
Três Recusas Radicais
Três Recusas Radicais
Santa Obsessão—Parte 1
Romanos 15.14
Introdução
Quase duzentos anos atrás, apareceu por pouco tempo na Escócia um homem que hoje é considerado como uma grande luz por crentes ao redor do mundo inteiro. Seu nome era Robert Murray McCheyne.
McCheyne ingressou no ministério pastoral em 1836 na idade de vinte e três anos. Entretanto, ele serviria por apenas seis anos, já que morreu aos vinte e nove anos durante uma epidemia de tifo. Àquela altura, sua paixão por Cristo já havia deixado sua marca. Seu estilo de vida e seu fervor por uma vida santa se tornaram quase coisas lendárias. Suas pregações e escritos foram ouvidos e lidos ao redor de toda Escócia, e influenciaram milhares a entregar suas vidas em total submissão a Jesus Cristo.
Se você lesse sobre a vida de Robert Murray McCheyne, ficaria com a forte impressão de que esse homem tinha uma obsessão pelas coisas de Deus. Ele era:
- Obcecado com a glória de Deus;
- Obcecado com a pregação do Evangelho; e
- Obcecado com a graça de Cristo.
McCheyne escreveu as seguintes palavras para um de seus discursos, desafiando crentes a viverem vidas semelhantes, ou seja, obcecadas com prioridades piedosas. Ele escreveu:
Lembre-se, você é a espada de Deus, Seu instrumento—um vaso escolhido para Ele para carregar Seu nome. Em grande medida, segundo a pureza do instrumento, será o sucesso. O que Deus abençoa não é exatamente um grande talento, mas uma grande semelhança a Jesus Cristo. Um [crente] santo é uma arma poderosa na mão de Deus.
Se uma expressão descreve bem o coração e a vida do apóstolo Paulo, creio que seja a expressão, “santa obsessão.” Assim como Robert Murray McCheyne, Paulo era obcecado com a glória de Deus, com o Evangelho de Deus e com a graça de Deus. E ele estavam constantemente desafiando o crente com o seu potencial e propósito como um instrumento na mão de Deus.
Em Romanos 15, o apóstolo toma um rumo diferente em seu discurso a fim de nos informar que ele está começando a concluir sua carta; mas isso não significa que ele já acabou. Na verdade, ele ainda tem bastante coisa a dizer. Ele é como a maioria dos pregadores que diz, “Agora, concluindo...” e você sabe que ainda está longe do fim!
Não pense que Paulo já terminou sua instrução na carta. Em Romanos 15.14, ele inicia algumas declarações finais, as quais são pessoais, fervorosas e estimulantes. Veja esse verso:
E certo estou, meus irmãos, sim, eu mesmo, a vosso respeito, de que estais possuídos de bondade, cheios de todo o conhecimento, aptos para vos admoestardes uns aos outros.
Paulo louva os romanos. É algo raro para Paulo escrever uma carta sem uma repreensão. A carta, porém, chega aos romanos sem reprimenda alguma.
Essa carta é totalmente diferente da carta aos Coríntios. Ele os chama de bebês imaturos incapazes de receber sequer os ensinos mais básicos da verdade (1 Coríntios 3.1–2).
Ela também é diferente da carta aos Hebreus. O autor—não sabemos quem foi—se refere aos leitores como pessoas tardias para ouvir e devagar para aprender (Hebreus 5.11–13).
Ao invés de repreensões, Paulo elogia esses crentes vivendo em Roma. Ele escreve, “Estou convencido de que vocês são pessoas de:”
- Caráter (possuídos de bondade);
- Convicção (cheios de todo o conhecimento);
- Competência (aptos para vos admoestardes uns aos outros).
Hoje, eu gostaria de trabalhar com essas três frases a fim de adquirir uma perspectiva diferente delas. Quero apresentar três recusas na vida do crente que deseja ser uma arma poderosa na mão de Deus. Uma pessoa:
- De com caráter escolhe não ser maligna;
- De convicção escolhe não navegar pelas águas do relativismo;
- Competente para admoestar escolhe não ignorar outras pessoas.
No caso dos que são verdadeiramente obcecados com uma vida santa, suas vidas tanto dizem “não” como dizem “sim.” Uma vida santa é uma vida de recusa das coisas erradas, bem como uma vida de aceitação das coisas justas.
Essa atitude dupla era tão necessária nos dias de Paulo como ainda é necessária em nossos dias.
Os crentes romanos viviam no que Sêneca, o escritor do século primeiro, chamou de “um poço de iniquidade.” Essa foi uma referência à capital do Império Romano para onde Paulo estava enviando essa carta.
A imoralidade de Roma era quase que impossível de descrever. Tudo era aplaudido, desde bissexualidade a bestialidade.
O líder político de Roma era conhecido por ser pedófilo; aborto era comum; crianças indesejadas eram deixadas à porta da casa para serem levadas ou comidas por animais, ou pior, levadas por predadores humanos que criariam as meninas para serem prostitutas. Um homem e uma mulher casados e fiéis um ao outro eram ridicularizados pelos filósofos romanos que os chamavam de puritanos e tolos.
As religiões dos dias de Paulo adoravam um panteão de deuses tão perversos e miseráveis quanto os seres humanos. Na realidade, o maior deus era o corpo humano.
O abuso de drogas era tão normal que, quando Paulo pregou em Éfeso, as pessoas entregaram seus alucinógenos.
Como vemos, as pessoas dos dias de Paulo careciam urgentemente de aprender como recusar a corrupção, a imoralidade, a superstição, o abuso de drogas, a promiscuidade, a bebedice, etc. Essas coisas soam familiar para você? Nós temos a mesma necessidade de instrução hoje.
As recusas radicais dos crentes romanos precisam ser as mesmas recusas radicais de cada crente hoje que busca a vida santa. Para um crente ter essas santas obsessões—ou seja, ser fervoroso, preso, preocupado, fixado, fanático pelas coisas santas, algumas recusas radicais tornam-se necessárias.
Recuse Radicalmente A Mediocridade
Primeiro, o crente precisa recusar radicalmente a mediocridade. Colocando isso de forma positiva, o crente precisa ser caracterizado por atos de bondade.
Veja, novamente, a primeira frase que Paulo emprega para descrever os crentes em Romanos 15.14:
E certo estou, meus irmãos, sim, eu mesmo, a vosso respeito, de que estais possuídos de bondade...
O termo grego original para possuídos é o mesmo usado para se referir a uma esponja encharcada em líquido. O que está na esponja sairá quando a esponja for espremida.
Paulo diz, “Quando a vida o espremer, o que deve sair é bondade.”
Isso significa a bondade que você vem amontoando dentro de si mesmo.
É interessante saber que a palavra para bondade é também um dos elementos do fruto do Espírito. Quando o crente se submete à reforma interna efetuada pelo Espírito Santo, um fruto emerge, conforme lemos em Gálatas 5.22:
Mas o fruto do Espírito é amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade...
Uma vez que Deus é inteira, absoluta e essencialmente bom (Mateus 19.17), quando crescemos em nossa semelhança a Cristo, a bondade é espremida e derrama.
Bondade é a obra de Cristo em nós através do Espírito de Deus. Isso significa que a bondade não é algo que você mesmo produz, nem é resultado de esforço pessoal. Ela também não é sua resolução de Ano Novo ou a recompensa por frequentar a igreja e nunca perder uma Escola Dominical. Bondade é o processo de reforma, ela é a marca do coração santo.
A bondade é uma reforma extrema na qual o Espírito de Deus derruba tudo no chão e começa do zero quando você se rende a Ele.
As pessoas falarão o seguinte sobre um crente sendo reconstruído pelo Espírito de Deus: “Aquele é um bom homem,” ou, “Aquela é uma boa mulher.”
E esse tipo de elogio tem se tornado cada vez mais raro, não é mesmo?
Muitos anos atrás, Mark Twain disse, com um sorriso cínico, “Sempre faça a coisa certa. Isso agradará algumas pessoas e surpreenderá todas as demais.”
Um jornal local da grande cidade de Chicago, Estados Unidos, trouxe uma notícia sobre um casal recém-casado que perdeu todo o seu dinheiro. Eles colocaram uma bolsa preta pequena com zíper sobre o teto do carro quando saíram apressados da recepção para a lua-de-mel. A bolsa tinha todo o dinheiro que haviam recebido dos convidados. Quando chegaram ao destino, a bolsa já era.
Dois dias depois de a notícia ter saído no jornal, o mesmo jornal tinha a notícia na capa, “Achado Não é Roubado? Nem Todos Pensam Assim.” David Yi, um morador desempregado, tinha encontrado a bolsa com 12 mil dólares dentro. A despeito do fato de estar desempregado e ter muitas contas para pagar, ele procurou o casal e devolveu a bolsa. Depois disso chegar às bancas, David recebeu uma inundação de ofertas de emprego! Uma vez que o mercado perde bilhões de dólares todos os anos por funcionários ladrões, é fácil de entender por que ele recebeu tantas ofertas de trabalho!
A verdade é que a bondade é tão rara que ficamos surpresos quando ela acontece e não sabemos ao certo como reagir.
Justino Mártir, o pai da igreja que viveu na Galileia no século segundo, fez uma observação interessante sobre o trabalho de Jesus Cristo como carpinteiro. Talvez você se recorde que o Senhor foi um carpinteiro até a idade de trinta anos, quando Ele iniciou Seu ministério. Justino Mártir escreveu que ainda havia fazendeiros usando os arados e jugos para bois feitos por Jesus Cristo—setenta anos depois!
A bondade não é necessariamente descoberta dentro da igreja—ela é demonstrada no trabalho, na vida. Ela é a recusa à mediocridade.
Pesquise as palavras bondade ou bom e seus derivados no Novo Testamento e perceba o chamado urgente de Deus para Seus filhos revelarem excelência em caráter, ocupação, relacionamentos e em todas as áreas da vida.
Antes, em Romanos 12.9, Paulo disse: detestai o mal, apegando-vos ao bem.
Essas são palavras fortes. Devemos odiar o pecado e nos agarrar ao que é bom.
Duas vezes em Romanos 13.3 Paulo desafia o crente a fazer o que é bom como cidadão da terra e do céu.
Ele também disse em Gálatas 6.9, E não nos cansemos de fazer o bem.
Por que você acha que Paulo precisou escrever, “Não nos cansemos de fazer o bem”? Porque facilmente nos cansamos. Fazer o bem não resulta automaticamente em reciprocidade na forma de um cartão de agradecimento, um bilhete de apreciação, uma promoção ou um bônus.
Talvez você já tenha se sentido desencorajado, e até ressentido, quando um funcionário preguiçoso e conivente recebe o prêmio de “Funcionário do Mês.” É você que tem suado no trabalho, fazendo não somente as suas próprias tarefas, mas até ajudando esse outro funcionário com as responsabilidades dele.
Quando eu estava na faculdade, trabalhei em uma empresa montando micro-ondas, e aprendi o perigo de se trabalhar duro demais. Tudo o que eu tinha que fazer na montagem era colocar duas pernas de metal e um ventilador de plástico no motor—um ventilador pequeno que refrigerava o micro-ondas. Quando terminava minha parte, repassava o motor para a próxima pessoa que ficava próxima a mim e partia para o próximo. O rapaz que tinha ocupado minha posição antes era meio devagar e, portanto, produzia pouco.
Eu fiquei com medo pensando que aquele posto talvez fosse ser difícil. Mas, depois de apenas três horas, eu já tinha caixas empilhadas com motores esperando o próximo passo na montagem. Eu até empurrei as caixas para perto do outro funcionário para facilitar as coisas para ele.
Pensei, “Isso é fácil demais!”
De fato, era tão fácil que fiquei entediado. O que eu não sabia era que o rapaz que trabalhara antes de mim naquela posição queria que o trabalho parecesse ser difícil para que não precisasse fazer outra coisa. Ele queria ficar entediado; ele vivia par ficar entediado.
Inocentemente, eu ia de uma posição a outra ajudando na montagem. Depois de alguns dias, descobri que estava incomodando as pessoas que tentava ajudar, atrapalhando a cultura da mediocridade. Um cara murmurou baixo dizendo, “O que você está fazendo—tentando se parecer melhor do que nós?”
O cara de quem tinha tomado a posição estava fervendo de raiva por causa do que eu estava fazendo sem perceber. Uma semana depois, o supervisor resolveu o problema ao me transferir para outro setor montando portas de micro-ondas. Essa era a posição mais difícil na montagem; era quase impossível manter o ritmo aceleradíssimo de produção.
Talvez Gálatas 6.9 é um verso para você: E não nos cansemos de fazer o bem.
Então, como não nos cansar de fazer o bem quando você é penalizado por fazer o bem, quando perde clientes porque não mente, quando é zombado por causa de sua honestidade, quando arrisca perder um relacionamento porque não relaxa as coisas?
O resto da declaração de Paulo aos Gálatas profetiza: E não nos cansemos de fazer o bem, porque a seu tempo ceifaremos, se não desfalecermos (Gálatas 6.9).
Paulo escreveu em Efésios 4.28:
Aquele que furtava não furte mais; antes, trabalhe, fazendo com as próprias mãos o que é bom, para que tenha com que acudir ao necessitado.
Em outras palavras, dê o seu melhor—não roube de sua empresa. Para os vendedores, isso significa, simplesmente, pare de enganar os clientes! Pare de negociar como o mundo negocia! Eu sei, tão bem quanto você, que as pessoas acreditam em qualquer coisa; e se elas caem em conversa de vendedor, a culpa é delas por não usarem de discernimento!
Para o crente que busca fervorosamente uma vida santa, ser cheio de bondade não é um compromisso pequeno; não é uma resolução banal. Você não engana mais as pessoas, nem tira vantagem delas, cessa com a desonestidade e com um trabalho de qualidade inferior.
O próprio Jesus Cristo estabeleceu um modelo. Conforme Lucas escreveu em Atos 10.38, Jesus andou por toda parte, fazendo o bem.
Sabemos que, quando Ele fazia um arado ou um jugo, Ele os fazia para durar.
Jesus irá um dia, pessoalmente, assentar-se no tribunal do Bema. Ali, para os que espelharam e seguiram Seu caráter, o nosso Senhor pronunciará o seguinte louvor, Muito bem, servo bom e fiel... (Mateus 25.23).
Tornar-se uma pessoa obcecada com a vida santa significa recusar radical, inteira e completamente a mediocridade.
Recuse Radicalmente A Indolência
A segunda frase de Paulo sugere que o crente precisa também recusar a indolência. Veja novamente Romanos 15.14:
E certo estou, meus irmãos, sim, eu mesmo, a vosso respeito, de que estais possuídos de bondade, cheios de todo o conhecimento...
Se a recusa da mediocridade significa que você é alguém marcado por bom caráter, a segunda frase significa que você é marcado por convicção.
Agora, não entenda Paulo errado aqui. Quando ele diz que os crentes romanos eram cheios de todo conhecimento, ele não quis dizer que eles possuíam todo o conhecimento que existia ou que não precisavam aprender mais nada. Significa que eles possuíam todo o conhecimento de que precisavam a fim de continuarem em sua caminhada com Cristo.
Na verdade, Paulo diz no verso seguinte que eles precisavam somente de serem lembrados das verdades dessa carta, indicando que eles já haviam recebido instrução apostólica. Mais provavelmente, isso ocorreu por meio de crentes que haviam sido ensinados por Paulo e que agora viviam em Roma.
Paulo louva esses crentes romanos por serem abertos, ensináveis e fervorosos para aprender as coisas de Deus.
Semelhantemente, eles estavam obcecados com a verdade da Palavra de Deus. Cercados por paganismo, relativismo, idolatria, imoralidade e corrupção por todos os lados, eles tinham uma pergunta principal, “O que as Escrituras dizem?”
Não é surpresa alguma, portanto, que Paulo começa sua carta no primeiro capítulo escrevendo um elogio maravilhoso,
Primeiramente, dou graças a meu Deus, mediante Jesus Cristo, no tocante a todos vós, porque, em todo o mundo, é proclamada a vossa fé (Romanos 1.8).
Ah, seja como os romanos! O nosso mundo carece urgentemente da clareza do Evangelho e da convicção da verdade de Deus.
Uma revista que assino publicou os resultados de uma pesquisa realizada por uma universidade. Dois pesquisadores conduziram esse estudo junto a um órgão nacional de religião. Eles entrevistaram 3 mil adolescentes acerca de suas crenças religiosas e publicaram seus achados em um livro. Cinco declarações resumem a conclusão sobre as crenças desses adolescentes:
- Existe um deus que criou e organizou o mundo, mas que simplesmente observa de longe a vida humana na terra.
- Esse deus quer que as pessoas sejam boas e justas umas com as outras, conforme ensinado na Bíblia e na maioria dos livros sagrados.
- Esse deus não deseja se envolver na vida de ninguém, a não ser que precisem que ele resolva algum problema.
- O objetivo primário na vida é ser feliz e se sentir bem sobre si mesmo.
- Pessoas boas vão para o céu quando morrem.
Um homem chamado Gene Edward Veith, um crente que escreve colunas para jornais, resumiu os achados dizendo:
Até mesmo esses pesquisadores seculares reconheceram que esse credo está longe do verdadeiro Cristianismo, sem lugar algum para pecado, julgamento, salvação ou até mesmo Jesus Cristo. Eles têm uma religião de obras e um deus indiferente.
Em um jornal que li outro dia, havia a seguinte estatística: 96% dos adultos entrevistas que se identificaram como crentes acreditam que Cristo ressuscitou dos mortos.
Agora, antes de você ficar animado com esse número, ouça esta outra estatística: 50% das mesmas pessoas creem na existência de fantasmas, 27% leem o horóscopo diariamente em busca de direção, e 21% acreditam que foram alguém ou alguma coisa em outra vida antes de se reencarnarem.
É de se esperar, então, que Paulo escreveria ao crente em 2 Timóteo 2.15:
Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade.
Quando abandonamos as Escrituras, lançamos fora o nosso leme, remos, coletes salva-vidas e a nossa bússola.
Paulo escreveu a Timóteo em 2 Timóteo 3.16–17:
- Toda Escritura é inspirada por Deus—ou seja, ela é o sopro de Deus;
- e útil para o ensino—isso é o que você crê;
- para a repreensão—isso mostra onde você errou;
- para a correção—isso o informa quando você está certo;
- para a educação na justiça—isso o ajuda a fazer o que é certo;
- para que o homem de Deus—o crente;
- seja perfeito, e perfeitamente habilitado para toda boa obra.
O verbo traduzido como habilitado no grego era usado também para um navio carregado antes de partir. Também foi usado para uma carroça carregada com todos os suprimentos necessários antes de uma longa jornada.
Em outras palavras, “Coloque a Bíblia em sua carroça, coloque-a em seu navio, carregue-a em sua mochila ao viajar pela vida. Assim, você terá tudo o que precisa!”
Agora, eu preciso adicionar logo que, em Romanos 15.14, Paulo não fala necessariamente de conhecimento intelectual, fatos bíblicos. Nessa passagem, ele usa a palavra grega “conhecimento” que significa, “aplicar o que você sabe, ou conhecer por meio de aplicação e experiência.”
Paulo escreveu em Filipenses 3.10:
para o conhecer, e o poder da sua ressurreição, e a comunhão dos seus sofrimentos, conformando-me com ele na sua morte;
Paulo, por acaso, não era crente? Ele não conhecia Cristo como seu Salvador pessoal?
Claro que sim! Mas ele usou a mesma palavra ginosko, que aponta não para uma atividade intelectual, mas a uma aplicação obediente.
Paulo diz, “Quero conhecer a vida de Cristo não somente por meio de verdades proposicionais, mas por meio das provas pessoais.”
Esse é o crente que estuda a Palavra e está dentre os praticantes da palavra, e não somente ouvintes (Tiago 1.22).
Tiago continua dizendo sobre o que pratica a Palavra no verso 25:
não sendo ouvinte negligente, mas operoso praticante, esse será bem-aventurado no que realizar.
Sempre me lembro da parábola do executivo que viajou para negócios. Ele não teve tempo para se reunir com os membros de sua equipe antes da viagem. Então, enquanto viajava, escreveu uma longa carta informando-lhes que passaria um tempo fora e que, enquanto estivesse de viagem, eles deveriam realizar algumas coisas. Ele se ausentou por seis meses.
Finalmente, ele volta sem avisar. Logo após a chegada, já segue ao escritório e se depara com a grama e o mato que cresceram na frente do prédio; algumas janelas que dão para a rua estão quebradas.
Ele entra no prédio e vê a recepcionista fazendo as unhas com fones de ouvido. Ao continuar caminhando, vê que as máquinas estão paradas, computadores desligados e os funcionários parecem estar em uma festa. Ao vê-lo chegando, o pessoal que estava se divertindo na festa para com a música e as risadas. Ele pergunta:
“Vocês não receberam minhas cartas? Havia coisas que eu queria que tivessem feito durante minha ausência.”
“Cartas? Ah! É claro que sim! Recebemos cada uma delas. Na realidade, temos feito estudos sobre suas cartas às sextas-feiras à noite desde que você foi embora. Até dividimos os funcionários em pequenos grupos para discutir o conteúdo das cartas. Alguns assuntos eram bem interessantes. Você ficará satisfeito em saber que alguns de nós, na verdade, até se comprometeram a memorizar algumas sentenças e parágrafos. Você não sabe da maior, parece que dois funcionários até decoraram uma carta inteira! Excelente conteúdo daquelas cartas!”
“Certo, certo, vocês receberam minhas cartas, vocês estudaram, discutiram e memorizaram as cartas. Mas, vocês fizeram o que eu mandei?”
“Fazer?! Não fizemos nada, não... ainda estamos estudando as cartas.”
Paulo louva os crentes romanos por recusarem esse tipo de dicotomia, esse tipo de contradição. Ele os louva por recusarem a indolência e a tentação de:
- examinar a verdade, mas não executar a verdade;
- analisar a Bíblia, mas não aplicar a Bíblia;
- ler a Bíblia, mas não reproduzir a Palavra na vida.
Vá fundo em seu estudo das Escrituras, mas certifique-se de que ela virá à superfície. Não há vantagem em conhecer a Bíblia profundamente se as pessoas não conseguem enxergar a demonstração da verdade de Deus em sua vida.
Recuse a mediocridade, recuse a indolência e, por fim:
Recuse Radicalmente A Apatia
Terceiro, o crente obcecado com a busca pela vida santa recusará radicalmente a apatia.
Veja Romanos 15.14:
E certo estou, meus irmãos, sim, eu mesmo, a vosso respeito, de que estais possuídos de bondade, cheios de todo o conhecimento, aptos para vos admoestardes uns aos outros.
O verbo admoestardes é noutheteo. Esse é um verbo grego composto por duas palavras: nous, que significa “mente,” e tithemi, que significa, “pôr em ordem.” A forma composta transmite a ideia de colocar na mente de alguém algo que a corrigirá. É como se fosse a nossa expressão, “Coloque uma coisa na sua cabeça.”
As palavras “instrução” e “admoestação” aparecem juntas nos escritos de Paulo. Algumas vezes, “admoestar” ou “admoestação” são traduzidos como “aconselhar.” Por exemplo, Em Colossenses 3.16, lemos: instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria.
Nessa passagem, aconselhai-vos é o mesmo que “admoestar.”
O verbo instruir parece ser usado com mais frequência como uma declaração positiva, enquanto admoestar carrega uma ideia de correção.
Paulo diz que os romanos eram aptos para admoestar uns aos outros, ou “corrigir uns aos outros.” Existe a ideia de agitar o próximo.
Por quê? Porque temos a tendência de nos acostumar com uma rotina. Somos criaturas do hábito—vamos para casa do mesmo jeito, comemos as mesmas coisas, temos a mesma rotina. Até nos sentamos nos mesmos lugares na igreja ou na sala de aula.
Contudo, a vida cristã é chamada de uma carreira, uma guerra, uma partida. Essas coisas evocam a ideia de disciplina, motivação e determinação.
Precisamos uns dos outros para nos provocar. Precisamos de estímulo, agitação e admoestação porque tendemos seguir a correnteza. Pior ainda, temos a tendência de nos deixar levar.
D. A. Carson escreveu o seguinte:
Nós não flutuamos em direção à santidade. Não gravitamos em direção à piedade, oração, obediência às Escrituras, fé e prazer no Senhor. Nós flutuamos em direção ao comprometimento da verdade e o chamamos de tolerância; flutuamos em direção à desobediência e chamamos de liberdade; flutuamos em direção à superstição e chamamos de fé; flutuamos à vida sem oração e iludimos a nós mesmos a pensar que escapamos do legalismo; flutuamos em direção à vida sem Deus e nos convencemos de que fomos libertados.
É de se esperar, portanto, que precisamos admoestar uns aos outros—provocar o outro e desafiá-lo a viver para Cristo.
Semana passada, recebi uma carta de um dos ouvintes do programa Sabedoria para o Coração. Ela disse que, toda vez que o programa vai ao ar, ela abre sua Bíblia, pega seu caderno e caneta e anota o máximo de coisas que pode. Depois de essa jovem moça me agradecer elo livro que havia recebido, ela fez algumas perguntas sobre como descobrir a vontade de Deus para a sua vida. Podemos logo notar, pela carta, que ela tem um grande fervor de viver para Cristo. Ela escreveu, “Faço qualquer coisa que o Senhor me mandar fazer. Eu sempre digo a Ele, ‘Senhor, mostre-me o que devo fazer. Estou totalmente disposta a fazer a Tua vontade’.”
O que mais me desafiou foi saber que essa carta foi escrita por uma menina do ensino fundamental! Ela nem é uma adolescente ainda!
Ela assinou sua carta com as palavras, “Sua amiga no Senhor.”
Conclusão
Paulo diria sobre essa menina, como ele também disse sobre os crentes romanos, e espero que diria também sobre nós:
Somos pessoas que fazem três recusas radicais em nossa busca pela vida santa para a glória de Deus.
Essas recusas são:
- Recusamos a mediocridade—não nos acomodaremos com um serviço de segunda classe;
- Recusamos a indolência—não nos contentaremos com aprender a Palavra, mas viveremos a Palavra;
- Recusamos a apatia—nos preocuparemos o suficiente para estimular um ao outro nessa corrida que se chama vida cristã.
Faremos essas recusas, quer seja por meio de uma ligação telefônica, um estudo bíblico, um braço ao redor do ombro de alguém, ou mesmo um cartão ou carta como essa que recebemos dessa menina com as palavras, “Sua amiga no Senhor.”
O que Robert Murray McCheyne escreveu certa vez é verdade:
O que Deus abençoa não é exatamente um grande talento, mas uma grande semelhança a Jesus Cristo. Um [crente] santo é uma arma poderosa na mão de Deus.
Este manuscrito pertence a Stephen Davey, pregado no dia 30/04/2006
© Copyright 2006 Stephen Davey
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