Capim Mais Verde

Capim Mais Verde

by Stephen Davey Ref: Ruth 1:1–5

Capim Mais Verde

Quando Contos de Fada Se Tornam Realidade – Parte 2

Rute 1.1–5

 

Introdução

Quando eu saio de carro de casa, sempre vejo um pasto à beira da estrada com meia-dúzia de cavalos pastando. Apesar de o capim do pasto deles ser verde e fértil, é bastante comum ver um dos cavalos pulando a cerca para tentar encher a boca com capim do outro lado que, por sinal, não é tão verde quanto o do seu próprio pasto.

E isso sempre me lembra do mito do capim mais verde: a crença de que, em algum outro lugar, a vida será melhor, mais fácil, trará mais satisfação. E, é claro, isso não pode ser verdade no meio do seu próprio pasto. O mato é mais verde:

  • em uma casa diferente;
  • com um salário mais alto;
  • com um emprego diferente;
  • em uma escola diferente;
  • em um bairro diferente;
  • dirigindo um carro diferente;
  • ao lado de um cônjuge diferente;
  • pertencendo a uma família diferente.

Simplesmente, o capim é verde em todos os outros lugares, menos aqui!

Não podemos ignorar o fato de que algumas situações são, de fato, mais difíceis do que outras e às vezes precisamos fazer mudanças. O problema começa quando decidimos que Deus, obviamente, jamais dificultaria nossa vida propositadamente, nem a tornaria desconfortável e cheia de desafios—Deus deseja ver todo mundo feliz. Um capim mais verde tem que servir de prova da direção de Deus.

O problema é que o capim mais verde pode ser o abismo mais perigoso para o qual correremos.

Estamos prestes a testemunhar o mito do capim mais verde acontecendo na vida real e em cores bem vibrantes na vida de pessoas reais.

Agora, se você alguma vez já leu um conto de fadas para sua filha onde tudo é de mentirinha, então sabe que, mesmo antes de virar a primeira página, ou antes de o herói aparecer, a história apresenta um cenário sombrio e cheio de perigos. Nuvens carregadas se formam no céu.

No conto de Rute e Boaz, que é na verdade uma história real, o mesmo enredo se desenrola. O contexto dessa história de amor nem ultrapassa os primeiros versos e as nuvens nebulosas começam já a se formar. Vamos ler Rute 1.1:

Nos dias em que os juízes governavam, houve uma fome na terra; pelo que um homem de Belém de Judá saiu a peregrinar no país de Moabe, ele, sua mulher, e seus dois filhos.

 

A Crise

Agora, sem dúvida alguma, esse homem com sua esposa e dois filhos estão passando por uma crise. E é em períodos assim que os pensamentos sobre capim mais verde começam a penetrar nossas mentes e corações. No caso desse homem, ele estava enfrentando um fome na terra que afetou toda cidade de Belém.

Além dessa fome, havia ainda o tumulto político durante os dias dos juízes. Com vimos em nosso estudo anterior, a vida civil, moral e a verdadeira piedade religiosa estavam em colapso.

Adicione ainda à crise desse homem uma vida em temor diante da possibilidade de ataques vindos dos midianitas, o que resultaria na perda do gado ou até mesmo sua própria vida.

Podemos ainda somar o fato de que o potencial de investimento na terra de Belém nunca esteve tão baixo. Agora, no topo dessa montanha de crises, estava a realidade de uma despensa sem comida e um celeiro vazio.

Existe no verso 1 uma certa ironia ou trocadilho no idioma hebraico que leitores judeus imediatamente perceberiam: houve uma fome na terra; pelo que um homem de Belém.

Belém significa “casa do pão.” Em outras palavras, a cesta de pão de Judá está vazia. Pessoas que vivem na casa do pão estão morrendo de fome. Os leitores originais notariam rapidamente a contradição de termos, o trocadilho: “Existe uma fome na Casa do Pão.”

É como falar sobre o crescimento da bandidagem e guerras de gangues na Filadélfia, a “Cidade do Amor Fraternal,” ou do crescimento de atividade demoníaca em Los Angeles, a “Cidade dos Anjos.” A associação de fome com Belém—a padaria de Judá—criaria uma mudança repentina na história.

Belém fica a cerca de 9 quilômetros ao sul de Jerusalém e sua reputação de “Casa do Pão” foi evidentemente merecida. Trigo, cevada, azeitonas, avelãs e uvas eram abundantes nos tempos antigos.

Todavia, agora existe fome em Belém. É bem possível que essa seja a mesma fome mencionada em Juízes 6, o que nos ajuda a inserir a história na época da liderança de Gideão e da opressão dos midianitas. Ainda mais importante, isso nos ajuda a compreender que essa fome foi resultado da rebelião dos israelitas contra Deus.

Com bastante frequência, Deus usou a fome para trazer a nação de volta ao senso de necessidade e dependência no Senhor. O objetivo de Deus com a fome não foi fazer o povo abandonar a Casa do Pão, mas se arrepender e lhe obedecer. Após o arrependimento, Deus novamente encheria suas casas com pão. Deus tinha uma forma de usar a fome para remodelar a fé—fé nas promessas e provisões de Deus. Esse era um teste que moldava o caráter do povo.

Para adicionar ainda mais ao jogo de palavras, vemos o fato de esse homem e sua família se mudarem para Moabe. O Senhor chamou Moabe no Salmo 60:8 de “bacia de lavar.” Esse era o pote usado para lavar pés sujos. Seria a mesma coisa de chamar Moabe de lata de lixo, onde coisas estragadas são lançadas. A região de Moabe era um lixão.

Então, essa família de judeus se encontra numa crise de fé e abandona a “Casa do Pão” e se muda para o lixão. Eles saíram da cesta do pão para a lata de lixo.

Agora, antes de continuarmos, vamos dar uma olhada nos personagens desse drama que se desenrola.

Os Personagens

Existem seis personagens importantes nesse drama, mas após os primeiros versos, apenas três permanecerão vivos.

O verso 2 nos informa de que o patriarca da família era chamado Elimeleque. Traduzido informalmente, seu nome significava “Deus é o meu Rei.” A tragédia na vida de Elimeleque foi o simples fato de ele não ter vivido o significado do seu nome.

O segundo personagem é Noemi, a esposa de Elimeleque. Noemi significa “graciosa.”

Então, Noemi e os filhos de Elimeleque sobem ao palco por apenas alguns segundos. Seus nomes são Malom e Quiliom. Os nomes formam uma rima. Isso pode indicar que eram gêmeos ou que simplesmente tinham uma mãe como muitos de nós que deseja que os nomes de seus filhos comecem com a mesma letra ou rimem.

Eles poderiam ter sido como meus pais que tinham uma mente direcionada ao ministério e deram aos seus quatro filhos os nomes de Daniel, Jônatas, Timóteo e Estêvão. Quando iam para as igrejas levantar sustento para missões, eles apresentavam a família dizendo: “Nós temos quatro filhos: dois do Antigo e dois do Novo Testamento!”

Eu não sei, mas talvez Noemi tivesse um livro com o título “200 Nomes que Rimam: Edição para Meninos.”

O motivo por que estou dizendo isso é que Noemi devia gostar muito de rimas, já que os significados dos nomes de seus filhos não eram nada bons. Malom significa “débil, fraco, insignificante;” e Quiliom significa “ruína, desgraça.”

Imagine, seus nomes significavam: “Débil” e “Chorão.” Muito bem, mãe! Obrigado por ter me dado isso pelo resto de minha vida!

Já que estamos falando disso, o verso 4 nos fornece os nomes das futuras esposas dos filhos de Noemi. Uma era chamada Orfa, que significa “obstinada,” ou literalmente “pescoço forte, pescoço endurecido.”

Que nome mais amável para uma moça. Posso dizer isso porque estou convencido de que não temos nenhuma Orfa nos ouvindo neste exato momento.

Finalmente, o nome da esposa do outro filho é Rute, cujo nome significa “conforto” ou talvez “amiga.”

Então, temos o Débil se casando com a Forte e o Chorão se casando com a Conforto. Francamente, Rute parece ser a única a não se encaixar nessa cena.

A verdade é que cada um basicamente viverá o significado de seu nome; todos, exceto um—o único que não vive o seu nome é o que realmente deveria: Elimeleque ou “Deus é o meu Rei.” Em outras palavras, “Deus é o Senhor da minha vida. Deus é soberano nas minhas tomadas de decisão. Deus tem prioridade.”

Quero ainda apontar mais uma dica a respeito dessa família. Ela se encontra no meio do verso 2, onde lemos que os membros dessa família eram efrateus, de Belém de Judá.

Efrata foi o nome da esposa de Calebe, o famoso e corajoso companheiro de Josué. De acordo com 1 Crônicas 2.19, os descendentes de Calebe foram os fundadores de Belém.

Os efrateus eram membros de um clã que, segundo um escritor, “foi a primeira família de Belém; a aristocracia da cidade de Belém.” Isso serve simplesmente para destacar a crise severa que está atingindo essa família.

O que temos aqui agora são os Rockefellers vivendo como imigrantes; os Vanderbilts sem teto e famintos.

Então, por que essa família deveria permanecer em Belém onde a fome os assola, não somente a eles, mas a todos os demais moradores também?

“Nós estamos acostumados a uma vida melhor do que esta. Por que permanecer na terra de nossa fé e de nossos antepassados? Vamos nos mudar para onde o capim é mais verde!”

Daí, a crise agora conduz esses personagens ao comprometimento.

O Comprometimento

De cima dos desfiladeiros das montanhas ao redor de Belém, é possível enxergar de longe a terra de Moabe. Moabe tinha abundância de água porque as chuvas do inverno escorriam para o interior da terrá por conta dos ventos que sopravam do Mar Mediterrâneo.

Elimeleque provavelmente subiu nessas montanhas e observou os campos secos e amarronzados de Belém ao mesmo tempo que conseguiu facilmente ver, a menos de 80 quilômetros dali, logo do outro lado do Mar Morto, os campos verdes e férteis de Moabe. Talvez ele tenha pensado consigo mesmo: “Vamos só por um tempinho. Deus não se importará. Nossa ausência do meio de seu povo e de sua terra será apenas uma visita rápida a Moabe.”

Note a progressão dos termos utilizados nos primeiros versos:

  • O verso 1 diz que eles saíram a peregrinar no país de Moabe;
  • Daí o verso 2 diz que eles, tendo entrado no país de Moabe, ficaram ali.
  • Finalmente, o verso 4 nos informa de forma surpreendente de que eles moraram ali quase dez anos.

Aprenda com Elimeleque: o perigo do capim verde é que ele rapidamente pode se transformar em areia movediça.

Todavia, isso não significa que o capim mais verde tinha aparência de areia movediça. A mudança dessa família para lá evidentemente teve sucesso. Eles tiveram provisão por dez anos. Eles tinham um lugar para morar. Eles encontraram esposas para seus filhos. A vida estava boa!

Ao mesmo tempo, eles haviam conscientemente abandonado a participação na assembleia do Senhor. Eles abandonaram a comunidade onde deveriam ter ficado para ajudar. Elimeleque poderia ter liderado o caminho para o arrependimento e adoração genuína. Ao invés disso, ele fugiu, julgando os pastos mais verdes de Moabe como algo mais valioso do que a adoração e comunhão na assembleia, as quais, de acordo com Deuteronômio 23, foram abandonadas.

Não é de se surpreender que os primeiros cinco versos de Rute constituem a seção na qual o nome de Deus nem sequer é mencionado uma vez. E em uma narrativa como essa, a ausência do nome de Deus é sinônimo da ausência de desejo pela vontade de Deus. Esse é o único parágrafo onde o nome de Deus não aparece.

Elimeleque poderia ter argumentado: “Não irei me tornar um moabita. Espera aí, jamais oferecia um de meus filhos a Quemos, o deus dos moabitas! Não sou muito chegado a sacrifícios de crianças e idolatria. Jamais faria isso, nem mesmo concordaria com a prática. Não sou um moabita; eu vou apenas temporariamente, sabe, abandonar a Palavra de Deus e a adoração a Deus e ir morar com os moabitas.”

Contudo, não demorou muito para que, em algum momento antes de sua morte, Elimeleque escolhesse esposas moabitas para seus filhos. Sem nem perceber, talvez, as alianças das promessas da terra e da descendência, os profetas e o Deus das alianças não eram mais importantes; tudo isso havia perdido a relevância.

A busca por capim mais verde produz em nosso espírito o efeito da sonolência. O que parece ser algo apenas temporário, algo insignificante:

  • só uma viagem rápida;
  • só uma ligação rápida;
  • só uma aposta;
  • só um gole;
  • só uma conta pessoal paga com os recursos da empresa;
  • só uma mentirinha;
  • só uma comprinha;
  • só um rápido clique no mouse;

...e o capim verde cresce, tornando-se uma floresta na qual a pessoa mal consegue enxergar a luz do dia.

Talvez Elimeleque nunca tenha tido a intenção de retornar, caso as coisas dessem certo. De qualquer forma, esse patriarca, líder de uma família proeminente em Belém que havia escandalizado a comunidade ao se mudar para Moabe, jamais retornaria.

As Consequências

O capim verde pode conduzir ao cemitério.

Note como o autor abruptamente relata a morte dos homens dessa família. No verso 3, lemos:

E morreu Elimeleque, marido de Noêmi; e ficou ela com os seus dois filhos,

Dois versos depois, lemos no verso 5: E morreram também os dois, Malom e Quiliom.

Não há nenhuma explicação ou diagnóstico médico; apenas as notícias alarmantes para todos os seus vizinhos em Moabe; e com certeza a notícia do dia em Belém.

Grande parte dos escritores judeus e cristãos lê as entrelinhas e defende que as mortes do marido e dos filhos de Noemi foram julgamentos divinos por causa da falta de fé deles. Seria parecido com a referência aos crentes do Novo Testamento em 1 Coríntios. Alguns crentes haviam morrido prematuramente por terem participado na Ceia do Senhor enquanto cultivavam, planejavam e praticavam pecados secretos (1 Coríntios 11.30).

Esses filhos de Elimeleque desobedeceram a Deus ao não retornarem de Moabe; ao não conduzirem suas espoas ao Deus de Abraão; ao não voltarem trazendo o corpo de seu pai; ao não se importarem com os caminhos de Deus. Suas mortes prematuras foram julgamentos por terem adotado o estilo de vida e cultura moabitas.

Agora, o verso 5 termina com Noemi praticamente solitária. Note que ela ficou desamparada de seus dois filhos e de seu marido. Sozinha, ela foi deixada se perguntando: “Para onde foram aqueles dez anos de minha vida?”

Conclusão

Deixe-me fornecer quatro observações retiradas dessa cena que vimos de um homem que buscou o capim mais verde.

  • Uma decisão pecaminosa pode conduzir a mais decisões erradas que nos distanciam cada vez mais do caminho da sabedoria.

Você pode dizer: “Pastor, o que faço com minhas decisões pecaminosas? Já tomei várias decisões desse tipo e me encontro fora do caminho agora; estou distante da comunhão com Cristo. Será que vou morrer em Moabe?”

Não. Jesus Cristo pode e irá perdoar cada pecado que você, crente, confessar, restaurando sua comunhão com o Pai. Para o que ainda não é redimido, Cristo perdoa o registro de pecado que é contra você. E acontece que Jesus é especialista em resgatar pecadores! E eu sei disso, já que sou um desses pecadores resgatados.

Mas, se você é crente e tomou algumas decisões erradas que desagradaram a Deus, saiba que arrependimento genuíno é uma disposição para encarar esses atos e decisões como agressões à Palavra e vontade de Deus.

Além disso, arrependimento verdadeiro tomará sobre si a responsabilidade pelas consequências desses pecados. Ele não passa as consequências para outra pessoa, não as varre para debaixo do tapete, nem foge delas. Verdadeiro arrependimento assume o pecado e aceita as consequências. Na verdade, consequências que duram anos tornam-se o meio pelo qual Deus o relembra de sua graça, perdão e força para fazer a coisa certa e andar em obediência a Cristo.

  • Decidir buscar capim mais verde ao invés de a glória de Deus é a origem de toda tristeza.

Cinco versos acabam representando volumes de tristeza e dor. E tudo começou com um olhar, daí um desejo e depois a partida.

Um capim mais verde simplesmente era apenas um disfarce de grande tristeza.

  • O capim verde pode até fazer muito sentido, mas fazer sentido e confiar em Cristo são duas coisas completamente diferentes.

Capim mais verde pode fazer muito mais sentido economicamente, mas pode significar perda espiritual. Capim mais verde pode conduzir a progresso pessoal, mas, ao mesmo tempo, pode conduzir a um regresso espiritual trágico.

Vamos falar abertamente. O motivo por que o capim verde pode fazer tanto sentido é que nossos corações são egoístas e corrompidos e nossas mentes constantemente carecem de uma transformação e renovação diárias (Romanos 12.1–2).

O coração de cada problema se encontra em cada coração. Nós mesmos somos os nossos maiores obstáculos à vida sábia. Por causa de nossos corações pecaminosos, a desobediência pode acabar fazendo muito sentido.

  • Fome dentro da vontade de Deus é melhor do que abundância fora da vontade de Deus.

Veja Noemi, que diria: “Se aprendi com essa! Nossa viagem rápida acabou virando uma estada de dez anos. Agora, tudo parece ter acabado com três viúvas e três túmulos.”

Esse não é o fim. Na verdade, tudo isso que aconteceu simplesmente prepara o palco para o começo. Deus tem um jeito especial para pegar pessoas perdidas em Moabe—o lixão—e coloca-las de pé no caminho de volta a Belém—a casa do pão.

Entretanto, isso exigirá submissão. Noemi e Rute experimentarão da graça de Deus porque elas pedirão. Elas voltam para a terra do Senhor para conseguir graça. Elas estão disponíveis para a graça.

Deus tem um jeito para resgatar anos desperdiçados e decisões tolas na vida daqueles que o buscam, de forma que, como Noemi e Rute, podemos desfrutar do favor e comunhão com nosso Parente Resgatador, o nosso Salvador Jesus Cristo.

Mas, vamos parar por aqui; estou adiantando as coisas. O caminho de volta a Belém será o tópico de nosso próximo estudo.

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