O Coração do Problema

O Coração do Problema

by Stephen Davey Ref: Romans 1–16

O Coração do Problema

É Religioso? – Parte 5

Romanos 2.29

Introdução

Por quase trinta anos, um homem chamado Ruben Mattus vinha vendendo sorvete na cidade de Nova Iorque, Estados Unidos. A receita do sorvete era herança de família, e Ruben estava vivendo modestamente com os lucros da sorveteria. Daí, Ruben teve uma inspiração. Ele percebeu que os americanos gostavam de comida exótica vinda de outros países. Ele fez algumas pequenas mudanças nas receitas e sabores. Contudo, dessa vez, ele inventou um nome diferente, até difícil de se pronunciar. Ele até colocou um mapa da região da Escandinávia na embalagem do sorvete. Essas mudanças atraíram indutores consumidores interessados em comprar sorvete exótico. As vendas explodiram e ele acabou fundando uma das empresas de sorvete mais bem-sucedidas nos Estados Unidos.

O que Ruben Mattus descobriu não foi simplesmente uma maneira melhor de vender sorvete, mas um melhor entendimento da natureza humana. Em toda cultura, em um dado momento, imagem é tudo!

Hoje, em nosso último estudo sobre Religião e a Estrada para o Inferno, concluiremos o capítulo 2 de Romanos. Nessa última parte do capítulo, Paulo identificou as pessoas mais religiosas de suas vidas e revelou que a religião delas não era mais que uma fachada — uma imagem desprovida de substância verdadeira.

Paulo anunciou à sua e à nossa geração a tremenda verdade que é possível ser religioso sem ter sido ainda redimido. A ilustração que Paulo usa nos versos 17 a 29 é a vida do judeu.

O judeu tinha o nome certo impresso em sua embalagem — ele tinha a marca da aliança, assim como o rótulo de um produto. No que diz respeito ao mercado da religião, os judeus eram os melhores produtos. Se alguém quisesse uma religião, poderia consegui-la das mãos de um judeu fiel.

Paulo revela que o judeu fiel está confiando nas coisas erradas — a imagem exterior e a marca física da circuncisão. É semelhante às pessoas de hoje que também confiam nas coisas que fazem.

Se você perguntar a uma pessoa se ela acha que vai para o céu, ela dirá provavelmente: “Acho que sim, já que sou batizado,” ou, “Sim, sou membro de uma igreja,” ou ainda, “Sim, sempre fui uma pessoa boa.”

Escondida por trás dessas respostas está o engano da religiosidade. A religião está ligada ao nome na embalagem do sorvete e se venderá bem ou não, a despeito de ser ou não algo genuíno. A religião sempre enfatizará no que nossas mãos realizam; Deus está interessando na condição de nosso coração.

Contraste por meio do Vocabulário

Nos versos 28 e 29 de Romanos 2, Paulo usa um vocabulário específico a fim de fazer um contraste sutil, mas forte, revelando a diferença entre a religiosidade e um relacionamento genuíno com Deus. Acompanhe a leitura dos versos 28 e 29:

Porque não é judeu quem o é apenas exteriormente, nem é circuncisão a que é somente na carne. Porém judeu é aquele que o é interiormente, e circuncisão, a que é do coração, no espírito, não segundo a letra, e cujo louvor não procede dos homens, mas de Deus.

Você poderia sublinhar os seguintes contrastes:

Exteriormente x Interiormente

  • No verso 28, vemos o contraste entre o judeu fiel que confia naquilo que é externo, e a verdadeira espiritualidade, que é interna.

Carne x Coração

  • No verso 29, o contraste é entre a circuncisão, a qual é realizada na carne, e a verdadeira espiritualidade, que se concentra no coração.

Letra (a Lei) x Espírito

  • No verso 29, vemos o contraste entre a letra (uma referência à Lei) e o Espírito.

Louvor de Homem x Louvor de Deus

  • Finalmente, o verso 29 traz o contraste entre o louvor do homem e o louvor de Deus.

Religião x Relacionamento com Deus

Então, vemos os contrastes:

  • exteriormente e interiormente;
  • carne e coração;
  • letra (Lei) e Espírito; e
  • louvor de homens e louvor de Deus.

Esse é o contraste entre a religião e o verdadeiro relacionamento com Deus. O judeu ficou atordoado com esse parágrafo. Foi algo muito chocante para eles ouvir que, mesmo sendo descendência de Abraão, sendo os guardiões da Lei, e sendo recipientes das antigas bênçãos de Deus não colocava os judeus automaticamente em um relacionamento correto com Deus.

Paulo diz que a circuncisão da carne não é tão importante quanto a circuncisão do coração. Na verdade, o ensino de Paulo é que um coração incircunciso anula a utilidade da circuncisão da carne.

A propósito, isso não era algo novo para Paulo. Os profetas do Antigo Testamento, por várias vezes, advertiram a nação de Israel dizendo que seus corações rebeldes anulariam a marca da aliança. Jeremias falou da parte de Deus em Jeremias 9.25-26:

Eis que vêm dias, diz o SENHOR, em que castigarei a todos os circuncidados juntamente com os incircuncisos: ao Egito, e a Judá, e a Edom, e aos filhos de Amom, e a Moabe, e a todos os que cortam os cabelos nas têmporas e habitam no deserto; porque todas as nações são incircuncisas, e toda a casa de Israel é incircuncisa de coração.

Levítico 26.38-42, também afirma:

Perecereis entre as nações, e a terra dos vossos inimigos vos consumirá. Aqueles que dentre vós ficarem serão consumidos pela sua iniqüidade nas terras dos vossos inimigos e pela iniqüidade de seus pais com eles serão consumidos. Mas, se confessarem a sua iniqüidade e a iniqüidade de seus pais, na infidelidade que cometeram contra mim, como também confessarem que andaram contrariamente para comigo, pelo que também fui contrário a eles e os fiz entrar na terra dos seus inimigos; se o seu coração incircunciso se humilhar, e tomarem eles por bem o castigo da sua iniqüidade, então, me lembrarei da minha aliança com Jacó, e também da minha aliança com Isaque, e também da minha aliança com Abraão, e da terra me lembrarei.

O Senhor falou a Samuel muito tempo atrás em 1 Samuel 16.7:

…porque o SENHOR não vê como vê o homem. O homem vê o exterior, porém o SENHOR, o coração.

Em outras palavras, estar certo com Deus é uma questão de coração! Mas a que o termo “coração” se refere?

Na Bíblia hebraica, o termo mais comum para “coração” é “leb.” Essa palavra se refere não somente a motivos, sentimentos, afeições e desejos de uma pessoa, mas também a vontade, objetivos, pensamentos e intelecto.

No Novo Testamento, a palavra se refere basicamente às mesmas coisas. O termo grego  é “kardia,” do qual derivamos parlaras como “cardiologia” e “cardiologista.”

Um erudito no grego definiu a palavra “kardia” da seguinte maneira:

O centro da vida interior do homem e a fonte de todas as forças e funções da alma e do espírito. Ela representa o todo do ser interior do homem.

Basicamente, o termo “coração” se refere à pessoa como um todo. Independente do nome que a pessoa possui em sua embalagem, independente do mapa e da terminologia usada na propaganda impressa na embalagem, o “coração” se refere àquilo que realmente reside no mais interior do homem.

O judeu fiel pensava que a obra de Deus era realizada do lado de fora. Os judeus, quer homens que eram circuncidados ou mulheres geradas por homens circuncidados, estavam externamente aderindo a Deus. Eles se encontravam seguros dentro da aliança Abraâmica e, na verdade, eram descendentes diretos de Abraão. O que mais eles necessitavam para serem aceitos por Deus? Os judeus achavam que Abraão estava sentado próximo ao portão do inferno evitando que judeus fiéis passassem pelo portão.

Uma Comparação entre
Romanos 2 e João 3

O que chamou minha atenção enquanto estudava essa passagem de Romanos 2 é o fato de Paulo usar o mesmo vocabulário que Jesus Cristo utilizara trinta anos antes em uma conversa que teve com um judeu fiel.

Você se lembra que em Romanos 2.20 Paulo desafia o judeu, dizendo que o fato de ele ser um mestre da Lei não é o suficiente? Bom, um desses mestres da Lei teve uma conversa particular com Jesus; e foi uma conversa que eventualmente revolucionaria a sua vida inteira.

Abra sua Bíblia em João 3, onde vemos registrada essa conversa particular. Nesse dialogo, Jesus define a salvação como um novo nascimento e uma crença de coração. Além disso, foi nessa conversa que Jesus pronunciou o que talvez seja o verso mais famoso da Bíblia. Muitos de nós já decoramos João 3.16:

Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.

Apesar de muitos conhecerem bem esse verso, poucos sabem a que Jesus disse essas palavras. Somos informados disso em João 3.1. Veja comigo:

Havia, entre os fariseus, um homem chamado Nicodemos, um dos principais dos judeus

Se os judeus fieis aos quais Paulo se refere em Romanos 2 criam que estavam indo para o céu —dentre todos eles, ninguém poderia ter tanta certeza de que estava caminhando em direção ao céu como Nicodemos. Por que? Primeiro porque ele era um fariseu.

Agora, na maioria das vezes, quando pensamos em fariseu, pensamos em alguém hipócrita: um homem orgulhoso e legalista que brincava de religião, mas vivia uma vida secreta de imoralidade. E esse pensamento está certo para a maioria dos fariseus, porque muitos eram de fato assim.

Mas havia outros que eram compromissados e fieis às suas decisões na vida de entrar para o grupo dos fariseus. O próprio apóstolo Paulo havia sido um deles.

Esses eram homens judeus que, por causa de seu zelo para com o Deus de Abraão, decidiram participar da “chaburah” — “a irmandade.” Eles entravam para essa irmandade ao fazerem um voto diante de três testemunhas, afirmando que passariam o resto de suas vidas observando cada detalhe da Lei Mosaica e ensino dos escribas.

Os escribas haviam compilado a Mishnah —os escritos que interpretavam a Lei. Daí, havia também o Talmud. Esse era um comentário sobre a Mishnah que os fariseus estudavam, ensinavam e seguiam “ao pé da letra.” O grande fervor desses homens era aprender e viver os princípios da Mishnah. Li sobre um rabino que passou quase três anos estudando apenas um capítulo da Mishnah. E eu fui inspirado por ele!

A interpretação da Lei criou muitos problemas para o Judaísmo. Os fariseus se tornaram obcecados com os regulamentos a ponto de seu relacionamento com Deus ser perdido em meio à religião.

Uma ilustração perfeita pode ser vista na questão da Lei do Sábado. A Bíblia ordenava que os israelitas descansassem no sábado. Isso significava simplesmente que não deveriam carregar pesos ou trabalhar, mas deveriam descansar e guardá-lo como um dia sagrado. O problema é o seguinte: qual o significado da palavra “trabalho”? Os escribas e fariseus debatiam e desenvolviam e interpretavam essa palavra, criando até mesmo um comentário sobre o termo. Veja alguns exemplos do que eles inventaram:

  • eles podiam tomar um gole de leite de cada vez; o que passasse de um gole representava trabalho para a boca deles.
  • eles não podiam levantar uma colher que pesasse mais que um figo; um peso maior que esse seria descrito como um fardo.

Os fariseus e escribas se envolviam em discussões acirradas buscando decidir se uma mulher poderia ou não usar um broche no sábado, se uma mãe poderia tomar seu bebê nos braços ou até mesmo se um homem poderia usar suas dentaduras de madeira no sábado.

Amarrar um nó era considerado trabalho. Contudo, era permitido a uma mulher que estava se vestindo no sábado amarrar o nó de seu cinto.

Retirar água do poço no dia de sábado era permitido, mas se a corda arrebentasse, você não poderia amarrar uma corda nova à velha. Todavia, você poderia pegar o cinto de sua esposa, amarrá-lo a um lado de uma corda nova, amarrar o outro lado do cinto ao balde, e finalmente retirar água do poço. E eu não estou inventando nada disso!

por outro lado, pensamos: “Que ridículo!” Por outro lado, vemos aqui um povo comprometido com uma inconveniência incrível de ter que observar milhares de leis para agradar a Deus. Quantos de nós permitirá até mesmo uma dúzia de inconveniências em nosso andar com Deus? Creio que até mesmo a menor das inconveniências já é o suficiente para nos desencorajar.

Os escribas explanavam e desenvolviam todas essas regras escritas. Os fariseus dedicavam suas vidas inteiras para observá-las. O nosso texto nos informa que Nicodemos era um fariseu.

A última parte do verso 1 nos diz que Nicodemos era “um dos principais dos judeus.”  O termo grego para “principais” é “archon,” o que indica fortemente que Nicodemos era membro do Sinédrio. O Sinédrio era o Supremo Tribunal de Israel, o qual era composto por setenta e um homens.

É interessante observarmos que uma das responsabilidades do Sinédrio era examinar e lidar com qualquer pessoa suspeita de ser um falso profeta. Então, Nicodemos veio até Jesus durante a noite a fim de examiná-lO um pouco mais com o objetivo de determinar se Jesus era ou não um falso profeta.

Veja agora João 3.2:

Este, de noite, foi ter com Jesus e lhe disse: Rabi, sabemos que és Mestre vindo da parte de Deus; porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não estiver com ele.

Precisamos entender bem a significância dessa afirmação. A essa altura, o debate quanto à origem do poder de Jesus já estava acontecendo nas ruas. Alguns líderes religiosos diziam que Jesus tinha vindo de Belzebu ou Satanás. Nicodemos quer que Jesus entenda que ele não concorda com eles. Na verdade, ele está dizendo: “Jesus, eu realmente creio que Você tem motivos genuínos e que Você veio de Deus como um Mestre inspirado.”

De uma forma bastante educada, Nicodemos também diz: “Mestre, eu sei que Você veio de Deus e possui o poder de Deus. Vi como Você purificou o templo esta manhã e declarou que o templo era a Casa de Seu Pai. Mas me diga, o que Você está realmente tentando dizer? Qual é Seu ensino principal?”

Jesus responde ao dizer a Nicodemos no verso 3 qual é Sua mensagem principal:

A isto, respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus.

Essa é uma declaração atordoante! Por que? Porque Jesus disse: “Verdadeiramente, eu digo a você, Nicodemos, ao menos que você nasça de novo, você jamais irá para o céu.”

Jesus acabou de dizer ao judeu que tinha a maior possibilidade de entrar no céu que ele não está a caminho do céu. Em outras palavras, Nicodemos fez muitas coisas certas, mas ele ainda não fez a coisa certa! E Nicodemos, sendo um judeu fiel, sempre acreditou que já fazia parte do reino de Deus. Ele é filho de Abraão — ele tem direito ao céu! Da mesma forma como Paulo anunciou uma má notícia aos seus leitores judeus em Romanos 2, Jesus Cristo também declara notícias devastadoras a esse líder judeu.

Essa declaração não é somente atordoante, mas também difícil. Continue no verso 4:

Perguntou-lhe Nicodemos: Como pode um homem nascer, sendo velho? Pode, porventura, voltar ao ventre materno e nascer segunda vez?

Ou seja, “O que você está querendo dizer com ‘nascer de novo’?” Nicodemos ficou confuso. E nós também teríamos ficado, caso não fosse por essa passagem de João 3.

Duas Declarações sobre Salvação e Nascer de Novo

Jesus irá explicar o que Ele quis dizer ao fazer duas declarações intrigantes para Nicodemos. Essas declarações mudarão seu pensamento para sempre a respeito da verdadeira salvação e do significado de ‘nascer de novo.’

O nascimento físico dentro da família de Abraão não era para redenção

  • A primeira declaração é a de que o nascimento físico dentro da família de Abraão não era para redenção.

É exatamente isso o que Paulo vem dizendo em Romanos 2. Veja João 3.5:

Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus.

Agora, o que significa ‘nascer da água’? Será que é uma referência:

  • ao aspecto purificador da Nova Aliança;
  • à purificação efetuada pela Palavra;
  • adicional ao Espírito Santo;
  • a João Batista e seu batismo nas águas para arrependimento; ou
  • à necessidade do batismo nas águas?

Jesus não estava ensinando que o novo nascimento ocorre por meio do batismo. Na verdade, no Novo Testamento, o batismo está ligado a morte, não a nascimento. E apesar de o batismo nas águas ser necessário à obediência espiritual, ele não é necessário para o nascimento espiritual.

Meu amigo, eu fui batizado nas águas muitos anos atrás não paras que eu fosse estar com o Senhor, mas para que eu pudesse simplesmente mostrar publicamente que irei estar com o Senhor.

No verso 5, Jesus não está falando sobre ser batizado pela primeira vez, para sobre nascer uma segunda vez. O verso 6 explica o verso 5:

O que é nascido da carne é carne; e o que é nascido do Espírito é espírito.

“Nascer da carne” é o primeiro nascimento, o nascimento natural; “nascer do Espírito” é o segundo nascimento, o nascimento sobrenatural. Então, nessa analogia que Jesus faz, ser nascido da água é uma referência ao nascimento físico. É interessante que a expressão grega “ex hudatos” pode ser literalmente traduzida como “nascido de dentro da água.” É também muito interessante que, na língua hebraica, o verbo “dar à luz” é uma palavra que literalmente se refere ao rompimento de membranas.

Eu vi justamente os resultados disso. Não irei fornecer os detalhes para não ser tedioso, mas ainda me recordo de estar na sala de parto com minha esposa quando ela deu à luz a nossa filha mais nova. Nós estávamos na sala de parto e a equipe médica veio e rompeu a bolsa dela. Até aí, nossa filha estava apenas flutuando em um saco cheio de líquido amniótico - e nos referimos a ele como “a bolsa.” Ao romper da bolsa, o médico basicamente esvaziou a piscina. E assim como eu e você, minha filha não queria nadar em uma piscina vazia. Esse é o incentivo para o bebê sair da piscina.

Nossos filhos e todos nós nascemos literalmente “de dentro da água.” É a isto que o verso 5 está se referindo, ao dizer, “ex hudatos” — o nascimento físico.

Jesus ainda continua e diz que um segundo nascimento é necessário. Mas por que mencionar o primeiro nascimento a Nicodemos? Esse nascimento era, por acaso, o foco da discussão?

Bom, todo judeu estava contando justamente com isso. Assim como Nicodemos, eles pensavam que o nascimento físico selava a questão para eles. Eles haviam nascido na família de Abraão e pronto! Caso encerrado! Eles eram judeus —eles faziam parte do reino!

Agora, Jesus traz a notícia de que o primeiro nascimento de Nicodemos não era suficiente! O nascimento físico não é suficiente para a redenção.

Continue em João 3.7-13:

Não te admires de eu te dizer: importa-vos nascer de novo. O vento sopra onde quer, ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo o que é nascido do Espírito. Então, lhe perguntou Nicodemos: Como pode suceder isto? Acudiu Jesus: Tu és mestre em Israel e não compreendes estas coisas? Em verdade, em verdade te digo que nós dizemos o que sabemos e testificamos o que temos visto; contudo, não aceitais o nosso testemunho. Se, tratando de coisas terrenas, não me credes, como crereis, se vos falar das celestiais? Ora, ninguém subiu ao céu, senão aquele que de lá desceu, a saber, o Filho do Homem [que está no céu].

O segundo nascimento não pode acontecer a não ser que o Messias experimente a morte

  • A segunda declaração é que o segundo nascimento não pode acontecer a não ser que o Messias experimente a morte.

Essa também foi uma declaração surpreendente para esse judeu fiel. Ele acabou de ouvir que não somente seu nascimento físico não é suficiente para a sua redenção, mas também que o segundo nascimento não pode acontecer sem que o Messias passe pela morte.

Continue nos versos 14-15:

E do modo por que Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do Homem seja levantado, para que todo o que nele crê tenha a vida eterna.

Esses versos nos levam de volta a uma das histórias mais singulares do Antigo Testamento. Em Números 21.4-9, descobrimos que os israelitas se rebelaram contra Deus. Então Deus, para julgar Israel, envia serpentes venenosas para o acampamento israelita. A Bíblia as descreve como “serpentes abrasadoras” por causa que uma febre alta que conduzia à morte era o sintoma principal do veneno dessas serpentes.

O povo calou pela misericórdia de Deus e Deus deu certas instruções a Moisés. Moisés ficou responsável de fazer uma serpente de bronze, colocá-la em uma haste comprida e fincar essa haste no meio do acampamento israelita. Daí, ele anunciaria ao povo que qualquer pessoa que olhasse para aquela serpente de bronze seria curado e viveria.

Por que não desenvolver um remédio? Por que não exigir que o povo fosse atrás de um remédio? Isso com certeza daria a todos eles algo para fazer e satisfaria também o instinto natural do coração de trabalhar em prol de sua própria cura.

O fato de Deus não mandar que eles desenvolvessem um remédio humano aponta para o fato mais amplo de que não existe remédio humano para o pecado. Nada, a não ser a morte, aguarda os pecadores; a não ser que Deus providencie o remédio.

O grande pregador do passado, Donald Grey Barnhouse, escreveu:

Nesse tipo de religião de nossos dias hoje, creio que as pessoas se apressariam para fazer parte da “Sociedade de Exterminação das Serpentes Abrasadoras,” conhecida como SESA. Haveria crachás, cartões de propaganda, cartões de votação contra as serpentes, secretários para as diferentes unidades da sociedade e passeatas a favor do movimento. Também existiria um escritório para a publicação de um periódico semanal com relatório de progresso do serviço. Certamente haveria também fotos das milhares de serpentes mortas pelos membros e trabalhadores fiéis do grupo. Todos eles trabalhando fervorosamente, tentando, por meio de seus esforços humanos, vencer a picada do pecado dada pela serpente!

Vamos ver como funcionaria na prática esse movimento. Um homem entra desesperado na tenda do movimento buscando ajuda; ele acabou de ser picado pela serpente e o veneno já se espalha em seu corpo. Ele deita em agonia com febre altíssima e já vislumbra a morte iminente. Um zeloso membro da Sociedade de Exterminação das Serpentes Abrasadoras fala para ele todos os esforços já feitos na tentativa de erradicar essas serpentes e o convence a se unir ao movimento. A vítima, quase morta, sem forças, tenta alcançar o dinheiro em seu bolso. Com seus dedos trêmulos, segura a caneta com a ajuda do trabalhador do movimento; ajeita-se para assinar o cartão de membresia da sociedade e, quando termina de assinar, dá o último suspiro e morre!

Esse incidente na história de Israel se tornou uma prefiguração de Jesus Cristo levantado na cruz, tornando-se pecado por nós. A salvação, a cura espiritual, o renascimento espiritual vem quando olhamos para Ele — e nesse olhar, cremos que a esperança vem comente com a confiança nEle.

Da mesma forma como Jesus Cristo disse a esse líder judeu que ele se encontrava em um problema terrível, apesar de estar completamente mergulhado em sua religião, você também pode se unir a uma sociedade, igreja, assinar um contrato, fazer estudos bíblicos e catecismos, dar dinheiro, ser batizado e ainda morrer sem Deus.

Você foi picado pelo pecado e a ferida é mortal. Sua única esperança é olhar para aquela cruz de madeira sobre a qual o Cordeiro foi feito pecado por nós. Ele é Aquele que desceu do céu e experimentou a morte, a fim de providenciar um segundo nascimento aos que creem nEle.

João 3.15 diz: para que todo o que nele crê tenha a vida eterna.

Mas o que significa crer? O que Filipe quis dizer ao eunuco etíope em Atos 8.37 ao perguntar se ele cria de todo o seu coração? O que queremos dizer quando falamos que o pecador precisa receber a Cristo em seu coração? O que o apóstolo Paulo quis dizer ao escrever em Romanos 10.9:

Se, com a tua boca, confessares Jesus como Senhor e, em teu coração, creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo.

Qual é a ligação entre crença e coração?

Talvez você se recorde de que o coração se refere a muito mais que aquele batimento dentro do peito. Em termos bíblicos, o coração se refere ao íntimo da pessoa — forças e funções interiores da alma e do espírito, mente e intelecto. Em outras palavras, o coração se refere a quem você de fato é.

Quando Paulo diz: “…em teu coração, creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos…,” ele quis dizer muitos mais que o simples ato de afirmar: “Ah, é, creio, sim, nessas coisas.”

“Crer com o coração” significa que todas as forças e funções da alma e do espírito, mente, vontade e intelecto estão sendo guiadas pela verdade da ressurreição de Cristo. Paulo diz, com efeito: “Se você foi agarrado pela verdade de que Cristo é o Senhor vivo e ressurreto e Ele controla e domina seu ser interior, então você será salvo.”

Quando você pede que Jesus Cristo entre em seu coração, se você está utilizando a palavra “coração” de forma bíblica, então você está pedindo que Jesus Cristo faça moradia em todas as áreas de sua vida, não somente no músculo que palpita em seu peito. Você está dizendo que Jesus Cristo é agora o dono de seu prédio; Ele é o dono de sua casa; Ele determina como a vida de ser vivida.

Você pode dizer: “Mas eu conheço pessoas que não creem em Cristo, e parecem ser boas pessoas, comprometidas com suas famílias e agem de forma ética em seus negócios. Como você sabe que eles não possuem a verdade?”

Lembre-se, a religião é obcecada por aparências. A religião foca nas obras de nossas mãos ao mesmo tempo em que ignora a ferida mortal do pecado no coração. Então, o que a religião tem feito?

Imagine estar caminhando por muito tempo e, de repente, você se depara com uma fazenda antiga. O vento a vem destruindo ao longo dos anos e não existe nada além de um chão duro, castigado pelo sol. No meio do campo, você vê um poço, e sobre o poço existe uma plataforma de madeira com uma manivela velha e enferrujada. Você está morrendo de sede. Você sobe à plataforma e começa a bombear aquela manivela. Ela chia e reclama a cada bombeada. Depois de cinco minutos, ainda não sai nada além de ar quente. Você bombeia por uns quinze minutos, suando e implorando por água, mas sai apenas ar daquele cano. O poço está seco. E aí, o que você faz para conseguir água?

Deixe-me dizer o que a religião tem feito. A religião lixou essa manivela e retirou toda a ferrugem da bomba; ela até pintou a manivela com uma tinta vermelha bem bonita e brilhosa. Ainda melhor, a religião arrancou essa manivela antiga e enferrujada e a substituiu por uma manivela de bronze que brilha no campo da fazenda com classe e dignidade.

Pessoas da região vizinha até têm vindo ara dar uma olhada na nova manivela; e decidem fazer mais manivelas como aquela. Elas cavam um buraco no chão, mas nunca alcançam água. Mas daí, eles não estão mais à busca de água, mas de manivelas. Elas constroem plataformas de madeira sobre o buraco e coloca, sobre elas novas bombas brilhosas de bronze. Algumas são bem elaboradas; umas são maiores que as outras; outras são até cobertas em ouro e prata. Muitos compuseram músicas sobre essas bombas e pintores famosos vieram e pintaram obras de arte com as paisagens dessas belas bombas.

Todavia, nada pode ser feito para mudar o fato de que aquelas bombas belas e impressionantes jamais poderão produzir sequer uma gota d’água para lábios sedentos.

Jesus Cristo anunciou o veredito a Nicodemos: “Nicodemos, você está muito bem exteriormente. Você é o melhor produto que a sociedade, religião e cultura são capazes de produzir, mas você está sentado sobre um poço vazio. Você precisa conhecer a água viva.”

E você vem por meio de um olhar —um olhar direcionado ao Filho do Homem que veio à Terra para morrer pelos pecadores. Se você olhar para Ele e admitir que foi mordido pelo pecado e se encontra sem esperança, crendo em seu coração que Jesus é o Senhor que foi crucificado e subiu aos céus, você então poderá um dia estar com Ele também nos céus.

O Veredito Final

O apóstolo Paulo deu o mesmo veredito ao judeu fiel e impressionante de seus dias em Romanos 2. O veredito é o seguinte:

O judeu fiel não será salvo pela sua Lei

  • O judeu fiel não será salvo pela sua Lei.

O judeu fiel não será salvo pela sua liturgia

  • O judeu fiel não será salvo pela sua liturgia.

O judeu fiel não será salvo pela sua linhagem

  • O judeu fiel não será salvo pela sua linhagem.

Em outras palavras, não invista muito no nome do lado de fora da embalagem; não dependa das marcas estampadas no pacote. O que importa é o que está dentro.

A religião é a estrada ao inferno simplesmente porque ela se importa com o exterior do pacote. Tem uma aparência boa; e vende bem.

O Cristianismo é a estrada para o céu e foca na condição do coração. O verdadeiro Cristianismo não se preocupa com aparências e não busca vender nada —ele transforma tudo, a começar pelo coração; porque, no fundo, Cristianismo é uma questão de coração.

 

Este manuscrito pertence a Stephen Davey, pregado no dia 18/11/2001

© Copyright 2001 Stephen Davey

Todos os direitos reservados

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