
O Povo Pródigo
O Povo Pródigo
A Depravação do Homem e A Libertação de Deus–Parte 4
Romanos 3.12
Introdução
Em nosso último estudo, falamos sobre as quatorze acusações de Paulo contra a raça humana. Em Romanos 3.10, aprendemos que a humanidade é totalmente depravada, totalmente pecaminosa, totalmente perversa e totalmente escravizada ao pecado. Também lemos que a humanidade é espiritualmente ignorante. Paulo escreveu no verso 11: não há quem entenda.
Em outras palavras, ninguém compreende as coisas espirituais. Apesar de o nosso mundo falar sobre experiências espirituais, coisas espirituais e seres espirituais, o espírito do homem, conforme lemos na Palavra de Deus, à parte da obra regeneradora salvífica do Espírito Santo, está morto; o espírito do homem não está em coma, mas morto.
Daí aprendemos que a humanidade é não somente completamente depravada e espiritualmente ignorante, mas também naturalmente desconectada de Deus. Paulo escreve na última parte do verso 11: não há quem busque a Deus.
Mas, com certeza, parece que as pessoas estão todas buscando a Deus, não é mesmo? A verdade é que o pecador, assim como Adão e Eva no jardim, correm de Deus, e não para Deus. Não são eles que buscam a Deus; é Deus quem busca os pecadores. Jesus Cristo disse em Lucas 19.10: [Eu] vim buscar e salvar o que estava perdido.
Mas as pessoas todas não creem em Deus de maneiras diferentes?
Cinquenta anos atrás, havia uma crença básica na sociedade de que havia apenas um Deus e que esse Deus era aquele derivado das Escrituras. Ou você cria nesse Deus ou não cria em Deus. Hoje, o Deus da Bíblia não passa de um dentre muitos outros deuses, e suas reivindicações igualmente válidas.
Na verdade, em meados da década de 1990, de acordo com uma pesquisa religiosa conduzida por um grupo chamado Barna:
Cerca de dois dentre três adultos criam que a escolha de uma fé religiosa era irrelevante, pois todas as religiões ensinam basicamente as mesmas coisas.
Em outras palavras, todos creem em Deus, apenas temos nomes diferentes para esse mesmo Deus. É por isso que você ouve pessoas nas escolhas, trabalho, vizinhança ou dormitório dizendo coisas como:
- “Eu respeito Jesus Cristo assim como outra pessoa qualquer, mas não creio que Ele seja o único caminho para Deus… Deus jamais limitaria o céu a uma pessoa só;” ou,
- “Acho que todas as religiões do mundo são essencialmente a mesma coisa… por que discutir sobre questões mínimas que causam desunião?” ou ainda,
- “Existem várias coisas que gosto no Cristianismo… exceto o fato de que parece ser meio dogmático e intolerante às demais religiões.”
A religião de nossos dias é simplesmente um maravilhoso buffet de possibilidades. Seu caminho para a espiritualidade é um supermercado no qual você pode escolher os ingredientes que mais gosta na vida.
Mas será que a Bíblia ensina isso? A Bíblia diz em Provérbios 14.12: Há caminho que ao homem parece direito, mas ao cabo dá em caminhos de morte.
Será que todas as pessoas não irão findar indo para o céu? A Bíblia mostra em Mateus 7.13–14:
Entrai pela porta estreita (larga é a porta, e espaçoso, o caminho que conduz para a perdição, e são muitos os que entram por ela), porque estreita é a porta, e apertado, o caminho que conduz para a vida, e são poucos os que acertam com ela.
Então, o evangelho é, primeiramente, a notícia de que o homem está perdido. Ele informa que o homem se encontra no caminho largo que conduz à destruição; a humanidade se encontra em sérios problemas e todas as suas religiões amalgamadas, todas as combinações de ingredientes espirituais criam nada mais que culpa, vergonha, confusão e, por fim, morte e separação do único Deus vivo e verdadeiro, Yahweh.
Existe esperança e salvação em Yahweh, e existe apenas engano e desespero nos outros deuses, outra fé e outra coisa qualquer, pois todas conduzem à morte.
No ano passado, eu fiquei diante de um grande templo Hinduísta na Índia. Era um templo enorme com um telhado em camadas que subia à altura de uns quatro ou cinco andares. Em cada camada, havia imagens pintadas brilhosas dos principais deuses e deusas do panteão Hinduísta. Havia deuses com duas cabeças, outros que eram metade animal e metade humanos, deusas com muitos seios, deuses furiosos e deuses bondosos. Lá, no primeiro piso, fiquei em pé cerca por muitas pessoas debaixo de um sol escaldante. Muitos eram pedintes, puxando minha camisa e colocando as mãos à boca, morrendo de fome. Uma mendiga em particular me seguiu o caminho todo até o nosso carro. Ela carregava em sua cintura um bebê e continuou pedindo por comida com uma voz de lamento.
Que retrato da humanidade. Ela criou seus deuses, mas eles não podem ajudá-la, nem física, nem espiritualmente.
Acusações Contra a Humanidade
O apóstolo Paulo continua suas acusações contra a humanidade. Continuaremos onde paramos em nosso estudo anterior.
A humanidade é propositadamente hostil
- A quarta acusação de Paulo é que a humanidade é propositadamente hostil.
Romanos 3.12 começa com um anúncio severo: Todos se extraviaram.
Todos se extraviaram! O que isso significa? Significa, literalmente, “pender para o lado errado.” No contexto militar significa, “fugir da batalha.”
O teólogo Alva J. McClain escreveu que essa frase pretendeu fornecer a imagem de uma caravana atravessando um deserto e que saiu da rota.
Essa é outra forma de dizer que a humanidade está perdida, perdida em seu caminho!
Isaías disse a mesma coisa no capítulo 53, verso 6: Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo caminho.
John MacArthur relembra o leitor em seu comentário:
Na igreja primitiva, o evangelho foi, às vezes, chamado de “O Caminho” (Atos 9.2), e as pessoas frequentemente se referiam aos crentes como aqueles que seguiam o Caminho. Até mesmo o demônio que havia dado a uma escrava o poder de adivinhação reconheceu por meio dela que Paulo e seus companheiros eram “servos do Deus Altíssimo, proclamando o caminho da salvação (Atos 16.17). Lucas se referiu aos judeus que se opunham ao ministério de Paulo em Éfeso como homens que estavam “falando mal do Caminho” (Atos 19.9) e que, por causa dessa oposição, “houve grande alvoroço contra o Caminho” (Atos 19.23)… O autor de Hebreus falou a respeito da obra expiatória de Cristo como “um novo e vivo caminho que ele nos consagrou pelo véu, isto é, pela sua carne” (Hebreus 10.20). Paulo falou dos falsos mestres que haviam se infiltrado na igreja como aqueles que haviam abandonado “o caminho reto” do evangelho da verdade, o qual é “o caminho da justiça” (2 Pedro 2.15, 21).
O discípulo Tomé fez uma vez a Jesus Cristo uma pergunta bem honesta. Jesus vinha dando aos discípulos a certeza de que seriam reunidos no céu. Ele prometeu a eles em João 14.3–5:
E, quando eu for e vos preparar lugar, voltarei e vos receberei para mim mesmo, para que, onde eu estou, estejais vós também. E vós sabeis o caminho para onde eu vou. Disse-lhe Tomé: Senhor, não sabemos para onde vais; como saber o caminho?
Gosto demais disso! Tomé interrompe e diz: “Espera aí, Senhor! Não sei o caminho que conduz ao céu…não temos um mapa!”
Jesus responde com a clássica declaração no verso 6:
Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim.
O que eu acho interessante é que Jesus não disse a Tomé que ele daria a ele um mapa a fim de mostrar o caminho para o céu. Jesus disse a Tomé que Ele mesmo era o mapa. Que resposta incrível!
Pense nisso da seguinte forma. Imagine que você acabou de se mudar para uma outra cidade que você não conhece. Daí, você pergunta a alguém onde fica a padaria do bairro. Daí, a pessoa diz: “Ah, é bem pertinho. Vai reto nessa rua, depois vira à direita. Anda um quarteirão e, assim que você virar à primeira esquerda, a padaria estará do seu lado direito.”
Gosto de uma história que o pregador Billy Graham contou sobre uma experiência que teve. Um belo dia, quando ainda era um jovem pastor, ele chegou a uma cidade pequena que não conhecia. Enquanto estava na cidade, ele precisou enviar uma carta. Então, ele parou um garoto na rua e perguntou como fazia para chegar aos correios mais próximos. Depois que o menino o ajudou, o Pr. Billy Graham agradeceu ao menino e disse: “É o seguinte, meu filho, se você vier à igreja hoje á noite, estarei dizendo às pessoas como fazer para ir para o céu.”
O menino pensou por um instante e disse: “Obrigado pelo convite, senhor, mas não vou não. Você nem sabe como ir para os correios…”.
Você já parou para pensar que Deus não falou com chegar ao céu? Ele nunca disse: “Passe de Plutão e vire à esquerda. Daí, passe pela Alfa Centauri e vire à direita…”.
Nesse texto, será que Jesus estava dando a direção de como se chegar ao céu? Não! E essa é a coisa mais interessante em Sua resposta.
Digamos que a pessoa a quem você pediu ajuda para chegar na padaria dissesse a você: “É o seguinte, eu estou com um tempo livre agora. Posso levá-lo até essa padaria.”
Nesse caso, a pessoa não estará simplesmente mostrando o caminho a você—ela se tornou o caminho; ela não mostra um mapa—ela é o mapa.
E é isso o que Jesus está dizendo aqui. Ele não diz: “Vejam bem, prestem atenção. Vou dar as instruções para vocês encontrarem o caminho para o céu.” Ao invés disso, Jesus diz: “Eu sou o caminho; ou seja, Eu mesmo vou levá-los e guiá-los para que jamais se percam no meio do caminho.” Jesus Cristo declarou em João 14.6: Eu sou o caminho…ninguém vem ao Pai senão por mim.
E conforme Paulo diz, o que a humanidade faz? Os pecadores escolhem um outro caminho!
Paulo não fala da humanidade como que se ela estivesse tentando, com todas as forças, encontrar o caminho certo. Não. O que ele diz? Todos se extraviaram. Ou seja, eles escolheram seguir outro caminho.
O homem é totalmente depravado, espiritualmente ignorante, naturalmente desconectado e, no verso 12, propositadamente hostil.
Se você conversar com as pessoas a respeito de Deus, elas ficarão felizes em compartilhar com você o entendimento que elas têm de Deus. Mas se você tentar conversar com elas sobre um Deus santo que irá um dia, conforme as Escrituras, julgar a humanidade, elas irão zombar de você e ignorar o futuro, dizendo: “Esse não é o Deus no qual eu creio… Não estou preocupado com esse futuro julgamento, muito menos com inferno!” As pessoas, propositadamente, se extraviaram!
Outro dia, eu estava em uma loja tentando comprar um cartão de aniversário para a minha esposa. Depois de ler uma dúzia de cartões, fiquei entretido com um em particular. Eu acho que ele era para ser engraçado, apesar de eu ter ficado surpreso com seu conteúdo. É um cartão de amizade e tem na frente do cartão o desenho de uma mulher em torno dos seus quarenta anos segurando uma xícara de café. Ela ela escreve para sua amiga, dizendo: “Seremos amigas até o dia em que morrermos… e nossa amizade não acabará aí. Provavelmente ainda seremos amigas na morte. Sim, seremos amigas após a morte porque estaremos no céu juntas, ou talvez no inferno! Ih, rapaz, para onde nós vamos? Talvez para o inferno porque você sabe como somos vis e materialistas! É, acho que acabaremos indo para o inferno mesmo! Será que tem shopping no inferno?”
Que atitude hostil de dar as costas para a terrível verdade do julgamento final sem nem mesmo se desculpar.
Daí, Paulo continua e adiciona mais uma acusação contra a humanidade pecadora.
A humanidade está em decadência cada vez maior
- A próxima acusação que Paulo faz contra a humanidade é a de que ela está em decadência cada vez maior.
Romanos 3.12 continua: Todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis.
A palavra grega traduzida como “inútil” é o termo hebraico que se refere ao leite estragado e azedo. Ainda me lembro do dia em que encontrei a mamadeira de um de nossos filhos no dentro do carro debaixo de um dos bancos. Quando eu abri aquela mamadeira, quase que desmaiei com o odor. O cheiro de leite azedo é terrível! E essa é a palavra utilizada nesse verso aqui.
Paulo também deseja que essa palavra se refira ao desperdício do leite. Ele não pode mais cumprir com sua função. Ele não pode ser ingerido, não pode prover nutrição—é inútil!
Isso é parecido com o filho pródigo que deixou a casa de seu pai e levou consigo sua herança. Daí, ele desperdiçou todo o seu dinheiro com prazeres pecaminosos. Ele comprava coisas para amigos em festas; ele estava realmente vivendo a vida, até que sei dinheiro acabou. Eventualmente, ele se encontrou em um chiqueiro podre com os porcos.
Ele havia escolhido o caminho que o conduzia para longe de seu pai. Agora, sua vida era inútil. Ele estava com uma vida estrada, azeda, desperdiçada e amarga.
Quanto mais distante da Palavra de Deus a pessoa ou a sociedade se encontra, mais estragada, fedorenta, podre e maligna se torna.
Uma publicação recente de uma revista trouxe um exemplo da sociedade decadente. O artigo falava da Sociedade de Pediatria composta por 55 mil membros que endossaram a adoção de crianças por homossexuais. Eles estão dizendo que as crianças podem se adaptar da mesma maneira como aquelas que crescem sob os cuidados de um pai e uma mãe. A declaração publicada na revista de pediatria alega que a evidência não sugere nenhuma evidência vital de que exista alguma diferença entre pais homossexuais e pais heterossexuais. O relatório ainda dizia: “[Na verdade], as crianças parecem até se beneficiar de uniões nas quais mães lésbicas dividem as tarefas do lar de forma igualitária.” E existe a foto de dois homens sentados à mesa do café da manhã com uma menina em torno dos quatro anos que eles adotaram.
À parte de Deus, a humanidade pródiga corre para mais e mais longe de uma vida satisfatória, verdadeiramente prazerosa e sem culpa, mais e mais longe da verdadeira esperança, alegria e paz.
A humanidade é totalmente depravada, espiritualmente ignorante, naturalmente desconectada, propositadamente hostil e cada vez mais decadente.
A humanidade é totalmente desobediente
- Finalmente, Paulo conclui a primeira seção de acusações ao fornecer a sexta acusação contra a humanidade: a humanidade é totalmente desobediente.
Veja o verso 12: não há quem faça o bem, não há nem um sequer.
Paulo inicia essa seção no verso 10 dizendo que não existe nenhuma pessoa boa. Agora, no final do verso 12, ele diz que não existe ninguém que faz o bem. Ninguém é bom e ninguém faz coisas boas.
Você pode dizer: “Mas eu conheço muitos descrentes que realizam coisas boas.”
Lembre-se, Paulo está falando da condição do homem. Ele não está falando dos atos independentes, mas de um estilo de vida comparado ao santo padrão de Deus.
Algumas pessoas se comportam melhor que outras, mas esse não é o ensino de Paulo aqui. Nenhum ser humano tem o desejo ou a capacidade de viver uma vida santa e justa, a não ser que o Espírito de Deus invada a sua vida, trazendo-o de volta à razão e conduzi-lo para fora do chiqueiro para a casa do Pai.
Se deixado a si mesmo, o homem se trancará com os porcos e dirá: “Não existe nada de errado comigo… Pare de me fazer sentir culpado… O deus que eu inventei me aceita do jeito que sou… Nada disso é pecado, nem me faz culpado!”
Mas aquele que é resgatado é aquele que reconhece seu pecado genuinamente.
O grande evangelista que viveu duzentos anos atrás, Dwight L. Moody, foi convidado pelo diretor de um presídio na cidade de Nova Iorque, Estados Unidos, para falar para os presidiários. Pelo fato de não haver nenhuma capela ou alguma sala apropriada no presídio na qual pudesse falar aos homens, ele pregou sobre uma rampa em um lado da seção de celas. De lá, ele não podia ver o rosto de nenhum encarcerado.
Após a sua mensagem, ele pediu permissão para falar face-a-face com alguns dos homens que se encontravam atrás das barras de ferros. Logo ele descobriu que a maioria dos homens nem sequer ouviram a sua mensagem. Quando Moody perguntava a um preso por que ele estava ali, o preso geralmente dizia que era inocente. O condenado insistia dizendo que uma testemunha falsa testemunhou contra ele, ou que ele havia sido preso por engano no lugar do verdadeiro criminoso, ou que o juiz ou juri tinha preconceito contra ele.
“Comecei a ficar desencorajado,” disse Moody, “mas quando eu tinha quase terminado, me deparei com um homem que estava com cotovelos e joelhos ao chão e lágrimas descendo em seu rosto. Olhei pela grade e disse: ‘Meu amigo, qual seu problema?’ Ele olhou com desespero em seus olhos e disse: ‘Meus pecados são grandes demais para eu poder carregá-los.’ Eu disse a ele: ‘Graças a Deus por isso!’”
O evangelista sabia que Deus estava abrindo o coração do homem para admitir sua necessidade de um Salvador, percebendo, finalmente, que era, de fato, um pecador.
“Meus pecados são grandes demais para eu poder carregá-los.” Você já se viu dessa forma? Você já viu seu nome em Romanos 3? Você já percebeu que Paulo está falando de você nos versos 10-12, ao escrever:
como está escrito: Não há justo, nem um sequer, não há quem entenda, não há quem busque a Deus; todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem um sequer.
A pessoa que insere seu nome aqui verá seu nome inserido no livro da vida que pertence ao Cordeiro. Admitir o seu pecado e sua necessidade de Salvador significa ser perdoado, redimido, resgatado, libertado. Assim, você conhece Aquele que é “…o caminho, e a verdade, e a vida,” e você, como Jesus Cristo mesmo prometeu em João 8.32, conhecerá a verdade e a verdade o libertará.
Este manuscrito pertence a Stephen Davey, pregado no dia 17/02/2002
© Copyright 2002 Stephen Davey
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