
Grandes Expectativas
Grandes Expectativas
Santa Obsessão—Parte 4
Romanos 15.20–29
Introdução
Por várias décadas, o Dr. Charles McCoy pastoreou uma igreja na cidade de Nova Iorque, Estados Unidos. Enquanto pastoreava, como homem solteiro, ele teve a oportunidade de dar continuidade a seus estudos. Ele acabou conseguindo sete graduações e pós-graduações. Quando fez setenta e dois anos de idade, sua denominação batista pediu que ele se aposentasse do ministério. Com bastante relutância, ele deixou o púlpito e as pessoas que ele havia fielmente pastoreado por vários anos.
Na realidade, ele não sabia ao certo o que faria. Ele escreveu, “Fico pensando que minha vida terminou e ainda não fiz muita coisa. Pastoreei essa igreja por tantos anos... investi muito tempo para conseguir meus diplomas, mas ainda não ganhei muitas almas para o Senhor.”
Uma semana após sua festa de aposentadoria, ele conheceu um missionário que o convidou a ir pregar na Índia. O Dr. McCoy recusou o convite por causa de sua idade já avançada. Além disso, ele nunca tinha viajado para outro país, nunca tinha viajado sequer para o outro lado dos Estados Unidos e, pior, nunca tinha viajado de avião. Ele nem sequer imaginava viajar para a Índia. Um dos agravantes também era o fato de não ter essa quantidade de dinheiro.
Todavia, o pensamento o incomodou. Finalmente, o Dr. Charles McCoy, com setenta e dois anos de idade e cabelo branco anunciou que iria, de fato, para a Índia. Ele vendeu seu carro e alguns de seus bens para comprar uma passagem de ida somente para Bombay.
Seus amigos ficaram horrorizados com essa decisão. Eles perguntaram, “E se você ficar doente? E se você morrer na Índia?”
Ele respondeu com uma nova fé e coragem, “A Índia fica tão perto do céu quanto aqui.”
O Dr. McCoy chegou em Bombay com sua carteira, seu passaporte, algumas mudas de roupa e sua Bíblia—e todas essas coisas foram roubadas em questão de minutos por alguns bandidos vagabundos espertos. Ele ficou apenas com suas roupas e o endereço dos missionários.
O homem que havia, no início, convidado o Dr. McCoy para ir pregar na Índia havia decidido ficar nos Estados Unidos. Então, quando ele apareceu à porta da casa dos missionários, eles não sabiam ao certo o que fariam com ele. Eles o convidaram a entrar e lhe ofereceram um quarto pequeno de hóspedes.
O Dr. McCoy estava ansioso para fazer algo para Cristo. Depois de passar dois dias se adaptando com o novo lugar, ele disse aos missionários que iria visitar o prefeito de Bombay.
“Não desperdice seu tempo,” aconselharam-no os amigos. Após vários anos tentando, eles nunca haviam conseguido sequer ver o prefeito.
Entretanto, o Dr. McCoy tinha orado sobre isso e foi mesmo assim sem nem mesmo marcar a visita. Ele apresentou seu cartão à recepcionista, a qual o leu cuidadosamente, levantou-se e saiu por uma porta. Quando voltou, ela mandou que ele voltasse às 3 horas.
O Dr. McCoy retornou à tarde e se deparou com uma recepção em sua homenagem realizada por um dos líderes mais importantes da cidade. Tudo indica que os fundadores da cidade tinham se impressionado com a estatura do Dr. McCoy (ele tinha 1,92 m de altura), seu cabelo branco e todas as iniciais de graduações que acompanhavam seu nome. “Ele é uma pessoa muito importante,” pensaram os homens, “talvez até mesmo um representante do Presidente dos Estados Unidos.”
O Dr. McCoy teve a oportunidade de falar por meia-hora, dando seu testemunho e contando-lhes sobre Jesus Cristo. Ao final, todos lhe aplaudiram educadamente. Um tempo depois, um homem vestido em um uniforme militar aproximou-se dele e o convidou para discursar para seus alunos em uma escola militar. Depois de seu primeiro discurso lá, o Dr. McCoy foi convidado várias outras vezes.
Logo, o Dr. McCoy começou a receber convite de toda a Índia. Então ele começou um ministério itinerante de pregação do Evangelho. Em Calcutá, ele começou uma igreja para crentes chineses. Pediram-lhe que ele fizesse a mesma coisa em Hong Kong, para onde ele foi convidado a morar. Em seguida, ele foi convidado para o Egito e para o Oriente Médio, viajando por toda parte com uma energia que jamais sentira antes.
Ele viajou e pregou plantando igrejas, ensinando em escolas, discipulando crentes, falando diante de líderes de governo e dignitários em vários países. Seu ministério internacional durou dezesseis anos. Ele morreu aos oitenta e oito anos em Calcutá, Índia, pouco antes de pregar em uma cruzada especial para homens no centro da cidade.
O Dr. Charles McCoy nunca voltou nem mesmo uma vez para os Estados Unidos.
Você consegue imaginar os desafios e mudanças em sua vida? Aos quarenta, cinquenta, nem mesmo aos setenta anos ele não fazia ideia alguma do que Deus tinha em mente para ele. Se Deus tivesse informado do que tinha debaixo de Sua manga divina para o Dr. McCoy quando ele tinha setenta e dois anos, talvez ele tivesse caído morto.
Ele é como Daniel, o qual experimentou uma mudança dramática em sua vida ao ser lançado numa cova de leões aos oitenta anos, apesar de alguns pensarem que ele já tinha noventa anos. E Deus ainda tinha mais surpresas reservadas.
Na verdade, todos nós temos uma lista de expectativas. Quer tenha escrito essa lista ou não, temos uma lista mental que se parece com o seguinte:
- Estas são três coisas que aguardo Deus realizar em minha vida;
- Estas são quatro coisas que espero não experimentar;
- Estas são duas coisas que espero que Deus irá me conceder em minha carreira profissional quando eu tiver trinta ou quarenta anos;
- É aqui que irei morar e é isto o que eu desejo estar fazendo quando tiver cinquenta ou sessenta anos;
- Estas são duas coisas que espero que Deus fará enquanto eu estiver na faculdade;
- Estas são as coisas que espero que Deus providenciará para meus filhos;
- Estas são três mudanças que espero que Deus efetuará na vida de meu noivo.
Todos nós temos um volume original escrito em nossos corações intitulado, “Grandes Expectativas.” E elas podem, de fato, ser grandes coisas.
Contudo, e se essas expectativas não se concretizarem? E se Deus tiver algo totalmente diferente para você?
Foi exatamente isso o que aconteceu na vida do apóstolo Paulo.
A Obsessão de Paulo
Em Romanos 15, Paulo vem derramando seu coração, seu fervor, suas obsessões. Na última parte do parágrafo, começando no verso 20, Paulo fornece para nós um vislumbre de suas grandes expectativas e planos.
É como se Paulo abrisse seu caderno de anotações e nos mostrasse os planos que escrevera. Alguns deles não foram escritos com lápis, mas com uma caneta de tinta resistente à água e permanente.
Todavia, antes de ele revelar seus planos, Paulo revela seu fervor. Veja Romanos 15.20: esforçando-me, deste modo, por pregar o evangelho.
O verbo esforçando-me não expressa bem a ideia do termo original composto philotimeomai, que significa, “amar ou honrar.”
Paulo afirma que esse é o amor honroso de seu coração; esse é seu fervor, sua ambição, sua obsessão.
Paulo era obcecado não somente com o viver piedoso, com a graça de Deus e com a glória de Deus, os quais já vimos em nossa série, mas ele também tinha uma santa obsessão pelo avanço global do Evangelho de Cristo. Ele era obcecado com a grande comissão.
Pergunte a alguém qual é a sua obsessão; qual é o seu fervor e você descobrirá bastante coisa sobre essa pessoa.
Paulo diria, “Estou obcecado com a proclamação do Evangelho de Cristo.”
Em Romanos 15.21, Paulo faz uma citação de Isaías, aplicando as palavras do profeta ao processo de evangelismo que começou nos dias de Paulo e continuará no decorrer da história da igreja até a volta de Cristo.
E Paulo diz, “Tenho planos de estar no meio disso!”
Ele era como o missionário David Livingstone, o qual foi perguntado certa vez, “Para onde você deseja ir?”
Ele respondeu, “Para qualquer lugar, desde que seja para frente.”
Livingstone tinha o grande fervor par alcançar a África com o Evangelho de Cristo.
Semelhantemente, Paulo era obcecado em alcançar seu mundo para Cristo.
Em seu famoso volume O Declínio e Queda do Império Romano, Edward Gibbon cita o líder da igreja Tertuliano, o qual explicou a rápida expansão do Evangelho no século primeiro. Tertuliano escreveu, “Surgimos somente ontem, mas já enchemos todos os lugares entre vós—cidades, ilhas, fortalezas, vilas, mercados, campos, tribos, companhias, palácios e o vosso senado. Não deixamos nada [de lado], exceto os tempos de vossos deuses.”
Harnack, o alemão especialista em história eclesiástica, escreveu que a grande missão do Cristianismo foi realizada por meio de missionários informais.
Essa é uma descrição maravilhosa. Esses não são nem missionários vocacionais, nem missionários treinados. A obra de Cristo é realizada por meio de missionários informais.
Essa era a obsessão de Paulo. Agora, ele revela seus objetivos, os quais incluíam viajar para três lugares.
Os Objetivos de Paulo
Paulo nos informa sobre três alvos pessoais em Romanos 15. Recomendo que você os sublinhe. Eles incluem:
- O primeiro alvo está no verso 23, desejando há muito visitar-vos;
- O segundo alvo se encontra no verso 25, estou de partida para Jerusalém;
- O terceiro alvo está no verso 28, irei à Espanha.
Veja o verso 24 novamente:
...em viagem para a Espanha...
Paulo tinha estes três grandes planos para o ministério:
- O alvo de uma visita aos crentes de Roma em um futuro próximo (v. 23);
- O alvo de uma visita imediata a Jerusalém (v. 25);
- E o alvo de uma visita à Espanha em um futuro mais distante (vv. 24, 28).
O alvo de uma visita a Roma em um futuro próximo
Preciso dizer logo no início que nenhum dos planos de Paulo saiu como ele planejara. Veja o que Paulo admite em Romanos 15.22: Essa foi a razão por que também, muitas vezes, me senti impedido de visitar-vos.
Em outras palavras, “Eu já tive que cancelar essa visita várias vezes.”
O verbo impedido no grego significa, “cavar.” Ele era usado para descrever guerras nos dias de Paulo, quando um exército cavava uma vala na estrada para que o exército inimigo tivesse que parar e enchê-la de terra para que, então, as carruagens continuassem sua viagem.
A ideia é a de um obstáculo à frente que precisa ser transposto.
Paulo retrata a si mesmo como uma carruagem que vai à toda velocidade a Roma, mas que precisa parar, vez após vez, porque a estrada está intransitável. Outras coisas surgem; outros ministérios exigem sua atenção; outros crentes carecem de ajuda; e isso para não mencionar as surras, tribulações e naufrágios que ele vai experimentando ao longo do caminho.
Há quanto tempo Paulo vem sendo impedido em sua viagem a Roma? Ele nos fornece uma ideia em Romanos 15.23:
Mas, agora, não tendo já campo de atividade nestas regiões e desejando há muito visitar-vos.
Você percebeu isso? Paulo usa a expressão há muito, indicando que ele vem sendo impedido em sua viagem há vários anos.
Paulo folheava seu calendário alguns meses adiante e escrevia, “Viagem a Roma.” Daí, algo atrapalhava a viagem. Então ele avançava mais em seu calendário e, com grande ansiedade, escrevia, “Viagem a Roma.” Paulo fez isso por vários anos.
Talvez você também tem esperado ansiosamente por algo bom e louvável há seis meses, um ano ou vários anos. Paulo ansiou visitar Roma por grande parte de sua vida cristã. Daí, quando ele finalmente chega a Roma, não foi como ele havia imaginado.
Ele não chegará a Roma como um pioneiro, mas chegará como um prisioneiro.
Meu amigo:
- Se você pensa que o crente foi vacinado contra o infortúnio, você se decepcionará ao primeiro sinal de doença;
- Se você tem a impressão de que, quanto mais perto de Deus a pessoa caminha, mais provavelmente seus planos darão certo, você terá uma grande surpresa;
- Se você imagina que obedecer ao Senhor garante uma vida sem interrupções e obstáculos, é melhor você colocar o cinto porque está prestes a começar sua jornada pela vida.
Talvez você nunca passe por tantos problemas, nem se meta em grandes dificuldades; talvez você nunca causará tantos problemas quanto causaria se sua maior obsessão fosse o avanço do nome, da glória e do Evangelho de Jesus Cristo.
Paulo ansiava ir a Roma. Por quê?
- Uma coisa é certa, Roma era a capital do Império.
Paulo tinha um desejo ardente de poder pregar o Evangelho à casa de César, a proclamar a verdade a senadores e filósofos romanos, aos líderes influentes de sua sociedade.
- Além disso, Paulo queria contribuir para o crescimento dos crentes romanos.
Ele já disse em Romanos 1.13:
Porque não quero, irmãos, que ignoreis que, muitas vezes, me propus ir ter convosco (no que tenho sido, até agora, impedido), para conseguir igualmente entre vós algum fruto, como também entre os outros gentios.
Ou seja, “Quero fazer parte de seu crescimento espiritual. Quero ter a alegria de crescer com vocês.”
- Então Paulo quer ir a Roma por causa da influência dessa cidade em todo o império, por causa de sua influência pessoal sobre os crentes de Roma e, terceiro, pela possibilidade de os crentes romanos influenciarem-no positivamente.
Veja Romanos 15.24:
penso em fazê-lo quando em viagem para a Espanha, pois espero que, de passagem, estarei convosco e que para lá seja por vós encaminhado, depois de haver primeiro desfrutado um pouco a vossa companhia.
A construção verbal ser encaminhado é o verbo grego propempo, que se refere a ajudar alguém em sua viagem ao fornecer comida e dinheiro, até mesmo companhia para a viagem se possível, ou provendo os meios para a viagem.
Paulo está, abertamente, pedindo por dinheiro e comida. Em um sentido bem real, essa é uma carta que solicita ajuda missionária.
Se você já se envolveu em alguma viagem ou projeto missionário, então você sabe do que estou falando. Você pega o telefone, o endereço e o e-mail de amigos e familiares e entra em contato com eles. Enquanto escreve, você ora. Quando vai aos correios ou envia aquele e-mail, você ora. Enquanto aguarda uma resposta, você ora.
Paulo escreve aos Romanos, “Preciso de seu apoio financeiro.” Sem dúvida alguma, ele já vinha orando há anos pelo sustento para a viagem à Espanha.
Paulo adota a mesma estratégia que você provavelmente já viu missionários e ministérios adotando ao tentarem levantar sustento para a obra missionária.
Essa é a estratégia que lembro de ler alguns anos atrás, escrita de forma bem resumida por Adoniram Judson. Esse grande missionário que serviu em Burma em meados dos anos de 1800 disse, “Quando o assunto é levantar fundos para a obra do ministério, eu peço a Deus... e digo às pessoas de Deus.”
Que grande conselho. Você diz às pessoas, mas, no fundo, você depende de Deus.
O alvo de Paulo no futuro próximo é ir a Roma.
O alvo imediato de Paulo de ir a Jerusalém
Agora, Paulo fala um pouco sobre seu plano imediato, que é ir a Jerusalém. Veja Romanos 15.25–27:
Mas, agora, estou de partida para Jerusalém, a serviço dos santos. Porque aprouve à Macedônia e à Acaia levantar uma coleta em benefício dos pobres dentre os santos que vivem em Jerusalém. Isto lhes pareceu bem, e mesmo lhes são devedores; porque, se os gentios têm sido participantes dos valores espirituais dos judeus, devem também servi-los com bens materiais.
Quando Paulo escreveu a carta aos Romanos, a igreja em Jerusalém estava passando não somente por grande perseguição, mas também por profunda pobreza. Houve uma fome em toda a Palestina e, por causa da perseguição por parte dos judeus, muitos cristãos haviam perdido seus empregos e muitos outros haviam sido presos, algo que piorava ainda mais as condições de suas famílias.
Além disso, muitos judeus estrangeiros que estavam de visita em Jerusalém para a Festa da Páscoa tinham se convertido a Cristo e decidido permanecer na cidade e se tornar parte da igreja de Jerusalém. Eles se tornaram hóspedes nos lares de crentes que já moravam lá, agravando ainda mais a situação e emergência dos crentes.
Temos os detalhes dessa coleta especial em 1 Coríntios 16 e 2 Coríntios 8.
Gosto muito das palavras inspiradas de Paulo em Romanos 15 quando ele se refere a essa contribuição no verso 16. Ele usa o termo grego koinonia, que é geralmente traduzido como “comunhão.” Essa é uma excelente escolha de palavras, uma vez que essa oferta era, na verdade, muito mais do que dinheiro, muito mais do que moedas. Essa oferta era um relacionamento, comunhão e compartilhar de vida.
Um dos motivos por que Paulo tinha tanto desejo de levar essa oferta aos judeus era porque ela havia sido levantada por crentes gentios. Nessa era de grande discriminação, quando a questão racial entre judeus e gentios ainda estava para ser abolida, essa oferta era algo de incrível significado. Os crentes gentios estavam dizendo claramente, “Somos seus parentes. Essa é uma expressão de comunhão com vocês.”
Esse foi um testemunho poderoso de igualdade entre os crentes. E foi também um testemunho poderoso da unidade na igreja.
Paulo queria ter certeza de que todos entenderiam a mensagem de que não somos membros de congregações isoladas—somos membros da igreja ao redor do mundo.
No caso dos que se preparam para uma viagem missionária, eles descobrirão que, não importa onde estejam no mundo, quando conhecem outros crentes em outros estados e países, existe uma conexão imediata; existe um alicerce para uma comunhão imediata.
Paulo continua em Romanos 15.28: Tendo, pois, concluído isto e havendo-lhes consignado este fruto.
O verbo consignado indica o selo da integridade. Um fragmento de papiro datado da época de Paulo fala do ato de “selar sacos de grãos a fim de garantir seu conteúdo.”
Paulo diz basicamente, “Quero me certificar de que todo o dinheiro chegará em segurança à igreja de Jerusalém.”
O alvo de Paulo para o futuro próximo era ir a Roma, e seu alvo imediato era ir a Jerusalém. Mas ele tinha um alvo para um futuro mais distante.
O alvo de Paulo visitar a Espanha em um futuro mais distante
O alvo de Paulo para o futuro distante era ir à Espanha. Veja Romanos 15.28b: irei à Espanha.
Volte para o verso 24a: quando em viagem para a Espanha...
Se você pudesse ter entrevistado Paulo, talvez perguntaria, “Paulo, o que você acredita que Deus deseja que você faça nos próximos cinco anos?”
Ele responderia, “Levar essa oferta para Jerusalém, passar um tempo edificando os crentes em Roma e, em seguida, ser o pioneiro do Evangelho na Espanha.”
Por que Paulo queria ser o pioneiro do Evangelho na Espanha? Porque a Espanha originava as grandes mentes de sua geração. Sêneca, o primeiro ministro do Império Romano, era espanhol; Quintiliano, o mestre da oratória romana, era espanhol; Lucan, o poeta, era espanhol. Talvez Paulo desejasse influenciar os líderes da geração seguinte.
Mais provavelmente, Paulo desejava ir à Espanha porque a Espanha era considerada como o fim do mundo civilizado. Paulo queria levar o Evangelho, como Cristo mandou, até os confins da terra.
Paulo disse, “Vou à Espanha!”
Foi para essa mesma região que o profeta Jonas tentara ir séculos antes. A Espanha incluía a cidade de Társis. Jonas também nunca chegou à Espanha. Ao invés disso, ele ganhou uma viagem de graça a Nínive e uma história de um peixe na qual as pessoas ainda não acreditam.
Foi dessa mesma região que o rei Salomão importou carregamentos de ouro, prata, marfim, macacos e pavões (1 Reis 10.22).
Esses são os planos de Paulo, mas ele nunca conseguirá chegar à Espanha. Ele irá a Jerusalém. O livro de Atos registra a jornada Paulo na qual ele entrega o dinheiro à comunidade cristã em necessidade.
- Atos 21 registra os acontecimentos chocantes de que, uma semana após sua chegada, judeus da Ásia instigaram as multidões contra Paulo. Soldados romanos interviram e o preveniram de ser assassinado ao prendê-lo.
- Atos 22 revela que, no dia seguinte, Paulo foi julgado pelo Sinédrio judaico—o Superior Tribunal Federal dos judeus—e condenado à morte. Os soldados romanos, novamente, interviram e o resgataram para que não fosse morto, mas o mantiveram sob custódia.
- Atos 23 a 26 nos informa que Paulo é transferido para Cesareia onde ele permanece por dois anos. Ele apela para dar seu testemunho a Nero e recebe autorização para isso.
- Atos 27 nos conta que Paulo, sob guarda, finalmente navega para Roma. No trajeto, seu navio é despedaçado por uma forte tempestade e eles naufragam na ilha de Malta. E ele acaba passando o inverno em Malta.
- Atos 28 narra que Paulo finalmente chega a Roma, onde é colocado em prisão domiciliar. Ele conhece outros crentes romanos—todos os que vinham visita-lo em seu apartamento. Após dois anos, tudo indica que ele foi solto por um tempo, mas, depois, preso novamente e, por fim, martirizado pelo imperador romano Nero.
Tudo indica que Paulo nunca chegou à Espanha. Seu plano para o futuro distante nunca se concretizou.
Em relação ao seu plano para um futuro mais próximo, ele chegou a Roma, mas não pôde edificar a igreja pessoalmente, pois permaneceria em cadeias.
Paulo não experimentará a vida de um missionário, e experimentará a morte de um mártir.
A verdade é que, na ocasião em que Paulo escreve Romanos 15, ele não sabe disso ainda. Nós sabemos.
As grandes expectativas de Paulo não foram realizadas. Suas orações a esse respeito não foram respondidas da maneira como ele esperava; seus anseios nunca foram cumpridos como ele esperava.
Aplicação
Talvez alguns de seus anseios também não foram cumpridos. Permita-me fazer três observações simples sobre a vida em geral.
Três observações sobre grandes expectativas
- Sua vida parece ter reduzido a velocidade ou travado completamente em momentos em que você esperava que ela decolasse.
Deus escolhe não explicar o motivo para tudo isso até que tudo passe!
Por que tanta demora? Por que a estrada está com essa vala que me impede de passar com minha carruagem e proceder em minha jornada?
“Vamos lá, Senhor! Vamos a Roma!”
Deus nunca explicou completamente para Paulo, até que ele chegou ao lar.
Alguém escreveu certa vez, “O Senhor ordena os passos de um bom homem, e Ele ordena as paradas também.”
Quando dizemos que cremos que Deus é soberano, dizemos que cremos que Deus não nos deve uma explicação dos passos e das paradas.
- Sua vida pode envolver experiências e desafios que você jamais esperou encontrar.
Quem esperaria um motim, um julgamento, um naufrágio e uma prisão domiciliar? Talvez Paulo foi tentado a pensar, “Senhor, isso não faz sentido algum. Como irei suportar anos de prisão e impedimentos à luz do desejo intenso do meu coração de pregar aos confins da terra?”
Assim como Paulo, Deus frequentemente não esclarecerá o que podemos suportar, até que estamos passando pelas tribulações.
A graça sustentadora não é medida antes do tempo. Ela é medida dia a dia, pois as Suas misericórdias se renovam a cada manhã.
Quando estava em meio às provações, a atitude de Paulo ficou dramaticamente diferente daquela que vemos em Romanos 15.
Paulo escreveria a Timóteo, em prisão domiciliar, conforme lemos em 2 Timóteo 1.8, 12:
Portanto, não se envergonhe de testemunhar do Senhor, nem de mim, que sou prisioneiro dele, mas suporte comigo os meus sofrimentos pelo evangelho, segundo o poder de Deus… Por essa causa também sofro, mas não me envergonho, porque sei em quem tenho crido e estou bem certo de que ele é poderoso para guardar o que lhe confiei até aquele dia.
- Sua vida pode caminhar para uma direção que você jamais imaginou ir.
Frequentemente, Deus não revela quando, até o último minuto.
A propósito, uma coisa que Paulo imaginou que lhe aconteceria realmente aconteceu. Veja Romanos 15.29: E bem sei que, ao visitar-vos, irei na plenitude da bênção de Cristo.
Isso se realizou.
Nunca pense que a plenitude da bênção de Cristo significa que não haverá cadeias, dificuldades ou desafios. Não cometa o erro de pensar que a bênção de Deus promete uma navegação tranquila, ou uma estrada sem buracos.
O oposto pode muito bem ser verdade!
Quando Paulo chegou a Roma, ele estava sob a plenitude da bênção de Cristo.
Três observações sobre a forma como Deus lida com a vida
Agora, deixe-me mencionar três observações sobre a forma como Deus lidou com a vida de Paulo e lida hoje com a nossa.
- Deus nem sempre defende suas decisões, mas ele pede que nos rendamos a ele de qualquer jeito.
- Deus nem sempre fornece respostas às interrupções da vida, mas ele pede que confiemos nele a despeito delas.
- Deus nem sempre explica seus planos inesperados, mas ele pede que descansemos nele ao passarmos por eles.
Nosso problema é que, mais frequentemente, dizemos a Deus, “Ah, Senhor, não entendo. Esses não são os planos que fiz para mim. Eu sei quais planos fiz para minha vida!”
E Deus diz, “Eu sei quais planos fiz para você. Tenho planos para sua vida e eles, no fim, trarão um futuro e esperança.”
Meu amigo, quando nossas maiores expectativas não se tornam realidade, Deus permanece grande! Precisamos aprender que Ele é a nossa maior expectativa.
Você sabia que o próprio Cristo se tornou a grande expectativa de Paulo? Não era mais viajar para a Espanha ou pregar em Roma. Paulo escreveria a Timóteo, próximo ao fim de sua vida, em 1 Timóteo 6.14b–16:
…até a manifestação de nosso Senhor Jesus Cristo, a qual Deus fará se cumprir no seu devido tempo. Ele é o bendito e único Soberano, o Rei dos reis e Senhor dos senhores, o único que é imortal e habita em luz inacessível, a quem ninguém viu nem pode ver. A ele sejam honra e poder para sempre. Amém.
Este manuscrito pertence a Stephen Davey, pregado no dia 04/06/2006
© Copyright 2006 Stephen Davey
Todos os direitos reservados
Add a Comment