessante que a raiz dessa palavra foi usada pelos gregos para se referir à cera do ouvido, o que se encaixa perfeitamente com o contexto de Tiago 1. Em outras palavras, o pecado de nossas vidas que nos recusamos a retirar é como cera no ouvido que impede a palavra da verdade de alcançar nossos corações. E isso é outra forma de dizer que, quando você confessa e abandona seus pecados, limpa seus ouvidos espirituais para que consiga ouvir a Palavra de Deus.
A expressão no verso 21 traduzida como todo acúmulo de maldade significa “lidar com abundância, excesso, preponderância.” Não significa que você se livrará de tudo e alcançará a perfeição; essa é uma batalha para o resto da vida. Mas significa que você está disposto a lidar com os excessos restantes.
Tiago, portanto, diz que maturidade espiritual significa que você fica cada vez mais intolerante tanto aos pecados externos da carne, como aos pecados internos escondidos no coração. E uma das marcas da maturidade no Senhor é que você fica cada vez mais incomodado com pecados que antes nunca o incomodaram tanto.
Li sobre um incidente na Índia, talvez bastante semelhante ao contexto do século primeiro. Um cético ouvia um evangelista pregando sobre o peso do pecado quando o interrompeu e perguntou sarcasticamente: “Não sinto nenhum peso do pecado. Diga-me, qual o peso do pecado? 3 quilos? 4 quilos?” O evangelista respondeu com outra pergunta: “Diga-me uma coisa, se você pusesse 40 quilos sobre um cadáver, será que ele sentiria o peso?” O homem respondeu: “Bom... não, ele está morto.” O evangelista disse: “Exatamente, o espírito que não sente nenhum peso do pecado também está morto.”
Tiago tinha todo o motivo do mundo para acreditar que esses crentes judeus dispersos estavam lutando com sua propensão ao pecado. Como crentes, eles poderiam sentir até mesmo o peso do pecado mais leve.
Essa é uma ordem, um imperativo, um ponto de exclamação. Devemos nos despojar de toda impureza e maldade ao nos aproximar do tutor divino da verdade a fim de crescermos.
Um autor comentou:
Existem certas coisas que Deus decidiu não fazer por nós. É nosso dever exercitar cada centímetro de nossa vontade e determinação e, quando assim fizermos, encontrar o poder auxiliador do Espírito Santo para nos despojar de toda impureza e maldade de nossas vidas.
Deus exige que limpemos a casa.
O expositor grego Spiros Zodhiates contou a história de um crente que participava de reuniões de oração toda semana na sua pequena igreja. E toda vez ele confessava as mesmas coisas e terminava dizendo: “Oh Senhor, as teias de aranha novamente se colocaram entre mim e ti. Por favor, retire-as da minha vida.” Finalmente, um crente mais velho orou logo em seguida: “Senhor, por favor mate a aranha da vida desse homem.”
Isso não é uma má ideia; lidar com o pecado, limpar a casa. Como o homem que veio até mim algumas semanas atrás e falou sobre as mudanças radicais que estava realizando ao limpar sua vida, não para que fosse salvo, mas para que fosse um filho maduro. E que libertação! Que liberdade!
O caminho correto é a coisa mais difícil, especialmente em nossa geração.
Em minhas pesquisas, aprendi que mais de sete milhões de pessoas consultam o dicionário online todo ano. O interessante é que uma das dez palavras mais consultadas é “integridade.” Um professor de universidade comentou sobre essa pesquisa interessante e disse: “Talvez integridade esteja se tornando tão escassa que sua definição se tornou desconhecida.”
Um crente puro é um grande benefício para a igreja hoje e para o mundo ao nosso redor que busca desesperadamente uma demonstração viva de integridade. Como nunca antes, nosso mundo necessita de alguém com o caráter que Tiago descreve aqui, alguém com mãos puras, com um fervor pela pureza, alguém que viva a integridade.
Existe ainda outra forma de ouvir a Palavra de Deus e amadurecer.
- Aproximamo-nos da Palavra de Deus com ouvidos abertos, com a boca fechada, com um espírito ensinável, com mãos puras e, finalmente, com um coração humilde.
Tiago escreve no verso 21:
Portanto, despojando-vos de toda impureza e acúmulo de maldade, acolhei, com mansidão, a palavra em vós implantada, a qual é poderosa para salvar a vossa alma.
Receber a Palavra implantada—como receber algo que já está implantado dentro de você? A semente já foi semeada, a viva Palavra da verdade. Como uma semente ela foi enterrada no solo do seu coração no momento da conversão. Então, você a recebe; isso significa que você dá boas vindas à semente da Palavra, nutre-a, rega o solo e cuida dela. E Tiago diz que ela irá resgatar a sua alma.
Nesse contexto, Tiago não se refere a ser resgatado para ir ao céu, mas ser resgatado no decorrer da vida. Ou seja, você deseja ser resgatado de uma vida repleta de miséria, culpa, tristezas e demais consequências por causa da sua desobediência e rebelião? Então receba a instrução, a tutela da Palavra de Deus; pendure à porta de entrada de sua vida uma placa de “bem-vindo” e receba em seu coração a palavra da verdade.
E o que é necessário para colocarmos essa placa de “bem-vindo”? Segundo Tiago aqui, precisamos de uma atitude humilde. A pessoa com essa atitude diz: “Preciso aprender mais, ouvir mais; falar menos e ouvir melhor. Senhor, estou aqui—sincero, pronto e arrependido. Estou aberto para ser tratado pela tua verdade—a instrução e tutela da tua Palavra. Estou pronto para crescer um pouco mais. Estou pronto para que o Espírito de Deus treine meus ouvidos a como ouvir a tua Palavra.”
Um naturalista estava caminhando com seu amigo numa calçada movimentada no centro de Nova Iorque, nos Estados Unidos. De repente, esse naturalista parou, virou-se para o seu amigo e perguntou: “Você está ouvindo esse grilo cantando?” Seu amigo riu e disse: “Você está brincando, não é? Como você consegue ouvir o canto de um grilo com todo esse barulho de carro ao redor?” O naturalista pensou por alguns segundos e respondeu: “Bom, acho que você consegue ouvir as coisas para as quais o seu ouvido está treinado.” Eles continuaram caminhando e ele disse ao seu amigo: “Vou provar algo para você.” Ele então pegou uma moeda e a deixou cair na calçada. No mesmo instante, todas as pessoas ao redor deles se viraram e olharam.
O que você foi treinado a ouvir?
Tiago deseja que estejamos prontos para ouvir a Palavra, nosso instrutor e tutor divino, em ação de graças e louvor. Assim, quando estivermos perturbados, poderemos cavar a Palavra em busca de conforto, encorajamento e fortalecimento; em tempos de confusão, buscar por sabedoria e direcionamento; em tempos de tentação, buscar os padrões de Deus para pureza, justiça e poder para resistir às tentações. A Palavra de Deus se torna a fonte de livramento das tentações e provações; ela se torna o nosso amigo mais chegado, não somente porque nos preserva e protege dessas coisas, mas principalmente porque nos conduz a uma comunhão amorosa e pessoal com o nosso Senhor.
Meu amigo, a questão não é: será que devemos ler este livro? Mas como viver e crescer sem este livro? Simplesmente, é impossível! Assim, como o jovem Samuel, que estava começando a amadurecer, aprendemos a dizer: “Fala, Senhor, pois o teu servo, o teu escravo, te ouve.” Estou disposto a seguir a receita do Dr. Tiago em meu relacionamento com as Escrituras:
- meu coração já está preparado em humildade;
- minhas mãos puras com perdão;
- meu espírito ensinável;
- minha boca fechada; e
- meus ouvidos abertos.
Estou pronto para mais uma sessão com meu tutor divino inspirado que me ensinará a eterna verdade de Deus.
Este manuscrito pertence a Stephen Davey, pregado no ano de 2010
© Copyright 2010 Stephen Davey
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