Guardando O Estradivário

Guardando O Estradivário

by Stephen Davey Ref: Romans 1–16

Guardando O Estradivário

Áreas Cinzas na Vida Cristã—Parte 6

Romanos 14.19–21

Introdução

A proteção e o cuidado com coisas valiosas têm se tornado uma enorme indústria mundial.

Em nossos dias, uma obra de arte fica pendurada em uma galeria conectada a uma rede sem fio que pode, instantaneamente, alertar a segurança no caso de alguém tentar retirá-la de sua posição, ou até mesmo fazer algum tipo de vandalismo como pichação. O sensor minúsculo preso à moldura também envia relatórios a cada hora informando a temperatura e a humidade relativa da sala.

Vários museus e galerias famosos ao redor do mundo têm adotado esse sistema avançado de segurança, o qual protege não somente pinturas, mas também esculturas e móveis.

Um museu já colheu os frutos desse enorme investimento. Ele tinha um sensor em uma cômoda que pertencera a Luís XIV que tinha acabado de passar por uma restauração de 10 mil dólares. Toda noite em torno das 8:30, o alarme soava, alertando a segurança de que alguém estava tocando no objeto, apesar de o museu estar fechado. Ao investigarem, os seguranças descobriram que o culpado era um membro da equipe de limpeza que pensou que estava simplesmente fazendo seu trabalho ao tirar o pó do móvel usando um pano sujo molhado com produto químico. O museu não ficou muito feliz com o tratamento descuidado dessa valiosa peça de arte.

Em todo mundo, existem apenas pouco mais de seiscentos violinos Estradivário autênticos. Muitos deles nunca sequer foram usados com medo de serem roubados, enquanto outros são tocados comente em ocasiões especiais.

Antonio Stradivari, o fabricante de violino do século dezessete, natural de Cremona, Itália, morreu sem deixar para trás seus segredos de como ele fabricava seus violinos—cada um deles com um selo e um nome especial, com o do “Duque de Alcântara.” Até os dias de hoje, seus métodos permanecem um grande mistério.

Muitos analisaram seus violinos feitos com setenta peças individuais com as melhores madeiras de acer. Talvez seja a madeira que origina sons fortes e ricos. Alguns acreditam que as três camadas de verniz de Stradivari, as quais foram quimicamente estudadas, fazem toda a diferença. Alguns até já analisaram a água do vilarejo local, enquanto outros argumentam que era a forma como ele esculpia a madeira. Ninguém sabe ao certo, mas um violino Estradivário é sem igual com um som puro e limpo.

Se você possui um violino desses, está entre as 650 pessoas sortudas do mundo. Se você quer comprar um, a probabilidade é que ninguém venderá um para você por causa de sua raridade. Um tempo atrás, um violino desses foi vendido por mais de 3,2 milhões de dólares.

Contudo, se você tivesse um Estradivário, provavelmente ficaria acordado a noite toda com medo do que poderia acontecer com ele. Vários já foram roubados no decorrer dos anos.

A maioria dos 650 Estradivários estão escondidos em caixas-fortes de bancos e cofres privados, bem guardados e com seguro. Eles são posses preciosas de apenas poucas pessoas.

Alguém de nossa igreja me enviou um e-mail outro dia contando uma história engraçada de como uma senhora lidou com essa questão de posses preciosas.

Uma senhora entrou em um banco na cidade de Nova Iorque, Estados Unidos, e pediu para falar com o responsável por empréstimos. Ela disse que tinha ido à cidade para se encontrar com alguns amigos, mas que tinha que viajar para a Europa, pois algo inesperado acontecera. Ela precisava, então, de um empréstimo de 5 mil dólares. O banco a informou de que ela precisaria deixar um penhor como garantia de que pagaria o empréstimo. Já que ela tinha ido ao banco em seu carro raríssimo, um Rolls Royce, ela pediu que o banco recebesse seu carro como penhor pelo empréstimo. Ela tinha até a documentação do carro em mãos e todas as informações estavam corretas. De fato, ela era a dona do carro. O banco concordou e, quando ela saiu, o presidente do banco e outros funcionários riram com o fato de a mulher usar um Rolls Royce de 300 mil dólares como penhor para um empréstimo de 5 mil. Um dos funcionários do dirigiu o carro para o estacionamento privado do banco que era bem monitorado com câmeras e muita segurança.

Duas semanas depois, a senhora voltou como prometera, pagou o empréstimo de 5 mil e os juros, que findaram sendo de 15 dólares e 41 centavos. O responsável por empréstimos e outros vieram a ela antes de ela ir embora e o presidente, dando um sorriso, perguntou-lhe, “Senhora, ficamos felizes com seu negócio, mas estamos um tanto confusos. Enquanto você esteve fora de viagem, checamos seu crédito e descobrimos que você é uma mulher riquíssima. Por que você precisaria tomar 5 mil dólares emprestado?”

A mulher riu e respondeu, “Ah, eu não precisava do dinheiro, mas onde mais em Nova Iorque eu estacionaria meu carro em segurança por duas semanas por apenas 15 dólares e 41 centavos? Muito obrigado e tenha um ótimo dia.”

Sem dúvida alguma, a humanidade sai com maneiras inteligentes e complexas de proteger suas posses estimadas.

Se o mundo, com grande cuidado e delicadeza, sem mencionar gastos financeiros, protege e guarda suas posses valiosas—como carros que um dia enferrujarão e violinos que um dia se decomporão—como deveríamos cuidar do povo de Deus que durará eternamente?

Em Romanos 14, Paulo nos tem instruído quanto à forma de tratar a família de Deus—especificamente pessoas que possuem opiniões diferentes de nós em assuntos cinzas, ou seja, áreas sobre as quais a Bíblia fica silenciosa ou não apresenta conclusão definitiva. Até agora, já descobrimos dois princípios:

  • O princípio da proteção; e
  • O princípio da reputação.

O Princípio da Consideração

Agora, Paulo apresenta mais instrução e conselho prático que juntei debaixo de apenas uma categoria que chamo de o princípio da consideração.

Gostaria de destacar algo em Romanos 14. No meio de suas considerações, em Romanos 14.20a, Paulo faz uma conexão interessante. Veja o que ele escreve: Não destruas a obra de Deus por causa da comida.

Até o momento neste capítulo, Paulo tem falado sobre:

  • Receber o irmão que tem uma opinião diferente de você (vv. 1–3);
  • Não condenar outros crentes, nem os desprezar (vv. 4–13);
  • Não colocar tropeço ou escândalo na frente de outro irmão (v. 13b);
  • Não entristecer outros crentes (v. 15a);
  • Não destruir seu irmão com sua comida (v. 15b).

Agora, em Romanos 14.20, pela primeira vez, e, na verdade, a única vez em suas cartas, Paulo se refere a outros crentes com uma frase fascinante: a obra de Deus.

A palavra obra é o grego ergon—“empreendimento, o esforço do projeto de Deus.” O crente é um projeto de Deus. A raiz dessa palavra pode ser traduzida como “negócio” ou “desempenho” de Deus.

Em outras palavras, “Não destrua o negócio, o projeto, o esforço minucioso da obra do próprio Deus.”

Os crentes são obras de arte de Deus.

O cuidado e esforço colocado na fabricação de um Estradivário não é nada comparado ao cuidado e esforço que Deus coloca para produzir um santo. Então, se nós protegemos violinos, joias e obras de arte com tanto cuidado, investimento e preocupação, como o crente deve lidar com seu irmão e irmã em Cristo?

Na mente do apóstolo Paulo—e evidentemente do Espírito de Deus—o tesouro realmente precioso na terra é a noiva de Cristo.

Efésios 1.14, Tito 2.14 e 1 Pedro 2.9 falam do crente como posse ou propriedade especial de Deus.

Então, como devemos tratar algo tão valioso a Deus como Sua própria igreja—Seu próprio povo, a noiva de Seu próprio Filho?

Maneiras de tratar outros crentes

Nos próximos versos em Romanos 14 e 15, Paulo responderá essa pergunta e nos apresentará quatro maneiras de tratar outros crentes—quatro formas de lidar com a obra de arte preciosa de Deus. Deixe-me compartilhá-los com você.

  • Primeiro: trate outros crentes com o espírito de renúncia.

Vamos voltar a ler Romanos 14.16–18:

Não seja, pois, vituperado o vosso bem. Porque o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo. Aquele que deste modo serve a Cristo é agradável a Deus e aprovado pelos homens.

Aprovado nesse contexto significa, “autêntico e genuíno diante dos homens.”

Esse verso apresenta o princípio da reputação, o qual discutimos em nosso estudo anterior.

Agora note a próxima frase em Romanos 14.19a: Assim, pois, seguimos as coisas da paz.

O verbo seguimos é uma palavra forte. Ela pode ser traduzida como, “caçar, perseguir.” Paulo a utiliza em Filipenses 3.14 ao escrever, prossigo para o alvo.

A imagem que Paulo tem em mente é a de um corredor que faz a última curva e agora vê a reta final com a linha de chegada no fim.

Paulo manda a igreja de Roma seguir as coisas que trarão paz entre os crentes. E ele diz a mesma coisa às igrejas de hoje.

Renuncie o que for necessário a fim de conseguir, ganhar e alcançar a paz. Não renuncie pureza doutrinária ou moral—o contexto dos versos é o de questões cinzas na vida. Viva com o desejo de promover a paz.

A verdade é que geralmente aceitamos a paz se outra pessoa no oferece. Paulo diz que você deve ser a pessoa a busca-la e oferece-la! Você deve ser aquele que carrega o tratado de paz em seu bolso ou bolsa. Tenha-o pronto ao lidar com outros crentes; já deixe o tratado de paz assinado com sua assinatura.

Um autor colocou isso da seguinte forma, “As únicas pessoas às quais você deve sequer tentar retribuir na mesma moeda são aquelas que o ajudaram.”

Caçar a paz é outra maneira de retribuir àqueles que nos ajudam.  Essa é outra forma de dizer que devemos renunciar nosso desejo de descontar em alguém.

Ah, e como isso é difícil. Vivemos com esse desejo de descontar, não é? Gostamos de empatar as coisas, tanto em coisas grandes como em coisas pequenas.

Outro dia quando eu estava viajando, deparei-me com um carro à minha frente que estava muito lento, passeando—ele estava mais devagar do que deveria naquela estrada movimentada, especialmente por estar na faixa de velocidade à esquerda. Havia outros carros na faixa da direita, de forma que eu fiquei encurralado atrás dele, e ele não estava passando os outros carros da direita. Então eu sinalizei com meus faróis para ele saber que tinha alguém atrás dele. Ele acelerou e foi para a faixa da direita. Logo que o passei, ele voltou para a esquerda e ligou o farol alto atrás de mim—e o deixou ligado. Eu estava cego. Daí, eu fui para a faixa da direita, reduzi a velocidade e, quando ele me passou, deu uma buzinada. Logo eu pensei, “Cuidado, ele pode ser maior do que eu!”

Eu não sabia o que fazer. Obviamente, a coisa espiritual a se fazer era nada, mas eu não estava muito espiritual. Um pouco mais adiante, quando tive outra oportunidade, liguei o farol alto atrás dele.

Eu descontei! E como me senti bem depois daquilo—a última palavra foi minha!

Contudo, depois eu pensei, “Espere um pouco, eu sou um pastor!”

A única coisa que digo a esse motorista é, “Por favor, me perdoe.”

Ao estudar essa frase sobre seguir a paz, logo vi que eu era a ilustração perfeita de como agir completamente errado. Talvez você esteja lutando com algo bem mais significante do que impaciência no trânsito.

Eu já li mais de dois mil testemunhos de pessoas que se tornam membros de nossa igreja. Algumas dessas pessoas têm histórias de pequenas ofensas e outras de ofensas mais graves; algumas foram traídas, abandonadas, roubadas, usadas e abusadas por outros que se autodenominam “crentes.”

O que fazer?

Paulo diz, quer seja uma ofensa pequena ou grande, que devemos seguir as coisas da paz.

Você não pode voltar o relógio, mas pode avançar com seu coração. Tratar outros crentes com um espírito de renúncia nos impede de ficar encurralados, esperando por uma oportunidade para revidar e empatar. Os que ofendem, usam, abusam e roubam são, na verdade, as únicas vítimas em sua história.

Sua renúncia diante dos outros se torna o seu bilhete para a paz no interior e, possivelmente, seu bilhete para a paz com outros no exterior.

Matthew Henry, autor de comentários bíblicos que têm sido lidos por mais de cento e cinquenta anos, foi abordado e assaltado em certa ocasião. Os bandidos levaram todo seu dinheiro. Naquela mesma noite, ele escreveu sem eu diário:

Deixe-me ser grato pelas seguintes coisas:

Primeiro: nunca tinha sido roubado antes.

Segundo: apesar de terem levado minha carteira, eles não levaram minha vida.

Terceiro: apesar de terem levado tudo o que eu tinha, não era muito.

E por último: eu é que fui roubado, e não eu quem roubou.

Essa é outra forma de viver com um espírito de renúncia.

  • Segundo: trate as pessoas com apoio espiritual.

Paulo escreve em Romanos 14.19:

Assim, pois, seguimos as coisas da paz e também as da edificação de uns para com os outros.

O que parece ser algo repetitivo é, na verdade, mencionado pela primeira vez na carta aos Romanos. Essa é a primeira ocorrência da palavra edificação.

A palavra edificação é o termo grego oikos, para “casa,” e demo, que se refere ao processo de construção. Quando juntados, os termos dão a ideia de edificar um crente da mesma forma como você edificaria uma casa.

Se você deseja o tipo certo de casa, precisa começar com a planta, lançar um bom alicerce, utilizar os materiais corretos, seguir as etapas e buscar um alvo certo.

Paulo gostava muito de se referir à igreja como um edifício de Deus. Ele escreveu em 1 Coríntios 3.9: ...vós sois edifício de Deus.

Em Efésios 2.19–22, Paulo fala ainda de maneira mais explícita:

Assim, já não sois estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos dos santos, e sois da família de Deus, edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular; no qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para santuário dedicado ao Senhor, no qual também vós juntamente estais sendo edificados para habitação de Deus no Espírito.

Em Romanos 14, Paulo deseja nos lembrar de que o crente é um projeto de Deus em construção e Deus quer que trabalhemos junto com Ele nas vidas de outros crentes. É como se tivéssemos sido chamados para ser construtores.

O que temos edificado na vida de outras pessoas? Quais ferramentas temos trazido ao projeto?

Tudo pode ser permitido, mas nem tudo é construtivo.

Após passar um tempo com você, será que um crente se sente encorajado a viver para Jesus Cristo, ou fica desencorajado?

Donald Grey Barnhouse, que depois de expor a carta aos Romanos à sua congregação presbiteriana, juntou seus sermões em uma coleção de quatro volumes, formando um comentário expositivo. Ele ilustrou essa passagem em particular. Ele contou sobre uma ocasião em que um missionário analisou as Escrituras e listou as coisas que destroem ao invés de edificarem crentes. As coisas que promovem destruição ao invés de edificação incluem:

  • Promoção pessoal;
  • Espírito farisaico;
  • Brincar de Deus com outras pessoas;
  • Hipocrisia;
  • Não valorizar os dons de outros crentes;
  • Impaciência;
  • Falta de simpatia para com as enfermidades alheias;
  • Palavreado maligno;
  • Pressupor, sem base alguma, que outros estão errados;
  • Suspeitar dos motivos do próximo;
  • Espírito dominador;
  • Espírito rebelde;
  • Atitude esnobe;
  • Ódio;
  • Murmuração;
  • Malícia;
  • Ser bisbilhoteiro;
  • Avareza;
  • Amargura;
  • Ressentimento;
  • Sentimento de inferioridade (ou seja, não descansar no Senhor, não ficar satisfeito com os dons que tem);
  • Instabilidade;
  • Timidez;
  • Despeito;
  • Preguiça;
  • Não pagar o dinheiro que toma emprestado;
  • Mentira e difamação;
  • Inveja;
  • Soberba;
  • Espírito crítico em relação às outras pessoas;
  • Promover controvérsias.

O missionário também fez uma lista de atividades que edificam os crentes. As ferramentas que ele listou e que devemos usar, não somente em nossas vidas, mas nas vidas dos outros incluem:

  • Disposição para se submeter a outros;
  • Considerar outros melhores do que si mesmo;
  • Espírito compreensivo;
  • Relacionamento íntimo com Cristo;
  • Não insistir em direitos pessoais;
  • Disposição para confessar uma atitude errada;
  • Sinceridade;
  • Generosidade;
  • Simpatia;
  • Confiar em outros;
  • Ter fé em Cristo, não necessariamente nas pessoas;
  • Alegria;
  • Oração;
  • Discrição;
  • Espírito crítico em relação a si mesmo;
  • Atitude gentil e quieta;
  • Humildade;
  • Usar os dons para o benefício alheio;
  • Lembrar-se de seus próprios erros e não dos erros alheios;
  • Ser centrado em Cristo;
  • Amor, em palavras e ações;
  • Justiça nos negócios;
  • Integridade;
  • Reconhecer seu lugar;
  • Espírito perdoador;
  • Realizar as coisas com decência e ordem;
  • Ser consciente;
  • Fidelidade;
  • Ser responsável em fazer aquilo que lhe foi confiado fazer;
  • Não abusar de sua autoridade;
  • Estar disposto a seguir outros que possuem autoridade sobre você.

Essas são as ferramentas da construção—levando às vidas de outros crentes instrumentos e equipamentos que edificam.

Agora, isso não significa que você nunca exige que a outra pessoa preste contas. Paulo repreendeu Pedro ao saber de sua hipocrisia diante dos gentios. O acontecimento está registrado em Gálatas 2. Evidentemente, Pedro estava comendo com os gentios até que os judeus chegaram de Jerusalém. Daí, Pedro passou a evitar os crentes gentios por temer que seria desprezado pelos judeus. Paulo diz em Gálatas 2.11 que, quando Pedro chegou a Antioquia onde Paulo servia, resisti-lhe face a face, porque se tornara repreensível.

Edificação não significa que fazemos de tudo para o outro se sentir melhor. Ela significa que estamos comprometidos a ajudar o outro a viver melhor.

Estamos envolvidos ou com construção ou com destruição.

Trate as pessoas com um espírito de renúncia.

Trate as pessoas com apoio espiritual.

  • Terceiro: trate as pessoas com cuidado.

Paulo escreve em Romanos 14.20:

Não destruas a obra de Deus por causa da comida. Todas as coisas, na verdade, são limpas, mas é mau para o homem o comer com escândalo.

Em outras palavras, “Cuidado para não estraçalhar alguém que Deus busca edificar, especialmente por causa de algo tão insignificante como comida ou bebida.”

Paulo afirma que todas as coisas são puras, ou seja, nessa área cinza, todas as coisas são permitidas, mas nem todas são construtivas. Algumas coisas podem acabar machucando, destruindo, confundindo e, conforme Paulo escreve nesse verso, ofendendo outro crente.

O empreendimento oposto a construção é demolição, correto? O crente precisa ter cuidado com outros, pois ele não está envolvido no campo da demolição. E, acredite nisso ou não, as dinamites que implodem possuem o rótulo da “liberdade.”

Aqui está você, plantando sua liberdade, exibindo sua liberdade, explodindo crentes jovens por todo lado.

Paulo escreve em Romanos 14.21:

É bom não comer carne, nem beber vinho, nem fazer qualquer outra coisa com que teu irmão venha a tropeçar [ou se ofender ou se enfraquecer].

Em outras palavras, “Ouça bem, esses crentes mais fracos são uma obra de Deus em progresso—cuidado!”

Trate os crentes mais fracos como um móvel de antiquário—ou como seu carro novo, o qual, pelos primeiros meses, você não estacionará em qualquer lugar porque teme que alguém arranhará as portas. Você não compra um quadro de Rembrandt e o joga no banco de trás do carro—você o trata com cuidado!

Este é o princípio da consideração: trate as pessoas com cuidado. Não lhes dê algo que as ferirá.

Assim como pais sábios, você não deixa tesouras no chão para seu filho de dois anos de idade brincar com elas. Na verdade, você fez de tudo para retirar de sua sala coisas que podem ferir seu filho. Você não lhe dá uma caixa de giz de cera e diz, “Pronto, filho, a casa é toda sua!” Existe proteção, diretrizes e cuidados com os pequeninos.

Nós colocamos sensores em nossos itens raros; protegemos os objetos de valor; ficamos em busca de coisas preciosas; guardamos o que herdamos. Será que iremos tratar o tesouro de Cristo de forma descuidada?

Parte de nosso cuidado é a paciência. Esteja disposto a esperar enquanto seu irmão cresce. Na verdade, esteja disposto a modificar sua vida para que ele cresça.

Paulo escreve para o crente mais forte porque ele pode se frustrar e perder a paciência com coisas que eles já sabem que são aceitáveis. Talvez havia em Roma, como existem hoje, alguns murmurando em voz baixa, “Estou cansado de pisar em ovos. Estou cansado de apoiar suas vidas quando eles me oferecem pouquíssimo em retorno.”

Talvez você seja tentado a dizer, “Quero apenas quinze minutos com aquele crente fraco ali—vou dizer umas poucas e boas para ele! Vou mostra-lo como ele é imaturo. Em quinze minutos, já consigo colocar em sua cabeça o conhecimento que lhe falta!”

Em seu comentário, Warren Wiersbe desafiou meu pensamento ao escrever que crianças que têm medo do escuro nunca são ajudadas com mais conhecimento.

Isso é verdade.

Em Romanos 14, Paulo nunca manda o crente mais forte pegar o crente judeu mais fraco e despejar sobre ele teorias sobre as diferenças entre dispensacionalismo, teologia aliancista e a igreja. Ele nunca sugere que façamos um teste com ele. Paulo nunca diz, “Vamos ajuda-lo a abandonar suas restrições de dieta para que vocês possam comprar carne no templo pagão e nem precisem se preocupar com nada.”

Conhecimento não é a resposta.

Quantos pais tentaram resolver o problema do medo que seu filho tem do escuro com uma aula? Você entra no quarto dele quando ainda está chorando e ele diz, “Papai, estou com medo do escuro...” Daí, você se senta na cama e diz, “Veja bem, querido, a ausência de luz não significa automaticamente a presença de perigo....”

Seu filho alguma vez já disse, “É verdade, papai, nunca tinha pensado nisso antes, mas agora expandi meu pensamento sobre a neutralidade e natureza da escuridão... vou dormir. Pode apagar a luz e fechar a porta—sei que estou seguro agora!”

Meu amigo, não podemos pegar um crente mais jovem e dizer, “Espere aí... deixe-me mostrar os fatos para você... vou escrever tudo aqui....”

Não, às vezes eles não precisam de conhecimento, mas de apoio e amor.

Conclusão

Esse é o princípio da consideração. Devemos:

  • Tratar as pessoas com um espírito de renúncia;
  • Tratar as pessoas com apoio espiritual; e
  • Tratar as pessoas com cuidado.

Paderewski, um pianista famoso no mundo inteiro, foi fazer um concerto nos Estados Unidos. Além de um pianista famoso, ele também era um respeitado político e primeiro ministro da Polônia.

O auditório estava lotado e todos esperavam com ansiedade. Uma mãe em particular, desejando encorajar o filho a continuar em suas aulas de piano, comprou ingressos para o concerto. Ela e seu filho acharam seus assentos; e eram bem próximos ao palco. O garoto se sentou, admirado com tudo ao seu redor—incluindo o piano esplendoroso no palco.

Logo, a mãe achou uma amiga com quem conversou um pouco e o garoto saiu sem que ela o visse. De repente, o som do piano se espalhou e, com o silêncio da plateia, todos viram que era apenas um garoto. Lá estava ele, todo inocente, tocando a música Brilha, Brilha Estrelinha.

Sua mãe deu um suspiro e a plateia, a princípio, riu. Entretanto, pouco depois, pessoas começaram a gritar: “Tirem ele daí!”

Antes que sua mãe chegasse ao palco, Paderewski ouviu a comoção e foi até o palco. Apesar de todos estarem pensando que o pianista iria repreender o menino, bem como sua mãe, ao invés disso ele se aproximou rapidamente do piano e disse ao menino: “Continue tocando; não pare.”

Inclinando-se um pouco, Paderewski baixou sua mão esquerda e começou a tocar, fazendo o baixo. Daí, colocou o seu braço direito do outro lado, envolvendo o menino no meio e fazendo um acompanhamento. Juntos, o famoso pianista e o garoto fascinaram o auditório. Em todo o tempo, Paderewski dizia ao menino: “Não pare, continue tocando, não pare.”

Quando terminaram, as pessoas se colocaram de pé e aplaudiram por vários minutos.

O que comoveu aquele auditório não foi, necessariamente, a maneira como o pianista tocou o piano, mas a forma como ele tratou o menino. A obra-prima da noite não foi uma de suas composições, mas o que ele fez para aquele jovem estudante.

Meu amigo, você acontece de ser um empreendimento precioso de Deus. Todos nós estamos em construção. Deus quer que tratemos uns aos outros como um projeto em progresso.

É de se esperar que Paulo nos manda viver o princípio da consideração. Então, como o vivemos? Ao tratarmos um ao outro com espírito de renúncia, com apoio espiritual e com cuidado.

Devemos aceitar o fato de que somos Sua obra-prima em progresso—cada um de nós, singular e original. Estamos sob a direção, esforço, energia e trabalho do Construtor-Mestre, o Pintor-Mestre, o Compositor-Mestre—nosso Pai Celestial; Esse que nos chama de propriedade preciosa e nos capacita a Lhe render louvores; Ele que nos chama das trevas para a Sua maravilhosa luz.

 

 

Este manuscrito pertence a Stephen Davey, pregado no dia 12/03/2006

© Copyright 2006 Stephen Davey

Todos os direitos reservados

 

 

 

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