
Despenseiros do Século Vinte e Um
Despenseiros do Século Vinte e Um
Tito 1.7
Introdução
O Sir Arthur Doyle foi o autor de Sherlock Holmes. Esse homem era, evidentemente, um homem bastante interessante. Em certa ocasião, ele fez um trote com seus amigos próximos e parceiros estimados que eram pessoas respeitadas na comunidade. Ele enviou um telegrama que dizia simplesmente: “Fujam todos, tudo foi descoberto!” Dentro de vinte e quatro horas, doze de seus amigos deixaram o país.
Esse não é um problema novo.
Diógenes, um cínico e filósofo do século quarto antes de Cristo, era conhecido por andar por Atenas com uma tocha brilhante. Quando lhe perguntavam o porquê daquilo, ele explicava que estava simplesmente em busca de um homem honesto, mas estava tendo dificuldades em encontrar um.
Warren W. Wiersbe, o ex-pastor da Igreja Moody e um autor prolífico, escreveu em seu livreto chamado Integridade em Crise:
A igreja se acostumou em ouvir pessoas questionando o evangelho simplesmente porque a mensagem parece tola; mas, agora, a situação se reverteu de forma vergonhosa, e o mensageiro é que se tornou o principal suspeito.
Em outras palavras, mostre-me um servo líder honesto.
A razão da importância da honestidade na igreja é bem óbvia. O mundo de hoje busca, basicamente, pela mesma coisa e faz as mesmas perguntas: “Por que deveríamos dar ouvidos a essa igreja? Como sabemos que você está dizendo a verdade? Você mesmo acredita nessas coisas? E, se sim, por que você e os demais líderes não praticam o que pregam? Será que a igreja pode ser considerada hoje digna de confiança?”
O apóstolo Paulo cria e ensinava que a solução começava com os líderes que ocupavam os ofícios espirituais submissos ao Espírito Santo.
Uma das perguntas mais cruciais a se fazer e responder é: “Quem está liderando aquela igreja? E por que eles são qualificados para liderá-la?”
Em seu comentário no livro de Tito, Charles Swindoll escreveu que Paulo exigia que os líderes fossem homens de caráter independente de sua idade, riqueza, experiência, poder e posição. Líderes devem demonstrar maturidade cristã aprovada.
Lembro-me da ocasião quando um proeminente líder evangélico em nosso estado veio à nossa igreja alguns anos atrás. Num belo dia, eu lhe mostrava nossa cidade pequena. Nossa igreja ainda era nova e estávamos em busca de um terreno e tentando levantar recursos para construir o templo. Ele se virou para mim e disse: “Você precisa é de homens ricos em sua equipe. A influência e recursos financeiros deles é que irão providenciar o que você precisa.”
Enquanto agradecia por seu conselho, algo em meu coração me fez dizer: “Acho que não concordo muito com isso não...”. Não encontramos nenhuma qualificação pastoral envolvendo finanças ou negócios.
Vários anos depois, muitos anos depois de ele ter se aposentado por causa da avançada idade, um escândalo se espalhou na cidade onde pastoreara. O presidente da sua igreja, um banqueiro conhecido e dono de várias terras, morreu com a esposa quando sofreram um acidente. Soube que o funeral deles foi bem organizado e muitas pessoas compareceram. A morte deles impactou a vida de milhares de pessoas.
Mas a notícia que correu alguns meses depois impactou a cidade de uma forma completamente diferente. Quando o testamento desse homem foi analisado, uma jovem de vinte anos apareceu na lista. A família, é claro, queria saber quem era essa moça. Ela dizia ser uma filha que o homem tivera fora do casamento e tinha prova suficiente de que ele a sustentara por vários anos—na mesma cidade. Ela tinha toda a prova de que precisava. A família, a igreja, os ministros e, mais importante, o nome e a causa de Cristo foram manchados na cidade após a notícia ter se espalhado. Além disso, todas as decisões importantes que esse homem havia tomado foram colocadas em dúvidas.
Agora, isso não significa que um banqueiro não pode ser um presbítero, que um homem rico e influente nos negócios está desqualificado para servir como líder, que a riqueza é maligna ou que alguém influente na comunidade tem segredos escondidos. Não. Isso simplesmente significa que escolher líderes de acordo com o sucesso terreno não é um padrão estipulado por Deus.
Como Paulo escreveu para seu jovem discípulo Tito que estava na ilha de Creta, as qualificações que encontramos em Tito 1 não se relacionam em nada com sucesso financeiro, mas com sucesso espiritual. Quanto um homem ganha não diz nada se ele pode ou não ser um líder. A quantidade de suas posses não determina se ele pode supervisionar o rebanho de Deus.
Então, o que determina? Paulo continua nos dizendo. Note comigo o verso 7 de Tito 1: Porque é indispensável que o bispo seja irrepreensível como despenseiro de Deus.
Paulo muda a palavra de “presbítero” para “episkopos” ou “bispo” no verso 7. O “supervisor” ou “episkopos” precisa ser alguém irrepreensível. Paulo muda as palavras.
A Igreja Católica diz que o bispo ocupa uma posição mais elevada do que o presbítero na cadeia alimentar. Assim, segundo essa tradição, Paulo começa a fornecer qualificações diferentes para uma posição mais elevada—o ofício de bispo.
O que isso convenientemente faz é separar o bispo do verso 7 das qualificações do presbítero no verso 6, onde lemos que ele precisa ser um marido e pai fiel. Isso, obviamente, dá permissão ao presbítero para que ele seja casado e tenha filhos.
Os líderes católicos afirmam que Paulo nos fornece uma lista para líderes casados na igreja, cujas qualificações se encontram no verso 6; depois, Paulo fornece outra lista para o ofício de bispos celibatários nos versos 7 a 9, onde não há referência alguma a esposa ou filhos. Dessa forma, os celibatários ficam livres para concorrer às posições mais elevadas, tornando-se cardeais e até papas.
O problema com toda essa tradição e hierarquia é o próprio versículo. A Bíblia atrapalha tudo isso! O verso 7 começa com a pequena palavra grega “gar,” traduzida como “porque”—Porque é indispensável que o bispo seja irrepreensível.
Em outras palavras, Paulo está, na verdade, dando continuidade ao seu pensamento sem nem mesmo uma pausa gramatical; ele não está mudando de assunto. Gramaticalmente, não existe pausa no fluir das características. Ele está, simplesmente, adicionando exigências para o mesmo ofício com um pouco mais de explicação sobre que tipo de homem deve ocupar a posição de presbítero/bispo/pastor na igreja.
O apóstolo Pedro, ironicamente, é o autor que usa os termos presbítero, bispo e pastor no mesmo texto ao se referir ao mesmo homem e ao mesmo ofício (1 Pedro 5.2). E Pedro era um homem casado. Pelo menos essa é a conclusão clara a que chegamos, uma vez que Jesus curou a sogra de Pedro, como lemos em Mateus 8.14. Jesus curou a sogra de Pedro. Não conheço muitos homens que estariam dispostos a ter uma sogra sem sair ganhando uma esposa no meio, não é verdade?
No início do verso 7, Paulo enfatiza novamente a característica categórica de “irrepreensível.” Ele repete no verso 7: Porque é indispensável que o bispo seja irrepreensível.
Lembre-se de que vimos em nosso estudo anterior que essa palavra não significa que o líder deve ser perfeito; se fosse esse o caso, ninguém concorreria ao cargo. Apesar de ele não ser perfeito, ele é fiel. Paulo não exige perfeição, mas alguém que demonstre um padrão piedoso de vida digno de ser imitado.
Primeiro, aqui no verso 6, ele deve ser fiel e digno de ser imitado em sua vida particular em seu casamento e controle dos filhos; segundo, nos versos 7 a 9, ele deve ser digno de ser imitado em sua vida pública e seu caráter.
Essa é a única mudança que Paulo tem em mente aqui no verso 7. De vida particular para vida pública. Na verdade, Paulo adiciona uma palavra interessante aqui na frase inicial. Note o verso 7:
Porque é indispensável que o bispo seja irrepreensível como (o que?) despenseiro de Deus...
A palavra “despenseiro” vem do grego “oikonomos”. “Oikos” é “casa” e “nomos” pode ser traduzido como “organizador.” Um despenseiro, portanto, é alguém que mantém a ordem na casa.
Um despenseiro nos dias de Paulo era frequentemente um escravo que havia subido em posição, sendo reconhecido como uma pessoa honesta em quem seu mestre poderia confiar para administrar os negócios de sua propriedade. O despenseiro não era dono da propriedade; ele apenas a administrava.
O despenseiro mais famoso na Bíblia é José (Gênesis 39). Ele foi vendido como escravo por seus irmãos e, por um tempo, pertenceu a Potifar. Mas ele se tornou um homem tão digno de confiança que Potifar o colocou na posição de administrador da sua casa.
Esta é a ideia na mente de Paulo quando ele escreve a Tito: um presbítero organiza e administra a casa de Deus.
Paulo, anteriormente, já havia dito ao presbítero Timóteo em 1 Timóteo 3, verso 15:
para que, se eu tardar, fiques ciente de como se deve proceder na casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo, coluna e baluarte da verdade.
Em outras palavras, a igreja é a casa de Deus e os presbíteros/bispos/pastores são os despenseiros de Deus nessa casa. Isso serve de lembrete de que a casa pertence a Deus; também nos lembra de que Deus deu essa supervisão aos presbíteros, os quais administram a igreja, organizam a igreja de Deus e prestam contas a Ele ao cumprirem a vontade dele ao alimentar, liderar, treinar, aconselhar, disciplinar, proteger, encorajar e equipar os membros da casa de Deus.
Você já deixou seus filhos sob os cuidados de outra pessoa? Precisa sair com sua esposa ou marido e contrata uma babá para vir à sua casa e cuidar de seus filhos por algumas horas. Você dá diretrizes, dizendo o que não fazer e o que fazer—não faça isso, não faça aquilo e não deixe as crianças fazerem aquilo outro. Ou seja, você começa com o negativo porque deseja total atenção da babá. Depois, dá uma lista dos positivos.
É exatamente isso o que Paulo faz aqui. Ele lista cinco negativos e sete positivos. Note o verso 7:
Porque é indispensável que o bispo seja irrepreensível como despenseiro de Deus, não arrogante, não irascível, não dado ao vinho, nem violento, nem cobiçoso de torpe ganância;
Deixe-me esboçar essas cinco características negativas da seguinte forma. Pelo fato de o presbítero/bispo/pastor administrar a casa de Deus, ele não pode ser:
- Cegado pela arrogância;
- Controlado pela ira;
- Influenciado pelo álcool;
- Conhecido pela violência;
- Guiado pela ganância.
- Primeiro, o presbítero não pode ser cegado pela arrogância.
Paul escreve: “O despenseiro de Deus não pode ser arrogante.”
O motivo por que isso ocupa o primeiro lugar na lista é que essa é uma atitude contrária à do despenseiro. O despenseiro não faz a sua vontade, mas a vontade do seu mestre. O despenseiro não é o dono da casa, mas apenas administra a casa por algum tempo.
Voltando à ilustração da babá, você não espera chegar em casa e descobrir que ela usou sua maquiagem, pintou a sala de verde limão e se livrou do cachorro. Se você não deu essas ordens, com certeza, ela não será contratada novamente. Essa não é a casa dela, não são as roupas dela e o cachorro não é dela. Ela não foi trazida à sua casa para fazer a vontade dela.
Agora, deixe-me adicionar que a palavra “arrogância” não possui a conotação forte que os leitores e ouvintes da carta nos tempos de Paulo notaram. Para nossa cultura, essa palavra não é tão pesada. Ele, na verdade, se refere a alguém dado à arrogância de tal forma que se acha no direito de posse. Esse indivíduo não existe por causa da igreja; a igreja é que existe por sua causa!
Na analogia da babá, isso se equipara a você chegar em casa e descobrir que ela mudou as fechaduras, tirou as suas roupas do guarda-roupas e colocou as dela e até pendurou uma plaquinha na porta de entrada com o nome dela.
Uma pessoa assim não anda, mas galopa.
Um líder assim é convencido por sua própria importância, está cegado por seu próprio reflexo.
E essa foi a queda de Lúcifer. Ele recebeu a maior de todas as responsabilidades e o que fez? Ficou cegado por sua própria arrogância e disse, como lemos em Isaías 14.13-14:
Eu subirei ao céu... exaltarei o meu trono... me assentarei... subirei acima das mais altas nuvens e serei semelhante ao Altíssimo.
Subirei... exaltarei... assentarei.... subirei... serei. Lúcifer tinha grande autoridade; ele simplesmente se esqueceu de que a vontade de Deus era infinitamente mais importante.
Um autor disse: “Um presbítero nunca diz: ‘Isso é meu!’ Tudo o que ele tem vem de Deus. Seu tempo, suas posses, seus desejos e talentos são todos emprestados do Senhor e ele deve utilizá-los fielmente para honrar a Deus e construir a igreja de Deus.”
Paulo diz: “Tito, certifique-se de que concederá poder apenas àqueles que não amam o poder.”
- Segundo, o presbítero não pode ser controlado pela ira.
Paulo descreve isso no verso 7 como “não irascível.” É importante entendermos que Paulo está se referindo a um estilo de vida, um hábito.
Existem duas palavras gregas para “ira.” Uma é “thumos,” que se refere ao tipo de ira que se acende rapidamente, mas que também se apaga rapidamente, como palha lançada ao fogo.
A outra palavra é “orgilos,” que se refere ao tipo de ira que o homem possui e nutri para que sempre permaneça acesa.
Paulo, portanto, se refere aqui não a manifestações ocasionais de ira, mas a uma pessoa com propensão à ira. Trata-se de pessoas conhecidas por sua ira. Elas possuem uma inclinação íntima à ira mais do que a outras emoções e são facilmente provocadas a reagir dessa forma.
O motivo por que isso é tão crucial é simplesmente que o trabalho com pessoas apresenta muitas oportunidades para alguém se irritar e irar, não é verdade? Se você serve numa sala de aula, lidera um estudo bíblico, se voluntaria a liderar um ministério, ensina aquela turma, administra aquele departamento no trabalho, ajuda num time de futebol, então, com certeza, tem muito mais motivos para se irritar, não é mesmo? Se é propenso a se irritar, todos perdem com isso.
Um autor escreveu que o presbítero qualificado deve se resguardar do espírito de hostilidade, ressentimento e ira, mesmo quando tudo na igreja pareça estar indo na direção errada e as pessoas sejam críticas e indiferentes.
Isso me lembra do que outro autor escreveu e todos os líderes podem se identificar com isto: “Ser um líder é como administrar um cemitério: existem muitas pessoas, mas nenhuma parece estar ouvindo você.”
Então, o que vai fazer?
Considere Jesus, o Supremo modelo de Pastor. Você consegue imaginar passar três anos com Simão Pedro, Tomé e Judas na mesma sala? Mesmo depois de três anos, eles ainda estão discutindo sobre quem será o maior no reino dos céus! E Jesus se levanta na última ceia e lava os pés deles, incluindo os pés de Judas (João 13.5). Ele não os ensinou com punhos cerrados, mas com uma toalha e uma vasilha de água.
Ele os ensinou como reagir às piores ofensas em oração, quando, pendurado na cruz, disse: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem.
Então, é como se Paulo estivesse dizendo: “É exatamente esse o tipo de padrão que eu quero que seja o modelo na igreja. Nosso primeiro modelo foi Jesus, nosso Mestre.”
O presbítero não pode ser cegado pela arrogância ou controlado pela ira.
- Terceiro, o presbítero não pode ser influenciado pelo álcool.
Paulo escreve: “O despenseiro de Deus não pode ser dado ao vinho.” A palavra usada aqui carrega a ideia de ser continuamente acompanhado pelo vinho. Em outras palavras, o vinho não deve ser o seu companheiro.
Se você estudar a instrução bíblica sobre bebidas alcoólicas, como podemos chamá-las, logo notará que a abstinência não é ordenada. Na verdade, não existe nenhum verso declarando que o crente deve se abster do vinho por toda sua vida. O que encontramos são fortes exortações contra a bebida forte e muito vinho.
O presbítero não pode ser conhecido como alguém que está sob influência de vinho; disfarçar exigiria um grande esforço da parte dele.
O que precisamos levar em consideração é que o vinho da época era usado para purificar água. E isso explica por que Paulo disse a Timóteo em 1 Timóteo 5, verso 23: usa um pouco de vinho, por causa do teu estômago.
Ao que parece, Timóteo estava tão preocupado com sua reputação como jovem presbítero para que não fosse visto como alguém atrelado ao vinho ou sob influência de vinho, a ponto de se distanciar completamente do vinho e passar a beber água pura, o que, obviamente, não era algo seguro de se fazer.
Já fui a países onde a água não é purificada de forma segura e decidi comprar água em garrafa; até escovava meus dentes com ela. Na hora do banho, fechava minha boca bem para não engolir nenhuma gota, o que seria suficiente para causar danos.
Timóteo precisava beber água misturada com vinho; basicamente, água livre de contaminação.
Um especialista em estudos bíblicos analisou o processo de fabricação do vinho do primeiro século e comentou dizendo que a pessoa do primeiro século teria que beber doze taças de 240 ml de vinho para ingerir o equivalente de álcool conseguido hoje em apenas uma dose de Martini.
O vinho de hoje pode ser comparado à bebida forte da antiguidade, a qual a Bíblia proíbe. Por quê? Porque ele embriaga a pessoa com muita rapidez e interfere em seu julgamento e discernimento.
O que acho trágico em nossa geração é que, mesmo sabendo que grande parte dos assassinatos, suicídios e acidentes estão relacionados ao álcool—que uma a cada quatro famílias tem problema com substâncias abusivas; que o álcool é um dos principais elementos causadores de doenças; que bebida reduz a expectativa de vida, destrói famílias, acaba com as finanças de lares e muito mais—, muitos presbíteros hoje defendem a bebida alcoólica. Ao contrário, o pastor deveria se tornar um padrão e fugir da bebida entorpecente!
Adicione a isso ainda o fato de que Paulo e Timóteo e Tito não terem muito o que beber. Podemos escolher centenas de bebidas que não interferem em nosso juízo, atrapalham nosso testemunho ou, talvez, tacitamente apoiam algo que, possivelmente, se tornaria a causa de crentes novos caírem, como Paulo escreveu em 1 Coríntios 8.9, 11: perece o irmão fraco, pelo qual Cristo morreu.
Salomão escreveu em Provérbios 31.4–5:
Não é próprio dos reis, ó Lemuel, não é próprio dos reis beber vinho, nem dos príncipes desejar bebida forte. Para que não bebam, e se esqueçam da lei, e pervertam o direito de todos os aflitos.
Timóteo estava fazendo bem. A questão não é quanto posso beber sem me tornar tropeço a algum irmão, mas como posso me distanciar o máximo possível disso?
E Paulo escreve aqui: “não dado ao vinho;” ou seja, ele não está sempre bebendo, o que implica dizer que ele não é o tipo de homem que beberá doze taças de 240 ml ou mais a ponto de se embriagar.
Sinceramente, fico espantado ao ver pastores que conduzem, em sua própria casa, um pequeno alambique. É isso mesmo! Muitos fabricam cerveja em casa. Essa é a nova moda evangélica que enfatiza a liberdade e o ato de relevar as coisas.
Um homem saiu da sua igreja em nossa cidade veio para a nossa igreja. Ele comentou que havia participado de um estudo bíblico para homens em sua igreja antiga onde todos bebiam cerveja—começando com o pastor e incluindo todos no grupo. Mas esse homem estava se recuperando do alcoolismo e sentiu muito tentador se envolver com aquilo que os demais viam apenas como uma questão de liberdade cristã.
Ouça bem: às vezes, nossa liberdade estrangula o bom-senso.
Você não vê isso em nossa igreja pelo simples motivo de nossos presbíteros e diáconos influenciarem as pessoas para uma vida santa; eles são encorajados não a cuidarem com o quanto podem beber, mas quão limpos e distantes conseguem ficar da bebida.
E esse princípio não envolve apenas bebida, mas a glutonaria, a escolha de filmes, músicas e muitas outras coisas.
As pessoas procurarão desculpas para essas práticas e enfiarão tudo em Romanos 14, dizendo: “Ouça, é minha prerrogativa e meu direito; então, não me incomode.”
Um presbítero não pensa dessa forma. Ele pensa no que é o melhor para o rebanho. O que os mantém longe do precipício? O que mais os protegeria?
A questão não é com quanto podemos nos envolver, mas como posso me distanciar o máximo disso.
Pais e mães precisam tomar cuidado, porque aquilo que você permite na TV se torna o padrão que seus filhos imitarão; o que você ouve endossa ou apoia sua origem; o que tem em sua geladeira se torna o ponto de partida para seus filhos; e eles levarão as coisas muito mais além do que você tinha sequer imaginado.
Para o pastor, ele não deve permitir nada que venha a entorpecer sua mente e seus sentidos.
Mas Paulo continua com sua lista.
- Quarto, o presbítero não pode ser conhecido como um homem violento.
Paulo escreve no verso 7: “nem violento.”
Essa palavra se refere a um “nocauteador,” alguém que bate e fere. É interessante que nos Cânones Apostólicos encontramos uma proibição que diz: “Ordenamos que o bispo que nocauteia o crente em pecado seja retirado.”
Evidentemente, o costume era bater, literalmente, em qualquer um que saísse de ordem.
A palavra passou a se referir a violência não somente física, mas também verbal. Passou a se referir a um repreensor severo, abusivo com suas palavras.
Essa atitude é de importância crucial simplesmente porque os presbíteros lidam frequentemente com conflitos emocionais; eles se envolvem em profundas discordâncias teológicas; o presbítero se encontrará, com bastante frequência, no meio de situações tensas como um juiz. E os torcedores correm para cima de quem? Do juiz.
O que Paulo diz aqui é que, se o presbítero tende a reagir às ofensas também com ofensas, se ele revida os insultos, se grita de volta contra quem o ofendeu, se repreende duramente e menospreza os que lhe estão submissos, então, ele não é qualificado porque o padrão de vida dele não segue a reação de Cristo diante dos insultos e ofensas.
Um autor nota: “Se ele for tratar as ovelhas com aspereza e machucá-las; se ele, em sua frustração, for responder às ovelhas com violência verbal, ele não poderá ser um dos sub-pastores de Cristo.” É bem simples.
Outro autor, ao comentar nesse texto, escreveu: “Verdadeira autoridade espiritual não está relacionada a [língua feroz] soqueira e punhos cerrados.”
Um presbítero não pode ser alguém:
- controlado pela ira;
- influenciado pelo álcool;
- conhecido por sua violência.
- E, quinto, o presbítero não pode ser guiado pela ganância.
Paulo escreve no verso 7: “nem cobiçoso de torpe ganância.” Paulo se refere aqui a um pastor cuja vida, em tudo quanto faz, gira em torno de dinheiro.
O dinheiro determina seu caráter, guia suas ambições e é o assunto da maioria de suas conversas a ponto de outros notarem que o dinheiro é o chefe em sua vida.
Talvez essa característica tenha sido incluída na lista porque os cretenses tinham uma reputação de avarentos. Um poeta romano disse que os cretenses eram tão ávidos por dinheiro quanto abelhas são por mel.
É como se Paulo exortasse Tito a não escolher um cretense como presbítero, ou pelo menos garantisse que esses crentes tivessem arrancado o espírito cretense deles primeiro. Caso contrário, o ministério deles favoreceria os ricos, eles seriam comprados com facilidade e tomariam decisões baseadas no dinheiro então no ministério.
O motivo secreto deles de servir no ministério seria tosquiar as ovelhas ao invés de alimentá-las. E isso é a natureza oposta do ministério de um pastor, que é dar, ser generoso e administrar fundos para o benefício do rebanho.
De fato, a palavra seguinte em Tito 1.8 é um contraste direto com a avareza: “hospitalidade,” espírito generoso. A generosidade deve ser a marca oficial no coração do pastor.
Existe alguém mais generoso do que Cristo, nosso Supremo Pastor? Ele, por acaso, não derrama diariamente sua graça sobre nós? Portanto, seus sub-pastores não podem ser gananciosos, avarentos, mas generosos e com grande coração para dar. Vamos seguir o exemplo de Cristo nesse sentido à medida que damos aos outros daquilo que temos.
Que nosso modelo de Cristianismo, como rebanho e, especialmente, como despenseiros da casa de Deus no século 21, seja de:
- não guiados pela ganância;
- não conhecidos por sua violência;
- não influenciados pelo álcool;
- não controlados pela ira;
- não cegados pela arrogância.
Este manuscrito pertence a Stephen Davey, pregado no dia 04/03/2012
© Copyright 2012 Stephen Davey
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