
Somente Duas Chances
Somente Duas Chances
Série Cristianismo Extraordinário—Parte 6
Tito 3.10–11
Introdução
A cada dia que passa, o hábito de processar pessoas e empresas vem se tornando mais comum. Por esse motivo, é basicamente impossível comprar um produto sem uma advertência óbvia na sua embalagem. Quando leio algumas delas, fico me perguntando: as pessoas realmente não sabem disso? Será que de fato precisamos de todas essas advertências? Por exemplo, eu li outro dia:
- numa lenha para forno e lareira: “Cuidado: risco de fogo.”
- num papelão feito para colocar no para-brisa do carro a fim de proteger contra o sol: “Não dirija seu carro antes de remover o papelão do para-brisa.”
- e num carrinho de bebê portátil: “Cuidado: retire a criança do carrinho antes de o dobrar e guardar.”
O problema é que a maioria das pessoas ignora os sinais de advertência e alerta, mesmo que esses sinais estejam brilhando na cara delas.
Um dos alertas mais negligenciados é a luz do painel de veículo que acende nos informando de que devemos “checar o motor.” De acordo com uma pesquisa, 1 a cada 10 pessoas está neste momento dirigindo o seu carro com essa luz de advertência acesa. Na realidade, a pesquisa mostra que “50% das pessoas disseram que a luz de um problema iminente no motor tem estado acesa há mais de 3 meses.” Por que essas pessoas não ouvem o alerta? Os adultos que foram questionados a esse respeito disseram: “Meu carro estava andando muito bem.” Outros disseram: “Ainda não tive tempo para dar uma olhada nisso.” E ainda outros admitiram: “Se o mecânico analisasse e descobrisse que existe um problema, eu não teria dinheiro para pagar o conserto.” Então, as pessoas apenas ignoram o alerta.
Eu li isso e preciso admitir minha própria culpa aqui. Enquanto minha filha está em Santiago do Chile servindo como missionária por alguns anos, eu dirijo o carro dela. Na semana passada a luz do motor acendeu e o meu primeiro pensamento foi: não parece haver nada de errado com o carro; não preciso levar ao mecânico; e se for caro para consertar...? Daí, pensei: talvez essa luz apague sozinha depois. Dois dias depois, ela apagou. Coisa boa!
A verdade é que a vida é cheia de sinais de alerta, sinais de advertência.
Estava lendo outro dia um ocorrido engraçado. Uma mulher estava falando ao marido o resultado de uma pesquisa. Ela disse: “Amor, de acordo com esse artigo do jornal, a maioria dos acidentes de carro acontece nas imediações de casa.” A filha pequena do casal ouviu a conversa e sugeriu: “Mãe, por que a gente não muda de casa então?”
O pastor Tim Keller contou sobre um cunhado seu que nunca usava cinto de segurança. Tim Keller sempre o incomodava, tentando convencê-lo a usar o cinto, mas nada parecia funcionar. Até que um dia Tim Keller foi visitá-lo e seu cunhado foi buscá-lo de carro no aeroporto. Daí, quando ele entrou no carro, seu cunhado estava usando o cinto. Tim Keller perguntou: “O que aconteceu? O que fez você mudar de ideia?” Seu cunhado disse: “Rapaz, fui visitar um amigo meu que sofreu um acidente de carro. Ele não estava usando o cinto e atravessou o para-brisa; acabou tendo que levar mais de 300 pontos no rosto. Quando o vi naquela situação, pensei: ‘Tenho que começar a usar o cinto de segurança.’” Daí, Tim lhe perguntou: “Mas eu já não tinha alertado você de que, caso tivesse um acidente, poderia atravessar o para-brisa?” Seu cunhado respondeu: “Claro que eu sabia disso. Quando eu fui ao hospital, eu não peguei nenhuma informação; [eu apenas vi a informação aplicada na prática naquele momento]; então, a informação se tornou uma realidade em meu próprio coração e começou a afetar meu estilo de vida.”
A verdade é que, mesmo que você siga todas as leis de trânsito e preste atenção em todos os semáforos, mesmo assim, não poderá garantir que evitará acidentes e dores. Mas você pode minimizar o risco do perigo e se proteger de um perigo ainda maior.
Nesta carta de Paulo a Tito, já aprendemos que:
- O Cristianismo Extraordinário tem uma atitude singular de humildade diante das autoridades, e isso certamente nos protegerá de problemas (3.1–2);
- Os crentes extraordinários se lembram do poço de onde foram retirados—eles nunca se esquecem da sua conversão—e isso é algo que nos protege de perigos espirituais (3.3);
- Os crentes extraordinários se alegram no fato de terem sido emboscados pela bondade e pela graça de Deus. Daí, eles buscam fazer a mesma coisa—proteger a si mesmos e outros do perigo iminente (3.4–8);
- O Cristianismo Extraordinário aprende a arte de recusar, o que não colocar em sua bandeja no restaurante do mundo que constantemente serve mitos espirituais, especulações e disputas nada proveitosas.
Agora, Paulo diz a Tito e a essas igrejas na ilha de Creta notícias surpreendentes de que as comunidades cristãs extraordinárias e singulares possuem uma etiqueta com advertência que diz: “Duas chances; depois disso, você está fora!”
Mas o que Paulo está querendo dizer com essa advertência? Acompanhe comigo a leitura de Tito capítulo 3, versos 10 e 11:
Evita o homem faccioso, depois de admoestá-lo primeira e segunda vez, pois sabes que tal pessoa está pervertida, e vive pecando, e por si mesma está condenada.
Logo depois de nos ter advertido contra distrações não proveitosas e fúteis nos versos 8 e 9, Paulo nos adverte, dentro do contexto da igreja, a evitar o homem faccioso, depois de admoestá-lo primeira e segunda vez.
A palavra evita em evita o homem faccioso vem de uma palavra que significa “não ter nada a ver com aquilo.” Aos coríntios, Paulo ordenou que eles removessem de seu meio um homem não arrependido que carregava em sua vida particular um caso de imoralidade (1 Coríntios 5).
Na carta aos Romanos, o apóstolo Paulo diz:
Rogo-vos, irmãos, que noteis bem aqueles que provocam divisões e escândalos, em desacordo com a doutrina que aprendestes; afastai-vos deles.
A expressão “noteis bem” é o verbo grego skopein, que significa “marcar e evitar.” O verbo skopein dá origem à nossa palavra “escopo,” a qual faz parte de palavras como “telescópio” e “microscópio.” Ou seja, fique atento cuidadosamente a pessoas que causam divisão no rebanho; não permita que elas fujam de vista.
Agora, em Tito 3, Paulo identifica um tipo particular de pessoa a ser observada; ele utiliza a palavra descritiva “faccioso.” Evita o homem faccioso. “Faccioso” é o termo grego hairetikos, do qual derivamos o vocábulo “herege.” Essa é a única ocasião no Novo Testamento em que esse adjetivo ocorre; em outras passagens, como 1 Coríntios 11 e Gálatas 5, essa palavra ocorre como substantivo em referência a facções e divisões dentro do corpo.
Apesar de Paulo poder estar advertindo Tito contra heresias doutrinárias ou professores hereges que porventura se esconderiam dentro da igreja, a maioria dos estudiosos crê que Paulo utiliza essa palavra no seu sentido mais amplo, referindo-se, então, a alguém que causa divisões e facções.
Um autor escreve:
Isso inclui qualquer pessoa dentro da igreja que gera divisões e partidos; as questões podem ser triviais, mas a discussão em torno delas não é algo tão trivial. Pelo fato de consequências como brigas ferozes e insubordinações destruírem a unidade do [rebanho], o apóstolo dá ordens para que o homem ou mulher faccioso, qualquer que seja o caso, seja rejeitado pela igreja se não reagir bem à admoestação.
Se combinarmos a advertência de Paulo aqui em Tito com outras passagens das Escrituras semelhantes a esta, entenderemos que Paulo ordena que essa pessoa seja, na verdade, retirada do meio da igreja.
E note o que Paulo diz: Evita o homem faccioso, depois de admoestá-lo primeira e segunda vez. Duas chances. Depois disso, você está fora! Você está de brincadeira? Isso é mais severo que qualquer jogo que possa imaginar. Duas rodadas e já era!
Tito, vista sua roupa e coloque seu capacete, porque a situação está perto de ficar feia. Uma colisão está prestes a acontecer. E, a propósito, o ofensor não tem três chances; são só duas. Essa é a regra. E deixe-me mostrar a você por quê.
Paulo usa três palavras diferentes para descrever esse homem faccioso. Note o verso 11: pois sabes que tal pessoa está pervertida.
Essa é a única ocasião em que a palavra “pervertida” é encontrada no Novo Testamento. Geralmente, pensamos que essa é uma referência a algum tipo de perversão sexual, mas esse não é o caso aqui. O termo usado por Paulo se refere a uma pessoa cuja mente está virada ou até mesmo do avesso. Poderíamos usar a palavra “inclinação.” A mente e a perspectiva dessa pessoa estão direcionadas ou são bem tendenciosas para um lado, e essa inclinação é apenas para o seu próprio lado.
E é exatamente isso o que acontece em grande parte das divisões nas igrejas, não é verdade? Certa pessoa conhece os fatos e os sentimentos de apenas um lado da questão; ela não conhece todos os fatos ou sentimentos envolvidos na situação; e, já que conhece apenas um lado da história, ela será totalmente inclinada ou direcionada para apenas uma opinião.
E esse tipo de pessoa é persistente na tentativa de convencer outros de que sua opinião e perspectiva são as únicas corretas e as pessoas começam a tomar partidos. Daí, quando inclinações se formam, pessoas com mentes direcionadas a um lado começam a conduzir o trânsito e acidentes graves ocorrem.
Paulo continua dizendo: pois sabes que tal pessoa está pervertida, e vive pecando.
A expressão vive pecando significa “errando o alvo.” Ou seja, eles pensam que representam a verdade, mas, na realidade, já se desviaram do caminho; eles estão errando o alvo.
Terceiro, Paulo adiciona:
pois sabes que tal pessoa está pervertida, e vive pecando, e por si mesma está condenada.
Novamente, Paulo utiliza uma palavra rara, mas uma palavra que diz tudo. John Phillips parafraseou e expandiu essa palavra para que entendamos o impacto completo de seu significado. Paulo escreve: “Essa pessoa facciosa, inclinada para apenas um lado, que vive pecando e se condena porque sabe perfeitamente que tudo o que tem feito está errado.”
Isso não significa que ela irá admitir seu erro; Paulo apenas diz: “Ela sabe.” Ela sabe quando está causando divisões; ela sabe quando está fofocando; ela sabe quando começa a se inclinar para um partido sem conhecer os dois lados da história. Paulo escreve: “O tempo inteiro, ela sabe o que está fazendo e o que está dizendo.”
Gene Getz escreveu em seu comentário:
O problema em lidar com indivíduos assim e o motivo por que eles têm apenas duas chances é que ganham satisfação emocional ao criarem controvérsias na igreja. Ao lidar com eles, existe apenas um recurso: para Tito, uma cirurgia radical; eles precisam ser interrompidos.
Mas pelo menos dê a eles duas chances, duas advertências. Paulo deixa isso bem claro no verso 10. Na verdade, a palavra que ele usa para “admoestar” em depois de admoestá-lo primeira e segunda vez é um termo composto substantivado que significa “colocar em mente.”
Assim, essa não é uma advertência criptografada como aquelas que você recebe em seu e-mail. Não. Isso significa uma conversa prolongada na qual você “coloca na mente” da pessoa sua culpa, expõe o erro dela e as possíveis consequências de acordo com o ensino das Escrituras. E, por esse motivo, você dá apenas mais uma advertência, só mais uma chance. Ela entendeu muito bem o problema na primeira conversa; essa pessoa sabe muito bem o que está fazendo e o estrago que está criando. Agora, ela também sabe que você sabe. Porém, já está obstinada e prefere continuar o que está fazendo a ouvir o seu conselho.
Essa pessoa não irá parar. E o motivo é que ama a briga; esse tipo de pessoa adora atormentar e provocar controvérsias; seu sucesso é ser a pessoa que sabe bem a história; o seu desejo maior é ver o choque no rosto das outras pessoas ao lhes contar que fulano fez isso e disse aquilo. A frase preferida dessa pessoa é: “Você não sabe o que eu acabei de descobrir!” A divisão começa a se rastejar sorrateiramente dentro do corpo da igreja, como uma planta trepadeira venenosa, e pessoas distraídas esbarram em seus espinhos e a infecção começa a se espalhar.
Charles Swindoll, pastor por vários anos, escreve com bastante sabedoria um conselho ao comentar nesse texto:
O apóstolo, já endurecido depois de ter passado por tantas batalhas, queria proteger seu jovem pupilo Tito dos conflitos que o aguardavam em Creta. Liderança espiritual eficaz faz tudo com compaixão, mas nunca a custo de convicção; ela nunca deixa de confrontar quando necessário. Assim como um cirurgião precisa remover o tecido infectado, também os líderes em igrejas precisam confrontar aqueles que infeccionam o corpo de Cristo com discórdia e dividem congregações em facções. Se o [pastor/presbítero/bispo] não está disposto a amar sua congregação o suficiente a ponto de arriscar ser mal entendido e criticado, então, ele deveria abdicar de sua posição e escolher para si outra ocupação menos perigosa.
Muito bem colocado.
A luz de alerta está acesa! Paulo deixa uma declaração dolorosa e clara: retire de seu meio, rejeite, evite essa pessoa.
Isso significa, meu irmão, por mais irônico que soe, que a resposta de Paulo para o problema da pessoa facciosa é causar facção. Precisa haver uma divisão na igreja, mas essa divisão é entre o rebanho e a pessoa que não arrependida persiste em seu compromisso faccioso. Ele ou ela não deve mais ter acesso ao corpo; sua rampa de acesso para dentro da igreja é removida. Somente então, o rebanho estará protegido de sua mentalidade facciosa e de seu espírito sedicioso. Sim, haverá divisão e ela será dolorosa e gerará emoções e lágrimas, mas o rebanho retirará de seu meio essa pessoa que causa divisões a fim de que ele ou ela não mais continue com suas tentativas persistentes de criar divisão dentro do rebanho.
E, a propósito, a ordem de Paulo para evitar essa pessoa, juntamente com outras passagens das Escrituras que lidam com o assunto, deixa bastante claro que ela não deve ser readmitida dentro da igreja sem que antes demonstre verdadeiro arrependimento, uma mudança de mente. Assim, a igreja se torna uma demonstração externa da perda de comunhão física entre aquela pessoa e os membros da igreja, e uma perda de comunhão espiritual entre aquela pessoa e o Senhor. A comunhão foi quebrada; ocorreu uma divisão. E nós, dentro do corpo, oramos para que a brecha seja restaurada não somente entre os crentes, mas entre o crente não arrependido e o seu Salvador.
Agora, se juntarmos todas as passagens bíblicas que tratam do assunto da exclusão de crentes não arrependidos de dentro da igreja, descobriremos que a ação ocorre em dois níveis.
E, a propósito, a chave aqui é exclusão de crentes não arrependidos. Se fôssemos excluir da igreja todos os pecadores, quem estaria na igreja hoje? Paulo está tratando de um crente que vive em pecado e que já foi alertado e depois alertado novamente por causa de seu espírito faccioso; ele é aconselhado e exortado; ele é trazido diante dos presbíteros em mais de uma ocasião e pedido que mude sua mente e pare com seu comportamento desobediente e partidário, mas ele ainda assim se recusa. A essa altura, uma ação mais radical precisa ser tomada e ela ocorre em dois níveis.
- O primeiro nível é o nível da liderança.
Neste ponto, o objetivo principal é a proteção; o caráter é protetivo. Os líderes tentam, na verdade, proteger o crente em pecado de si mesmo.
Em determinado momento, os líderes tomaram conhecimento de que esse indivíduo está vivendo uma vida perigosa com valores distorcidos e um senso de importância autocentrada deturpado. Lembre-se, Paulo escreve dizendo que essa pessoa está com a mente do avesso, de ponta-cabeça. A liderança sabe que essa pessoa irá somente desmantelar sistematicamente a sua vida. Ela pagará um preço elevado e esse preço pode até se arrastar pelo resto de sua vida.
Um crente escreveu: “Minhas experiências mais dolorosas foram quando eu tive um problema e ninguém me amou o suficiente para me alertar sobre ele.”
Bom, a liderança busca proteger o crente ao revelar o seu pecado e confrontar o seu espírito. Esse é apenas um aspecto do discipulado. “Disciplina” e “discipulado” vêm ambos da mesma raiz. Mas quando isso falha e a pessoa de fato se recusa a ser discipulada, então, a liderança tenta proteger o rebanho.
Você irá perceber que em Tito 3 não existe nenhum processo longo como encontrado em Mateus 18, onde vemos vários passos e a colaboração de várias testemunhas. Aqui em Tito, o crente faccioso é alertado apenas duas vezes e depois removido da assembleia. É bem possível que Paulo estivesse preocupado com Tito e com todos os demais pastores. Parece que o desejo de Paulo era que esses pastores seguissem um caminho mais rápido simplesmente porque uma pessoa facciosa tem a capacidade de influenciar muitas outras pessoas com extrema rapidez, num curto espaço de tempo.
Se Tito agir com convicção, muitas outras intrigas terríveis não chegarão a níveis perniciosos a ponto de causar divisões dentro da igreja. Pense da seguinte forma: a ordem é para que Tito, e todos nós, apague o fogo do acampamento antes que ele se alastre e queime toda a floresta. Lide com o problema no nível da liderança. Quantas lideranças de igrejas, hoje, se recusam a lidar com o pecado? O problema é que o rebanho como um todo acaba sofrendo.
Enquanto ainda estava na faculdade, eu servi como pastor de música em uma igreja. Pouco tempo depois que assumi a posição, descobri que o solista principal do coral estava tendo um caso de adultério com uma mulher da cidade. E, para piorar ainda mais as coisas, ela era filha de um dos diáconos da igreja. Quando eu fui até o pastor para tratar do assunto—jamais me esquecerei disso—, ele coçou seu nariz, passou a mão na testa e disse: “É o seguinte, não temos certeza disso ainda.” Eu disse: “Olha, o coral inteiro tem bastante certeza disso. Será que não devemos resolver logo isso?” Esse pastor nunca tratou do assunto e aqueles dois impediram que a igreja avançasse com eficácia no ministério.
Lidar com o pecado envolve o nível de liderança.
- Segundo, lidar com o pecado no nível da membresia.
Em outras palavras, o corpo inteiro se envolve. Enquanto o caráter primário no nível da liderança é protetivo, neste nível do corpo inteiro o caráter é proativo.
Paulo disse à congregação em Colossenses 3, versos 15 e 16:
Seja a paz de Cristo o árbitro em vosso coração, à qual, também, fostes chamados em um só corpo; e sede agradecidos. Habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo; instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria.
A palavra “aconselhai-vos” significa “corrigir o que está no erro.” E veja só: a raiz dessa palavra é a mesma da palavra usada por Paulo em Tito 3.10 para “admoestá-lo.”
Aconselhar é a mesma coisa que admoestar. Paulo diz aos crentes em Colossos e certamente aos de Creta para serem proativos, a tomarem a iniciativa, a observarem, a agir e a advertir uns aos outros. Por quê? Porque, em qualquer rebanho, existem miríades de questões que podem gerar desacordo e destruição.
Paulo, com efeito, desafia a congregação: “Não permitam que o problema saia do pasto e vá até os pastores; não esperem; aconselhem, admoestem e alertem uns aos outros.”
Vou compartilhar um pouco de minha experiência ministerial que pode até surpreender você. Na maioria das vezes, os membros da igreja saberão do problema faccioso ou da pessoa facciosa bem antes de a liderança ter conhecimento da situação. Após 26 anos de pastorado, digo a você que os líderes descobrem o problema muito tempo depois de o dado já ter sido lançado, depois de a divisão já ter se enraizado, depois de alguém já ter decidido sair, depois de uma decisão já ter sido mal interpretada e entendida, depois de a fofoca já ter viajado muitas casas, depois de a discussão já ter atingido o ponto de ebulição.
Então, de acordo com Paulo, e de acordo com a sabedoria de Deus, a atitude proativa começa com os membros.
Muito provavelmente, você irá identificar o problema bem antes que os pastores de sua igreja. Daí, você oferece a oração, uma perspectiva equilibrada, o benefício da dúvida, admoestação, ajuda, alerta, encorajamento para resolver as intrigas sem causar divisão e desrespeito. O corpo presta contas entre si.
John Wesley, o fundador do movimento Metodista, desenvolveu uma série de perguntas feitas a pessoas que expressavam desejo de se juntar às suas igrejas. Ouça atentamente:
- Existe algum pecado, interno ou externo, que controla sua vida?
- Você deseja que outros o informem das suas falhas?
- Você deseja que outros digam a você seus erros, clara e plenamente?
- Você deseja que, ao fazermos isso, nos aproximemos o máximo possível a fim de sondarmos profundamente o seu coração?
- Você deseja ser completamente transparente nessas e outras ocasiões, sem nenhum disfarce ou reserva?
Quem iria querer se juntar a essa igreja? Somente pessoas dispostas a serem alertadas, admoestadas e encorajadas a fim de serem verdadeiras, genuínas e unidas.
Meu irmão mais novo, que agora está para começar uma série de quimioterapia por causa de um tumor agressivo no cérebro, foi ao hospital essa semana para que inserissem um tubo de alimentação. Ele já perdeu muito peso e força. Quando entrou no hospital, colocaram em seu pulso uma pulseira de papel com as palavras: risco de queda. Risco de queda. Ele estava no risco de cair. A equipe médica e os enfermeiros precisavam estar alerta da situação dele. A qualquer momento, ele poderia cair.
Foi impossível não concordar que essa é uma metáfora perfeita para cada um de nós. Todos temos o risco de tropeçar e cair. Cada um de nós pode se tornar tendencioso em sua perspectiva, distorcido em seus valores, desobediente em suas atitudes, pecaminoso em suas escolhas. Cada um tem o risco de criar divisões, de ferir o testemunho da igreja, de impedir o crescimento da alegria dentro do rebanho, de tirar a credibilidade do testemunho do evangelho e, acima de tudo, de diminuir o alerta do nosso mundo ao evangelho e à glória de nosso Senhor.
Ouça bem, irmão, igreja, Paulo escreve em Tito:
- Sejam unidos, apesar de serem incrivelmente diferentes;
- Estejam centralizados na sua doutrina;
- Sejam fortalecidos em seus esforços para ver o evangelho crescendo;
- Seja sua vida autorizada por Deus para que o evangelho seja por meio de sua vida proclamado;
- E fique sempre encantado com o nosso grande Deus a quem desejamos sempre glorificar.
Este manuscrito pertence a Stephen Davey, pregado no dia 21/10/2012
© Copyright 2012 Stephen Davey
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