O Novo Normal

O Novo Normal

Series: Tito (Titus)
Ref: Titus 1–3

O Novo Normal

Tito 1.8

Introdução

Li um tempo atrás uma observação bem interessante que uma mulher fez sobre os homens. Ela escreveu:

Aprendi que você consegue captar muito sobre o caráter de um homem a partir da maneira como ele lida com três coisas: primeiro, como ele reage quando, por algum motivo, seu jogo de futebol é cancelado; segundo, como reage quando uma companhia aérea perde sua bagagem; e, terceiro, como ele reage quando as luzes pisca-pisca da árvore de Natal estão todas emboladas.

Que tipo de homem você revela ser em situações como essas?

Lembro-me de ter sido o preletor de uma Conferência Bíblica Anual numa faculdade evangélica. Foi a minha primeira conferência daquele tipo. Cuidadosamente, fiz minhas malas, levando um conjunto bonito de terno, camisa, gravata e sapatos. Eu cheguei, mas minhas bagagens não.

O presidente da faculdade acabou tendo que me emprestar algumas de suas roupas: um blazer quatro vezes maior do que o meu; uma gravata que jamais teria comprado para mim mesmo; e sapatos número 44, sendo que eu calço 41. Ainda me lembro andando no palco fazendo o maior barulho.

Contei aos estudantes o que havia acontecido para que não pensassem que eu normalmente me vestia daquele jeito! Minha bagagem chegou no dia seguinte.

Chegar em um lugar para ser o preletor pela primeira vez é como ter uma entrevista de emprego: você quer que tudo saia como planejado; quer começar com o pé direito. Na entrevista, você não faz malas, mas prepara bem seu currículo. Tudo de bom que já fez, cada projeto que já realizou, cada título conquistado e cada prêmio recebido no passado aparece naquele currículo.

Afinal, a empresa quer alguém com experiência, habilidades de administração, carisma pessoal, boa aparência, bom gosto com roupas, histórico educacional adequado e todas as conexões ou “peixadas” certas.

As pessoas que mais importam são as de bom intelecto, boa atração, intimidadoras, com prestígio, poder e popularidade e até mesmo a quantidade certa de orgulho para provar que você é melhor do que os demais candidatos. Ninguém consegue o trabalho por ser humilde ou santo. Na verdade, você precisa se mesclar com a multidão; fique com sua religião para si mesmo. Precisa saber jogar bem o jogo!

E esse tipo de pensamento entra com facilidade na igreja, não é?

Tito aparece na ilha de Creta no primeiro século e sua responsabilidade comissionada por um apóstolo é a de encontrar pastores qualificados para vestir o manto da liderança na igreja. O apóstolo Paulo diz a Tito no verso 5 do capítulo 1: em cada cidade, constituísses presbíteros, conforme te prescrevi

Ou seja, “Tito, você será tentado a colocar homens errados no ofício. Então, faça o que estou dizendo. E aqui está o currículo das qualificações necessárias; estas são as minhas prescrições.”

“Sabe, Tito,” diz Paulo, “haverá muitos candidatos que irão querer o cargo; eles desejarão o ofício de presbítero, como Diótrefes, que queria o cargo simplesmente porque amava estar lá na frente; ele só queria ser o primeiro na fila para dizer aos demais como se comportar na fila.” (3 João 9)

“Tito, você correrá o risco de procurar as coisas erradas nos homens—prestígio, carisma pessoal, determinada personalidade, inteligência, estatura e muitas outras coisas. Como Samuel, no Antigo Testamento, que foi em busca de um rei dentre os filhos de Jessé, achando que o mais alto, mais velho e o mais forte seria, certamente, o candidato de Deus para ser rei de Israel. E Deus disse a ele: ‘Samuel, assim é como o mundo funciona, eles observam o exterior, mas Deus observa o coração (1 Samuel 6.7).

Então, quando vemos o currículo necessário para candidatos ao pastoreio em Tito 1, não encontramos nada sobre habilidade em oratória ou liderança, conquistas nos negócios e atributos físicos. Na verdade, a lista não possui nada daquilo que o homem faz, mas está totalmente relacionada com aquilo que o homem é.

O que é normal na ilha de Creta não pode ser normal dentro da igreja. O que é considerado normal na cultura não será considerado o padrão para o crente. O presbítero irá, na verdade, desafiar a norma. Por meio de seu próprio caráter e estilo de vida, ele estabelecerá um novo modelo a ser seguido. Ele guiará a igreja para um novo normal.

Então, aqui está o novo normal. Veja no verso 8 que o presbítero/bispo/pastor deve ser:

...hospitaleiro, amigo do bem, sóbrio, justo, piedoso, que tenha domínio de si,

Quando li isso, fiquei pensando: imagine um emprego no qual os candidatos precisam demonstrar essas características de Tito 1.8? Você consegue imaginar estas perguntas na entrevista: “Você é uma boa pessoa? Possui uma vida pessoal devota? Pode me dar um exemplo pessoal de autocontrole?”

Os candidatos responderiam: “Isso não é da sua conta!”

Essas não são perguntas normais.

Bom, acontece que essas perguntas estão relacionadas aos negócios da igreja, e esse é o novo normal. E, a propósito, isso não é apenas para os presbíteros, mas para todo o rebanho que ele lidera e influencia. Na verdade, você verá cada uma dessas qualificações sendo ensinadas no Novo Testamento como parte normal da vida do crente maduro. Muitas dessas características listadas em Tito são listadas também em Gálatas 5 como fruto de uma vida controlada pelo Espírito Santo. Os presbíteros são apenas homens em progresso sob a influência do Espírito Santo ao liderarem o rebanho pelo seu exemplo, a fim de que o rebanho tenha um modelo vivo para o qual olharem e saberem como viver também sob o controle do Espírito. O presbítero é, de muitas maneiras, nada mais do que uma demonstração viva de um “novo normal.” E todos nós, juntos, buscamos isso, uma vez que, todos, submetemos nossas vidas ao Espírito Santo.

Em outras palavras, quando não nos submetemos à nossa cultura, estamos criando uma nova cultura. Não tentamos nos encaixar em nossa cultura, mas estamos determinados a redimir e reformar nossa cultura, uma pessoa de cada vez. Se não agirmos como crentes dentro da igreja, que esperança teremos de redimir os que estão do lado de fora? Se não reformarmos nossa maneira de pensar dentro da igreja, como reformaremos o pensamento de alguém fora da igreja?

E lembre-se da distinção: apesar de a congregação poder progredir nessas características, o presbítero precisa e deve progredir nessas qualidades de caráter e coração.

Então, aqui temos o novo normal.

Paulo acabou de fornecer aos líderes 5 vícios a serem evitados ao assumirem a posição de autoridade no ofício de pastor. Agora, Paulo fornece 7 virtudes que os candidatos ao pastoreio devem abraçar. As primeira cinco foram negativas e estas sete são positivas. Daremos uma olhada nelas hoje.

  • Primeiro, o presbítero deve ser um modelo pessoal no cuidado pelos outros.

A primeira qualificação positiva se encontra no verso 8—o presbítero deve ser hospitaleiro.

Essa palavra no Novo Testamento é formada pela composição de dois termos. Um deles é “philos,” que significa amor ou afeição forte; o outro termo é “zenos,” que é a palavra grega para “estranho.”

Hospitalidade é um amor pelos estranhos. Trata-se de um “estranho amando.”

Agora, Paulo não está necessariamente dizendo que você precisa amar os estranhos; não estamos formulando uma nova ideia sobre com quem sua filha pode sair para jantar. Paulo se refere a pessoas que você não conhece.

Isso é algo inesperado. Pensaríamos que a primeira característica dessas 7 virtudes seria o amor do pastor para com membros do rebanho, não é? Paulo indica aqui que amor pelo rebanho seria muito fácil, recompensador e muitos homens seriam qualificados. Eles amam a igreja e nunca perdem uma atividade ou culto. Mas Paulo manda Tito buscar homens que demonstram cuidado e preocupação com as pessoas quando não existem as obrigações da igreja, ligações com família ou glorificação pública.

O verdadeiro teste da hospitalidade não é o que fazemos por aqueles que gostamos de estar perto ou que nos retribuirão de alguma maneira, mas o que fazemos por outras pessoas simplesmente porque nos preocupamos com seu bem-estar.

E isso, com certeza, se estende à igreja como um todo. O apóstolo Pedro deu ordens à igreja ao escrever em 1 Pedro 4, verso 9: Sede, mutuamente, hospitaleiros, sem murmuração.

Durante os dias de Paulo, as viagens eram bastante perigosas, especialmente se você não tivesse um local onde passar a noite. Pousadas eram não somente caras, mas eram locais de maldade. Viajantes muitas vezes sofriam roubos ou até mesmo espancamentos.

Platão se referiu a um dono de pousada como um pirata que mantém seus hóspedes como reféns para resgate. Também havia muita imoralidade. Pousadas geralmente serviam como motéis da vila. Enfim, uma pousada seria o último lugar na terra onde você iria querer passar a noite durante as viagens.

Por causa de todas essas questões e perigos, o mundo cristão criou um sistema que chamavam de Amigos dos Hóspedes. No decorrer das gerações, famílias se organizaram com outras famílias para dar aos seus membros acomodações e hospitalidade. Geralmente, membros de uma família se tornavam desconhecidos de vista da outra família. Daí, eles desenvolveram um sistema. Envolvia uma moeda, ou uma placa de metal ou madeira cortada ao meio. Quando um membro de uma família viajava para uma cidade distante e precisava de alojamento, ele carregava consigo a sua metade daquilo que chamavam de “tallie,” metade de uma pedra ou moeda. O anfitrião da família que ele visitava trazia sua metade. Quando as duas metades se encaixavam, o anfitrião sabia que esse era um membro legítimo da outra família para quem havia garantido hospitalidade. Então, pode entrar.

Por isso, a primeira característica que Paulo lista vai contra a cultura. Paulo está dizendo que a base para a hospitalidade bíblica não é o acordo entre famílias ou “tallies” ou conhecidos, mas amor aos estranhos, um amor e cuidado para os que têm necessidades genuínas.

Este é o novo normal: abra as portas da sua casa para pessoas em necessidade, quer você as conheça ou não.

A propósito, a mesma palavra grega para hospitalidade se encontra em nosso português na palavra “hospital.” E por bons motivos.

Um entendimento correto da história revela que os que vinham ao templo de Asculapia (askulepia), o deus grego da cura, vinham não para tratamento médico, mas para dormir uma noite no templo ou santuário na esperança de que o deus lhes apareceria em seus sonhos e lhes revelaria qual tratamento deveriam seguir. Então, esse não era um hospital para o povo. Tanto romanos, como gregos, tinham algum tipo de hospital ou enfermaria para os seus soldados, mas não ofereciam nada para a população geral.

O que conhecemos como hospitais de caridade—que são os precursores do que conhecemos hoje como hospitais e que não são mais de caridade—foram, na verdade, uma criação da comunidade cristã. Eles surgiram a partir do evangelho e se tornaram um método de apresentar o evangelho.

Um historiador disse: “Simplesmente, não existe evidência nenhuma de alguma instituição médica apoiada por contribuições voluntárias até o Cristianismo. Hospitais cristãos revolucionaram o tratamento dos pobres, doentes e dos que estavam à beira da morte.”

Os gregos e romanos levantavam suas estátuas, templos, coliseus, arenas, aquedutos e estradas, mas nunca construíram um hospital. Por quê? Porque a norma nos dias de Paulo, resumida pelo historiador Philip Schaff, era simplesmente: “O antigo mundo romano era um mundo sem caridade.”

Nenhuma preocupação pelo pobre e pelo que estava morrendo, especialmente se não eram ligados a você. Não havia pessoas se voluntariando para cuidar de indivíduos que nem sequer conheciam. Obviamente, você jamais convidaria para sua casa alguém que não conhecesse.

Simplesmente, era assim que funcionava. Essa era a norma. Paulo diz: “Tito, é hora de encontrar homens que liderarão a igreja a um novo normal.”

E quem são esses homens? Aqueles que demonstram preocupação genuína para com os que não podem lhes retribuir. Um presbítero deve ser exemplo de cuidado para com as demais pessoas.

  • Segundo, o presbítero deve ser modelo pessoal de convicção.

Paulo escreve que o pastor é “amigo do bem.”

De novo, Paulo usa uma palavra composta também formada com o termo “philos,” referindo-se a amor ou afeição forte; o outro termo é “agathos,” que é aquilo que é bom.

Um presbítero ama os estranhos e ama o que é bom. Um manuscrito antigo usa essa mesma palavra para um homem que amava a virtude.

Ele simplesmente amava o que era intrinsecamente bom. Isso significa que você ama qualquer coisa que o lembra de Deus, correto? Porque, como Jesus disse ao jovem rico que veio visitá-lo: “Não existe ninguém bom, senão Deus.” Em outras palavras, ninguém é intrinsecamente bom, mas Deus, o Pai, Deus o Filho e Deus o Espírito Santo.

Então, se você deseja saber se alguém está realmente andando com Deus, pergunte: “Ele ama o que Deus amaria?”

Isso não significa que ele se removeu de tudo o que é mau, mas significa que ele não ama o que é mau. Ele possui convicções pessoais baseadas naquilo que realmente ama, e o que ele ama são as coisas que intrinsecamente agradam a Deus.

Paulo diz o seguinte aos crentes filipenses no capítulo 4, verso 8:

Finalmente, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se alguma virtude há e se algum louvor existe, seja isso o que ocupe o vosso pensamento.

Em outras palavras, medite, habite, acompanhe, ande, rumine, passe seu tempo com essas coisas.

Warren Wiersbe escreveu: “Isso inclui bons livros, boas pessoas, boas músicas, boas causas, etc. que são excelentes, puras e que não irão, de forma alguma, violar ou ofender a glória e bondade intrínsecas de Deus.”

Agora, por que isso é tão difícil de encontrar? Porque o mundo está repleto de pessoas que amam o que é ruim—atividades ruins, causas ruins, músicas péssimas, pessoas ruins, pensamentos malignos, linguagem ruim, hábitos negativos.

Paulo escreveu a Timóteo em 2 Timóteo 3.3 que a sociedade se tornaria cada vez mais corrupta e que um dos sinais seria que eles se tornariam “inimigos do bem.” A mesma palavra é usada aqui por Paulo. Eles, na verdade, odiarão o que é bom e amarão o que é pecaminoso, o que é mau.

Provérbios 2.14 diz que o mundo se alegra em fazer o mal e se regozija com a perversidade dos maus. Mais à frente, Provérbios 10.23 diz que o mundo se diverte em praticar a maldade. O pecado é apenas mais uma diversão. É apenas outra coisa. O mundo perde a habilidade de distinguir o bom do ruim ao entrar nessa espiritual decadente da bondade intrínseca de Deus, a quem rejeitaram.

O mundo está cada vez mais abertamente enamorado com coisas malignas, atividades malignas, músicas perversas, pessoas violentas e linguagem obscena a ponto de dar um passo e dizer: “Isso não é ruim... vocês é que são certinhos demais. Isso não é ruim, é bom!”

Romanos 1.32 diz que as pessoas do mundo não somente praticam a perversidade, mas também aprovam os que a praticam.

Paulo diz, com efeito, aqui: “Tito, vai e encontra alguns homens nessas igrejas para servirem como presbíteros que endireitarão as definições. Homens que formarão suas convicções pessoais de acordo com a natureza intrínseca da bondade de Deus e poderão se virar para o rebanho que lideram e dizer: ‘Isto aqui é que é bom e aquilo ali é ruim.’ E você consegue identificar um líder como alguém que não somente diz às pessoas o que é bom, mas que ama aquilo.”

Como você percebe, o que o pastor ama revela muito do seu caráter. Os assuntos sobre os quais deseja conversar, ler e ouvir, as coisas que deseja, bem como as companhias que busca, mostram quem ele é.

Paulo pergunta: “Essas são coisas boas?”

Aqui está o desafio para todos nós: será que você pode escrever nos livros e revistas que lê a palavra “bom”, ou seja, não ofende nem viola a natureza intrínseca de Deus?

Será que pode escrever a palavra “bom” naquilo que ouve, assiste e participa? E o que dizer de seu namorado, amigos chegados, atividades favoritas, músicas favoritas?

Agora, isso não significa que a definição de “bom” seja aquilo que você faz na igreja e, caso não faça determinadas coisas na igreja, então, elas não são boas. Não é isso.

Domingo à tarde, eu geralmente tiro um cochilo depois do almoço. Daí, me levanto e digo à minha esposa: “Que cochilo maravilhoso!”

Eu gostei do meu cochilo. Não foi uma disciplina espiritual. Não é algo que você faz na igreja – apesar de alguns cochilarem nos cultos. Não. O que eu quero dizer é que o seu cochilo, seu livro, caminhada no parque, pintura, passeio de carro ou jogo não violam a natureza intrínseca da bondade de Deus; não ofendem o seu caráter. E existem milhares de coisas que você pode fazer assim.

Portanto, a questão em foco aqui são as convicções pessoais e amor que você desenvolve pelas coisas que pratica.

Você é um crente sob a influência de coisas boas, se cerca de coisas boas e se espelha em pessoas boas?

Seja você ou não assim, um presbítero deve e precisa ser assim. Ele precisa amar o que é bom, desenvolver convicções pessoais e escolhas de estilo de vida em torno de coisas que refletem a bondade intrínseca de Deus.

Então, um pastor não somente cuida dos outros; não somente possui convicções pessoais, mas também...

  • Terceiro, ele é modelo pessoal de bom senso.

A palavra utilizada por Paulo no verso 8 é traduzida como “sóbrio.”

Mais uma vez, essa é uma palavra composta, o que nos ajuda a entendê-la melhor. É uma combinação de “sophos,” que significa “sábio ou sabedoria,” com “phroneo,” que significa “pensar em.”

A palavra combinada significa que você possui uma mente sábia. E sempre tenha em sua mente que a sabedoria possui o senso prático de colocar em ação coisas que você conhece. Um estudioso da Bíblia escreveu que a palavra significa “pensar com sanidade, usar de bom senso.”

O que Paulo está dizendo aqui, como um autor disse, é que

Um presbítero não pode ser alguém com ideias tolas e esquisitas. Sim, ele tem que ser alguém que crê que Deus é o Deus do impossível, mas precisa temperar sua fé com uma boa dose de bom senso. Porque o Deus que nos deu um coração, também nos deu uma mente.

Portanto, a igreja precisa de líderes que usam tanto o seu coração como a sua mente.

E isso é um ingrediente essencial, não é? Presbíteros precisam ter essa capacidade de pensar simplesmente porque se envolverão com pessoas, problemas, charadas e decisões e haverá grande necessidade de fé, de discernimento prático e um bom tanto de sabedoria prática também.

Deixe-me adicionar mais uma coisa antes de continuarmos. Existe também, na ideia de bom senso, a nuança da coragem de pensar de forma diferente das demais pessoas.

Talvez seja por isso que Paulo, um pouco mais à frente na carta, irá encorajar o resto da igreja a seguir esse mesmo atributo. Eles terão que repensar tudo, caso desejem criar uma nova cultura, um novo normal. Você terá que pensar por si só. E pensar por si só exigirá nova coragem porque você será diferente. O seu pensamento não será mais influenciado pela multidão, mas por Cristo. Suas convicções e opiniões não mudarão de acordo com a última pesquisa feita sobre esse ou aquele assunto. E, quando pensamos em pesquisas, é impossível não pensar em eleições presidenciais.

Um presidente dos Estados Unidos que, obviamente, estava sob a pressão das pesquisas escreveu:

Fico pensando se Jesus Cristo teria pregado realmente se, antes, tivesse feito uma pesquisa em Israel. E Moisés, será que ele teria ido tão longe, caso tivesse pedido a opinião dos israelitas no Egito? Onde teria sido a Reforma, se Martinho Lutero estivesse aberto para opiniões públicas da Alemanha? Não é a opinião pública do momento que conta. É, simplesmente, o que é certo e o que é errado. E é isto que faz uma boa liderança: homens com coragem, honestidade e crença no que é certo; é isso que marca um novo período na história da humanidade.

Eu não somente concordo, mas ainda adiciono: é isso o que forma uma liderança piedosa na igreja.

Um presbítero é modelo de cuidado com os outros; possui convicções pessoais baseado no que é bom; pratica o bom senso. Agora, outra qualidade ainda surge das páginas desta carta de Paulo a Tito. Note no verso 8 que ele também é “justo.”

  • Quarto, o presbítero é modelo pessoal de consistência.

As últimas três características, justo, piedoso e que tem domínio de si, estão ligadas a um relacionamento correto.

Justo—refere-se ao relacionamento correto do presbítero com outras pessoas.

Piedoso—refere-se ao relacionamento correto do presbítero com Deus.

Com domínio de si—refere-se ao relacionamento correto do presbítero consigo mesmo, ou seja, seus apetites e atitudes.

A palavra “justo” carrega a ideia de um jogo justo e um aperto de mão sincero. É assim que nos relacionamos com as demais pessoas.

Os gregos definiam um homem justo como alguém que dava a outro homem o que devia.

A palavra “justo” está ligada ao esforço do homem de trilhar o caminho, praticar o que prega, garantir que sua vida seja consistente com as suas palavras.

E isso é importante porque a vida do pastor deve ser um padrão que reflete o caráter do Supremo Pastor que ele representa. As pessoas estão observando. Sempre!

Como nossos filhos nos observam, mais até do que sabemos e do que conseguimos imaginar. E a prova é que começam a andar e conversar como nós, até mesmo no sotaque. E isso nos gera medo, não é? Bom, que esse medo dobre nossos joelhos com mais frequência para clamar pela graça de Deus sobre nossas vidas e sobre as vidas de nossos filhos.

Lembro-me de quando era pastor de jovens muitos anos atrás. Eu trabalhei muito com um adolescente que mentia demais; era quase impossível consegui-lo dar uma resposta franca. Eu nunca sabia quando ele estava me dizendo a verdade. Depois, descobri que seu pai viera mentindo para sua empresa e acabou despedido.

Agora, não me entenda mal. Não estou dizendo que toda criança desonesta tem um pai ou mãe desonesto. Eu sei disso porque fui uma criança desonesta, mas meus pais eram honestos. O problema surge quando os pais recusam ou abandonam o modelo. A criança ouve o pai ou a mãe ligando para o trabalho dizendo que está doente, mas sabe que ele vai jogar futebol mais tarde ou ela tem planos de ir ao shopping; as crianças observam quando alguém liga querendo falar com o pai e o pai manda a mãe dizer que ele não está em casa. E esse tipo de comportamento se torna normal, padrão.

Li um artigo de jornal uma vez sobre uma mãe que estava sendo observada pela vigilância enquanto andava no mercado com seus filhos. Ela passava pelos corredores apenas tocando nos produtos e seus filhos vinham atrás dela pegando os produtos e os colocando nos bolsos.  Um dia, eles irão roubar de sua mãe; ela será a vítima.

Um jornal local estava fazendo uma cobertura anual de um programa feito por uma organização de saúde da qual milhares de médicos e enfermeiros fazem parte. O objetivo era ajudar as pessoas a terem uma melhor saúde do coração. A ênfase era nos tipos de comida com muita fritura, como hambúrguer, batata frita e outras coisas. O repórter estava fazendo entrevistas e, em uma de suas entrevistas, perguntou a um cardiologista onde ele tinha comido seu almoço naquele dia—mas o repórter tinha visto o cardiologista comendo hambúrguer com batata frita. O repórter lhe perguntou se ele não estava sendo inconsistente com o programa, dando um mau exemplo. O médico replicou: “Não, acho que não. Eu retirei o crachá do meu jaleco antes de entrar.”

Ah, com certeza, isso resolve o problema!

De certa maneira, Paulo está dizendo aos presbíteros que eles não podem retirar seus crachás; e isso serve para todos os crentes. Seu nome está sempre escrito no seu peito; essa é o novo normal!

A palavra utilizada por Paulo para “justo” indica um homem ou mulher de palavra e você vive com o senso de que seu nome—crente—está sempre visível para as demais pessoas. E, se você é um pastor, provê o modelo para esse tipo de sensibilidade. E o nível ainda é mais alto para os que não são somente crentes, pastores. Seu nome acompanha você em todo lugar.

Não conseguiremos falar das três outras características em nosso estudo de hoje. Mas falaremos no próximo estudo. Deixe-me terminar fazendo uma pergunta: “O que realmente importa em sua vida, especialmente para você que é crente?  E, mais ainda, o que dizer de você, pastor, que precisa não somente dizer, mas também viver a verdade?

O que mais importa para nós é demonstrar com nossas vidas:

  • um cuidado pelos outros;
  • uma convicção pessoal baseada em tudo o que é bom;
  • um bom senso para tomar decisões sábias;
  • uma consistência pessoal pela justiça e integridade.

 

 

Este manuscrito pertence a Stephen Davey, pregado no dia 12/03/2012

© Copyright 2012 Stephen Davey

Todos os direitos reservados

 

 

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