
Um Pedido de Casamento à Meia-Noite
Um Pedido de Casamento à Meia-Noite
Quando Contos de Fada se Tornam Realidade—Parte 6
Rute 3.1–10
Introdução
Era Dia de Ação de Graças, vinte e nove anos atrás, quando eu pedi minha querida namorada em casamento. Já estava com a aliança no meu bolso e o plano era fazer o pedido naquele feriado. Eu estava indo para a casa dos pais dela, em outro estado, para passar o feriado com eles. Agora, para que você entenda bem a minha história, preciso falar um pouco para você a respeito do nosso contexto.
Em minha casa, havia uma regra bem definida para nós, os quatro filhos homens: não convidávamos nenhuma moça da faculdade para nossa casa, ao menos que estivéssemos noivos ou prestes a noivar. Então, no decorrer dos três anos e meio que vínhamos namorando, minha namorada nunca tinha vindo para minha casa; e ela sabia muito bem o porquê. É claro, meus pais já a tinham conhecido e gostavam demais dela. Pelo menos quanto a isso não precisaria me preocupar.
Mas eu ainda não tinha perguntado ao pai dela se poderia ou não me casar com sua filha; meu plano era pedir durante o feriadão de Ação de Graças. Então, estava já com a aliança guardada em sua caixinha especial enquanto viajamos para a casa de seus pais.
Eu acabei surpreendendo o pai dela enquanto ele trabalhava no porão; aquela foi a única hora em que consegui falar com ele sozinho. Agora, a história mais completa é que, já que eu tinha namorado sua filha antes e já tinha terminado com ela uma vez, ele estava planejando me perguntar naquele mesmo feriado quais eram minhas reais intenções com a sua filha dele. Daí eu falei primeiro e ele disse: “Sim.”
Um pouco depois naquele mesmo dia, quando eu e minha namorada estávamos sozinhos, fiz a bendita pergunta. Comecei dizendo: “Meu amor, gostaria de poder levar você para a casa dos meus pais daqui a um mês no Natal.” Daí, fiz uma pausa para esperar e ver se ela entenderia a mensagem. Logo depois, eu disse: “Isso se, é claro, eu puder apresenta-la às pessoas como a minha noiva.” Outra pausa e eu adicionei: “Ou seja, se você quiser se casar comigo.” Daí, ela balançou um pouco os pés, mexeu com as mãos e disse: “Hum, não sei.” Pois é, no filme as coisas não acontecem desse jeito!
Se a minha esposa estivesse contando essa história—e ela está proibida de contar—ela estaria dizendo a verdade. No decorrer de nosso namoro, eu geralmente fazia algo significante para expressar meu amor simplesmente para, logo depois, terminar com ela. Eu era um pé-frio tremendo. Então, quando eu fiz o pedido de casamento, ela ficou com medo de dizer “sim,” porque pensava que isso significaria o término do relacionamento poucos dias depois.
Nos cinco minutos seguintes, dei a ela todas as razões do mundo para provar que eu estava falando sério e que ela deveria se casar comigo. Finalmente, depois do que pareceu ser uma eternidade—mas foi um ou dois minutos—ela disse: “Sim.” Desde então, digo às pessoas que eu tive que convencê-la a se casar comigo.
Agora, não sei você homem que é mais ou menos da minha idade, mas eu gostaria muito de poder realizar esse evento outra vez e fazer algo de fato romântico. Gostaria demais de poder refazer e realmente ser criativo. Na época, eu não sabia o que a palavra “criativo” significava.
E a maioria dos homens tem dificuldades com a mesma coisa: como saber a hora certa para mostrar a aliança, em que contexto, e como usar as palavras certas e da forma correta na esperança de receber uma resposta positiva.
Lembro-me de um vídeo que vi uma vez de um rapaz que planejou pedir sua namorada em casamento durante o intervalo de um jogo de basquete. Ele elaborou um plano bem detalhado. De alguma forma, ele conseguiu levá-la para o centro da quadra e daí, com as câmeras de televisão focalizando as atenções neles, ele se ajoelhou—ela levou as mãos à boca em total surpresa. Ele tinha à mão um microfone e fez o pedido. A moça parou e disse algo para ele sinônimo de “não,” e saiu correndo da quadra na frente de todos em rede nacional. Bom, acho que esse pedido não deu muito certo!
Eu pesquisei “pedidos de casamento” no Google para ver que tipo de ajuda existe por aí para rapazes sobre como fazer pedido direito e como fazer errado também. Na verdade, eu acabei encontrando uma página na internet intitulada: “Como Fazer Pedidos de Casamento.” Baseado no que eu li, os rapazes, evidentemente, ainda carecem de ajuda elementar no assunto. Essa página começou alistando o que não fazer em um pedido de casamento e forneceu três ajudas:
- Primeiro, não peça sua namorada em casamento na frente dos pais dela.
- Segundo, não coloque a aliança dentro de algo que esteja na frente dela na mesa quando for comer. O artigo continua dizendo: “A última coisa que você deseja é fazer o pedido com ela sobre uma maca de hospital sendo levada para cirurgia.”
- Terceiro, e achei esta bastante interessante, não faça pedido de casamento dois dias depois de a ter conhecido.
Encontrei alguns esboços de pedidos de casamento que serviam de exemplos de como fazer o pedido errado—pobres rapazes!
Um advogado combinou com vários policiais para prender sua namorada baseado em falsas acusações. Eles fizeram o plano e levaram tudo ao pé da letra. Os policiais pararam o carro dela, fiscalizaram os faróis e lanternas e a conduziram para a delegacia da cidade; lá na delegacia ela teria o direito de fazer uma ligação. Obviamente, ela ligou para o seu namorado, que era advogado. Ele foi e entrou na cela onde estava sua namorada. Ao entrar na cela, ele disse que a única forma de ela sair dali seria se casando com ele. Isso sim é romântico!
Outro rapaz era tão tímido que, quando tirou a aliança da caixinha, não sabia o que dizer e começou a gaguejar—ele travou. Daí ele jogou a caixinha para cima da sua namorada e saiu correndo. Quando ela pegou a caixinha e viu o que havia dentro, teve que sair correndo atrás dele para dizer “sim.”
Ainda outro rapaz fingiu ter morrido. Ele organizou todo o velório e as visitas, sendo ele o suposto morto dentro do caixão. Com sua namorada chorando ao lado do caixão, ele de repente se levantou e pediu a mão dela em casamento. Depois de ela ter parado de gritar, deu um tapa nele e disse “sim.” Acho que ela precisa de ajuda!
Deparei-me também com alguns exemplos de rapazes que acertaram no pedido. Esses realmente capricharam em seus pedidos. Foram coisas fora do normal, inacreditáveis.
Um rapaz morava em um estado distante do de sua namorada. Então, enviou a ela passagens de avião. Quando ela chegou, uma limusine estava à espera dela, como planejado, e as músicas tocando na limusine eram uma coleção de todas as músicas prediletas dela. Ela foi levada a uma loja de roupa fina, onde vestidos e sapatos haviam sido pré-selecionados para ela pelo próprio gerente da loja. Ela escolheu o seu vestido preferido, vestiu-se e foi conduzida a um salão, onde recebeu um tratamento especial de três horas: massagem, pedicure, manicure, penteado e maquiagem. Depois, ela foi levada de carro até a entrada de um resort, onde uma carruagem com cavalos a aguardava. Enquanto ela passeava ao redor do lago, mais de cem velas iluminavam o caminho a um tapete vermelho, onde violinistas começaram a tocar uma música que o próprio rapaz havia composto. Enquanto ela caminhava sobre o tapete vermelho, ele apareceu na parte de cima da escadaria, ajoelhou-se e uma placa iluminada atrás dele dizia: “Quer se casar comigo?” Daí, ele se levantou e cantou um último número, acompanhado por uma orquestra de quarenta e cinco instrumentos. Quando ela disse “sim,” fogos de artifício cobriram o céu atrás deles.
Isso não foi nenhum programa de televisão—ele planejou tudo. Esse cara me irrita! Assim não é justo com o resto dos homens. Na verdade, eu não gosto de contar essas histórias porque nossas espoas começam a perguntar: “O que você estava pensando quando me pediu em casamento?”
Deixe-me contar mais uma. Gostei da ideia deste rapaz. Ele e sua namorada haviam comprado uma casa antiga na certeza de que se casariam. Eles não tinham muito dinheiro e eles mesmos fizeram muita reforma na casa. Pelo fato de terem passado tanto tempo trabalhando na casa, eles também passaram muitas horas em lojas de construção. Às vezes, quando estavam tão cansados de trabalhar, eles caminhavam pela loja, sonhando em voz alta dizendo o que queriam na casa deles.
Então, quando esse rapaz se viu pronto para pedir a moça em casamento, ele combinou com o gerente da loja de construção. Ele ligou para a sua namorada e pediu que ela se encontrasse com ele lá na loja de sempre naquela noite. Quando ela chegou, o gerente a conduziu ao setor de Casa e Jardim, onde o rapaz tinha arrumado uma mesa com velas e um jantar. Depois de a ter sentado, ele se ajoelhou e a pediu em casamento usando um jarrinho com uma planta que eles usariam depois na sua casa. Ela disse “sim.”
Gostei desse cara! Mulheres, vocês podem escolher entre limusine e fogos de artifício ou um pote de planta numa casa de material de construção. Vamos fazer uma votação. Quantas preferem a loja de construção?
Um dos pedidos de casamento mais marcantes que já ouvi em minha vida se encontra, na verdade, na Bíblia. Só que, neste caso, a moça é quem faz o pedido. Ela escolheu a forma adequada e o momento mais oportuno—na verdade, foi à meia-noite! Abra sua Bíblia no livro de Rute e veremos esse pedido sendo realizado.
O Pedido de Casamento de Rute e Boaz à Meia-Noite
Vamos começar lendo o verso 23 do capítulo 2:
Assim, passou ela à companhia das servas de Boaz, para colher, até que a sega da cevada e do trigo se acabou; e ficou com a sua sogra.
Se esteve comigo em nosso estudo anterior, você não tem dificuldade alguma em acreditar que, a essa altura, Rute e Boaz estão, definitivamente, apaixonados. Provavelmente, eles já almoçaram várias outras vezes juntos no local de trabalho, próximo aos campos de colheita. Os empregados de Boaz talvez tenham notado que ele está muito mais interessado no trabalho deles agora do que já esteve no passado.
Contudo, agora existe um problema. O tempo da colheita terminou, e Boaz e Rute se separaram, talvez se perguntando se voltariam a se ver. Rute está vivendo com sua sogra Noemi. Entretanto, simplesmente acontece que Noemi não deixará a poeira desse relacionamento baixar.
- A insistência de Noemi.
Veja Rute 3.1:
Disse-lhe Noemi, sua sogra: Minha filha, não hei de eu buscar-te um lar, para que sejas feliz?
Essa é a forma comprida de dizer: “Rute, preciso achar um marido para você!”
Naquela época, planos para casamento eram geralmente feitos entre a mãe e a filha no que era conhecido como “a câmara da mãe.” Noemi era como uma mãe para Rute e agora ela assume essa responsabilidade de encontrar um marido para Rute.
Posso até imaginar Noemi colocando Rute numa cadeira e dizendo: “Rute, vamos analisar a situação. Eu não vou ficar aqui para sempre para ajudar você em sua vida nesta terra estranha onde escolheu estabelecer seu lar. É óbvio que Boaz está interessado em você—já faz semanas que ele vem jogando grãos no seu caminho, já a convidou para almoçar com ele e até mandou que seus empregados dessem água para você quando precisasse—o cara está doido por você!”
Daí, Noemi remove todas as dúvidas a respeito do que ela busca com sua pergunta retórica no verso 2: ora... não é Boaz... um dos nossos parentes?
De acordo com a Lei do Antigo Testamento, uma viúva poderia exigir que o parente vivo mais chegado, que estivesse disponível e disposto, se casasse com ela. No plano de Deus, esse tipo de casamento providenciaria a Rute estabilidade financeira. Ainda mais interessante do que isso, os filhos que nascessem receberiam o nome do primeiro marido de Rute, o que garantiria o nome dele por mais uma geração e as propriedades de sua família permaneceriam com a família. Essa provisão maravilhosa servia para o cuidado das viúvas (Deuteronômio 25.5-10).
Portanto, de acordo com a Lei, Rute seria a pessoa a tomar a iniciativa. Sua situação não era a mesma de uma mulher solteira. Nesse caso, o homem tomaria a inciativa. Como viúva, era direito dela deixar suas intenções claras para o parente-resgatador. As coisas dependiam dela.
Então, Noemi está impelindo Rute, dizendo: “Rute, o tempo da colheita terminou. Pode ser que você nunca tenha outra chance como essa de novo; pode ser que nem veja mais Boaz até o próximo ano. Se ele quiser, ele pode muito bem redimi-la. É hora de dizer para ele que você quer que ele a resgate.”
Agora, obviamente, já que Rute era uma estrangeira, ela não conhecia nada desses costumes. Ela era uma moabita, não uma israelita. Essas leis ainda eram estranhas para ela. Então, ela provavelmente perguntou a Noemi: “Bom, o que você quer que eu faça então?” Noemi, que está organizando esse namoro, diz: “Ainda bem que me perguntou! Andei pensando em um plano.”
Noemi diz no verso 2: Eis que esta noite alimpará a cevada na eira. Como ela sabia disso? Ela simplesmente sabia. Noemi vinha organizando um plano já fazia um tempo justamente para essa hora. Boaz irá trabalhar na cevada hoje à noite!
Ela continua: alimpará a cevada na eira. Eu não fazia ideia alguma do que isso significava. Mas, para podermos observar bem esse pedido incomum, precisamos entrar nesse cenário e entender o contexto.
Boaz era um agricultor que trabalhava duro. Essa é a vida dele e ele ama a vida de agricultor. Ele está separando grãos com seus trabalhadores na eira, o que, naquela época, era feito manualmente.
Nos tempos do Antigo Testamento, a área com o propósito de se separar grãos era preparada ao ar livre perto dos campos. Era um pedaço de chão geralmente em uma parte elevada de um desfiladeiro onde corria uma brisa. Os trabalhadores limpavam uma área plana e grande, tiravam todo o mato, depois jogavam uma pouco de água na superfície e colocavam pedras ao redor. O resultado era uma área redonda macia—uma eira.
Os feixes de grãos eram trazidos nas costas dos trabalhadores, burros, camelos, bois ou qualquer outra coisa que o proprietário pudesse utilizar para o fim. Os feixes eram amontoados na eira; depois, dois ou três animais eram atados juntos ombro a ombro e conduzidos ao redor por cima da eira para separar os grãos de suas cascas. Os debulhadores pegavam uma pá ou um garfo grande de lavoura e jogavam os feixes para o ar. Assim, o vento levava embora as cascas vazias enquanto os grãos caíam no chão. Homens, mulheres e crianças trabalhavam até tarde da noite. Era sempre um tempo de celebração simplesmente porque a colheita estava sendo trazida.
Lembre-se também de que Rute 1.1 nos informou de que Israel havia passado por um período terrível de fome. Quando comparamos a outras passagens, descobrimos que essa fome durou sete anos. Um pouco mais à frente, nem Rute 1.6, vemos que Noemi voltou para Belém porque ela tinha ouvido dizer que a fome havia cessado.
Temos bom motivo para crer que essa é a primeira colheita boa que o povo de Israel vê em anos. Eles estavam celebrando a bondade de Deus. Os bons tempos tinham retornado a Belém. Esse foi um tempo de trabalho duro, mas também de risadas, alegria e festanças.
Baseados em outras passagens das Escrituras, sabemos que, durante os dias dos juízes, os midianitas tinham criado o costume de invadir a terra e roubar a colheita que havia sido separada. Como resultado, Boaz também se encontra nessa cena, sem dúvidas para ajudar a proteger sua colheita do roubo.
Agora, tudo isso se relaciona a Rute em um ponto: essa é a última chance para Rute antes de Boaz sair dos campos pelos próximos vários meses. Se ela for lhe revelar seus sentimentos, essa é sua última oportunidade.
Mas, existem outros detalhes no plano de Noemi, conforme ela nos diz no verso 3: Banha-te. Esse verbo hebraico significa um tratamento completo. Rute fez manicure, pedicure e maquiagem.
Noemi continua dizendo: e unge-te. Isso significa: “Passe um perfume.”
Será que eles tinham perfume naquela época? Veja bem, 1500 anos antes do nascimento de Cristo, a rainha do Egito já estava enviando grupos ao redor do mundo conhecido para trazer a ela os perfumes mais recentes para a sua coleção.
Daí, Noemi diz: e põe os teus melhores vestidos. Em outras palavras, “Rute, arrume-se todinha. Pode até estar escuro lá fora, mas Boaz pode muito bem pedir uma lanterna!”
“Rute, prepare-se para pedir Boaz em casamento.”
Noemi pensou até em qual seria o momento mais adequado. Veja a última parte do verso 3:
e desce à eira; porém não te dês a conhecer ao homem, até que tenha acabado de comer e beber.
Noemi é uma mulher sábia. Ela está dizendo a Rute: “Espere até Boaz ter jantado antes de tentar conversar com ele.”
Noemi ainda diz no verso 4 para Rute esperar até que os trabalhadores se deitem para dormir: “Você não quer interromper Boaz quando ele estiver trabalhando.”
Note o verso 4 para ver um detalhe meio estranho:
Quando ele repousar, notarás o lugar em que se deita; então, chegarás, e lhe descobrirás os pés, e te deitarás; ele te dirá o que deves fazer.
Agora, algumas pessoas sugerem que a ordem é para Rute se deitar e se oferecer para ele ao descobrir os pés de Boaz. Essas pessoas concluem que essa expressão é um eufemismo para relações sexuais. Nada poderia estar mais longe da verdade.
Boaz é um homem piedoso. Poucos versos mais à frente, ele elogiará Rute pelo seu caráter moral. Ele recusa tocá-la até que possua o direito legal como parente-resgatador. Na verdade, ele até pede que ela vá embora ao amanhecer para que a reputação deles não seja questionada.
Adicione ainda a isso o fato de que a Mishnah, um comentário sobre costumes e leis judaicos, não permitia que um homem se tornasse parente-resgatador de uma mulher gentia com a qual já havia tido relações sexuais antes do casamento. Isso protegia uma viúva vulnerável de ser abusada e evitava que o homem que a redimiria tirasse vantagem dela antes. Se não a redimir primeiro, ele perde o direito sobre ela e sobre a propriedade do ex-marido. Ele tem que primeiro se casar com ela. “Primeiro vem o amor, depois vem o casamento, depois vêm os bebês.” Essa é a progressão projetada por Deus para proteger o homem e a mulher.
Rute não faz nenhum tipo de proposta indecente para Boaz. Noemi mandou que ela descesse até o local onde ele estava dormindo e descobrisse os pés dele. Tire o lençol de cima dos pés dele e ele provavelmente acordará! Essa era a maneira para Rute acordar Boaz sem assustá-lo. Note os versos 6 e 7:
Então, foi para a eira e fez conforme tudo quanto sua sogra lhe havia ordenado. Havendo, pois, Boaz comido e bebido e estando já de coração um tanto alegre, veio deitar-se ao pé de um monte de cereais; então, chegou ela de mansinho, e lhe descobriu os pés, e se deitou.
Outros sugerem que Boaz estava bêbado e Rute veio quando ele estava ainda embriagado para tentar fazê-lo lhe prometer algo.
Novamente, o próprio texto responde esse tipo de comentário ridículo que não consegue suportar a realidade de um homem piedoso. O objetivo é arrastá-lo para a lama para ficarmos um pouco mais confortáveis com os nossos próprios comprometimentos pessoais.
O texto diz:
Havendo, pois, Boaz comido e bebido e estando já de coração um tanto alegre…
A expressão hebraica yatab leb significa simplesmente que ele estava com “bons espíritos.” Em nosso idioma, diríamos que ele estava de bom humor. E por que não? A colheita foi abundante. A fome cessou. Existe um amontoado enorme de grãos na eira. Boaz está feliz demais. Essa é a noite perfeita ou não? Ah, Boaz, você não faz nem ideia! As coisas estão prestes a ficar ainda melhores!
- O pedido de Rute.
Note, agora, o verso 8:
Sucedeu que, pela meia-noite, assustando-se o homem, sentou-se; e eis que uma mulher estava deitada a seus pés.
A palavra traduzida como assustando-se também pode ser traduzida de uma forma melhor como “tremendo de frio.”
Em algum momento em torno da meia-noite, os pés descobertos de Boaz ficam frios. Ele acorda tremendo de frio, senta-se e se curva para cobrir seus pés novamente. Quando se curva, ele vê algo no formato de uma pessoa deitada aos seus pés. Note o verso 9:
Disse ele: Quem és tu? Ela respondeu: Sou Rute, tua serva; estende a tua capa sobre a tua serva, porque tu és resgatador.
Isso é o equivalente a um pedido de casamento. Essa é a maneira bíblica de perguntar: “Você quer se casar comigo?”
Você consegue imaginar isso? O cabelo de Boaz está todo bagunçado; ele estava roncando o tempo todo; está vestido com seu pijama. Isso é amor ou não?
Boaz acorda para cobrir seus pés e lá está a mulher pela qual havia já se apaixonado. E Rute se inclina e diz: “Boaz, você tem o direito pela lei de se casar comigo—aceita esse seu direito?”
Rute foi a Boaz durante a noite. Talvez ela tenha ido à noite em respeito ao caráter de Boaz sem querer exigir os direitos dela, sem querer forçá-lo a decidir em público diante dos anciãos no portão da cidade.
É possível que Noemi e Rute já saibam que existe outro homem na fila, como descobriremos mais adiante. Então, Rute vai até Boaz secretamente para lhe revelar seu coração e deixar claro qual é a escolha dela. Seu coração pode ser dele.
Note como Rute escolheu suas palavras cuidadosamente para fazer seu pedido de casamento. Existem dois elementos significantes:
- Um costume simbólico.
Note novamente no verso 9 que Rute pede a Boaz: estende a tua capa sobre a tua serva.
Rute não está pedindo pela capa de Boaz porque está frio lá fora. Rute se refere ao costume judaico do noivo colocar um talith sobre sua noiva no dia do casamento deles. Um talith era uma peça de roupa pertencente ao noivo que agora cobre sua noiva, significando que ele assume, a partir daquele momento, as responsabilidades de cuidado e autoridade.
Rute está dizendo, com efeito: “Você deseja me cobrir com seu cuidado e autoridade? Deseja se casar comigo?”
E Rute tem o direito de perguntar. Contudo, ao invés de forçar Boaz a fazer o papel de resgatador, e de trazê-lo diante do olhar público e provavelmente envergonhá-lo, ela lhe dá a oportunidade de rejeitar ou aceitar seu direito em particular.
Ela age como José que não queria envergonhar sua noiva, Maria, ao descobrir, para o seu espanto, que ela estava grávida. Ele quis deixá-la secretamente porque ele a amava (Mateus 1.19).
Rute ama Boaz e não deseja envergonhá-lo publicamente. Em particular, Rute lhe diz que está disposta, caso ele queira.
- Uma palavra significante.
Mas ainda existe algo mais que eu quero que você veja. Rute se refere não somente a um costume simbólico, mas também usa uma palavra significante em sua proposta a Boaz: estende a tua capa sobre a tua serva.
Ao pedir Boaz em casamento, ela, na verdade, usa um termo derivado de uma palavra que Boaz havia utilizado quando eles se conheceram.
Em Rute 2.12, quando Boaz a conheceu no início no campo, ele disse a Rute:
O SENHOR retribua o teu feito, e seja cumprida a tua recompensa do SENHOR, Deus de Israel, sob cujas asas vieste buscar refúgio.
A palavra aqui traduzida como asas é o mesmo termo que agora Rute utiliza para dizer a Boaz: “Estenda suas asas sobre mim.” Rute está, na verdade, pedindo a Boaz para ele se tornar a resposta para as próprias orações dele. Ela pede a Boaz para ele se tornar a aplicação de suas próprias intercessões.
Rute cochicha no ouvido de Boaz: “Você se lembra daquela oração que fez por mim vários meses atrás? E agora, deseja se tornar a resposta para suas próprias orações?”
Alguns momentos antes, Boaz estava com pé frio. Agora, a pergunta permanece: “Será que ele vai continuar com pé frio?”
- A resposta de Boaz.
De maneira alguma Boaz continuará com pé frio! Ele mal consegue se controlar! Boaz cochicha para ela de volta no verso 10, dizendo: Bendita sejas tu do SENHOR, minha filha.
“Claro!”
“Shhhhh—você vai acordar todo mundo!”
“Eu sei, mas não acredito que você deseja ser minha! É claro que eu a quero, eu me apaixonei por você logo na primeira vez que a vi no campo!”
“Que bom, eu também.”
Na verdade, o louvor imediato de Boaz é a Deus por ter lhe concedido essa mulher maravilhosa e a resposta dele é “sim.” Ele prontamente diz um “sim” com toda a animação, sem sombra de querer mudar de ideia: “Sim, eu quero me casar com você também!”
Boaz dá uma resposta mais longa, na realidade, e essa reposta mais longa levanta problemas para o pedido de casamento feito por Rute. Mas isso vai ficar para o nosso próximo estudo—não se apresse!
Este manuscrito pertence a Stephen Davey, pregado no dia 15/03/2009
© Copyright 2009 Stephen Davey
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