
Deixando Os Poodles Fora da Foto
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A Guerra Interior—Parte 3
Romanos 7.15–24
Introdução
No decorrer dos séculos, a realeza e os nobres da Grã-Bretanha e da Europa exibiram sua riqueza de várias maneiras presunçosas. Castelos e carruagens eram sinais de independência financeira. As mulheres da aristocracia gastavam enormes somas de dinheiro em cruzamento de raças de cachorro para estimação. Algo bastante comum para uma mulher era tirar sua foto com um pequeno cachorro sentado em seu colo.
Nos Estados Unidos, o final dos anos de 1800 foram anos de prosperidade financeira para muitas pessoas. Homens ficaram milionários durante uma noite por causa das estradas de ferro, petróleo e propriedades. Suas espoas não tinham a cultura e relacionamentos com a aristocracia inglesas, apesar de serem igualmente ricas, se não mais ricas. Para compensar, esses pequenos cachorros de colo, que eram sinal de boa posição social na Europa, se tornaram a moda dentre as mulheres milionárias. Claro, elas não tinham séculos de cultura e sangue real em suas veias, mas elas podiam, sim, gastar altas somas de dinheiro para importar e fazer cruzamentos com seus cachorros. Uma das versões americanas favoritas ficou conhecida como o poodle. Essas mulheres tiravam fotos com seus cachorros no colo, da mesma forma que suas primas distantes na Inglaterra. Elas também podiam exibir suas riquezas!
Observadores cínicos começaram a descrever essa demonstração de riqueza com a frase, “colocar o cachorro.” Essa frase existe ainda hoje nos Estados Unidos. Quando uma pessoa é vista se exibindo de forma pretensiosa e ambiciosa, as pessoas dizem: “Ah, ela está só colocando o cachorro.”
A verdade é que o crente em geral corre o risco de ficar “colocando o cachorro” com mais frequência do que gostaria de admitir e de mais maneiras que gostaria de revelar. Quer seja ao fingir ser piedoso em suas atitudes, ou ao usar um vocabulário espiritual na hora certa e com as pessoas certas, ou ao recusar admitir seus fracassos, ao aparecer na igreja, ao se voluntariar para atividades—seja o que for—ficamos muito mais satisfeitos em “colocar o cachorro” do que mostrar às pessoas quem realmente somos. Transparência é algo extremamente difícil—é mais fácil se esconder detrás de um poodle.
Esse é um dos motivos por que é tão difícil imaginar o apóstolo Paulo está realmente revelando sua batalha espiritual. Não conseguimos pensar que ele, o grande apóstolo, poderia estar falando de si mesmo em Romanos 7 com palavras tão honestas e transparentes. Não conseguimos nem conceber que tenha sido tão difícil assim para ele viver uma vida santa e pura. Preferimos pensar que Paulo controlava sua santidade; que, para um crente maduro, lidar com a tentação era algo fácil a essa altura.
A verdade é que não ficamos muito confortáveis com essa passagem porque, se Paulo admite que tem pensamentos impuros e realiza atos pecaminosos, então, nós também temos que ser sinceros. Precisaremos de cachorros maiores por detrás dos quais nos esconder. Se Paulo não tinha a vida santa já como algo resolvido, nenhum de nós pode dizer que desvendou o mistério da vida santa.
Além disso, não estamos acostumados a ouvir alguém falando com tanta honestidade a respeito de sua batalha interior como Paulo faz na última parte de Romanos 7.
A Guerra Interior… em Paulo
Vamos ler vários versos de Romanos 7 e tentar entrar na pele de Paulo para sentir sua agonia e ouvir seu fervor e sentir seu coração clamar. Veja os versos 15 a 24:
Porque nem mesmo compreendo o meu próprio modo de agir, pois não faço o que prefiro, e sim o que detesto. Ora, se faço o que não quero, consinto com a lei, que é boa. Neste caso, quem faz isto já não sou eu, mas o pecado que habita em mim. Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem nenhum, pois o querer o bem está em mim; não, porém, o efetuá-lo. Porque não faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero, esse faço. Mas, se eu faço o que não quero, já não sou eu quem o faz, e sim o pecado que habita em mim. Então, ao querer fazer o bem, encontro a lei de que o mal reside em mim. Porque, no tocante ao homem interior, tenho prazer na lei de Deus; mas vejo, nos meus membros, outra lei que, guerreando contra a lei da minha mente, me faz prisioneiro da lei do pecado que está nos meus membros. Desventurado homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte?
Nossa! É de se esperar que muitas pessoas argumentam que essa passagem é uma referência ao descrente ou ao crente imaturo. Com certeza, Paulo era um crente vitorioso, mas esse é o linguajar de lutas e derrotas e agonia e tentação.
A verdade permanece: tornar-se um crente não elimina a batalha com o pecado—apenas dá início à batalha!
Três verdades sobre o crente
Paulo fala na primeira pessoa do singular e no tempo presente nesses versos. Sua transparência é não somente algo chocante, mas é também revelador. Paulo diz três coisas que revelam verdades sobre si mesmo e o pecado que podem apenas ser válidas na vida de um crente.
- Primeiro, o crente verdadeiro tem aversão ao pecado.
No verso 15, Paulo diz: não faço o que prefiro, e sim o que detesto.
Quando Paulo cedia à tentação, ele fazia exatamente aquilo que detestava. Um descrente não agoniza por causa do pecado, ele agoniza por causa das consequências do pecado.
John MacArthur conta a história de um homem que estava zombando de um pastor depois da pregação. Ele disse ao pastor: “Você diz que os descrentes carregam um grande peso de pecado. Sinceramente, não sinto nada. Qual é o peso do pecado? Cinco quilos? Sete quilos? Nove quilos? Quarenta quilos?”
O pastor pensou por um momento e respondeu gentilmente: “Se você colocasse duzentos quilos sobre um cadáver, será que ele sentiria alguma coisa?”
O homem respondeu: “Não, ele está morto.”
O pastor então replicou: “A pessoa que não conhece a Cristo está espiritualmente morta. E, apesar de o peso do pecado ser enorme, ela não sente nada.”
A verdade é que a pessoa que vem a Cristo de repente se torna sensível ao pecado—até mesmo aos pecados mais leves pesam como se fossem cem quilos. E sua sensibilidade ao pecado intensifica à medida em que você cresce em Cristo. Não é essa uma boa notícia?!
Thomas a Kempis escreveu séculos atrás a respeito de sua própria batalha, dizendo:
Eu desejo me apegar às coisas celestiais, mas coisas e paixões carnais me deprimem. Então, eu, um homem infeliz, me entristeço frequentemente… Ah, como sofro dentro de mim enquanto penso em coisas celestiais em minha mente; a carne vem contra mim mesmo quanto eu oro.
O crente verdadeiro tem aversão, nojo do pecado.
- Segundo, o crente verdadeiro tem um amor permanente para com a lei de Deus.
Paulo escreve no verso 22: tenho prazer na lei de Deus.
Então, obviamente, o crente é levado a direções opostas. Com sua carne, ele é puxado para o pecado; com seu espírito ele é puxado em direção à santidade.
Usando a si mesmo como exemplo, Paulo nos ensina que, quando ele era descrente, o pecado era seu dono, uma verdade que vemos em Romanos 6. Agora que ele é um crente, o pecado não é mais seu dono, mas ele ainda pode dominá-lo, uma verdade que vemos em Romanos 7.
Davi escreveu no Salmo 19.12-13:
Quem há que possa discernir as próprias faltas? Absolve-me das que me são ocultas. Também da soberba guarda o teu servo, que ela não me domine; então, serei irrepreensível e ficarei livre de grande transgressão.
Paulo, assim como Davi, diz, com efeito: “Antes de eu estar debaixo da graça, o pecado me possuía. Mas quando vim a Cristo pela fé, morri para o pecado, mas ainda sou tentado a possuir o pecado.”
Será que esse é o testemunho de um descrente ou um crente imaturo passivo? Não! Esse é o testemunho de um crente envolvido em uma batalha pela pureza, santidade, devoção e piedade.
Esboço de Romanos 7.14-24
Agora, podemos esboçar facilmente o conteúdo de Romanos 7.14-24, já que Paulo se repete três vezes. Ele, virtualmente, diz a mesma coisa sobre si mesmo de três maneiras diferentes. O esboço é o seguinte:
- A primeira seção—vv.14-17;
- A segunda seção—vv.18-20;
- A terceira seção—vv.21-24.
Cada seção começa com uma exposição da batalha interior, seguida por um exemplo da batalha interior; daí, cada seção termina com uma explicação. Então, em cada seção nós vemos:
- exposição;
- exemplo;
- explicação.
Seção 1—Romanos 7.14-17
Por exemplo, Paulo expõe seu coração pela primeira vez ao escrever no verso 14: eu, todavia, sou carnal, vendido à escravidão do pecado.
Paulo não está, contudo, falando de pecados individuais, mas de um princípio interno do pecado. Apesar de estar livre da penalidade e do poder do pecado, Paulo, e todos os demais crentes, ainda estão debaixo do princípio do pecado, que é a carne. Estar preso ao princípio do pecado transforma a presença do pecado na possibilidade do pecado.
Paulo fornece seu primeiro exemplo no verso 15: Porque nem mesmo compreendo o meu próprio modo de agir.
A palavra “entendo” sugere, “um amor íntimo a.” Essa é a mesma palavra usada na Septuaginta para se referir a Adão conhecendo Eva e Eva concebendo.
Paulo diz: “Creio no pecado que cometo, mas não o amo de fato.” Na verdade, Paulo continue com seu exemplo e escreve no verso 15:
…pois não faço o que prefiro, e sim o que detesto.
Ele ainda fornece uma explicação nos versos 16 e 17:
Ora, se faço o que não quero, consinto com a lei, que é boa. Neste caso, quem faz isto já não sou eu, mas o pecado que habita em mim.
Será que Paulo está se desculpando de seu pecado? Parece que está, pois ele diz: “É culpa do pecado.”
Não. Paulo está assumindo a responsabilidade por seu pecado ao admitir que o pecado dentro dele estava controlando sua carne. Ele admite que é pecador.
O descrente jamais admite que é um ser corrupto e pecador. Ele diz: “O diabo me levou a fazer isso.” Isso é apenas uma desculpa.
Adão disse: “Foi Eva, Senhor… ela me levou a fazer isso.” E Eva disse: “Foi a serpente, Senhor… é culpa dela.”
Paulo diz, com efeito: “Eu tenho, vivendo dentro de mim, uma propensão ao pecado; a pecaminosidade vive em minha carne. E, apesar de o novo eu, a nova criatura em Cristo, desejar fazer o que é certo; apesar de o novo eu desejar ser santo, às vezes, a pessoa que eu não sou mais cede espaço para fazer exatamente aquilo que eu mais odeio.”
Paulo vive com a tensão teológica entre aquilo que ele é em cristo—revestido em justiça e assentado nos céus—e a sua velha carne—ainda preso ao pecado, às vezes permitindo que ela controle suas ações, a qual está em constante guerra com seu novo espírito.
Deixe-me fazer uma pausa neste ponto para dizer seguinte. O princípio e dinâmica internos da carne pecaminosa tentarão fazer duas coisas com o crente:
- primeiro, enganar a mente do crente;
- segundo, controlar o corpo do crente.
A mente do descrente já está enganada e cegada pelo pecado e seu corpo já está debaixo do controle do pecado. O crente foi libertado, mas ainda luta contra os impulsos do pecado que o empurram de volta aos antigos hábitos da carne.
É por isso que Paulo alertou os crentes em Romanos 6.12: Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal.
E no verso 13:
nem ofereçais cada um os membros do seu corpo ao pecado, como instrumentos de iniquidade…
Ele também desafiou os crentes filipenses no capítulo 1, verso 27: Vivei, acima de tudo, por modo digno do evangelho de Cristo.
Ele alertou os crentes colossenses no capítulo 3, versos 8 e 12:
Agora, porém, despojai-vos, igualmente, de tudo isto: ira, indignação, maldade, maledicência, linguagem obscena do vosso falar… Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de ternos afetos de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de longanimidade.
A verdade sobre nossa batalha é a seguinte: ficaremos livre da carne eternamente… precisamos lutar contra a carne diariamente!
Seção 2—Romanos 7.18-20
Agora, Paulo continua para a segunda exposição. Veja o verso 18:
Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem nenhum, pois o querer o bem está em mim; não, porém, o efetuá-lo.
Quanto mais maduro o crente se torna, mais ciente ele fica da verdade. Nossa carne jamais realizará algo bom porque nenhum bem habita em nós. Apenas aquilo feito pelo poder de Jesus Cristo pode ser caracterizado como algo bom.
Mesmo quando você faz algo bom por intermédio de Cristo, sua carne deseja dominar, não é mesmo? Assim que você é cumprimentado por algo que realizou, seu carne se levanta e diz: “Você é realmente uma pessoa especial!”
Você implora que Deus a ajude a ser uma boa mãe ou um bom pai. Daí, quando alguém chega e diz: “Rapaz, eu realmente admiro a maneira como você cria seus filhos!” você fica imediatamente tentado a pensar: “Acho que sou, de fato, um bom pai.” Você se esquece que implorou a Deus para ajudá-lo a ser daquela forma!
Os quinze minutos mais perigosos na vida de um pregador são aqueles depois do culto. Ele fica de pé à porta e todas as pessoas fazem fila para dizer: “Mensagem maravilhosa, pastor. Que história incrível que o senhor contou! Você fala de um jeito interessante…”. Quando as pessoas terminam de elogiá-lo, ele já está inteiramente corrompido com orgulho egoísta!
Howard Hendricks disse à nossa turma no seminário que nunca deveríamos ficar em pé à porta para as pessoas passarem e nos cumprimentarem. Elas apenas se sentirão obrigadas a dizer alguma coisa boa para você e você não merece! Hendricks chamou aqueles quinze minutos de aperto de mão que ocorre em muitas igrejas de, “A cerimônia da glorificação do verme.”
Quando mais velho você fica em Cristo, mais ciente você se torna de como é difícil falar e pensar e fazer algo santo, e como é fácil fazer e pensar e falar algo pecaminoso.
Alguns dias atrás, li sobre um pequeno dilema. Dois homens morreram e estavam esperando diante do Portão de Pérola para poderem entrar no céu (você não gosta dessas histórias teologicamente distorcidas?). Daí, Pedro vem e diz: “Vejam bem, temos espaço para só um de vocês—qual dos dois é mais humilde?”
Você acha que Paulo não foi tentado com orgulho? Ele era o grande; ele escreveria mais livros bíblicos do que qualquer outro ser humano; ele recebeu mais revelação do Senhor ressurreto do que os demais apóstolos. Você acha que Paulo nunca ficou pensando na grandiosidade de seu ministério? Ouça o que ele diz em 2 Coríntios 12.7:
E, para que não me ensoberbecesse com a grandeza das revelações, foi-me posto um espinho na carne, mensageiro de Satanás, para me esbofetear, a fim de que não me exalte.
Deus colocou algo em Paulo que não sabemos exatamente o que foi a fim de que a cabeça de Paulo não inchasse e seu orgulho não dominasse sua vida. Será que funcionou?
Se você pudesse entrevistar o apóstolo Paulo, como um repórter faz depois que o jogo termina, você perguntaria a ele: “E aí, Paulo, como você se sente em ser o maior missionário do mundo? Como você se sente em saber que a igreja obedece cada uma de suas palavras? Qual é o sentimento de ser o instrutor de cada novo convertido e cada líder do futuro?”
Ele responderia: “Você não me conhece direito… Sabe, não consigo parar de pensar no que teria feito se a minha carne entrasse na minha frente. Não existe nada de bom em Paulo, nada de bom mesmo no que você vê.”
Seção 3—Romanos 7.21-24
Paulo passa a apresentar sua terceira declaração de exposição no verso 21, ao responder: Então, ao querer fazer o bem, encontro a lei de que o mal reside em mim.
Deixe-me dar um exemplo a você de como isso funciona na prática. Vejas os versos 22 e 23:
Porque, no tocante ao homem interior, tenho prazer na lei de Deus; mas vejo, nos meus membros, outra lei que, guerreando contra a lei da minha mente, me faz prisioneiro da lei do pecado que está nos meus membros.
Paulo diz duas coisas que um descrente não consegue dizer:
- Primeiro, a frase: no tocante ao homem interior, tenho prazer na lei de Deus. Essa frase pode ser traduzida: “Eu amo a lei de Deus do fundo do meu coração… esse novo homem dentro de mim.”
- Segundo, Paulo acabou de dizer que, às vezes, apesar de ele amar o padrão santo de Deus, sua carne o faz prisioneiro do pecado.
O descrente não consegue dizer que ele se torna um prisioneiro do pecado porque ele já é um prisioneiro do pecado. Paulo diz: “Quando eu peco, eu me torno, mais uma vez, um prisioneiro do pecado.” Em outras palavras, “Eu posso recusar o que amo em meu coração e seguir aquilo que quero em minha carne e me encontrar preso à velha vida novamente.”
Como explicar isso? Paulo continua e diz no verso 24: Desventurado homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte?
Ou seja, “Quem me livrará desta carne, desde corpo de corrupção e decadência?”
Então, o crente peca? Sim. Se Paulo peca, acho que você também peca! O que acontece quando um descrente peca? Nada! Ele está morto em seus pecados e transgressões, condenado, enganado e, contudo, orgulhoso de como ele é bom. Ele não sente nada! O que acontece quando um crente peca? O que acontece quando o crente perde essa batalha interior? Pelo menos doze coisas acontecem:
- Ele entristece o Espírito Santo (Efésios 4.30);
- Suas orações não são respondidas (1 Pedro 3.7);
- Ele se torna desqualificado para um ministério produtivo (1 Coríntios 9.27);
- Seu louvor a Deus se torna inaceitável (Salmo 33.1);
- As bênçãos de Deus são retidas (Jeremias 5.25—os vossos pecados afastam de vós o bem e 2 João 8—o crente não arrependido não recebe sua recompensa completa);
- Ele perde a alegria em sua salvação (Salmo 51.12—ao confessar, Davi pede que Deus restaure a alegria de sua salvação);
- Ele experimenta a disciplina de Deus (Hebreus 1.5-11);
- Ele atrapalha seu crescimento espiritual (1 Coríntios 3.1-3);
- Seu serviço a Cristo se torna limitado (2 Timóteo 2.21—Assim, pois, se alguém a si mesmo se purificar destes erros, será utensílio para honra, santificado e útil ao seu possuidor, estando preparado para toda boa obra.)
- Ele coloca em risco a duração de sua vida (1 Coríntios 11.30 mostra que alguns crentes haviam morrido por viverem vidas sem arrependimento).
E, como se todas essas coisas não bastassem, é impossível não adicionar os próximos dois elementos a essa lista.
- O testemunho da igreja é prejudicado (1 Coríntios 5);
- Deus é desonrado (1 Coríntios 6.19-20—“glorificai a Deus no vosso corpo!”).
É de se esperar, portanto, que o crente verdadeiro odeia o pecado e luta contra a carne. Por outro lado, o descrente é incapaz de abraçar a verdade de seu pecado, incapaz de admitir a corrupção de sua carne. Ele torna o pecado em algo aceitável, transforma o errado no certo.
Essa semana, recebi um email de alguém que está enganado pelo pecado mais do que todas as pessoas que já conheci. Ele não frequenta nossa igreja, mas foi encorajado por alguém em nossa igreja a buscar meu conselho. Ele explicou que gostaria de ter certeza de que, quando se casasse, seria capaz de guardar todos os seus votos de matrimônio, pois sabia que essa era a vontade de Deus. Então, a fim de assegurar que ele e sua namorada guardariam seus votos, eles estavam determinados a ter certeza que eram compatíveis em todos os sentidos, incluindo na relação sexual. Ele queria dizer que não estava tão convencido assim que a Bíblia proíbe relações sexuais fora da aliança do casamento.
Daí, ele chegou na parte interessante—e eu ouço esse tipo de coisa com mais frequência do que você imagina. Ele disse que, quando Jesus foi tentado por Satanás, Ele respondeu dizendo: “Não tentarás o Senhor teu Deus.” Daí ele raciocinou que não fazer todo o possível para se certificarem de que não violariam seus votos, incluindo fornicar, seria, na verdade, colocar Deus em uma prova, o que também estaria errado.
Em outras palavras, ele não disse: “Sei que o que estou fazendo é errado—você acha que Deus irá ignorar isso?”
Ele não estava dizendo: “Não acho que Deus realmente pense que isso é errado!”
Ele estava dizendo, na verdade: “Isso não somente não é pecado e Deus não somente pensa que isso é correto, na verdade, Deus até exige que façamos isso e Ele nos responsabilizará se não fizermos isso, porque, se não fornicarmos, não temos como saber ao certo que nosso casamento durará e isso colocaria o Senhor nosso Deus a um teste quando fizermos nossos votos.”
Daí, o pecado não somente se tornou um ato que Deus endossa, não cometer pecado se tornou pecado.
Ele finalizou seu e-mail dizendo: “Por favor, me responda com seus pensamentos a esse respeito.”
Então, eu respondi. Enviei para ele meus pensamentos.
Agora, isso pode até soar estranho e eu quero que você entenda claramente o que estou querendo dizer com isto: para o descrente, o pecado não importa agora. Contudo, um dia, o pecado importará quando ele se colocar de pé e os livros forem abertos e o descrente for julgado pelas coisas que fez.
Para o descrente, o pecado se tornará algo seríssimo às portas da eternidade, mas, para o crente, o pecado é uma questão séria agora. Nossa eternidade no céu não está em jogo, mas muitas outras coisas na terra estão em jogo!
Com isso em mente, por que pecamos? Porque Deus não fez um bom trabalho em nos purificar quando fomos salvos? Porque Ele não nos deu uma natureza completamente nova? Porque Ele não pagou completamente pelo nosso pecado de forma que temos que tentar fazer coisas boas para compensar? Não! Pecamos porque somos pecadores, apesar de sermos salvos! O pecado está preso em nossa carne e, enquanto vivermos nessa carne, teremos que batalhar com nossa inclinação a fazer aquilo que a carne deseja—isto é, pecar.
A explicação de Paulo no verso 24 é: Desventurado homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte?
Note que ele não disse: “O que me livrará…” como se fosse algo que podemos realizar, mas, “Quem me livrará…”. Porque Cristo é o único poder na terra que pode não somente nos salvar da penalidade do pecado, mas também do poder do pecado.
Aplicação
Daremos uma olhada mais detalhada nisso em nosso próximo estudo, mas gostaria de fornecer a você duas exortações. Elas são curtas e fáceis de serem lembradas.
- A primeira exortação é: seja honesto!
Você quer ser como Paulo? Então, pare de querer parecer perfeito para as outras pessoas. Você não precisa querer parecer ser uma pessoa que tem o pecado sob controle, como um crente que já chegou ao ponto máximo de disciplina e consistência. Se posso ser honesto o suficiente, não coloque nenhum poodle em sua foto. Não queira se exibir para os outros crentes. Você não precisa “colocar o cachorro” para as outras pessoas verem.
Seja honesto consigo mesmo e diante de Deus. Seja tão honesto como Paulo em Romanos 7.
- A segunda exortação é: seja perseverante!
Permaneça firma na batalha! Um dia, Paulo escreveria a Timóteo em 2 Timóteo 4.7: Combati o bom combate, completei a carreira.
Então, não jogue a toalha simplesmente porque viver uma vida santa é como subir uma ladeira! Espere pelas dificuldades. Se Paulo perseverou e lutou, você também deve!
Quando Deus o vivificou em Cristo, Ele o chamou para uma vida de batalha contra o pecado. Então, encare essa luta, aceite-a e trave essa guerra!
J. I. Packer chamou essa perspectiva de “realismo espiritual.” Ele disse que:
Realismo espiritual tem a ver com a nossa disposição em encarar verdades desconfortáveis sobre nós mesmos e começar a fazer as mudanças necessárias… nós constantemente culpamos outras pessoas por aquilo que dá errados em nossos relacionamentos, famílias, igrejas, carreiras profissionais e assim por diante; complacência e esperteza em agir como um inocente ferido estão dentre as características que mais apagam o Espírito, já que se tornam desculpas por não se fazer nada em situações mas quais realismo espiritual exige que façamos algo e que façamos com um senso de urgência. Somos chamados para uma guerra espiritual constante nesta vida e essa guerra exige um preparo rigoroso, alerta constante, [persistência] fiel e confiança a cada instante no Único que nos pode dar a vitória.
Portanto, seja honesto e seja perseverante!
Este manuscrito pertence a Stephen Davey, pregado no dia 21/09/2003
© Copyright 2003 Stephen Davey
Todos os direitos reservados
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