
Seguindo As Pisadas
Seguindo As Pisadas
Série Perseverança! – Parte 2
Tiago 5.10–11
Introdução
Eu já li várias vezes no passado que o crente está em pelo menos uma de três situações: ou vindo de uma tempestade, ou passando por uma tempestade, ou indo em direção a uma tempestade.
Talvez você seja um crente antigo o suficiente para saber que o Cristianismo não exclui as tempestades da vida; às vezes, o Cristianismo atiça as tempestades. A integridade não o isenta das tribulações, mas garante tribulações. Por esse motivo, Deus deseja desenvolver em nós tanto a perseverança como a santidade. Por quê? Porque ele sabe que santidade não funciona sem perseverança. Para dizer de outra forma, pureza requer perseverança porque, se você não se importar com a pureza, então não se importará com a perseverança. Se você não se importa com pureza, não precisa de perseverança.
Se você decidiu viver totalmente para Jesus Cristo, então já descobriu que o Cristianismo não acalma as tempestades, mas produz tempestades. Você está ou vivendo em uma, ou vindo de uma, ou indo em direção a uma tempestade.
Acho interessante que grande parte do desenvolvimento da perseverança na mente e no coração do crente ao se encontrar com uma tempestade é lembrar-se de outros que já sofreram em meio a tempestades, deixando-lhes pisadas a serem seguidas.
O maior de todos os exemplos é Jesus Cristo, sobre quem Pedro escreveu em sua primeira carta, no capítulo 2, verso 21:
Porquanto para isto mesmo fostes chamados, pois que também Cristo sofreu em vosso lugar, deixando-vos exemplo para seguirdes os seus passos,
A palavra traduzida como exemplo se refere ao costume de ensinar uma criança como escrever nos tempos antigos. Um autor que escreveu cerca de 75 anos após Pedro usou o mesmo termo para falar sobre o livro de exercícios de uma criança, no qual letras do alfabeto eram escritas para a criança copiar ou seguir o pontilhado.
Então, Pedro escreve: Cristo nos deixou um alfabeto de obediência e nós cobrimos o pontilhado das letras com nossas vidas. Pedro ainda adiciona no final do verso 21: para seguirdes os seus passos. A palavra passos se refere a pegadas: preste atenção no caminho que Cristo andou; siga os passos e ande na direção que ele andou.
A propósito, Jesus Cristo pode ser o exemplo perfeito para o crente, mas ele não é o único. Na verdade, a maioria dos crentes diz: “Jamais conseguirei andar como Cristo.” Mas andar nas pisadas de Cristo é como uma criança de 5 anos de idade tentando seguir as pegadas de seu irmão mais velho na areia da praia. Talvez por esse motivo a graça de Deus nos fornece mais exemplos a seguir:
- O apóstolo Paulo escreveu aos coríntios: sejais meus imitadores (1 Coríntios 4.16);
- O autor de Hebreus escreve: Lembrai-vos dos vossos guias, os quais vos pregaram a palavra de Deus; e, considerando atentamente o fim da sua vida, imitai a fé que tiveram (Hebreus 13.7);
- Os tessalonicenses são desafiados a seguir os exemplos de Timóteo e Silvano, conforme Paulo escreveu em 2 Tessalonicenses 3, verso 7: pois vós mesmos estais cientes do modo por que vos convém imitar-nos, visto que nunca nos portamos desordenadamente entre vós (2 Tessalonicenses 3.7). Mais à frente no verso 9 ele escreve: mas por termos em vista oferecer-vos exemplo em nós mesmos, para nos imitardes.
Ande nas pisadas deles; eles estão indo na direção certa!
O apóstolo sugere, com efeito: “Dê uma olhada nas pisadas de outros crentes, pois eles podem muito bem estar liderando pelo exemplo no quesito da santidade, como também servindo como demonstração de perseverança.
Minha esposa e eu fomos a um centro de convenções um tempo atrás para uma sessão em particular. Entrei no salão de festas que estava completamente vazio. Mas, antes que eu me virasse para sair, ouvi algumas vozes; dei uma olhada num canto e lá estava Joni Earickson Tada sentada em sua cadeira de rodas louvando a Deus juntamente com duas pessoas de pé.
A maioria de nós conhece o testemunho de Joni Earickson Tada. Ela sofreu um acidente aos 17 anos de idade ao dar um mergulho e acabou quebrando o pescoço. Agora ela tem mais de 60 anos e é conhecida por milhões de pessoas pelo seu compromisso e fé em Jesus Cristo, e talvez mais ainda por sua perseverança. Um de seus objetivos é fornecer cadeiras de rodas a 18 milhões de pessoas ao redor do mundo que, além da cadeira, também precisam do Evangelho de Jesus Cristo.
Possivelmente, o apóstolo Tiago escreveu para pessoas desencorajadas e desamparadas. Suas primeiras palavras lidaram com sofrimento e provações; agora, suas últimas palavras retornam ao assunto. Baseado no que já temos aprendido nessa carta, esses crentes judeus haviam sido expulsos de seus lares, tinham perdido tudo, tiveram que começar tudo da estaca zero; muitos deles haviam sofrido maus tratos e calúnias ou talvez coisas piores. Eles até tinham começado a atacar uns aos outros.
Começando no verso 7 do capítulo 5, Tiago escreve o alfabeto da fé e perseverança. Em nosso estudo anterior, Tiago nos levou a uma fazenda, onde aprendemos lições de paciência com um agricultor que ara o solo, planta suas sementes, sua e daí espera.
Em seguida, Tiago nos mostra as pegadas deixadas para trás por aqueles que trilharam o caminho da obediência. Essas são as pisadas da fé; e Tiago dirá: “Sigam essas pisadas!”
- As Pegadas dos Profetas.
Note o verso 10:
Irmãos, tomai por modelo no sofrimento e na paciência os profetas, os quais falaram em nome do Senhor.
Você deseja desenvolver perseverança? Aqui está outro exemplo, não de um fazendeiro desconhecido sem nome, mas dos profetas de Deus que proclamaram a mensagem de Deus. Observe atentamente as pisadas dos profetas.
Os ouvintes de Tiago, judeus crentes espalhados, lembraram-se imediatamente dos profetas do passado e especialmente dos temas marcantes sobre sofrimento e perseverança, não porque os profetas tenham desobedecido a Deus, mas porque tinham obedecido.
Os ouvintes de Tiago puderam se lembrar do testemunho pessoal de Oséias, sua vergonha e sacrifício ao repetidamente trazer de volta para casa sua esposa infiel. Isso serviu de exemplo do amor incondicional de Deus em cumprir suas alianças com Israel.
Esses judeus crentes puderam se recordar do profeta Jeremias que destemidamente pregou a verdade à sua nação e, como resultado, enfrentou constante perseguição. Em uma das ocasiões, ele foi lançado dentro de um poço abandonado onde permaneceu na lama e teria morrido, se não fosse pela misericórdia das pessoas.
Ezequiel viu sua esposa morrer repentinamente; mesmo assim, obedeceu à ordem de Deus de continuar servindo.
Esses judeus crentes teriam pensado em Miquéias, que foi ridicularizado e difamado por sua mensagem da verdade; do profeta Zacarias que foi assassinado por seu testemunho fiel; de Amós e Ageu que também sofreram por sua perseverança obediente no chamado de Deus; de Isaías que foi colocado dentro do tronco de uma árvore e serrado ao meio pelo seu próprio rei.
Os profetas não foram enviados por Deus para fazer amigos e influenciar pessoas comprometendo parte de sua mensagem. O sucesso nunca lhes foi garantido. Na verdade, geralmente Deus lhes dizia que deveriam esperar o oposto. Deus mandou Jeremias se levantar e pregar, mas disse que ninguém o ouviria (Jeremias 7.27). Fico me perguntando quantos pregadores hoje continuariam pregando mesmo depois de Deus lhes ter dito que ninguém os ouviria.
Tiago sabia que seus ouvintes se identificariam com o fato óbvio de que nenhum dos profetas foi tratado bem ou respeitado pela sua geração. Jesus Cristo, ao condenar a nação de Israel, descreve Jerusalém como uma cidade que matou os profetas e apedrejou os mensageiros enviados por Deus (Mateus 23.31).
Mas Tiago também sabia que estaria encorajando os crentes ao serem estimulados a seguir o exemplo de perseverança dos profetas porque ele sabia, e todos os crentes sabiam, que os profetas não eram perfeitos. Eles não haviam sido escolhidos ou comissionados pelo fato de nunca terem tido dificuldade com seu chamado, terem duvidado do plano de Deus ou se desesperado em meio às circunstâncias.
Penso no profeta João Batista, o último dos profetas a ser enviado a Jerusalém antes de Cristo. João está numa cela de uma prisão por ter dito a Herodes que ele é um adúltero. Os líderes religiosos não estavam defendendo João. Ele os havia convocado ao arrependimento e ousado dizer que ser um filho de Abraão não era suficiente. Num dado momento, João tem certas dúvidas sobre Cristo e se pergunta se seguiu o Messias errado. Jesus não estava cumprindo as profecias que João e os demais esperavam: os cativos não estavam sendo libertos, o governo romano não estava sendo despedaçado e, na realidade, o profeta estava preso e morreria nas mãos de Roma.
Então, João envia um grupo de discípulos para encontrar Jesus e lhe perguntar o que, para mim, é uma das perguntas mais carregadas de emoção, desespero e verdade da Bíblia. A pergunta que João fez a Jesus foi: “É você realmente o que estava para vir, ou devemos esperar outro?”
Você consegue acreditar nisso? João tinha batizado Jesus, tinha visto o Espírito descer, tinha ouvido a voz do Deus Pai vinda do céu e validando a autenticidade do Deus Filho, e tinha visto Jesus realizar milagres e pregar às multidões. Mas, agora eu estou na prisão e, até onde eu sei, minha sentença é de morte.
Em sua graça, Jesus Cristo envia de volta sua resposta, e ela termina com o Senhor dizendo a João Batista por meio daqueles discípulos: E bem-aventurado é aquele que não achar em mim motivo de tropeço (Mateus 11.6). Em outras palavras, “Fique firme João, mesmo quando os fatos não fazem sentido; continue, persevere João, persevere.”
Eu já entrei na igreja onde John Wesley arriscou sua vida ao pregar a verdade nos anos de 1700. Numa certa ocasião, ele pregou com tanto fervor contra a escravidão que os seus ouvintes se enfureceram a tal ponto que causaram um motim dentro do templo e quebraram os bancos. Isso que é perseverança!
Também já entrei na catedral onde John Knox pregou com coragem contra as atrocidades do seu governo que perseguiu os crentes durante o século 16. Até o dia de hoje não existe nenhum grande monumento na Escócia por sua fidelidade. Na verdade, seu túmulo está debaixo do asfalto de um estacionamento do lado de fora da catedral. Uma das vagas no estacionamento foi pintada para identificar o local do seu sepultamento. Dentro dessa mesma catedral, encontram-se os caixões de mármore e pedra bem enfeitados da realeza e chefes de estado da Escócia. Daí, do lado de fora, debaixo do estacionamento, encontram-se esquecidos os restos mortais de um homem que perseverou até o fim, enterrado debaixo da vaga número 23. Fiquei pensando: será que John Knox se importa com isso?
Tiago está, com efeito, relembrando seus ouvintes de que os profetas não foram honrados na vida nem na morte; nenhum monumento foi construído para a glória deles. As pirâmides eram os grandes locais de descanso para os faraós, não para os profetas. E os profetas de Deus não estão nem um pouco preocupados com isso agora. E nós sabemos muito bem disso, já que chamamos os profetas de bem-aventurados e sentimos pena dos faraós.
Tiago adiciona um ponto de exclamação na primeira parte do verso 11, onde escreve: Eis que temos por felizes os que perseveraram firmes. Em outras palavras, sabemos em nossos corações que os que sofreram por causa da justiça são de fato felizes. Eles são abençoados por Deus e até hoje são considerados pelo povo de Deus como abençoados. Isso é verdade. Existe algo que admiramos e nos inspira nos que perseveram em Deus.
Basicamente Tiago diz a esses judeus crentes exilados e espalhados: “Até hoje consideramos os profetas da antiguidade que foram perseguidos, maltratados e desencorajados como indivíduos realmente abençoados.” Mas a pergunta que Tiago realmente faz a eles e a nós é esta: queremos apenas enxergar os profetas como bem-aventurados ou queremos ser como um deles? Quais pisadas você está seguindo? Será que é em direção à obediência marcada pela perseverança?
Gosto do testemunho de John Knox, John Wesley e do reformador Martinho Lutero que disseram o seguinte quando estavam sendo testados na fé: “Firme eu permaneço; não posso fazer outra coisa.”
Você pode dizer: “Acho muito interessante isso, mas você não sabe como são as coisas na minha universidade. Meu professor de filosofia humilha qualquer um que fala em Cristianismo.”
Ou então: “Isso foi muito bom para John Wesley e John Knox, mas não para mim no meu escritório com um ateu de um lado e um adepto da Nova Era do outro, além do meu chefe que pensa que religião é para os tontos. Não sou qualificado para isso.”
Tiago diz: “Deixe-me mostrar algumas pegadas dignas de serem seguidas. Pode não ser fácil, mas Deus será fiel, e as suas pegadas liderarão o caminho para outras pessoas seguirem.”
John Wesley fazia uma oração que podemos intitular de “Disposto a Perseverar.” Ele orava:
Senhor, conduza-me para a Tua vontade;
Coloque-me para fazer, para sofrer.
Quero ou ser usado por Ti, ou deixado de lado por Ti;
Que eu seja ou exaltado para Ti ou humilhado para Ti.
Que eu seja cheio e que eu seja vazio.
Que eu tenha tudo e não tenha nada.
Eu livremente cedo todas as minhas coisas à Tua disposição.
Tu és meu e eu sou Teu.
Amém.
Tiago diz: “Você deseja desenvolver os músculos da perseverança? Então, siga as pisadas de pessoas que oram dessa forma.” Na verdade, vou adicionar um pensamento prático para o seu crescimento espiritual: leia biografia de grandes servos de Deus. Se devemos aprender com os exemplos de outros que seguem a Cristo, então devemos não somente ler sobre a obra de Deus na vida dos profetas e apóstolos, mas também na vida de homens e mulheres que o serviram com perseverança.
Tem sido meu hábito ler pelo menos a biografia de um servo de Deus no período de um ano. Você não sabe como eu tenho sido encorajado ao ver o testemunho da graça de Deus na vida de alguém que perseverou por ele.
Um exemplo são os devocionais de Oswald Chambers. E a biografia dele também. Não foi ele quem escreveu; foi sua esposa que escreveu a partir de anotações de lições e pregações que ela fez enquanto Oswald ensinava para menos de 30 alunos numa escola próxima a Londres.
Além disso, ela fez anotações dos estudos que Oswald deu a soldados durante a Primeira Guerra Mundial numa base no Egito onde serviram como missionários. Esses estudos bíblicos eram realizados num acampamento próximo a Cairo debaixo de um calor escaldante de 55 graus. Oswald Chambers ensinava numa tenda aberta para soldados que passavam pela região. Daí, inesperadamente, pouco depois de completar 41 anos de idade, ele morreu de uma complicação no apêndice, deixando para trás sua esposa e filha de 4 anos de idade. Após a sua morte, sua esposa juntou e editou as anotações que tinha feito das pregações de Oswald e formulou um devocional. E esse devocional é o segundo livro mais vendido na história do Cristianismo, ficando atrás apenas da Bíblia.
Leia a biografia de um crente mais recente que perseverou e descobriu a verdade de que não precisa ser bem conhecido para ser bem usado por Deus. Oswald Chambers ensinava 25 alunos e soldados parados no Egito, numa tenda; e morreu depois disso. Você não precisa ser alguém visto por muitos para ser útil a Deus. E veja bem: Deus sabia muito bem que estava preparando alguém que perseverou anos num ministério obscuro para um dia influenciar milhões de pessoas ao redor do mundo e somente após a sua morte. Assim como os profetas de antigamente.
Nós, como Tiago, observamos as pegadas de servos de Deus que temos por felizes.
- Tiago adiciona mais um testemunho que vem das pegadas de um patriarca.
Note o verso 11:
...Tendes ouvido da paciência de Jó e vistes que fim o Senhor lhe deu; porque o Senhor é cheio de terna misericórdia e compassivo.
Em outras palavras, no início, não parecia nada disso. Sinceramente, parecia mais que Deus tinha desaparecido. Mas será que temos ouvido da sabedoria de Jó, da grandeza de Jó, da riqueza de Jó? Não, note que Tiago presumia que, ao falar sobre Jó, todas as pessoas pensariam na mesma coisa: Tendes ouvido da paciência de Jó.
Tiago esperava que seus ouvintes conhecessem o testemunho de Jó; ele não fornece nenhuma informação. Na verdade, esse texto é a única menção direta a Jó em todo o Novo Testamento. Por quê? Porque ele não era importante? Não, porque todo mundo já conhecia bem a história dele.
Poderíamos traduzir esse verso da seguinte forma: “Vocês já ouviram e ainda ouvem sobre a paciência de Jó.” Seu testemunho apresenta razões por que os crentes em geral deduzem que Jó seria a última pessoa no planeta a passar por tanto sofrimento:
- Ele era um homem de integridade;
- Ele era um homem de moral elevada;
- Ele era um homem de honestidade, justo.
O termo hebraico para falar de Jó como justo é yashar, que se refere a um caminho reto ou uma estrada nivelada. Em outras palavras, “Observe as pegadas de Jó; nenhuma delas se desviou do caminho; não há nada de torto na caminhada de Jó.”
Apesar de ser um dos homens mais ricos e poderosos de sua região, ele era honesto e justo. Seu aperto de mão era tão bom quanto um contrato formal escrito, assinado e carimbado. Ele não cedeu à cultura que dizia: “Se você está no topo do mundo, pode inventar as regras ou violá-las para fazer as coisas do seu jeito!” Jó não.
Quando aceleramos o filme, vemos que Deus permite que Satanás teste a fé de Jó e ele acaba perdendo tudo o que tinha. Um mensageiro chega após outro até que Jó ouve a notícia de que perdeu sua fortuna, seus negócios, seus empregados e, por último, a notícia mais devastadora de todas. O último mensageiro chega para dizer a Jó que um tornado varreu a região onde seus filhos estavam juntos jantando e todos eles morreram.
Se você ler os relatórios desses mensageiros que vão chegando e interrompendo o outro, um após outro sem intervalo algum, do jeito que a Bíblia narra o que aconteceu, o mundo de Jó foi revirado de ponta-cabeça numa questão de 39 segundos. Em 39 segundos, lemos que Jó perdeu tudo.
Ele se lançou ao chão. Um tempo depois, não sabemos quanto tempo, ele se levantou e rasgou suas vestes, um ato que significava um coração quebrantado. Depois, ele raspou sua cabeça, indicando sua humilhação. Por último, ele se prostrou no chão e adorou, e disse em Jó 1, verso 21:
Nu saí do ventre de minha mãe e nu voltarei; o SENHOR o deu e o SENHOR o tomou; bendito seja o nome do SENHOR!
Satanás volta a Deus e consegue permissão para esquentar as coisas ainda mais. Um pouco mais adiante, vemos Jó com úlceras em todo seu corpo. Quando se levantava, ele agonizava em dor; quando sentava, o desconforto era grande. Se analisarmos as aflições físicas de Jó no decorrer do livro, notamos que elas incluíam:
- coceira persistente (2.8);
- incapacidade de comer (3.24);
- medo profundo (3.25);
- insônia (7.4);
- pele endurecida que rachava e expelia pus (7.5);
- dificuldade para respirar (9.18);
- uma mancha escura no entorno de seus olhos, algo que lhe dava a aparência de demência. Na verdade, quando seus amigos chegam, eles não o reconhecem (16.16);
- perda de peso grave (19.20);
- dor interna constante (30.17).
E, a propósito, ele sai de casa e está morando agora no lixão da cidade. O capítulo 2 nos informa que ele está sentado em cinza (2.8). As cidades naquela região tinham um buraco, um lixão do lado de fora dos muros onde o lixo era levado e periodicamente incinerado com propósitos sanitários. Estar sentado em cinza significava estar sentado nesse buraco onde mendigos buscavam comida; esse era o local da cidade onde os restos eram jogados. Talvez o único lugar confortável que Jó encontrou para se sentar foi um monte de cinzas de lixo recentemente queimado. Seu corpo está quebrantado em dores e seu coração quebrantado por causa de dez túmulos que cavou.
E não há nenhuma voz do céu falando; nenhuma resposta trazida por um ser angelical, dizendo: “Jó, veja bem, Satanás está testando a sua fé em Deus. Deus permitiu que ele provasse você dessa forma; Deus não o abandonou; ele planeja abençoar você!” Nada disso! Nenhuma palavra, mas Jó reage com total paciência.
Cuidado para você não interpretar Tiago de forma errada. Tiago não escreve: “Lembre-se do silêncio de Jó.” Não. Jó exigirá uma audiência com Deus para argumentar sobre sua integridade: “Isso não deveria estar acontecendo. Onde você estava?” Contudo, no decorrer de tudo, ele perseverou em sua fé no único Deus vivo e verdadeiro.
Apesar do vale escuro, ainda é possível identificarmos as pegadas da fé. De repente, elas surgiriam de uma determinação interior desse patriarca que estava sofrendo.
- Jó disse: Porque eu sei que o meu Redentor vive e por fim se levantará sobre a terra (Jó 19.25);
- Ele cria: Mas ele sabe o meu caminho; se ele me provasse, sairia eu como o ouro (Jó 23.10).
Perseverança significa estar disposto a esperar; perseverança significa estar disposto a adorar enquanto espera; perseverança significa continuar caminhando em fé enquanto adora, enquanto espera.
Não entendemos a tribulação; não conseguimos explicá-la; sentimos que não merecemos; com certeza, não a esperávamos; e, pior de tudo, não podemos escapar. Deus deseja que desenvolvamos a perseverança enquanto passamos pelas provações.
Lembro de ler uma história em particular sobre um quadriplégico que havia desistido da vida. Ele servia como pastor, mas, de repente, sofreu um acidente que o paralisou do pescoço para baixo. Ele havia chegado num ponto em que nem sequer queria mais sair da cama; ele queria que as luzes se apagassem e o mundo terminasse. Em seu desespero, sua esposa escreveu para Joni Erickson Tada e disse: “Ele perdeu a visão do caminho; precisamos de ajuda.”
Joni ligou para ele e posteriormente escreveu sobre aquela conversa. Joni escreveu:
Eu consegui encontrar o pastor e sua esposa e liguei para eles. Sua esposa atendeu o telefone. Depois de conversar e orar com ela, pedi para falar com seu marido, o pastor. Ela bateu à porta do quarto e ele deixou que ela colocasse o telefone ao seu ouvido. Apesar de não responder, falei com ele um pouco sobre a sua deficiência. Queria sair desse assunto e comecei a compartilhar meus versos bíblicos favoritos que me sustentaram durante os tempos mais difíceis. Do outro lado do telefone, havia apenas silêncio. Eu até cantei. Ainda assim, nenhuma resposta.
Finalmente, fiz a única coisa que pude pensar que ainda não havia tentado. Perguntei se ele já tinha assistido a um filme em particular que envolvia sofrimento intenso. Ele respondeu: “Sim, já assisti a esse filme.” “Bom, pastor, você se recorda do que estava naquela carta quando ela foi encontrada?” Ele disse: “Sim. A carta dizia: ‘A esperança é algo bom e nada que é bom morre.’”
Daí, Joni lhe disse:
Pastor, neste momento, existem cerca de 10 mil quadriplégicos como eu e você nos Estados Unidos. Cada um deles estava deitado na cama hoje se perguntando se se ocuparia com a vida ou com a morte. Pastor, eu escolho me ocupar com a vida. Você quer se juntar a mim hoje?” E o pastor disse: “Sim, Joni. Eu quero.”
A última notícia que Joni Erickson Tada teve desse pastor e de sua esposa é a de que estavam ativos, compartilhando seu testemunho onde eram convidados.
O apóstolo Pedro, que amadureceu muito nessa questão da perseverança (você lembra como ele, ao invés de permanecer firme, cedeu àquela jovem serva próximo à fogueira), agora, como um idoso, escreve as seguintes palavras:
Por isso, também os que sofrem segundo a vontade de Deus encomendem a sua alma ao fiel Criador, na prática do bem.
A palavra encomendem é um termo bancário que significa depositar um tesouro a fim de guardá-lo com segurança. Quando você deposita um dinheiro no banco, existe um seguro que cobre o seu dinheiro. Pedro escreve: “Você pode depositar sua vida, sua própria alma no Criador. Ele sabe o que está fazendo; você pode confiar nele, mesmo quando as pegadas para as quais ele o guiou conduzem a um vale profundo ou às cinzas de coisas quebradas e lançadas fora.”
A propósito, essa é a mesma palavra usada pelo Senhor quando disse na cruz: Pai, nas Tuas mãos entrego o meu espírito (Lucas 23.46). Na hora do seu maior sofrimento, Jesus Cristo confiou tudo ao Pai, e nós também podemos.
Essas são as pegadas de nosso Príncipe e de seus profetas e patriarca de muito tempo atrás. Vamos seguir suas pisadas e aprender como perseverar.
Este manuscrito pertence a Stephen Davey, pregado no dia 08/05/2011
© Copyright 2011 Stephen Davey
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