
Tudo ou Nada
Tudo ou Nada
Tito 1.1c–3
Introdução
Em um livro que li, o autor conta a história de como o curso de filosofia começa numa universidade secular americana. O professor geralmente introduz o curso perguntando quantos alunos creem que a verdade é relativa. Em outras palavras, quantos creem que não existe padrão absoluto para certo e errado. As dezenas de mãos levantadas revelam que a maioria da turma caiu na onda do relativismo moral. Sem demoras, o professor pede que seus alunos abram suas anotações e começa a discutir sobre as datas das provas, trabalhos e outras atividades durante o curso. Daí, ele os diz que, na realidade, cada aluno receberá a nota de acordo com sua altura. E, em cada semestre, sempre existe um aluno alto nesse ponto para dizer: “Legal!” Mas, o professor, então, diz: Alunos baixinhos receberão as melhores notas.”
Inevitavelmente, os alunos começam a protestar e dizer: “Você não pode fazer isso... o seu sistema de avaliação não é justo.” E ele responde: “Eu sou o professor e dou notas do jeito que quiser.” Os alunos insistem: “O que você deve fazer é nos examinar de acordo com aquilo que aprendemos. Você precisa analisar nossas provas e trabalhos e concluir o quanto aprendemos – essa deveria ser a base para as nossas notas.”
O professor replica: “Ao me dizer o que eu devo fazer e o que eu não posso fazer e o que preciso fazer, vocês contradizem a crença de que a verdade é relativa. Se vocês fossem verdadeiros relativistas, perceberiam que não existe nenhum padrão externo que rege meu sistema de avaliação. Se a minha verdade e o meu padrão de ética me conduzem a um sistema de avaliação alternativo que vocês consideram inapropriado, então, fazer o quê, é a vida!”
E ele estaria certo... mas esses alunos são relativistas falsificados.
Na verdade, volte ao primeiro século e você descobrirá essa regra cultural na ilha de Creta, com uma população de 1 milhão de pessoas que fizeram do relativismo sua forma de vida.
E nas palavras iniciais do apóstolo Paulo, nós o vemos descarregando verdades objetivas imutáveis.
E, ao começar sua carta a Tito, esse jovem pastor na ilha de Creta, descobrimos o fervor de Paulo, o escravo de Deus.
Poderíamos chamar de os traços do fervor de Paulo – características de alguém que é tudo ou nada para a glória de Deus.
Nas primeiras linhas de sua carta a Tito, Paulo diz sem restrição: “Deus é o meu Mestre e eu sou o Seu mensageiro.”
Para Paulo, Cristianismo é bem amplo... é, na verdade, tudo ou nada.
Até o momento, já identificamos duas características do fervor de Paulo:
- Paulo tinha um fervor pelos eleitos de Deus – ou seja, ele tinha fervor pela fé genuína do povo de Deus. Ele literalmente deu sua vida para estabelecer e proteger e desenvolver a fé da igreja.
- Segundo, Paulo tinha fervor pela verdade de Deus – ou seja, ele viveu para desenvolver a substância de entendimento do crente a respeito da verdade – a verdade objetiva da Palavra de Deus.
- E agora, terceiro, quero que você note o fervor de Paulo pela glória de Deus.
Note, novamente, o que ele diz no verso 1 de Tito 1:
Paulo, servo de Deus e apóstolo de Jesus Cristo, para promover a fé que é dos eleitos de Deus e o pleno conhecimento da verdade segundo a piedade.
Uma das coisas que Paulo faz ao esclarecer sua declaração sobre a verdade é enviar um claro alerta a Tito e às igrejas.
Eles ouvirão muitas mensagens sendo declaradas como verdades espirituais; mas, se elas não promovem a piedade, então, não são verdades válidas.
- Se promove materialismo e egocentrismo, então, não é a verdade;
- Se endossa o comportamento pecaminoso, então, não é a verdade;
- Se estimula a avareza e autossatisfação, então, não é a verdade.
Paulo está dizendo que o evangelho nos conduz à piedade; e ele também esclarece o grande incentivo em se seguir a piedade.
É fácil para nós querer crescer na piedade, mas ignorar o motivo primário.
Não somos fervorosos em crescer no nosso conhecimento da verdade para sermos crentes mais inteligentes. Veja, as pessoas irão ficar admiradas com o nosso conhecimento bíblico!
A palavra “piedade” se refere tanto a viver a verdade diante dos outros, [mas com a nuança de] reverência a Deus.
Ou seja, nós queremos ser piedosos porque queremos temer a Deus. Desejamos ser piedosos para edificar a reputação de Deus e Sua posição.
Não queremos ser piedosos para ganharmos prêmios ou vermos nossos nomes no boletim da igreja.
Buscamos fervorosamente viver a fé para que o nome de Deus receba a grande credibilidade e honra e glória merecidas.
Um autor escreveu:
Não é incrível o que Deus pode fazer através das pessoas quando elas não buscam o crédito?
Hudson Taylor, o grande missionário pioneiro na China, estava, certa vez, quando já velho, andando nua carruagem com um amigo quando seu amigo lhe perguntou: “Você deve estar sempre consciente na forma maravilhosa como Deus tem prosperado você e as Missões na China, não é? Duvido que um homem já teve tanta honra em sua vida.” Ao que Hudson Taylor virou-se ao seu amigo e disse: “Você precisa saber que é assim que eu penso – creio que Deus estava buscando alguém pequeno o suficiente e fraco o suficiente para Ele usar, a fim de que toda glória [devidamente] fosse Dele – e Ele me encontrou.”
Esse é o fervor de um verdadeiro escravo de Cristo. Não é para nós – é para a glória de Cristo, para a Sua grandeza, para a Sua reputação, para a Sua honra.
Paulo escreveu em Gálatas 6, verso 14: “Mas longe esteja de mim gloriar-me, senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim, e eu, para o mundo.”
Em outras palavras, “Deus me livre que alguém tome para si a glória da Pessoa de Jesus Cristo.”
Esse era o fervor de Paulo – viver o evangelho de tal forma que Deus fosse glorificado.
E note, novamente a conexão em Tito entre verdade e piedade: pleno conhecimento da verdade segundo a piedade.
Ou seja, verdade espiritual que não produz piedade não é uma verdade.
Comportamento externo comprova a natureza da verdade interna. Na verdade, o que você crê internamente se revela em como você se comporta exteriormente. Como você se comporta diz o que você realmente acredita.
Em nosso estudo anterior, eu mencionei a lei da gravidade. O que você crê sobre essa lei determina como você se comportará à beirada das cataratas de Foz do Iguaçu. Você se comportará de determinada maneira porque você crê numa verdade genuína e objetiva – a lei da gravidade.
O saber determina o viver.
E, a propósito, “saber” a verdade não elimina a batalha do “viver” a verdade.
Saber mais um verso bíblico não livrará você da próxima batalha espiritual contra o diabo, o mundo ou a sua própria carne.
Por isso piedade é, de forma bem realista, uma “busca.”
E a que tipo de piedade Paulo está se referindo nesse texto? Será que ele está falando de uma lista deveres e proibições, um padrão de vida?
Você pode viajar ao redor do mundo perguntando sobre a definição de piedade e você terá muitas respostas diferentes.
Na verdade, se eu estivesse pregando num país da Europa Oriental, eu teria que tirar minha aliança, porque, para eles, aliança é sinônimo de materialismo e gasto desnecessário. Então, teria que tirar minha aliança.
Já faz anos que não tiro minha aliança; sabe por quê? Porque não consigo. Não, estou brincando – se alguém de der um pouco de manteiga eu consigo tirá-la.
Na verdade, eu quero deixar minha aliança em meu dedo porque em nossa cultura ela não é sinônimo de materialismo, mas de casamento. Significa que eu pertenço a alguém; eu tenho uma esposa por aí.
Estarei pregando em Santiago do Chile próxima semana e me pergunto o que deverei vestir para pregar naquela cultura. Um terno? Talvez uma calça com blazer seja vista como extravagante? Ou será que uma camisa e gravata serão suficientes?
O problema em tentar definir piedade com aparências externas é que a definição irá variar de país para país, de igreja para igreja.
Então, deixe-me simplificar isso para você e garanto que isso será relevante em qualquer cultura.
Piedade é simplesmente “Segundo Deus.”
Um autor define piedade ao escrever que piedade são expressões diárias que revelam o caráter de Deus.
Ou seja:
- Se Deus é amor, piedade consiste em amor por ações e obras;
- Se Deus é misericordioso, piedade consiste em ser misericordioso;
- Se Deus é paciente e bondoso, piedade é expressada pela paciência e bondade;
- Se Deus odeia o orgulho e a preguiça e a glutonaria, então, crescer em piedade significa que cresço distante do orgulho, da preguiça e da glutonaria; o que significa que paramos de dar desculpas e confessamos esses pecados;
- Se Deus deseja pureza sexual – tanto física como mental – então piedade é a busca pela pureza em cada área da vida.
E assim vai...
Piedade é ser “parecido com Deus.”
Por isso é que preferimos nossa própria lista; é muito mais fácil tentar evitar as doze coisas imundas ou fazer as sete coisas santas do que tentar demonstrar a natureza de Deus.
Piedade não é uma lista, é uma vida. É a vida de Cristo em você que revela através de você o caráter de Deus para a glória de Deus.
Esse é o item genuíno.
Li recentemente sobre um episódio de um programa no History Channel sobre um homem que trouxe um violino e pediu que você avaliado. Ele havia, há pouco tempo, comprado uma propriedade com uma casa e um galpão. Logo após a compra, enquanto inspecionava o galpão, ele achou esse violino guardado lá com segurança. Ao retirar a poeira que cobria esse instrumento quase em perfeito estado, ele achou o nome “Stradivarius” escrito de forma bem clara. Sua descoberta poderia, na verdade, valer milhões de dólares. Mas, os especialistas não concordaram. Após examinarem o violino, eles disseram ao homem que aquele não era um Stradivarius verdadeiro – o nome havia sido falsificado. O violino era uma imitação produzida no início dos anos de 1900, valendo apenas cerca de 1000 reais. O avaliador concluiu dizendo ao dono do violino abatido: “Lembre-se, simplesmente porque algo tem um nome, não significa que seja verdadeiro.”
E é exatamente contra isso que Paulo alerta aqui – algo com nome de espiritual ou verdade religiosa ou verdade bíblica não significa necessariamente que seja um item genuíno.
Só porque o nome de Deus está ligado a alguma coisa não significa que aquilo esteja ligado à natureza de Deus.
Ouça bem: a assinatura de Deus tem sido falsificada no decorrer da história; e ainda é falsificada hoje.
Tito, você terá que ajudar o rebanho a crescer no conhecimento da verdade – o elemento genuíno; e a maneira como você sabe se é genuíno ou não é porque o genuíno o conduzirá a um caminho que redundará em glória ao caráter e nome de Deus.
Isso sim que é viver com fervor pela glória de Deus.
Existe, ainda uma outra característica do fervor de Paulo em suas frases iniciais a Tito.
- Paulo tem fervor pelos eleitos de Deus; ele tem fervor pela verdade de Deus; ele tem fervor pela glória de Deus; agora, note, ele tem fervor pela presença de Deus.
Ele escreve no verso 2:
na esperança da vida eterna que o Deus que não pode mentir prometeu antes dos tempos eternos
Você perceberá uma progressão nas primeiras declarações de Paulo entre viver e aprender e, enquanto isso, esperar pelo aparecimento de Cristo.
Essa é a vida eterna; e ele irá descrevê-la melhor no capítulo 2.
Agora, quando nós usamos a palavra esperança, geralmente nos referimos a algo que esperamos que aconteça ou não no futuro.
Dizemos coisas do tipo:
- Espero que não chova no dia do nosso casamento;
- Espero que seja promovido próxima semana;
- Espero que nossa casa seja vendida esta semana;
- Espero que nossa cadela não tenha mais nenhum filhote;
- Espero que o Flamengo ganhe (ou perca!) próxima quarta;
- Espero que o Corinthians perca para o Palmeiras hoje (isso não está no texto, mas o assunto dos irmãos “coríntios” é bíblico!)
Quando Paulo utiliza a palavra esperança, ela possui uma qualidade totalmente diferente; essa é uma [realidade] futura baseada nas promessas de Deus.
A palavra aqui para esperança é sempre usada no Novo Testamento como uma “expectativa confiante;” neste caso, a vida eterna.
Mantenha sempre em mente que o crente já possui a vida eterna.
Estas coisas vos escrevi, a fim de saberdes que tendes a vida eterna, a vós outros que credes em o nome do Filho de Deus.
Como crente, você já possui a vida eterna.
Mas Paulo está se referindo a algo futuro. Ele se refere aqui em Tito à consumação final da vida eterna quando Cristo nos reunir para Si. Esse será um momento glorioso que cada crente aguarda ansiosamente.
...mas também nós, que temos as primícias do Espírito, igualmente gememos em nosso íntimo, aguardando a adoção de filhos, a redenção do nosso corpo.
E como podemos ter tanta certeza de que nossa esperança não será despedaçada? Como é que nossa esperança está baseada na certeza? Como Paulo pode ter tanta certeza?! E ele responde mais à frente no verso 2:
na esperança da vida eterna que o Deus que não pode mentir prometeu antes dos tempos eternos
Deus prometeu!
“E Deus,” Paulo relembra, “Deus não pode mentir” – literalmente – um Deus não-mentiroso.
E essa era uma declaração surpreendente para aquela geração; os deuses gregos, romanos e cretenses eram tão bons em mentir e enganar quanto os humanos.
Mas Deus não! Conforme 1 Samuel 15, verso 29:
Também a Glória de Israel não mente...
E Hebreus 6, verso 18:
...é impossível que Deus minta...
Deus prometeu! Essa não era uma promessa feita por Paulo, ou pelos demais apóstolos, ou pela igreja. Seres humanos e instituições humanas são culpados de fazerem promessas e não as cumprirem.
Quebrar promessas está em nossa natureza, mas não na natureza de Deus. O que Deus promete, Ele cumpre.
Agora, quero que você note que Paulo adiciona uma frase interessante aqui:
que o Deus que não pode mentir prometeu antes dos tempos eternos
O tempo é usado no passado para se referir a um evento no passado.
Essa promessa foi feita “antes dos tempos eternos.” Paulo usa essa expressão somente duas vezes em suas cartas. Significa, “antes que existisse mundo,” ou, “antes que o tempo começasse.”
Sabe o que Paulo está dizendo aqui? Ele está dizendo que a minha e a sua salvação é uma das promessas mais antigas já registradas. Antes que os tempos começassem, vida eterna já havia sido prometida por Deus.
E Paulo diz também que a promessa da vida eterna não é somente uma promessa antiga, mas que ela não foi feita comigo e com você primeiramente; ela foi uma promessa feita entre as Pessoas da Triunidade. Eles prometeram entre Si. O Pai disse ao Filho e o Filho disse ao Espírito e o Espírito disse de volta ao Filho e o Filho disse ao Pai: “Façamos uma promessa entre nós que a vida eterna estará nos planos para a futura criação.”
Pensamos que Deus prometeu o céu a nós, os crentes, e isso é verdade. Mas, ouça bem: o Deus Pai prometeu isso ao Deus Filho. O Deus Espírito prometeu isso ao Deus Pai.
Essa é uma promessa que Eles fizeram entre Si! E Eles têm trabalhado em perfeita unidade para manter a promessa que fizeram entre Si, promessa feita antes que o tempo fosse sequer iniciado.
Sabe o que mais isso significa? Significa que o plano de redenção dos pecadores não entrou em existência somente após a queda do homem, mas antes que o homem fosse até mesmo criado.
Por isso a crucificação de Cristo não foi um plano de emergência, elaborado pelo Pai que tenta, com muita dificuldade, estar um passo à frente da humanidade.
Pedro pregou em Atos 2, verso 23, que a crucificação de Cristo era parte do plano e desígnio de Deus.
Você pode dizer: “Nossa, você está me confundindo todo aqui!” Mas eu também não entendo completamente!
Descobrir que a promessa da vida eterna foi feita antes do tempo entre os Membros da Triunidade torna Deus ainda muito mais misterioso, e maravilhoso, e infinito, e glorioso. E sabemos que isso é verdade porque move nossos corações para viver ainda mais para Ele e menos para nós mesmos. Isso posiciona nossos pés no caminho da piedade.
E também nos incita a desejar pelo cumprimento das eras e pela consumação do plano de Deus que nos conduz à Sua presença para sempre. Então, nossa carne fraca e caída será retirada e seremos revestidos de imortalidade e de perfeição e de santidade (1 Coríntios 15).
O apóstolo Paulo recebeu um tour no céu e contemplou uma fagulha da glória do porvir (2 Coríntios 12).
Isso explica como ele nos serve de um modelo de escravo de Deus; fervoroso pelo povo de Deus; fervoroso pela verdade de Deus; fervoroso pela glória de Deus; fervoroso pela presença de Deus. Ele viu a casa do Pai; ele provou das mesmas visões que João provou e testemunhou as emoções da redenção final e da glória do trono de Deus e espera, ansiosamente, estar um dia permanentemente naquele lugar.
- Finalmente, Paulo é fervoroso pela tarefa de Deus.
O verso 2 diz:
na esperança da vida eterna que o Deus que não pode mentir prometeu antes dos tempos eternos
E o verso 3:
e, em tempos devidos, manifestou a sua palavra mediante a pregação que me foi confiada por mandato de Deus, nosso Salvador,
O que Paulo está dizendo é que Deus revelou Sua Palavra, Seu logos, a palavra que Paulo usa aqui. Paulo frequentemente usa logos para se referir ao evangelho em si.
Deus revelou o evangelho, os mistérios dos tempos manifestados por meio de Cristo e Sua igreja (Efésios 5.32).
Em outras palavras, a única fonte dessa verdade monumental, a única mensagem verdadeira sobre Deus, o único caminho eficaz de achá-lo, a única forma de lhe agradar e a única esperança de estar para sempre com Ele são manifestadas em Seu Logos – Sua Palavra.
E Paulo enfatiza a proclamação do Logos.
Na verdade, a palavra para “pregação” é “kerygma” aqui no verso 3. Ela geralmente é usada para a tarefa de um arauto que representa algum governante ou concílio, sob quem serve.
O arauto simplesmente entrega a mensagem de seu superior.
E Paulo tem um fervor forte pela sua tarefa e deseja passar o mesmo senso de urgência aos seus filhos na fé.
Em 2 Timóteo 4, verso 1, ele encarrega solenemente Timóteo...
...perante Deus e Cristo Jesus...
Pregue a Palavra!
Ainda me lembro com afeto a inspiração que eu sentia ainda quando ainda era aluno do seminário ao ver um pedestal de pedra no campus que tinha gravado em um lado as palavras: “Prega a Palavra.”
Em nosso mundo de hoje, o título de pregador está desaparecendo e o motivo é óbvio. Soa muito dogmático. Muito “preto e branco.” Sugere autoridade moral num mundo de incerteza moral.
“Não pregue para mim,” é a atitude de nossa cultura relativista.
Tenho percebido nos últimos dez anos que os pregadores e pastores evangélicos estão preferindo ser chamados de palestrantes e seus sermões de palestras, aulas ou até conversas.
Li uma entrevista feita com um pastor conhecido; mais de 20 mil pessoas o ouvem na rádio todos os domingos. Ele explicou que em 42 domingos do ano ele trata do assunto de relacionamentos humanos e problemas humanos e tópicos relevantes e usa um verso ou dois para apoiar seus ensinos. Dez domingos do ano ele estuda uma passagem das Escrituras. Ele disse ainda que prefere se referir a si mesmo como um “comunicador.”
Paulo escreveu a Timóteo de uma forma que está se tornando cada vez mais antiquada e fora de moda em 1 Timóteo 2, verso 7:
Para isto fui designado pregador...
Um “keryxon.”
Essa palavra é usada aqui porque Tito irá batalhar com falsos mestres.
Ele terá que enfrentar mestres criativos que ensinam erro e mito e especulação.
Eles são comunicadores e são muitos. Então, Paulo diz a Tito, com efeito: “Ouça, Tito, você é um expositor, um arauto da verdade de Deus.”
Um professor pode ensinar suas próprias coisas. Ele pode ensinar suas próprias perspectivas, escolher suas próprias palavras. Ele pode criar sua própria mensagem, explicar sua própria opinião e criar seu próprio conteúdo.
Mas, não um arauto, não um expositor, não um pregador.
Um expositor simplesmente repete e explica o que já foi previamente lhe passado.
O pastor ou mestre da Bíblia que usa somente a Bíblia de forma tópica ou aleatória como base bíblica para usas opiniões ou para apoiar o que ele deseja dizer sobre os assuntos que fala nunca expõe uma passagem, narrativa ou livro da Bíblia. Ele simplesmente apresenta sua perspectiva da vida e as notícias do dia e da cultura e dos relacionamentos e usa um ou dois versos como suporte. Escute bem, se tudo o que ele faz é usar a Bíblia para reforçar o que ele quer dizer sobre aquilo que ele acha ser importante, então, a igreja, sem nem perceber, é conformada à mente do pastor e não à mente de Deus.
É assim que você consegue, em poucos meses, encher uma igreja de pessoas que cegamente seguem seu pastor apóstata a aceitar o universalismo e que ninguém precisa temer o inferno mais. O evangelho é reescrito e a mensagem da cruz de Cristo redefinida.
Ouça, Tito... Timóteo... José... João... e qualquer outro professor da Bíblia: nós não somos os originais; nós não criamos a mensagem.
Deus já nos entregou o Seu Logos. Apenas lemos a Palavra, traduzimos, esboçamos, explicamos, ilustramos, aplicamos e impomos.
A. W. Tozer, ao desafiar o pastorado de sua geração, disse no início dos anos de 1900 palavras que precisam ser repetidas de novo hoje: “Não somos diplomatas; somos profetas [proclamando: ‘Assim diz o Senhor’] e nossa mensagem não é um acordo, mas um ultimato.”
Em 1930, um pastor famoso nos Estados Unidos saiu na capa da revista mais famosa do país. Ele se recusou a mencionar pecado, inferno, valores absolutos e dogmas. Ele pregava numa igreja cheia de pessoas, cujo templo havia sido construído especialmente por um membro da família dos Rockefeller depois de ter sido expulso de uma igreja por pregar heresia.
Sua mensagem primária era que a igreja precisava relevar mais as coisas. A mensagem da igreja precisava ser mais positiva e as necessidades das pessoas deveriam ser o foco dos sermões.
Em sua entrevista à revista, ele disse:
Quem, de fato, acredita que ao menos uma entre cem pessoas tem interesse em saber o que Moisés ou Paulo quis dizer em tais e tais versos? O pregador não deve terminar, mas começar pensando nas necessidades vitais de seus ouvintes e, então, permitir que o sermão inteiro seja organizado em torno de um esforço construtivo para alcançar tais necessidades.
Ele ainda adicionou em sua entrevista:
Pregadores que tomam textos da Bíblia e prosseguem dando seu contexto histórico, significado lógico dentro do contexto e seu lugar na teologia do autor estão usando a Bíblia de forma grosseira e errada. Ninguém que fala ao público acredita que as pessoas estejam interessadas no significado de palavras ditas há mais de 2000 anos.
Meus amigos, os desastres das principais denominações no século 20 e que agora entraram também no século 21 se originaram com esse pensamento: “A Bíblia não importa de fato; então, por que ensiná-la?”
A perda de saúde e credibilidade da igreja hoje devem ser colocadas aos pés dos pastores que não são pregadores, recusam-se a ser arautos que proclamam e expõem as palavras de Deus.
Será que existe outra opção para o mensageiro? Será que existe outra mensagem?
Note o que Paulo diz no verso 3:
...a pregação que me foi confiada...
Como sugestão de Deus. Não é isso que ele diz, é? Não! Paulo diz, na verdade:
...a pregação que me foi confiada por mandato de Deus...
Não existe outra mensagem; a mensagem não está sujeita a voto; não existe mensagem alternativa a ser proclamada ao mundo.
Somos escravos de Deus obedecendo Sua ordem de expor a Palavra.
E a Palavra revela que Deus é o nosso Salvador, você viu isso no final do verso 3?
De acordo com o final do verso 4, Jesus Cristo é o Salvador. Deus é, portanto, por intermédio de Cristo Jesus, o nosso Salvador.
Quando Tito estava pregando na ilha de Creta e Paulo no Império Romano, a palavra “salvador,” “soter,” era utilizada para louvor a Zeus e Apolo; eles eram os salvadores da humanidade. A palavra também foi aplicada a César, que era conhecido como “salvador do mundo.”
Paulo diz: “Ouça bem, vou proclamar a verdade; e, já que estamos pregando, é melhor logo ofender o imperador e todas as pessoas religiosas.”
César não é salvador; nem Zeus, nem Apolo. O único Salvador verdadeiro da humanidade e do mundo é Jesus Cristo, que também é o único Deus vivo e verdadeiro.
Prega a palavra, Tito, assim como eu prego a verdade de Deus. Não se intimide. É tudo ou nada.
O reformador Martinho Lutero recebeu o crédito de ter iniciado a grande reforma. Numa ocasião, ele corrigiu alguém que estava lhe dando os cumprimentos por seu esforço. Ele disse as palavras maravilhosas: “Eu simplesmente preguei e ensinei a Palavra de Deus e a Palavra de Deus fez o resto.”
Somos escravos de Deus?
Então, que sejamos como Paulo, fervoroso pela fé dos eleitos de Deus; fervoroso pela verdade de Deus; fervoroso pela glória de Deus; fervoroso pela presença de Deus; e fervoroso pela tarefa de Deus – qualquer que seja essa tarefa para mim e para você.
Este manuscrito pertence a Stephen Davey, pregado no dia 22/01/2012
© Copyright 2012 Stephen Davey
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