De Um Escravo para Outro Parte 2

De Um Escravo para Outro Parte 2

Series: Tito (Titus)
Ref: Titus 1–3

De Um Escravo para Outro

Tito 1.1a, 4

Introdução

Durante o império do imperador romano Marcus Aurelius, o Cristianismo se tornou ilegal. Foi aberta a temporada de perseguição aos cristãos. O castigo por seguir a Jesus Cristo era aprisionamento, tortura e até a morte.

Um jovem rapaz chamado Sanctus foi trazido diante do imperador para ser julgado pelo seu crime de Cristianismo—sua vida estava a um fio. Mandaram-lhe, repetidamente, renunciar a sua fé, mas sua mente estava decidida a permanecer fiel a Cristo, não importava o preço. Não importava qual pergunta lhe fosse feita, ele sempre respondia: “Eu sou um cristão.” Para todas as perguntas, sua resposta era sempre a mesma: sou um cristão. De acordo com Eusébio, o historiador da igreja antiga que registrou os acontecimentos daquele julgamento, esse jovem rapaz Sanctus não dizia nem seu nome, nem a que nação ou cidade pertencia, nem se era escravo ou livre, mas respondia da mesma forma: “Sou um cristão.” Quando se tornou finalmente óbvio que não renunciaria sua fé, ele foi condenado à morte pública no anfiteatro. No dia de sua execução, ele foi atacado por animais selvagens, amarrado a uma cadeira de ferro quente. Eusébio registrou que, no decorrer de todo o seu sofrimento, seus acusadores continuaram tentando convencê-lo a renegar a fé, mas o que eles ouviram o tempo inteiro foi: “Eu sou um cristão.”

Para Sanctus, sua total identidade—incluindo seu nome, cidadania e posição social—estava presa a Jesus Cristo. O que o definiu acima de tudo foi sua identificação: eu sou um cristão. Mas o termo “cristão” não era apenas um título; era uma nova maneira de pensar, uma nova maneira de viver.

Mais do que nunca, a igreja precisa retornar ao quadro da sala de aula e responder a pergunta: o que significa exatamente ser um cristão—viver e agir como um cristão? Em nosso mundo de hoje, o termo “cristão” se tornou muito amplo e abrangente, englobando tudo. Hoje, você pode reivindicar ser um cristão sem nem sequer se preocupar com Cristo. Hoje, você pode ser considerado um cristão e negar a divindade de Cristo, o nascimento virginal de Cristo, a vinda futura de Cristo para julgamento, um reino futuro cujo Rei é Cristo e um céu para os que creem em Cristo e um inferno para os que o rejeitam. Você pode até ser um líder cristão hoje e negar a necessidade da morte expiatória de Cristo na cruz. Na verdade, um número crescente de pessoas que se autodenominam cristãs crê que a salvação não precisa necessariamente envolver a cruz de Cristo. Você pode ser um crente hoje e basicamente ter a atitude de que o evangelho é muito exclusivista e a Bíblia é muito intolerante.

Numa pesquisa feita por uma organização religiosa, os pesquisadores concluíram que 65% das pessoas entrevistadas dizem que creem na mensagem básica da Bíblia, mas, ao mesmo tempo, creem também que os ensinos de outras religiões são legítimos, o que inclui desde reencarnação até astrologia.

Frequentemente, leio artigos de jornais e revistas—considerados evangélicos—e fico impressionado com a velocidade com que as ondas do pensamento secular estão varrendo a igreja para um mar de incerteza moral e confusão doutrinária. Muitas igrejas e denominações hoje estão convencidas de que nossa missão como cristãos inclui não somente a salvação de pessoas, mas a salvação do planeta também. Na verdade, mais do que nunca, é provável que você seja considerado anticristão se não seguir as perspectivas politicamente corretas dos ambientalistas, promotores do aborto e ativistas dos direitos homossexuais.

Eu estava no auditório de um debate alguns meses atrás. Nesse debate, uma líder de uma denominação grande do país estava debatendo com outro líder evangélico sobre homossexualismo e união homossexual usando até base bíblica. O que me impressionou foi seu argumento de que ela e os demais que apoiam o homossexualismo são os que, de fato, estão seguindo os valores do Cristianismo e a verdadeira natureza do amor de Cristo. Em outras palavras, dizer que algo é pecaminoso é falta de amor e isso significa que você não é um bom cristão. Dessa forma, a igreja precisa mudar sua mensagem, caso deseje ser considerada “cristã.”

Um tempo atrás, um irmão de nossa igreja me enviou um artigo de jornal. O artigo era uma entrevista com um pastor de uma das principais denominações de uma grande cidade. Perguntaram ao pastor: “O que você diria a alguém que estivesse pensando em frequentar a sua igreja?” O pastor respondeu: “Eles se sentiriam bem-vindos, independente daquilo que são ou da crença que possuem.” O pastor ainda adicionou: “Não tentamos converter ninguém.” Então, o repórter lhe perguntou: “Bom, pelo quê sua igreja é realmente conhecida?” “Por crer em nada!” (isso foi o que eu disse!). Mas o pastor da igreja respondeu: “Somos conhecidos por termos uma mensagem espiritual positiva para que nos sintamos melhor quando saímos que quando chegamos.” Em outras palavras, não importa o que você crê ou que tipo de vida leva, igreja é para você se sentir bem sobre si mesmo no momento que sair dela no domingo à noite.

O irmão que me enviou o artigo escreveu na margem uma piada, dizendo: “Ei, às vezes não me sinto bem depois de suas pregações; será que você pode dar um jeito nisso?” Estou procurando melhorar. Tento ofender todo mundo para que você não se sinta sozinho.

A verdade é que você pode crer no que quiser crer e se sentir bem sobre sua opinião e posição até que você abre a Bíblia. A Bíblia tem um jeito de atrapalhar tudo; porque o evangelho de Cristo não está interessado em se relacionar com o mundo—seu interesse é salvar pessoas do mundo—e, ao mesmo tempo, renovando a mente do crente que está sendo constantemente influenciado pelo mundo.

Eu recebo propagandas de igrejas em minha caixinha dos correios e todas dizem a mesma coisa—venha para nossa igreja porque relevamos muita coisa; você se sentirá confortável conosco; o cafezinho é ótimo; as músicas são legais e as pregações bem dinâmicas. Nosso objetivo é relevar as coisas. Ou seja, não queremos provocar ninguém. Posso dizer algo a você? Eu preciso ser provocado. Espero que minha esposa não ouça isso.

  • Mas, de fato, preciso ser provocado a viver para outras pessoas além de mim mesmo (Hebreus 10);
  • Preciso ter minha mente renovada e transformada para que ela não justifique o pecado facilmente (Romanos 12);
  • Preciso que a Bíblia trabalhe como uma espada pelas fachadas dos meus motivos porque eu posso enganar a mim mesmo (Hebreus 4);
  • Eu preciso, desesperadamente, de comunhão com outros crentes para seguir a Cristo com firmeza (Hebreus 10). Eu tenho um amigo no ministério e gosto de ouvi-lo orando porque, ao ouvi-lo, sou convencido de que não oro como deveria;
  • Precisamos ser expostos à Palavra de Deus, que é útil, informando-nos de onde temos errado, onde temos acertado, como crer e nos comportar corretamente (2 Timóteo 3);
  • Precisamos ter nossas vidas redefinidas.

Gostaria que você pegasse o seu Novo Testamente e abrisse numa carta onde, em no máximo 25 sentenças, o apóstolo Paulo irá meter o nariz em basicamente todas as áreas da vida, redefinindo a vida por completo. É uma carta bem curta para um líder da igreja chamado Tito. E, nesta carta, Paulo irá redefinir tudo:

  • Maturidade espiritual;
  • Liderança verdadeira;
  • O que significa ser piedoso;
  • O lar;
  • Relacionamentos puros;
  • Pureza sexual;
  • O testemunho cristão;
  • O evangelho.

E como precisamos que essas áreas sejam redefinidas... esclarecidas... reafirmadas.

Paulo escreveu três cartas a homens que serviam como líderes mestres ou pastores-mestres. Portanto, chamamos essas cartas de Epístolas Pastorais—ou, simplesmente, Cartas a Pastores. Nós as conhecemos como 1 e 2 Timóteo e Tito. Apesar de serem cartas pastorais, elas não são de benefício exclusivo dos pastores, mas servem também para as congregações que eles lideram. Essas foram cartas inspiradas pelo Espírito Santo e se tornariam livros canônicos do Novo Testamento. Logo no terceiro século, a carta a Tito foi incluída numa lista de cartas apostólicas, considerada necessária à vida da igreja. Muitos acreditam que Paulo escreveu essa carta num período entre 1 e 2 Timóteo. Paulo chama tanto Tito como Timóteo de filhos na fé.

No verso 1, você perceberá que a carta começa de uma forma diferente das cartas e e-mails que escrevemos hoje. Ela começa com o nome do autor – Paulo. Hoje em dia, geralmente finalizamos nossas cartas com nossa assinatura – mas, não nos dias de Paulo. Naquela época, você poderia identificar o autor logo que abrisse a carta.

O nome Paulo vem do latim Paulus, que significa pequeno. Ele nasceu cidadão romano e esse era sue nome gentio ou romano. Seu nome do meio, como podemos chamar, era o nome hebraico Saulo, que era a mesma forma para o hebraico Saul. Seus pais judeus orgulhosamente lhe deram o nome do primeiro rei de Israel. Mas, no decorrer de seu ministério, ele escolheria ser chamado não pelo nome de um antigo rei, mas pelo nome comum de gentio – um nome sem nenhuma tradição judaica. E, uma vez que Paulo se referia a si mesmo como “Apóstolo aos gentios” (Romanos 11.13), ele escolheria esse nome gentio, comum para o seu ministério.

Na época em que ele escreveu Tito, Paulo já era um missionário veterano, plantador de igreja, pastor-mestre e teólogo. Em um de seus livros, Charles Swindoll escreve que, quando Paulo enviou essa carta a Tito, ele já tinha visto de tudo. Paulo já havia vivido anos sendo mal entendido, muitas controvérsias, xingamentos, traição; discípulos o alegraram e, depois, o decepcionaram. Amigos tinham vindo e ido embora. Igrejas fortes que ele havia plantado estavam flertando com a apostasia. As congregações continuamente pediam seus conselhos, mas rejeitavam sua autoridade apostólica e questionavam sua integridade. No sucesso, ele foi acusado de se vangloriar; na prisão, foi abandonado como um fracassado. Ninguém sabia melhor que Paulo como o ministério era recompensador e frustrante. Ele já tinha passado por contínuas decepções com pessoas... as cicatrizes que tinha juntado no decorrer dos anos seria o presente a Tito, que precisava desses bilhetes à medida que ele lutava para estabilizar as igrejas na devassa ilha de Creta.

Não havia ninguém melhor do que Paulo para preparar Tito para os desafios do ministério na de Creta. Creta ficava localizada no meio do Mar Mediterrâneo. Era o porto central para os continentes e um caldeirão para qualquer um e qualquer coisa. Durante os dias de Tito, a ilha de Creta era o lar de um milhão de pessoas que ocupavam mais de cem cidades famosas ao longo da costa. Os cidadãos de Creta tinham a reputação de serem enganadores e viciados. Na verdade, se você dissesse que alguém estava “cretando,” significava que a pessoa estava mentindo. Havia até a expressão “dar uma de cretense com um cretense.” Significava, “enganar o enganador;” você era um enganador melhor ao enganar um cretense. O próprio nome da ilha veio a ser sinônimo de corrupção e engano e desonestidade e todo tipo de vício. Pense num campo missionário... e pense na pressão sobre esse jovem pastor! Tito precisará de instrução inspirada... palavras de sabedoria de um crente sábio e temperado.

Como as palavras de Hudson Taylor, que, quando missionário veterano pioneiro na China há mais de um século, disse à sua equipe e plateia cheia de crentes numa ocasião: “Não importa quão grande seja a pressão; o que realmente importa é onde a pressão está—se ela se coloca entre você e Deus, ou se ela pressiona você para mais próximo de Deus.” Que grande conselho... vindo de um missionário veterano!

Nessa carta, Paulo vai a Tito e a qualquer um que realmente vive a frase, “Eu sou um cristão,” e nos aconselha ao longo do trajeto: “É assim que você defenderá a causa de Cristo; é assim que você lidará com as pressões. Deixe-me redefinir a vida para você.” E a primeira coisa que Paulo usa para revelar nossa culpa e nos desafiar é a forma como ele se refere a si mesmo.

A Obrigação de Paulo: Escravo

Note no verso 1: Paulo, servo de Deus. Em adição ao nome cristão, a Bíblia ainda chama o crente de outros nomes: filhos de Deus, cidadãos do céu, embaixadores, ramos, crianças, coerdeiros e mais. E todos esses títulos nos ajudam a entender o que significa ser um cristão, um crente.

Contudo, a Bíblia usa um termo com muito maior frequência que os demais—um termo utilizado mais de 40 vezes no Novo Testamento para se referir ao crente—a palavra grega doulos, que significa escravo.

A descrição do relacionamento do crente com Jesus Cristo é o relacionamento de um escravo com seu mestre.

O problema é que, no português, você não verá essa tradução, pois o termo é, geralmente, amenizado e traduzido como servo.

Numa tentativa de amenizar a imagem negativa e a crueldade ligadas ao comércio de escravos da Europa para as Américas, os tradutores, no decorrer dos séculos, escolheram traduzir doulos com uma palavra mais sensível—servo. É interessante notarmos que existem várias palavras gregas que significam servo, mas doulos não é uma delas.

Apesar de as responsabilidades de servos e escravos terem certas semelhanças, existe uma diferença-chave entre os dois: servos são contratados; escravos são comprados.

Servos tinham certa medida de direitos pessoais e liberdade de escolherem para quem trabalhariam e o que fariam. Escravos não tinham liberdade alguma, nenhum direito; eles eram considerados nos dias de Tito e nos dias do Brasil colonial como alguém sem direitos. Eles eram posses, não pessoas.

O que nós perdemos hoje ao lermos essa frase de Paulo em Tito capítulo 1 é que não nos arrepiamos ou seguramos nosso fôlego com a gravidade desse termo.

Ele não ofende nossos sentidos... ele não confronta nossas concepções equivocadas de autonomia pessoal como crentes.

Preferimos pensar que temos a opção de obedecermos a Cristo, servirmos a Cristo, pertencermos inteiramente a Ele. Não entendemos perfeitamente quando Pedro diz que todo crente é escravo de Deus.

Preferimos pensar que podemos negociar com Cristo os termos de Sua vontade; que podemos protestar contra o que Ele faz com nosso corpo; que podemos nos alvoroçar com as inconveniências do serviço a Ele; que podemos cumprir apenas parcialmente Suas ordens; que podemos, na verdade, reclamar pela demora de Suas bênçãos ou pelas dores causadas pelos Seus fardos.

Como você vê, pensamos que fomos apenas contratados por Deus.

Reclamamos sobre a hora-extra... longas horas de serviço inconveniente—o salário... fomos treinados a levar o problema ao topo da cadeia, caso nosso gerente na torne o nosso trabalho o mais confortável possível. Quem controla o pacote de benefícios aqui?

Já se esqueceu do que Paulo disse aos coríntios em 1 Coríntios 6, verso 20?

Porque fostes comprados por preço...

Charles Spurgeon, o grande pregador britânico do século 19, viu esse problema e disse:

Onde nossa versão... ameniza e introduz “servo,” o texto, na verdade, diz “escravo.” Os cristãos primitivos se regozijavam em se considerarem propriedade absoluta de Cristo, comprado por ele, pertencendo a ele e inteiramente ao seu dispor. Paulo foi ainda mais além e disse que se regozijava em ter a marca de seu Mestre no seu corpo e clama: “Quanto ao mais, ninguém me moleste; porque eu trago no corpo as marcas de Jesus.” Aí foi o final de toda discussão; ele pertencia ao Senhor e as marcas das chicotadas, pauladas e apedrejamentos eram vistas como a marcação do corpo de Paulo como propriedade do Senhor Jesus. Agora, se os crentes antigos se gloriavam em obedecer a Cristo, oro para que eu e você [façamos o mesmo].

Paulo está redefinindo nossa liberdade. Ele está virando tudo de ponta-cabeça!

Somente quando a pessoa se torna escrava do Criador que passa a experimentar verdadeira liberdade... o caminho da liberdade é escravidão a Deus.

Outro autor do século 19 escreveu:

Escravidão [a Deus] é a única [liberdade na vida]. Liberdade não significa fazer o que você gosta, mas gostar do que se deve – e fazer o que se deve. Tal escravidão a Cristo é a única nobreza.

O crente que vive argumentando com Deus sobre os termos de sua própria vontade está destinado À frustração e aleijado em desespero.

Mas o crente que se levanta e diz como Paulo, Sou escravo de Deus, é o crente livre para servir e viver em alegria contagiante.

Como a jovem moça participando de uma conferência bíblica. Ela se levantou diante de todos os seus colegas segurando uma folha em branco e disse: “Esta página em branco representa minha vida dedicada a Cristo. Este pedaço de papel está em branco, mas já assinei meu nome no final da folha.”

Eu sou um crente! O que isso significa? Significa, “Pertenço a Cristo, Ele é meu Mestre e Senhor.”

A Ocupação de Paulo: Apóstolo

Paulo continua dizendo no verso 1: apóstolo de Jesus Cristo.

Escravo se relaciona à sua obrigação; apóstolo se refere à sua ocupação.

A palavra apóstolo (apostolos) é formada por duas palavras gregas que, quando combinadas, significam enviado de. A palavra era comumente usada para se referir a alguém com autoridade para entregar uma mensagem do rei.

Dessa forma, o apóstolo era um embaixador ou um missionário enviado da parte de Cristo e da igreja com uma mensagem a outro povo.

Paulo também usou a palavra apóstolo para se referir a Tito e Timóteo como mensageiros da igreja e companheiros de ministério (2 Coríntios 8.23).

Mas, aqui em Tito 1, Paulo usa essa palavra em seu sentido oficial restrito – referindo-se a um grupo seleto de homens que foram pessoalmente comissionados pelo Senhor ressurreto.

E a razão para isso é: Tito precisará falar com autoridade apostólica ao designar líderes e instruir a igreja em como se conduzir.

Tito será desafiado. Ele irá a igrejas para impor ordem e estruturá-las e instituir liderança.

Você consegue imaginar alguém chegando em sua igreja de fora e, depois de seis semanas, dizer: “Muito bem, aqui está a liderança que estou instituindo.”

E é exatamente isso o que Tito irá fazer.

E pessoas dirão: “Quem perguntou algo a você? Você pensa que pode simplesmente se enfiar em nossa ilha e em nossas igrejas e decidir quem serão os oficiais e líderes de nossas igrejas?”

“Quem é você mesmo?”

“Meu nome é Tito.”

“Tito?! Esse é um nome latino – você é judeu?”

“Não.”

“Então é gentio?”

“Sim.”

“Mas você foi circuncidado como um judeu crente, não foi?”

“Não... nunca fui.”

“Você recebeu treinamento em Jerusalém?”

“Não.”

“Você se encontrou pessoalmente com Cristo?”

“Não.”

“Então, tecnicamente, você não é um apóstolo?”

“Isso.”

“Escute só, filho. As colunas desta igreja foram instituídas anos atrás no Pentecostes quando viajaram a Jerusalém e ouviram Pedro pregar. Quem enviou você para cá mesmo?”

“Bom, deixe-me mostrar para vocês aqui. Tenho comigo uma carta do apóstolo Paulo.”

“É, conhecemos ele... mas ele conhece você?”

“Ah sim, olhe o verso 4: a Tito, verdadeiro filho, segundo a fé comum.

Em outras palavras, Tito foi conduzido à fé pelo próprio Paulo. Tito foi discipulado por Paulo pessoalmente. E Paulo afirma que a fé de Tito é a mesma fé que ele tem. Eles compartilham de um elo comum, um Senhor em comum, uma fé em comum.

Foi algo notável para esses homens aqui, as colunas da igreja, lerem que Paulo, um antigo fariseu—um judeu devoto, um rabino fiel, um hebreu de hebreus, um homem impecável em sua herança judaica—chama um gentio incircunciso de meu filho.

Ou seja, “Tito e eu somos parentes juntos na família de Deus... e entramos nessa família da mesma forma: pela fé comum em Jesus Cristo.”

Talvez Tito tenha dado uma pausa daqui para deixar aqueles homens caírem em si... e então disse: “Ah, já que estamos lendo aqui, talvez seja bom ler logo o verso seguinte, o verso 5:

Por esta causa, te deixei em Creta, para que pusesses em ordem as coisas restantes, bem como, em cada cidade, constituísses presbíteros, conforme te prescrevi:

Caso encerrado. E, a propósito, Tito era perfeito para o serviço.

Um tempo antes, Paulo o havia enviado a Corinto para consertar uma bagunça. Que igreja, quanto problema, quanta divisão!

Tito teve sucesso em restabelecer a unidade e ele até fortaleceu a reputação de Paulo aos olhos da igreja de Corinto (2 Coríntios 7.6–7, 13–16).

Tito se tornou o solucionador de conflitos pessoal de Paulo. Tito foi enviado para realizar as tarefas mais complicadas.

De fato, Paulo até envia Tito a uma província conhecida como Ilírico onde uma igreja estava lutando para sobreviver numa cultura difícil.

De acordo com o historiador romano Políbius, “o povo do Ilírico era inimigo comum de todos;” eles não se davam bem com ninguém. Estrabo, um contemporâneo de Tito, escreveu que o povo do Ilírico era selvagem e entregue à sua ocupação primária como piratas.

Você consegue imaginar isso? Tudo aquilo havia sido uma preparação maravilhosa para a tarefa na Ilha de Creta.

Tito iria confrontar igrejas em desordem com vários anos de história... todo mundo sabe que ninguém entra simplesmente mudando a cor da decoração da igreja, ou os panfletos ou a forma como as coisas são feitas e muito menos não se aparece em Creta dizendo quem serão os líderes da igreja.

Quando leio o trabalho que Tito deve realizar—instituir presbíteros e líderes—, imagino os confrontos, as dores, os egos feridos de homens sendo deixados de lado da escolha da liderança. Quanta mudança! Não se faz essas coisas.

Ainda me recordo da primeira vez que decidi fazer uma mudança ao ministério. Estava no meu último ano do meu bacharel e aceitei o convite para ser um auxiliar numa igreja. O pastor estava fazendo seu mestrado em teologia, era um pouco mais velho que eu e já era casado. Eu ficaria na igreja menos de 6 meses.

Ele pregava todo domingo para cerca de trinta pessoas e eu pregava às quartas-feiras para umas dez pessoas. Eu pegava um carro emprestado e pregava para as dez fiéis pessoas que apareciam.

A igreja tinha uma aparência e um cheiro de antiga. Tinha lugar para 75 pessoas, um palco baixo e um espaço pequeno para um coral que nunca era utilizado.

Havia um homem na igreja que já estava lá por 25 anos. Ele ensinava uma turma de adultos aos domingos e basicamente controlava tudo. Sua esposa tocava o piano.

Na parede atrás do púlpito, logo acima do espaço do coral, havia uma faixa de uns 2 metros de largura com uma frase inspiradora de algum tipo e acho que uma referência bíblica. Mas essa faixa já estava toda desbotada... os lados tinham curvado para dentro e estavam quebradiços e amarronzados. Na verdade, em vários lugares, essa faixa estava rachada.

E, toda vez que alguém se sentava nessa igreja e olhava para o pregador, era impossível não perceber essa faixa grande lá em cima.

Conversei com o pastor, aluno do mestrado, sobre minha ideia de criar um novo logo para a igreja e fazer um cartaz novo. Era hora de dar uma renovada nessa igreja. Então, entrei em contato com um artista na minha faculdade para começarmos a trabalhar naquele projeto.

No domingo seguinte, subi até o palco, todo animado, e retirei aquela faixa velha da parede. Lembro-me de estar em pé sobre um dos bancos do coral, pregando minha nova faixa, quando esse pilar da igreja entrou. Ele deu alguns passos e gritou: “O que você está fazendo?” Eu disse: “Estou colocando uma faixa nova.” Seu rosto ficou vermelho como uma brasa – ele era branquelo... ele apontou seu dedo para mim e disse: “Jovem, já faz vinte anos que essa faixa está aí nessa parede.” Eu quase disse: “Só?! Parece que tem mais de cem anos.” Na verdade, eu fiquei chocado com aquilo. Ele saiu da igreja furioso e fechou a porta com toda força e o pastor foi atrás dele para tentar acalmá-lo. Enquanto isso, retirei a faixa nova e recoloquei a velha na parede.

Quando leio que Paulo envia Tito a igrejas já estabelecidas e decidir quem serão os presbíteros – fico pensando como seria ir a essa igreja onde servi no passado e dizer: “Estou instituindo 2 diáconos e 1 presbítero e você não está entre os escolhidos.”

Paulo... você tem algum encorajamento para mim?

E Paulo escreve no final do verso 4: graça e paz, da parte de Deus Pai e de Cristo Jesus, nosso Salvador.

Graça para fortalecê-lo, graça para orar, graça para perdoar, graça para servir, graça para suportar, graça para perseverar.

Paz para confiança, paz em meio às lutas, paz quando tudo ao seu redor virou caos. A fonte dessa graça e paz é o próprio Deus.

A carta a Tito é uma carta de um escravo a outro. Um escravo velho, cheio de cicatrizes de batalhas que escreve a um jovem escravo—e para todos nós—e diz a ele com toda sabedoria proveniente de verdade e experiência: “Tito, quando você firmar sua posição e disser: ‘Sou um crente’—quando você disser, na verdade, ‘Sou um escravo de Deus,’ ‘um mensageiro de Cristo’—, não se esqueça de tomar do reservatório da graça e da paz.”

Existe o suficiente para vivermos um dia de cada vez, fortalecidos pelo suprimento ilimitado do Deus Pai e de nosso Salvador, Jesus Cristo.

 

 

Este manuscrito pertence a Stephen Davey, pregado no dia 08/01/2012

© Copyright 2012 Stephen Davey

Todos os direitos reservados

 

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