
Aprendendo A Arte de Recusar
Aprendendo A Arte de Recusar
Série Cristianismo Extraordinário—Parte 5
Tito 3.9
Introdução
Eu já ouvi dizer que o falcão e a águia são bem parecidos e, ao mesmo tempo, bastante diferentes. Ambos são pássaros; ambos voam em grande altitude; ambos possuem asas poderosas e uma visão bem afiada. O que os torna diferentes é a forma como enxergam a vida embaixo na terra; ou seja, o foco de cada um, o que atrai sua atenção.
Em grande parte, aquilo em que o crente se interessa ou não se interessa irá determinar o seu foco espiritual. As coisas nas quais eles se concentram ou recusam concentrar determinará a qualidade de suas vidas.
Existe algo que nós, os crentes, precisamos cultivar. Trata-se da arte espiritual de recusar, saber distinguir aquilo que devemos constantemente buscar daquilo que precisamos recusar. A Bíblia se refere a isso como faculdades exercitadas para discernir não somente o bem, mas também o mal (Hebreus 5.14).
Lembro-me de quando ainda criança ir comer em restaurantes. O meu problema era que eu sempre queria mais do que poderia aguentar. Logo na entrada, ficava de olhos cheios com salada de maionese; um pouco mais à frente, minha boca salivava com o mosaico de gelatina e acabava pegando um também. E o que dizer dos vários tipos de pão? É claro, tinha que comer um. Quanto mais eu andava, mais os pratos principais apareciam. A lasanha era maravilhosa, mas o peixe frito chamava minha atenção. Para acompanhar, tinha que pegar um pouco de purê de batatas, e os legumes não podiam faltar. Finalmente, eu chegava à seção das sobremesas. Como decidir entre bolo de chocolates, biscoitos e mousses? Findava pegando um de cada. Meu prato e minha bandeja transbordavam de coisas. Tudo acabava em desastre: meu estômago explodindo e metade da comida no prato ficando de lado.
Veja bem, a arte de recusar é fundamental não somente numa fila de restaurante, mas também na vida cristã. Assim como um crente aprende a escolher bem sua comida física, ele também deve aprender a escolher bem sua comida espiritual—aquelas influências espirituais em sua vida—, caso deseje ser espiritualmente sadio.
Deixe-me dizer isso de outra maneira: realmente existem certas coisas na vida que precisamos aprender a ignorar. São coisas que, no final, apenas irão nos distrair, desviar do tipo de crescimento espiritual que precisamos para desenvolver o tipo de vida que devemos viver.
E é exatamente isso o que o apóstolo Paulo destaca em Tito capítulo 3, onde diz a Tito e às igrejas: “Vocês precisam aprender a arte espiritual de recusar.”
Paulo listará quatro distrações em Tito 3 que precisamos aprender a ignorar. Elas podem ser até interessantes ou mesmo apelar aos nossos sentidos, mas não as coloque em sua bandeja porque, caso contrário, você findará com uma dor de estômago espiritual ou coisas piores.
Quatro Distrações a Recusar
Vamos começar lendo a partir do verso 8 de Tito 3.
Fiel é esta palavra, e quero que, no tocante a estas coisas, faças afirmação, confiadamente, para que os que têm crido em Deus sejam solícitos na prática de boas obras. Estas coisas são excelentes e proveitosas aos homens. Evita discussões insensatas, genealogias, contendas e debates sobre a lei; porque não têm utilidade e são fúteis.
Note bem, o texto não diz que são coisas malvistas; pelo contrário, são coisas bem populares, como veremos em instantes. Na realidade, Paulo não terminará a carta a Tito sem antes fornecer um alerta. Ele não afirma que essas práticas não são populares; ele apenas diz que elas não têm utilidade e são fúteis. Em outras palavras, elas não são boas para você; não as coloque na sua bandeja.
A primeira das quatro distrações que Paulo menciona é:
- Discussões insensatas.
Ele diz no verso 9: Evita essas coisas. O verbo traduzido como “evita” significa “afastar-se de; virar-se para o outro lado, olhar para o sentido contrário.”
Em outras palavras, apesar de todas as pessoas estarem cativadas por aquilo e apesar de todos estarem mergulhando nessas práticas, você vira o rosto para o outro lado.
Evita discussões insensatas. O que Paulo está querendo dizer com isso? A palavra que ele usa para insensatas é “moras.” Ela indica algo bobo, estúpido. O termo discussões se refere à investigação de coisas que não possuem base alguma, que não possuem significado substancial. São apenas especulações que ocupam nossa mente sem sequer termos a habilidade de resolvê-las. São apenas especulações que nos fascinam, desperdiçam o nosso tempo e nos levam a discussões e controvérsias acaloradas. No capítulo 1, Paulo já advertiu Tito a evitar as fábulas judaicas. Elas não são proveitosas.
Eu estava pregando outro dia em um Acampamento do Palavra da Vida. Na minha série de pregações, falei sobre o livro de Rute e fiz vários comentários sobre a cultura dos judeus. Um homem veio até mim depois e disse: “Você possui uma cópia do livro Lendas Judaicas?” Eu disse: “Não, nem sabia que existia uma!” Ele replicou: “Ah, existe uma sim. É um compêndio de lendas rabínicas e interpretações relacionadas a diferentes passagens da Bíblia que foram passadas de geração a geração.”
Então, comprei uma cópia desse livro. É um volume enorme com cerca de 1000 páginas sobre lendas e interpretações rabínicas. Quando cheguei a esse texto em Tito que, pela segunda vez, alerta a igreja contra lendas, peguei esse volume que continha várias dessas lendas. Comecei a ler e existem tantas interpretações e lendas capazes de causar divisões e argumentações que eu finalmente parei de ler.
Um exemplo é a história de Noé e o dilúvio. Irei resumir rapidamente. Um rabino ensinava que Noé e sua família quase morreram dentro da arca porque milhares de pessoas vieram e começaram a balançar a arca de um lado a outro com Noé e sua família dentro. Daí, Deus os protegeu, enviando leões que cercaram a arca.
Outra lenda dizia que, apesar de estar escuro na arca, Noé havia trazido uma pérola que ele pendurou no teto. Essa pérola brilhava tanto que ele e sua família nem precisaram da luz do sol.
Ainda outra lenda rabínica diz que, quando a chuva começou a cair e as águas a aumentar, uma criatura marinha grande não queria perecer. Então, Noé amarrou essa criatura à arca e, à medida que nadava junto à arca, a criatura levantava ondas tão largas quanto o mar.
Outro rabino dizia que, quando as águas começaram a subir, Ogue, o rei de Basã, sentou-se no degrau de uma escada da arca e prometeu a Noé que ele e seus filhos seriam seus escravos. Então, Noé fez um buraco na arca e, através desse buraco, deu comida ao rei durante todos os dias do dilúvio.
Outra lenda ainda afirmava que Deus fervia cada gota do dilúvio no inferno e, depois, a lançava sobre a humanidade.
Esses são devocionais maravilhosos, não é?
Ainda outra lenda rabínica dizia que, quando Noé soltou o pássaro, ele voou até a entrada do Jardim do Éden. Deus abriu as portas do Jardim para que o pássaro levasse a Noé uma folha de oliveira fresca direto do Jardim.
Não é de nos surpreender, então, que Paulo destaca novamente que essas lendas judaicas predominantes na ilha de Creta deveriam ser evitadas. Elas provocavam discussões e controvérsias nada proveitosas.
Da mesma sorte, a igreja em cada geração pode se prender a debates de interpretação sobre assuntos duvidosos, assuntos sobre os quais a Bíblia não é tão clara como gostaríamos que fosse. Daí, criamos facções e atiramos nos outros.
Paulo fez o mesmo alerta a Timóteo ao escrever:
nem se ocupem com fábulas e genealogias sem fim, que, antes, promovem discussões do que o serviço de Deus, na fé (1 Timóteo 1.4).
Em outras palavras, essas discussões não efetuam o papel da igreja por meio do evangelho. Ainda mais adiante, agora em 2 Timóteo 2, verso 23, Paulo escreveu: E repele as questões insensatas e absurdas, pois sabes que só engendram contendas.
Ou seja, se a Bíblia não é clara sobre o assunto, não discuta sobre ele. Pelo mesmo motivo, Paulo ainda escreveu em Efésios 4.3: esforçando-vos diligentemente por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz.
Em nossa turma de novos membros, essa necessidade se torna ainda mais evidente e é interessante acompanhar como elas se desenvolvem na sala. Geralmente, eu começo indo a cada pessoa, buscando saber de onde todos vieram. Algumas vieram da Igreja Católica, outras eram presbiterianas, outros ainda metodistas, umas de igrejas pentecostais, outras do meio batista independente, outras do meio batista da convenção e outras batistas da confusão. Muitas pessoas vêm para nossa igreja direto de suas antigas igrejas. Eu fui ao centro da sala e pedi que levantassem a mão à medida que eu falasse o nome de sua denominação. Luteranos, Metodistas... paras os que vêm da Assembleia de Deus, eu digo que podem levantar as duas mãos se quiserem. Essas pessoas vêm de todos os lugares que podemos imaginar.
Algumas vêm de igrejas bem pequenas e outras que de igrejas que fazem a nossa parecer pequena. Alguns desses candidatos à membresia vêm de igrejas onde os pastores pregavam em tópicos, em assuntos da atualidade; outros, vêm de igrejas em que o pastor pregava expositivamente em um livro da Bíblia por vários anos. Esses são os meus prediletos! Alguns vêm de igrejas que cantam apenas hinos com o acompanhamento de órgão e piano; outros de igrejas que cantam músicas atuais com uma banda.
Algumas vêm de igrejas com uma liturgia bastante formal; outras de igrejas onde ninguém sabe o que irá acontecer. Temos pessoas que vieram do sul, do norte, do leste e do oeste. O grupo é bastante misturado com pessoas brancas, negras, asiáticos, hispânicos e outras misturas.
Algumas dessas pessoas ouviam o evangelho todas as vezes que iam para a igreja; outras estão ouvindo o evangelho pela primeira vez agora. Como um homem nessa turma. Ele era um policial que escutava as pregações de nossa igreja pela internet. Há poucos meses, ele e sua família receberam a Cristo e estão, agora, frequentando nossa igreja. A sala é repleta de crentes antigos e novos convertidos; de casais com filhos e casais sem filhos. Essa enorme variedade é representada em apenas uma sala de aula para novos membros. Como conseguir conviver bem com todos? Talvez você pense: “É impossível!”
Como esses crentes na ilha de Creta conseguirão conviver bem? Lá existem descendentes de piratas gentios e judeus antigos: como esses crentes conviverão bem?
Alguns deles são pobres, outros ricos; alguns cresceram sem nenhuma educação; já outros, como Paulo menciona no final da carta, são advogados. Há pessoas nessa igreja na ilha de Creta que cresceram sob a influência dos essênios, uma seita judaica bastante formal e cheia de rituais. Eles faziam refeições juntos apenas depois de terem participado em rituais de purificação com água. Agora, eles estão sentados junto a crentes gentios que dificilmente tomavam banho, muito menos passavam rituais de purificação. Existem pessoas chegando com suas tradições religiosas e outras com suas memórias de rituais pagãos. Todos haviam ido até a cruz e tido seus pecados lavados, mas opiniões têm a tendência de sobreviver por muito tempo. É interessante como isso acontece.
Paulo diz a Tito, com efeito: “Você terá que relembrá-los de que essas opiniões, lendas, superstições, as queridas e firmes convicções não estão nem certas nem erradas, mas causam divisão. Então, mande que eles determinem o que deixarão de fora da mesa.”
E aqui está o que você pode fazer para determinar o que manter para si e o que discutir com outros irmãos na tentativa de os convencer. No final do verso, Paulo resume: essas coisas não têm utilidade, mas são fúteis. Em outras palavras, elas não produzirão frutos espirituais, mesmo que você ganhe na argumentação. Sem um texto claro das Escrituras, a interpretação é baseada apenas na autoridade daquele que fala. Esse é o caso dos rabinos de antigamente que escreveram volumes e mais volumes de opiniões ensinadas como se fossem doutrinas. Daí, no fim, temos Noé sendo protegido por leões, dando comida a um rei por compaixão e o pássaro pegando a folha de oliveira no Jardim do Éden.
Recentemente, compartilhei com a turma de novos membros a minha opinião de que devemos vestir roupas brancas. Tipo, o livro de Apocalipse nos informa de que o nosso futuro guarda-roupas será composto por mantos brancos como símbolos de nosso triunfo na batalha. E à luz desse dia vindouro, devemos, agora, começar a nos vestir de branco como uma forma de antecipação de nossa vitória final com Cristo quando viermos, conforme Apocalipse 19, montados em cavalos brancos. Então, vamos começar a vestir roupas brancas agora!
É claro, a essa altura a classe já está sorrindo; eles já me conhecem o suficiente! Eu não estou falando sério. Daí, eu li para eles sobre um líder da igreja que juntou vários seguidores no segundo século—e ele estava pregando e falando sério. Ele dizia:
Abandone as roupas coloridas; removam de seus guarda-roupas tudo o que não for branco. Não durmam mais em travesseiros macios nem tomem mais banho quente; se você segue a Cristo com sinceridade, nunca faça sua barba, pois fazer a barba é uma tentativa de melhorar o que Cristo criou em nós.
Quantos de nós não tentam todos os dias melhorar a criação de Deus em si mesmos? E graças a Deus por isso!
É impossível não rir todas as vezes que leio essa citação porque eu cresci numa época e num círculo de igrejas que diziam que, se você tivesse uma barba ou bigode, estaria em pecado. E esse homem estava pregando no segundo século dizendo que se você se barbeasse estaria pecando!
Ouça bem, em qualquer geração existem muitas controvérsias que são realmente fúteis. E eu nem mesmo mencionei:
- se o aquecimento global é real ou uma farsa;
- se o desarmamento é um plano adequado;
- se devemos comer apenas alimentos orgânicos para provar que cuidamos bem do corpo que Deus nos deu;
- se utilizar materiais recicláveis é uma forma de mostrar cuidado para com o planeta criado por Deus;
- se devemos comprar comida para o seu gato ou cachorro que contém legumes a fim de demonstrar amor para com os animais de estimação. Afinal, o seu cachorro, assim como você, precisa comer legumes!
Na realidade, eu nem trouxe à tona assuntos controversos. Poderíamos, facilmente, falar sobre política, métodos de criação de filhos, maneiras de se adorar a Deus, convicções pessoais, uma miríade de preferências, opiniões, tradições e questões secundárias que facilmente se elevam acima da própria verdade do evangelho.
O apóstolo Paulo já havia sondado a vizinhança e sabia que Tito enfrentaria esses tipos de desafios que ameaçariam um ministério eficaz e frutífero junto às igrejas da ilha de Creta.
Apesar de as controvérsias não-doutrinárias, que não são verdades salvíficas e, portanto, secundárias mudarem de nome no decorrer das gerações, é interessante notar que a igreja, em muitos casos, não é derrotada, mas distraída a buscar coisas supérfluas, criando controvérsias banais que encolhem nossa demonstração da graça de Deus e, com isso, o fruto potencial também desaparece.
Por esse motivo, Paulo escreveu em Efésios 4.3: esforçando-vos diligentemente por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz.
Também, por esse motivo, ele reafirma a Tito: “Ouça bem, desenvolva a arte de recusar. Você está cercado por um buffet de opiniões e especulações, mas se apegue à Palavra fiel e não a interpretações estranhas dela. Proteja a igreja de se sobrecarregar com coisas que farão nada mais do que torná-la uma igreja sem utilidade e fútil.”
- Segundo, Paulo continua no verso 9 e diz que devemos não somente rejeitar controvérsias, mas também genealogias.
Note o verso 9: Evita discussões insensatas, genealogias.
Novamente, isso se referia particularmente aos judeus. Os judeus investigavam e documentavam meticulosamente as linhagens de família, uma vez que sua herança e posse da terra eram assim determinadas.
Genealogias determinavam posição social; um passado de poder levaria os judeus a posições de autoridade. E isso poderia penetrar na igreja também, caso não fossem cuidadosos.
Essa questão se tornaria divisória especialmente entre gentios e judeus. Os judeus seriam esnobes ao mostrarem para os gentios que eles tinham ligação com os apóstolos; eles tinham uma conexão com Jerusalém; eles tinham na sua família o sangue dos profetas; eles tinham um relacionamento especial com as antigas alianças e, certamente, Deus os consideraria como especialmente favorecidos nessa nova aliança. Obviamente, os gentios seriam uma segunda classe de crentes, caso as genealogias se tornassem iguais ao evangelho. Os judeus iriam reivindicar algum tipo de superioridade espiritual—e aí estava o problema. Que grande distração isso não seria para a igreja!
Imagine Tito levando as ordens de Paulo aos presbíteros na igreja como Paulo o havia ordenado (1.5). Imagine Tito instituindo um homem gentio, sem relacionamento, ligação ou conexão alguma com as genealogias judaicas e ignorando um judeu parente de um clã nobre que descendia de uma tribo de Israel.
Com certeza, existem inúmeras razões para Paulo dizer às igrejas através de Tito que as genealogias não significavam nada nessa nova dispensação da igreja. Na verdade, a única genealogia que importava à igreja era a genealogia que comprovava Jesus como descendente de Davi, como também José e Maria. Além disso, o único registro genealógico que irá importar por toda a eternidade será se você tem um relacionamento com Jesus Cristo pela fé, para que, crendo, possa se tornar um filho de Deus (João 1.12); se você nasceu de novo, não da vontade de sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade de homem, mas da vontade de Deus (João 1.13).
Existe apenas uma árvore genealógica que realmente importa. Paulo diz, com efeito: “Comece a viver agora à luz do valor daquela genealogia.”
- Terceiro, Paulo menciona a distração das contendas.
O verso 9 diz: Evita discussões insensatas, genealogias, contendas.
A palavra contendas simplesmente engloba uma categoria inteira de argumentação e discussão. A ideia que captamos aqui é que Paulo não está somente advertindo a igreja quanto ao que ela não deve fazer, mas tudo indica que a igreja já estava envolvida nessas coisas.
Como vimos no contexto anterior, Paulo celebra o fato de termos sido emboscados pela graça e bondade de Deus. E o que aprendemos com o seu exemplo? Bom, aprendemos facilmente que devemos armar emboscadas para outras pessoas; só demoramos mais a aprender que essa é uma emboscada da graça e da bondade.
Li o testemunho de um pastor que desafia os novos membros de sua igreja a não falar mal ou criticar outros membros, quer seja diretamente a eles ou não. Esse pastor comentou:
Até hoje, quando recebemos um novo membro, digo a mesma coisa. Eu digo isso porque sei que o que mais destrói a igreja não é o uso de crack ou cocaína, não é a opressão do governo nem a falta de recursos; mas é a fofoca e a difamação [esse tipo de contenda] que entristece o Espírito de Deus.
O grande professor de Exposição Bíblia, Dwight Pentecost, que era amigo desse pastor, fala que a divisão de uma igreja foi tão séria que ambas as facções se processaram na tentativa de uma expulsar a outra da igreja. O juiz retirou o caso do tribunal e a situação passou a ser tratada pelos líderes da denominação. A denominação concedeu a propriedade da igreja para uma das facções. Os perdedores se retiraram e fundaram uma igreja no mesmo bairro. O mais interessante e trágico foi que, no decorrer do processo realizado pela liderança da denominação para julgar o caso, a liderança da igreja descobriu que o conflito começou em um jantar realizado na igreja, no qual um membro antigo recebeu um pedaço de carne menor que o da criança que estava sentada ao seu lado. A partir daí, o problema só se agravou. Acusações foram feitas; pessoas assumiram partidos; contendas começaram.
As contendas são uma distração sempre presente esperando para acontecer dentro do corpo de crentes. Paulo sabia que isso poderia destruir qualquer avanço que Tito tivesse realizado na igreja. Por quê? Porque:
- contendas reduzem o evangelho a pessoas e conflitos;
- contendas dissolvem a unidade na igreja e promovem grupinhos e facções;
- contendas se recusam a ouvir a voz da razão e cavalga sobre os lombos de rumores e emoções;
- contendas convidam o inimigo para dentro da igreja, onde ele tem o enorme prazer de fomentar uma das coisas que Deus destacou como algo que odeia, conforme registrado por Salomão em Provérbios 6, verso 19. Lemos que Deus abomina sete coisas, o que inclui: o que semeia contendas entre irmãos.
As contendas convidam Satanás para dentro da igreja. Por que o diabo atacaria a igreja, se ele pode se juntar a ela?
- Paulo adiciona a quarta e última palavra na lista de distrações no verso 9: debates sobre a lei.
Acompanhe o verso 9: Evita discussões insensatas, genealogias, contendas e debates sobre a lei.
A igreja se envolveu por décadas na discussão de como a Lei de Moisés se aplicaria à igreja. Uma grande divisão já havia sido evitada em Atos 15. Na ocasião, Pedro, Paulo e Tiago lideraram a igreja para a decisão da graça que não mais exigia que os convertidos gentios se tornassem como judeus para serem recebidos na família da fé.
E Tito estava no meio de tudo isso e precisaria permanecer firme contra aqueles que queriam transformar a igreja apenas em mais um outro novíssimo acampamento militar do judaísmo. E esses judeus estavam tão sérios como Tito em sua empreitada.
A palavra “debates” provém da mesma raiz que a palavra que significa “espada.” Essa palavra carrega a ideia de violência; ela era aplicada em referência a combate físico e até mesmo a guerra.
Ao comentar nesse texto, Charles Swindoll escreve sobre dois alunos de seminário que foram disciplinados após a discussão sobre a doutrina da santificação ter se agravado e acabado em uma briga de socos. Que ironia! Eles discutiram tanto sobre a vida piedosa que acabaram dando murros um no outro.
Se você acha que a igreja de hoje não tem a mesma propensão para disputas como a igreja na ilha de Creta, faça apenas uma pesquisa na internet e escreva “brigas de igreja.” Daí, segure o fôlego.
Que tragédia!
Gostaria muito de poder pensar que as igrejas do primeiro século e as do século vinte e um estão acima dessas coisas. Mas Paulo escreve para elas e para nós hoje: “Evitem, rejeitem, virem seu rosto para o outro lado, não se envolvam, não coloquem essas coisas na sua bandeja, mesmo que estejam disponíveis no buffet e todas as pessoas estejam pegando um pedaço dessas atitudes. Não peguem!”
E existe uma estratégia para evitarmos tudo isso. A última frase no verso 9 diz: porque não têm utilidade e são fúteis.
Deixe-me expressar isso com duas declarações positivas. É assim que desenvolvemos a arte de recusar e evitar distrações desastrosas:
- Primeiro, tenha discernimento—permaneça dentro dos limites bíblicos.
Ou seja, se a Bíblia fala sobre o assunto claramente, então, fale; mas se a Bíblia se cala a esse respeito, então, siga a mesma atitude.
Ouça, aplique suas energias às boas obras. Lembre-se do verso 8: estas coisas são excelentes e proveitosas aos homens. Lembre-se do verso 9: estas coisas não têm utilidade e são fúteis.
Se o pássaro voou até o Jardim do Éden ou não, certo ou errado, essa discussão não adicionará nada ao proveito do evangelho e ao testemunho de Cristo.
- Segundo, seja determinado—fique focado em sua missão.
Paulo usa uma palavra aqui no final do verso que nos ajuda a avaliar os assuntos sobre os quais temos discutido e causado divisões. Ele diz: “Essas distrações não são proveitosas e são fúteis.” A palavra “fúteis” que Paulo usa aqui significa “sem poder, sem fruto, inútil.”
Quem temos discipulado? Quem temos ganhado para Cristo?
Então, aqui vai o teste: não se envolva acaloradamente a ponto de se distrair em discussões, opiniões e debates que se agravam e se transformam em discussões, grupinhos, ira e divisão de forma que, no final do dia, não teremos produzido nenhum fruto real, tangível, duradouro, eterno e espiritual.
Por esse motivo, Paulo escreve:
Rogo-vos, pois, eu, o prisioneiro no Senhor, que andeis de modo digno da vocação a que fostes chamados, com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor, esforçando-vos diligentemente por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz.
Portanto, tenha discernimento—certifique-se que você anda, pensa e age dentro dos limites bíblicos. E seja determinado—fique concentrado na missão que Deus entregou em suas mãos.
Este manuscrito pertence a Stephen Davey, pregado no dia 14/10/2012
© Copyright 2012 Stephen Davey
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