
Soldados de Chocolate
Soldados de Chocolate
Tito 1.8–9
Introdução
Um dia desses, recebi um devocional escrito por um evangelista chinês e líder missionário. Ele serve em um movimento chamado “De Volta a Jerusalém,” cujo objetivo é levar o evangelho aos muçulmanos e hinduístas enquanto passam por países onde o evangelho é proibido.
Esse líder em particular já foi preso várias vezes, geralmente caçado com uma recompensa por sua cabeça. Muitas vezes já foi espancado e até torturado por causa de sua insistência em pregar o evangelho. Numa ocasião, dentro de uma prisão na China, ele teve suas duas pernas quebradas e ele escreveu em seu devocional comentários sobre como se deitava de costas e levantava as pernas na tentativa de aliviar a dor. Ele fala sobre como lutou para se submeter à vontade de Deus naquela solidão e sofrimento.
Em uma seção do devocional, ele destaca como a igreja da China ensina cinco coisas para as quais cada discípulo precisa estar pronto a qualquer hora:
- orar, independente das circunstâncias;
- falar do evangelho;
- sofrer pelo nome de Cristo;
- morrer por Jesus Cristo;
- fugir quando puderem para que continuem a pregação do evangelho.
Em relação a fugir, eles aplicam o texto de Mateus 10, onde os primeiros discípulos foram instruídos a fugir para outro lugar, caso fossem perseguidos. Eles precisam estar prontos para orar, falar, sofrer, fugir ou morrer.
Esse líder chinês deu o título ao capítulo 19 do devocional de “Soldados de Chocolate.”
E isso chamou minha atenção.
O que chamou mais ainda minha atenção foi que ele iniciou o devocional citando C. T. Studd, o corajoso missionário britânico do século 19 que foi o pioneiro na China, bem como na Índia e África, e que perseverou durante grandes tribulações em seu ministério.
Para você ter uma ideia do tipo de missionário que Studd era, ele escreveu um poema de apenas duas linhas que dizia simplesmente: “Alguns querem viver cercado pelo som do sino da igreja ou da capela; já eu... quero conduzir uma Loja de Resgate no quintal do inferno.”
Isso já diz tudo.
Bom, no capítulo 19 do devocional, esse missionário chinês cita Studd fazendo um desafio semelhante, dizendo:
O crente chocolate dissolve na água e ao cheiro do fogo. Esses vivem suas vidas num pote de vidro ou numa caixa de papelão, cada embrulho com sua roupinha macia, um papelzinho branco enfeitado para preservar sua querida e frágil constituição... Deus nunca foi um fabricante de chocolate e nunca será.
Em outras palavras, Deus busca e desenvolve crentes que não irão derreter ou dissolver diante da pressão, oposição ou tribulação.
Parece muito com o apóstolo Paulo desafiando Timóteo a perseverar durante as dificuldades como um bom soldado de Cristo Jesus (2 Timóteo 2.3) e a se disciplinar com o propósito de crescer na piedade (1 Timóteo 4.7).
Deus não está muito interessado em fabricar soldados de chocolate.
E à luz de nosso estudo sobre o ofício de presbítero, tenho poucas dúvidas se existem homens qualificados ou pelo menos dispostos a servir como líderes nas igrejas hoje por causa das grandes obrigações e pesadas pressões que terão em suas vidas, como exigências de disciplina e estudo, o preço de servir ou estar muitas vezes sozinho.
Usando a analogia desses missionários pioneiros, soldados de chocolate não podem vestir o manto de pastor! Simplesmente, esperar é muito perigoso; existe muito fogo para se lidar e você pode ser tentado a fugir, ou a derreter sob a pressão de tanto calor.
O apóstolo Paulo deu a Tito uma tarefa que tem continuado desde o primeiro século: encontrar homens que serão presbíteros/bispos/pastores; encontrar homens que não derreterão em face ao fogo. Eles podem ter boa aparência, mas, se são feitos de chocolate, não poderão liderar ovelhas; não poderão proteger, guardar, alimentar, encorajar, desafiar, disciplinar, amar e liderar o rebanho de Deus sobre o qual têm sido instituídos líderes.
Tito naturalmente teria perguntado: “Que tipo de currículo você pode me dar para que eu não escolha pastores errados, mas aponte na direção de pastores qualificados?”
Então, Paulo deu uma lista a Tito, uma lista que tem permanecido por mais de 19 séculos, intitulada simplesmente como As Qualificações Pastorais.
Ele começou com o relacionamento do presbítero com sua esposa e filhos. Daí, Paulo falou a Tito sobre cinco vícios que seus candidatos não poderiam nutrir em suas vidas. Note o verso 7 de Tito 1:
Porque é indispensável que o bispo seja irrepreensível como despenseiro de Deus, não arrogante, não irascível, não dado ao vinho, nem violento, nem cobiçoso de torpe ganância;
Agora, Paulo destaca sete virtudes que esses homens deveriam buscar e se tornar exemplos com seu estilo de vida. O verso 8 diz:
...hospitaleiro, amigo do bem, sóbrio, justo, piedoso, que tenha domínio de si,
Em nosso último estudo juntos, vimos as primeiras quatro virtudes. Em nosso estudo de hoje, falaremos sobre as três virtudes restantes.
Mas, antes, deixe-me lembrá-lo como membro da igreja: todas essas qualificações devem ser a busca fervorosa de todo crente. Nenhum crente deve ser feito de chocolate. Estamos todos lutando uma batalha e, para piorar as coisas ainda mais:
a nossa luta não é contra o sangue e a carne, e sim contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes.
Certamente, a igreja precisa de homens que liderarão, mostrarão o caminho e servirão de modelo a fim de liderarem, protegerem e encorajarem o rebanho em suas batalhas pessoais diárias com o mundo, a carne e o diabo.
Não é de se surpreender, então, que Paulo pede que Tito examine a vida particular desses candidatos ao pastorado. Suas vidas privadas devem ser confirmadas como disciplinadas e piedosas.
As palavras no verso 8 traduzidas como “piedoso” e “que tenha domínio de si” se referem a exercícios particulares ou disciplinas pessoais.
A palavra “piedoso” vem do termo “hosios” que se refere a piedade santa. Paulo também a utiliza em 1 Timóteo 2.8, onde encoraja os homens a orarem “levantando mãos santas;” em outras palavras, mãos genuinamente limpas e genuinamente santas na vida particular diante de Deus, que serão também assim na vida pública.
Ouça: a ideia de que o que o homem faz em particular não afeta o que ele faz em público é loucura. De acordo com o apóstolo Paulo, o que o homem faz em particular determina o que deseja fazer em público. E, se ele não se importa com a vontade, caráter e natureza de Deus em sua vida pessoal, então, também não se importará com nada disso em sua vida pública.
Um autor disse que, quando Paulo usa a palavra “piedoso” aqui, ele se refere a um presbítero completamente dedicado à glória de Deus.
Ou seja, se ele não se dedica à glória de Deus em sua vida particular quando não tem certas pressões, então, jamais buscará a glória de Deus quando existem as pressões. Quando o fogo acende, ele derrete.
Ele tem que ser pessoalmente devoto e piedoso a Deus, e essa qualidade de piedoso será evidente tanto na vida particular como na vida pública.
Paulo continua e adiciona ainda outra qualificação no verso 8: é a frase traduzida como “que tenha domínio de si.”
Essa é uma palavra composta pelas palavras “dentro” e “poder.” Ou seja, descreve uma pessoa que tem o controle de, poder sobre, e, neste caso, sobre si mesmo. Ter domínio sobre seus impulsos, emoções e vontades.
A marca da imaturidade é a falta de autocontrole. E cada criança precisa crescer nisso, pois ninguém nasce naturalmente autocontrolado. Algumas crianças até crescem nisso mais rápido do que outras.
Seu filho quer correr e pular, mas você precisa ensiná-lo a se controlar; ele quer já começar a comer, mas você manda que ele espere; ele quer comer a sobremesa, mas você diz que ele só irá comê-la após acabar com a salada. Ah, que sentimento agonizante para a criança!
A marca da maturidade é o controle de impulsos, emoções; é a escolha de atitudes e reações corretas, mesmo que seja difícil, doloroso, leve muito tempo ou não seja recompensador.
“Tito, se você deseja saber que tipo de pastor não irá derreter, certifique-se de que ele controla seus desejos íntimos na vida pessoal, o que se mostrará também na vida pública.”
Um autor escreveu palavras profundas a esse respeito:
Um [presbítero] que não monitora sua vida continuamente, submetendo seu pecado à purificação do Senhor e mantendo uma consciência limpa, não é apto para liderar o povo de Deus, não importa quão justa sua vida pública aparente ser. Se age corretamente somente quando outros o observam, ele está apenas encenando.
E os fariseus eram especialistas nisso. Eles davam seu dinheiro, jejuavam e oravam em público, mas Jesus disse que eles faziam isso apenas para serem vistos pelos homens. Ou seja, eles eram espirituais apenas porque queriam fazer um show. E eles eram bons nisso.
Mas, quando chegava a pressão, os líderes de Israel cediam à avareza e à inveja; todos os desejos íntimos corruptos se soltavam. No final, eles lideraram o grito para crucificar o Messias.
Agora, lembre-se de que essa virtude do autocontrole é também parte do fruto do Espírito, conforme Gálatas 5.23. Paulo não está mandando Tito buscar homens que sejam capitães morais e emocionais de seus próprios navios, algum tipo incrível de homem que possui a habilidade descomunal de controlar sua boca, coração, mente e mãos. Não. Autocontrole é, na verdade, resultado de uma vida controlada pelo Espírito; o autocontrole é fruto do Espírito. E o autocontrole, juntamente com as demais virtudes, é uma decisão diária, uma batalha diária e uma disciplina diária.
Portanto, presbíteros são homens que precisam, como padrão de vida, estar sob a influência controladora do Espírito Santo. Estes são exercícios privados que acabam se tornando públicos: piedoso e autocontrolado.
Agora, Paulo passa para a última e mais desenvolvida de todas as virtudes. Ele sai de exercícios privados para exposição pública. De fato, podemos dizer que Paulo deixa de falar do que o presbítero é e passa a falar daquilo que o presbítero faz. Note o verso 9: apegado à palavra fiel, que é segundo a doutrina.
Ou seja, o verdadeiro pastor não abandonará a palavra fiel, a palavra verdadeira. Ele irá reverenciá-la, lê-la, estudá-la, memorizá-la, obedecer-lhe, crer nela e ensiná-la. Ele amará a fiel Palavra de Deus.
E ele se tornará o exemplo para o rebanho quanto a isso ao:
- ser constantemente nutrido nas palavras da fé e na sã doutrina (1 Timóteo 4.6);
- ansiar pelo genuíno leite da verdade (1 Pedro 2.2);
- ser encomendado à palavra da graça de Deus, que é poderosa para edificá-lo e lhe dar a herança entre os que são santificados (Atos 20.32).
Um pastor/presbítero prega e ensina a Palavra de Deus porque está plenamente convencido de que a Bíblia é capaz de realizar reforma na alma, no coração e no caráter. Ele se apoia nessa verdade da mesma forma como se apoia nas Escrituras. Ele se compromete com a verdade de que a Palavra somente revela o caráter de Deus, a vontade, o propósito, as promessas, o plano de redenção de Deus, os perigos dos inimigos de Deus e a maneira de se andar com Deus, servi-lo, ter comunhão com Deus e confessar pecados diante de Deus e amar a Deus.
Paulo escreveu em 2 Timóteo 3.16–17:
Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra.
Portanto, o pastor/presbítero que reconhece que somente as Escrituras são inerrantes—são o sopro de Deus, inspirada ou “expirada por Deus”—reconhece que somente a Bíblia é a autoridade de fé, vida e prática. Ele entende plenamente por que Paulo disse a Timóteo em 2 Timóteo 4.2: “prega a palavra” para o rebanho de Deus.
Qualquer coisa menos do que isso se torna inadequada. Qualquer cosia além da pregação das Escrituras é pasto seco, não pasto verde.
Um apego firme à Palavra de Deus possibilita o presbítero a abraçar o trabalho de Deus. Se a Palavra escapa, o trabalho também escapa. Se o pastor se desvia da Palavra, no fim se desviará do verdadeiro serviço de Cristo; se ele não está totalmente interessado no trabalho de Deus, seu trabalho para Deus será, na verdade, nada mais do que um anexo de suas próprias fascinações, desejos e reflexões.
As igrejas de hoje em dia têm seguido líderes que buscam destaque, o que produz um ministério superficial e centrado no homem, no qual o maior objetivo da adoração e culto é o deleite do espectador ao invés de o prazer de Deus. Nesse tipo de ministério, o foco está na vida satisfeita dos ouvintes, ao invés de na imagem santa de Cristo e no glorioso caráter de Deus.
À parte de um claro compromisso à exposição das Escrituras, a igreja é levada pelos ventos das modas, costumes, atrações e contos de fadas que John Piper descreve em seu livro A Supremacia de Deus na Pregação como palhaçada da adoração evangélica.
É bem possível que a igreja evangélica em geral esteja destinada a derreter diante dos primeiros sinais de perseguição real.
Agora, quero que você note que Paulo diz que o presbítero deve se agarrar à palavra fiel, que é, note isso, “segundo a doutrina.”
Em outras palavras, está em concordância com as doutrinas apostólicas. A igreja foi formada sobre os ensinos dos apóstolos e estava comprometida com tais ensinos (Atos 2.42). Qualquer ensino que não correspondia ao registro, pregação e doutrina inspirados e desenvolvidos da verdade apostólica era considerado espúrio, perigoso e até diabólico (Gálatas 1.8–9).
Existe apenas um corpo doutrinário apostólico de verdade e você possui um deles em casa. Existe apenas um só Senhor, um só batismo, uma só igreja, uma só fé, um só Espírito, uma só esperança, um só Deus (Efésios 4.4–5). Qualquer coisa além dessa palavra expirada por Deus está simplesmente errada.
Você está pronto para tomar essa postura? Está pronto para o fogo?
Não existem muitos deuses; existe apenas um Deus vivo e verdadeiro. Não existem vários tipos de fé; existe apenas uma fé verdadeira e genuína. Qualquer outra crença é mortal e eternamente errada.
Você está pronto para comunicar esse tipo de convicção no mundo lá fora que está saturado com pluralismo? Um homem explicou muito bem isso ao dizer em sua biografia que a casa de Deus, caso exista uma, possui várias portas de entrada.
G. E. Lessing foi um crítico alemão do século 18 que teve um papel instrumental na popularização do pluralismo, isto é, a perspectiva de que existem vários caminhos para Deus. Ele usava uma história que inventou a fim de promover sua visão. Um pai tinha um anel mágico, o qual havia se comprometido a dar a um de seus três filhos quando morresse. Para que não fosse acusado de favoritismo, ele fez duas imitações idênticas do anel. Cada filho pensava que seu anel era o verdadeiro e os três começaram a argumentar para ver quem possuía o anel verdadeiro. Os três filhos perturbados resolveram ir até Natã o Sábio para explicar o que estava acontecendo. Após ouvir a história, Natã o Sábio disse que cada um deveria pensar que seu anel era o verdadeiro e não tentar persuadir seus irmãos de que seu anel era o único verdadeiro.
Parece bom isso, não é verdade? E não confronta ninguém. Mas essa não é a verdade. No final, havia apenas um anel verdadeiro e os dois outros eram apenas imitação.
Ouça: existe apenas um evangelho verdadeiro; os outros são imitação. Para usar essa analogia, não existe nenhuma mágica nos demais, não existe nenhum poder sobrenatural de redenção, purificação, esperança e céu nos que são enganados.
“Tito, garanta que você encontrará homens que se agarrarão à verdade apostólica. Sim, os tempos mudarão, mas a mensagem não mudará. Encontre homens que se recusarão a largar a verdade. Certifique-se de que estão convencidos porque, assim que colocarem sobre si o manto de um pastor, o fogo vai esquentar; a pressão será grande para aliviar o arrependimento e o discipulado e para comprometer as declarações exclusivas de Cristo da fé salvífica nele somente.”
Qualquer um que seja feito de chocolate não sobreviverá.
Na verdade, o desafio é ainda maior do que simplesmente crer na verdade. Note que Paulo faz duas declarações a Tito sobre o que o presbítero deve fazer com a Palavra de Deus. O primeiro aspecto é positivo. O verso 9 diz: de modo que tenha poder tanto para exortar pelo reto ensino.
A palavra “exortar” tem a ideia de instigar o ouvinte a uma reação, que é a de receber e aplicar a verdade.
Isso é muito mais do que transferir informações de suas anotações no púlpito para os que estão nos bancos ouvindo. A exortação anuncia um veredito.
“Exortar” significa buscar, pelo Espírito de Deus, influenciar o coração, a consciência e a vontade do ouvinte.
A palavra utilizada por Paulo aqui é “parakaleo,” que também se refere ao Espírito Santo como “parakletos,” isto é, aquele que encoraja, convence e transforma.
Uma palavra moderna equivalente seria a referência a um bom técnico. Um bom técnico sabe o que seus jogadores precisam, apesar de eles poderem discordar.
Não sei você, mas meu técnico de futebol na época de escola nunca chegou para nós à beira do campo ou quadra gritando: “Galera, o verdadeiro motivo de vocês estarem aqui hoje é para se sentirem bem; dê um abraço no companheiro ao seu lado. Quero que se sintam confortáveis com sua chuteira nova; se quiser dar umas corridinhas ao redor do campo, não tenho problema algum com isso. Tipo... quero que estejam em forma, mas podem descobrir como ficar em forma do seu próprio jeito, no ritmo que acharem confortável. Quero apenas que você tenha pensamentos positivos durante nosso treino.”
Nada disso. Meu técnico de futebol trabalhou para Hitler. Ele nos fazia correr até cair desmaiados. Orávamos pelo arrebatamento.
Mas ele também sabia como nos encorajar e nos motivava, sugava de nós o máximo que podia. Falava conosco sobre as partes táticas, jogo em equipe e nos dava informações sobre os outros times contra quem jogaríamos. Em seguida, depois de estarmos mortos de cansados, ele nos dizia por que aquilo era importante. Nós já sabíamos por que e valia a pena. Ele era um exortador.
Exposição bíblica verdadeira é uma exortação. Ela, na verdade, une a verdade da Palavra de Deus ao Espírito de Deus, promovendo transformação ao filho de Deus para que a verdade se torne o seu estilo de vida.
E essa doutrina é uma doutrina sã, ou seja, sadia. Doutrina sadia produz crentes sadios e crentes doutrinariamente sadios formam uma igreja sadia. Por trás de tudo isso está o compromisso com uma exposição bíblica sadia.
Então, Tito, encontre homens que amem a Palavra o suficiente para estudá-la e pregá-la para que o corpo seja são ou sadio.
Esse é o aspecto positivo.
O segundo aspecto é negativo. Note o final do verso 9: como para convencer os que o contradizem.
O presbítero não somente deve exortar com a sã doutrina, mas deve também refutar os que o contradizem. Seu ministério é tanto construtivo como destrutivo.
O reformador João Calvino escreveu que o pastor precisa de duas vozes: uma para juntar as ovelhas e outra para espantar lobos e ladrões.
Paulo detalhará como esse tipo de confrontação ocorre. Daí, falaremos mais sobre o assunto.
Mas, por agora, a palavra traduzida como “convencer” significa mostrar o pecado das pessoas e convocá-las ao arrependimento.
Paulo sabia que Tito precisaria de homens dispostos a tanto pregar a verdade como a expor o erro.
E hoje, mais do nunca, precisamos de pregadores assim também. O fogo está esquentando mais ainda, não é mesmo? Dizer que algo é pecaminoso, errado ou necessita de salvação é ser considerado sem amor, condenatório e faccioso, não é verdade? “Que direito você tem de me julgar e me chamar de pecador?”
Dizer ao seu filho que o cachorro do vizinho irá mordê-lo não é causar divisão ou faltar com amor para com os animais. Dizer a alguém que ele precisa ser salvo e que está seguindo um falso profeta, deus ou messias não é faltar com amor; é amar o suficiente a ponto de querer alertá-lo sobre o inferno e trazê-lo para o céu.
Nossa cultura é como um avião voando dentro de nuvens carregadas; não conseguimos enxergar nada pela janela. Pensamos que está tudo bem, mas estamos, na verdade, indo em direção a uma montanha; pensamos que estamos subindo, mas estamos descendo. Um final trágico nos espera logo à frente.
Tito, encontre homens que saibam ler o painel de instrumentos e que se levantarão e aceitarão tanto o aspecto positivo como o negativo da exposição bíblica—homens que dirão a verdade.
Ainda me lembro das minhas primeiras murmurações misturadas com ira e tristeza ao ouvir um falso mestre pregando para sua congregação. Quando ainda estava em meu primeiro ano de faculdade, a faculdade utilizava vários prédios no centro da cidade como dormitórios e salas de aula. Geralmente, eu caminhava do dormitório para a sala de aula e passava em frente a uma linda igreja de pedra com vidraças coloridas e um jardim bem elaborado. Creio que cabiam cerca de 100 pessoas lá dentro. Eu não sabia nada sobre a doutrina da igreja; então, decidi visitá-la e descobrir um pouco mais. Num belo domingo pela manhã, que era domingo de Páscoa, entrei nessa capela bonita com um piso de ardósia e bancos bem feitos e confortáveis. As pessoas estavam bem vestidas ao meu redor e seguravam o boletim da igreja. Quando o culto começou, nos levantamos para cantar um hino que soava religioso, mas nunca tinham ouvido antes e não falava nada sobre Cristo, muito menos sobre sua ressurreição. Daí, o pregador, o Dr. Fulano, se levantou para falar. Ele estava tão vivo quanto o sermão dele. Subiu ao púlpito com muita dificuldade enquanto eu me sentava com cada fibra de meu corpo pronta para ouvir a mensagem. Simplesmente, ele começou a apresentar vários motivos por que Jesus Cristo não ressuscitou dos mortos. Jesus ainda estava no túmulo! A igreja era muito mais do que Cristo; portanto, não importava se ele estava vivo ou morto.
Ainda consigo sentir o que senti naquele banco trinta e cinco anos atrás. Raiva daquele homem feito de chocolate que não defendia a verdade e já havia derretido há anos; mas, ao mesmo tempo, lembro-me de sentir compaixão das pessoas lá assentadas que, ao invés de estarem regozijando-se na ressurreição do Salvador, estavam sendo guiadas a crer que ele não está vivo, mas ainda morto.
Aquilo me marcou muito. Apesar de na época ainda estar planejando ser um professor de história após a faculdade, aquilo realmente me incomodou.
E, até o dia de hoje, tem sido minha grande responsabilidade e privilégio vestir o manto de pastor para tanto combater os lobos como exortar e encorajar o rebanho ao longo do caminho salvador da sã doutrina.
Charles Swindoll, ex- chanceler do Seminário Teológico de Dallas, Estados Unidos, também pastoreou igrejas por mais de cinquenta anos. Recentemente, ele escreveu palavras que, como eu espero, darão mais certeza ao rebanho, mas também impressionarão todos que vestem o manto do pastor. Ele escreveu:
Se Deus está puxando seu povo ao seu destino [espiritual], suponho, então, que isso faz do líder a corda que Deus usa. Apesar de a tensão às vezes ser insuportável e achar que minha corda está se desfazendo, ninguém deve sentir pena de mim. Enquanto uma ponta da corda arrasta a igreja em meio às dificuldades, a outra sente o Deus eternamente fiel agarrando com firmeza e segurança a minha corda. E, por motivos que nem eu mesmo consigo explicar, não existe outro lugar onde gostaria de estar. Talvez seja por isso que este não é o meu trabalho; este é o meu chamado.
Esse é coração de um verdadeiro pastor. De acordo com a própria carta de Paulo a Tito, Jesus Cristo não se agradará de outra pessoa. A igreja não merece nada menos que homens como esse.
Portanto, esse é um chamado para homens que sentem a vocação ou se voluntariam a vestir o manto de pastor; homens que diligentemente agarram a Palavra de Deus; homens guiados para agradar a Deus; homens dedicados ao povo de Deus.
Tito, encontre para mim homens que não irão derreter; Tito, encontre homens que responderão ao chamado!
Este manuscrito pertence a Stephen Davey, pregado no dia 18/03/2012
© Copyright 2012 Stephen Davey
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