Por Favor, Se Decida!

Por Favor, Se Decida!

by Stephen Davey Ref: Romans 1–16

Por Favor, Se Decida!

Áreas Cinzas na Vida Cristã—Parte 2

Romanos 14.5–9

Introdução

No nosso encontro anterior, começamos a discutir um pouco sobre as “áreas cinzas” da vida cristã, ou seja, aqueles assuntos sobre os quais a Bíblia não possui um verso em particular que legisla nossa conduta. O problema dessas áreas cinzas não é fácil, e ele também não é nada novo.

Volte ao século quinto e você verá que espiritualidade era definida baseada em quanto desconforto você era capaz de suportar. Um homem chamado Simeão Stylites, que deixou sua criação de gado para se tornar um monge, ficou conhecido ao redor de todo o mundo por realizar aquilo que ele acreditava ser algo espiritual. Ele se acorrentou em cima de uma coluna que tinha dezoito metros de altura e quase dois metros de largura. Sua comida era levada a ele por meio de uma corda e uma roldana. Ele passava seus dias lendo, orando e fazendo abdominais para ficar em forma. E lá ele permaneceu pelo resto de sua vida. Imagine passar trinta verões e trinta invernos no cimo de uma coluna tentando impressionar Deus com seu sofrimento!

Acelere para alguns séculos adiante e perceba que o problema em relação à verdadeira espiritualidade persistiu—o que impressiona Deus? O que Deus exige de nós quando sua Palavra é muda sobre determinados assuntos? O que podemos e o que não podemos fazer em áreas cinzas para as quais existe um princípio ou uma sugestão nas Escrituras, mas nenhuma ordem explícita? Como tratamos pessoas que enxergam áreas cinzas diferente de nós?

Dois dos crentes mais famosos na Inglaterra foram Charles Spurgeon e Joseph Parker. Eu tenho vários livros deles em minha estante. Um biógrafo de Spurgeon disse o seguinte sobre ele, um homem que pregava para 10 mil pessoas doto domingo: “Enquanto as pregações de outros homens ficarão cobertas de poeira, as suas ainda serão lidas e pregadas.”

A congregação liderada por Joseph Parker era segunda em tamanho somente para a de Spurgeon. No início de seus ministérios, esses dois tiveram boa comunhão e até compartilharam seus púlpitos um com o outro. Mas, infelizmente, eles tiveram um desentendimento. Spurgeon acusou Joseph Parker de ser um pastor não espiritual porque frequentava um teatro no qual operas e peças eram apresentadas. Parker revidou, criticando o fato de que Spurgeon era um péssimo exemplo por fumar charutos, tanto em particular como em público. Ambos achavam que o outro estava enganado e enganando as pessoas com seus maus exemplos.

Suas palavras ficaram mais duras. A discordância entre eles tomou tal proporção que a notícia apareceu até nos jornais de Londres. Dois grandes homens da fé romperam comunhão um com o outro e tal comunhão jamais seria a mesma novamente.

Em torno da mesma época, agora nos Estados Unidos, havia discussão ferrenha a respeito da fabricação de um sapato para o pé direito e outro para o pé esquerdo. Alguns sustentavam que, pelo fato de Deus ser um Deus de ordem e simetria, os sapatos também deveriam ser simétricos. Então, em obediência, os sapateiros ignoravam a diferença óbvia no formato dos pés e faziam sapatos com o mesmo formato.

Eu conheço um pastor que utiliza o mesmo argumento sobre Deus ser um Deus de ordem como base para condenar um cantor que desliza de uma nota musical para outra. Ele alega: “O cantor deve ir de uma nota a outra de forma direta; caso contrário, ele viola a ordem de Deus.” Ele também crê que um violão deve ser apenas dedilhado; essa é a única maneira de não se violar a ordem de Deus.

Existe pouca dúvida em minha mente de que a igreja fracassa em seu crescimento não por causa de desunião em grandes questões doutrinárias, mas por causa de desunião em áreas cinzas. Eu tenho uma placa que geralmente penduro sobre a porta de meu escritório. Ela contém um truísmo que serve de lembrete para mim quando saio de meu escritório e vou para a igreja. Essa placa de madeira possui gravadas nela as seguintes palavras: “Onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali haverá discordância quanto ao que a Bíblia ensina.”

Em certo sentido, esse não é o maior problema. Se discordamos naquilo que a Bíblia claramente ensina, então um de nós está errado. Na verdade, ambos podem estar errados, mas os dois não podem estar certos. Um interpretou errado o significado do texto.

Agora, siga meu raciocínio aqui. A questão se torna complicada quando discordamos naquilo que a Bíblia não ensina claramente. Os dois podem estar certos. É muito mais difícil lidar com o fato de que dois crentes que discordam entre si podem estar certos do que lidar com o fato de que dois crentes que discordam entre si podem estar errados.

É exatamente sobre essa questão que Paulo trata em Romanos 14. Ficar aliviados com o fato de que a igreja de Roma no século primeiro estava dividida em áreas cinzas também. O assunto chegou até dieta—será que Deus era a favor só de salada, só de churrasco ou apoiava os dois? Nas primeiras linhas de Romanos 14, aprendemos, basicamente, quatro lições. Elas incluem:

  • Primeiro, ambos os lados na discussão estavam certos, apesar de ser por motivos diferentes;
  • Segundo, ambos os lados eram compostos por crentes verdadeiros (os mais fracos que comiam legumes eram praticamente os crentes novos que ainda não tinham aprendido a verdade completa do Evangelho da graça; os que comiam carne eram os que compreendiam melhor a nova dispensação da graça, a qual ensina que aceitação de Deus é independente dos mandamentos da antiga aliança);
  • Terceiro, ambos os lados criticavam e faltavam com amor para com o outro lado;
  • Finalmente, todos ficariam diante do Senhor um dia e prestariam contas por suas atitudes e ações.

Agora, após haver lidado com a controvérsia sobre dietas especiais, Paulo tratará da próxima grande controvérsia: a questão de dias especiais.

Brigas por causa de Dias

Vamos voltar ao verso 1 de Romanos 14 e ler até o verso 5:

Acolhei ao que é débil na fé, não, porém, para discutir opiniões. Um crê que de tudo pode comer, mas o débil come legumes; quem come não despreze o que não come; e o que não come não julgue o que come, porque Deus o acolheu. Quem és tu que julgas o servo alheio? Para o seu próprio senhor está em pé ou cai; mas estará em pé, porque o Senhor é poderoso para o suster. Um faz diferença entre dia e dia; outro julga iguais todos os dias…

O que Paulo quer dizer quando escreve que uma pessoa faz diferença entre dia e dia destacando um como superior a outro, enquanto outra pessoa pensa que todos os dias são iguais? Mais uma vez, conseguimos entender melhor o texto ao lermos o que Paulo escreveu aos crentes da Galácia em Gálatas 4.9b–11:

como estais voltando, outra vez, aos rudimentos fracos e pobres, aos quais, de novo, quereis ainda escravizar-vos? Guardais dias, e meses, e tempos, e anos. Receio de vós tenha eu trabalhado em vão para convosco.

Em outras palavras, Paulo diz, “Eu já preguei o Evangelho da graça a vocês; por que estão retornando às minúcias da Lei?”

Um pouco antes, no capítulo 1 de Gálatas, Paulo os advertiu contra falsos mestres que tentavam arrastá-los de volta aos rituais, simbolismos e sombras da aliança do Antigo Testamento, distanciando-os da realidade da obra de Cristo na cruz que cumpria todo sistema sacrificial, além de muitas outras coisas. Esses falsos mestres distorciam o Evangelho da graça com outro evangelho—basicamente, evangelho de obras para ser aceito por Deus. Esse é o evangelho que diz: “Deus fica impressionado quando você se senta em uma torre, ou usa sapatos simétricos, ou não arrasta de uma nota musical a outra, ou ainda, mais significante, quando você cultua no Sábado.”

Paulo escreve em Gálatas 2.16 a essa congregação misturada de judeus e gentios:

sabendo, contudo, que o homem não é justificado por obras da lei, e sim mediante a fé em Cristo Jesus, também temos crido em Cristo Jesus, para que fôssemos justificados pela fé em Cristo e não por obras da lei, pois, por obras da lei, ninguém será justificado.

Em Gálatas 3.26, 29, Paulo apresenta uma notícia incrível a esses crentes:

Pois todos vós sois filhos de Deus mediante a fé em Cristo Jesus… E, se sois de Cristo, também sois descendentes de Abraão e herdeiros segundo a promessa.

Daí, no capítulo 4, Paulo diz: “Agora que vocês são todos filhos de Deus pela fé em Cristo somente, por que desejam voltar a guardar os rituais e as minúcias da aliança mosaica? Vocês estão livres, então por que voltar?”

Paulo tratou do mesmo assunto com os crentes de Colossos. Ele escreveu em Colossenses 2.16–17:

Ninguém, pois, vos julgue por causa de comida e bebida, ou dia de festa, ou lua nova, ou sábados, porque tudo isso tem sido sombra das coisas que haviam de vir; porém o corpo é de Cristo.

Pode só imaginar como esse foi um assunto complicado para a igreja primitiva. Sabemos que os crentes continuaram cultuando no sábado até a época de Atos 20, quando parecem trocar oficialmente para o que designaram de “o dia do Senhor.” João teve sua revelação do Apocalipse no domingo, o qual chamou de dia do Senhor (Apocalipse 1.10). Paulo encorajou que ofertas especiais fossem separadas no domingo e depois coletadas quando ele viesse. O mandamento do sábado é o único dos Dez Mandamentos que nunca é repetido no Novo Testamento.

Contudo—ouça bem isto—, apesar de termos o precedente na igreja primitiva para escolher cultuar a Deus no dia da ressurreição do Senhor—todo domingo era domingo de Páscoa—mesmo assim, não existe nenhuma instrução no Novo Testamento exigindo que cultuemos no domingo. Então, essa é a oportunidade para Paulo colocar as coisas em ordem. É claro que Paulo resolverá o problema; simplesmente nos diga, Paulo: “Cultuem no domingo—esse dia é mais especial do que os demais.”

Mas veja Romanos 14.5 novamente: Um faz diferença entre dia e dia; outro julga iguais todos os dia. Você pode dizer: “Espere um segundo! Eu achava que a Bíblia dizia em algum lugar que devemos ir à igreja no domingo pela manhã e à noite, e às quartas-feiras; e, se perder um desses três, você estará em sérios problemas. Você está me dizendo que Paulo não diz que devemos ir à igreja aos domingos? As pessoas não precisam ir mais para a igreja?”

Estou dizendo a mesma coisa que Paulo disse; ou seja, que não nos aproximamos de Deus somente no sábado; aceitação de Deus não se restringe a dias ou estações especiais. Deus está disponível vinte e quatro horas por dia e sete dias por semana. Isso significa que você não precisa esperar até o final de semana para confessar seu pecado. Adoração entre crentes pode acontecer em uma sala de estar numa sexta-feira à tarde, ou em uma sala de reuniões segunda-feira pela manhã. Seja bem-vindo à era da graça!

Se sua família escolheu adorar aos domingos, como a igreja escolheu nos últimos dois mil anos, que seja. Mas se sua congregação e líderes decidirem que sua adoração precisa ser na quinta-feira pela manhã—talvez esse é o único horário disponível para o aluguel daquele lugar, ou o único momento no qual os guardas comunistas não notam várias pessoas indo para o meio do mato para adorar. Acredite se quiser, você também pode adorar a Deus no meio do mato numa quinta-feira pela manhã!

Contudo, não deixe de congregar, conforme lemos em Hebreus 10.25. Evidentemente, alguns crentes estavam abusando de sua liberdade e escolheram ignorar completamente a assembleia, de forma que se reuniam sozinhos. Todos os votos eram unânimes—e eles nunca discordavam do pregador.

Independente do dia no qual sua congregação escolher se reunir, esteja lá. Saiba que Deus será a plateia de sua adoração como corpo, qualquer que seja o horário.

Então, vamos voltar ao problema. Temos uma igreja se reunindo no sábado, outra no domingo e uma congregação que acabou de começar aluga uma casa nas quintas-feiras. Quem está certo? Qual desses está mais perto da verdade? Em qual desses devo me tornar membro? Como decidir isso? Paulo nos fornece a resposta. Veja Romanos 14.5: Cada um tenha opinião bem definida em sua própria mente. Mais uma vez, Paulo não fornece uma resposta absoluta. Muito obrigado, Paulo! Ele diz: “Os dois estão certos!”

Contudo, se você pensa que isso significa que não precisa pensar, estudar e orar sobre o assunto, pense novamente. Paulo diz: Cada um tenha opinião bem definida em sua própria mente. A expressão tenha opinião bem definida:

  • vem do verbo plerophroneo, que significa, “ter certeza completa;”
  • pode ser traduzida como “ser convencido totalmente” e significa também “decidir-se;”
  • é usada na tradução grega do Antigo Testamento, a Septuaginta, uma vez e em um sentido negativo para falar de uma pessoa má que decidiu fazer o mal.

Esse verbo ocorre no Novo Testamento em 2 Timóteo 4.17 para uma “pregação plenamente cumprida” e em Lucas 1.1, quando Lucas se refere aos “fatos que entre nós se realizaram.”

É a esse tipo de convicção que Paulo se refere em Romanos 14. Esse não é um exercício banal; não é dizer: “Ah, tanto faz!” Paulo é muito mais fervoroso do que isso. Ele diz: “Por favor, decida-se!” Desenvolva alguma convicção em relação ao que você faz, crê e como se comporta. Pense! Não imite simplesmente o que outras pessoas dizem. Não faça a oração de outras pessoas. Nossas vidas não são ditadas por alguma classe dominadora de clérigos. Nós somos, individualmente, sacerdotes diante de Deus (1 Pedro 2.9). Temos a liberdade não para fazer o que bem quisermos, mas para fazermos aquilo que cremos, ponderamos cuidadosamente com nossas mentes renovadas e concluímos ser o que Deus deseja que façamos.

Também não é suficiente dizer: “É, eu fui criado assim...” ou: “Foi assim que meus pais me ensinaram..” ou: “Meus pais criam assim, então acho que também devo crer assim...” ou: “Ninguém acredita nisso na escola, então por que eu devo crer?” Por favor, decida-se!

Moisés jamais teria dito algo desse tipo. “Decida-se sobre o sábado e dias especiais!” Isso é algo maravilhoso, chocante e perturbador. A graça é perturbadora. Tudo era tão claro na dispensação anterior. Era sábado ou nada; o sacrifício para esse pecado ou aquele era uma tartaruga e essa medida de farinha. Agora, eu baixo minha cabeça e oro diretamente a Deus.

Mas espere: baixo minha cabeça ou não? Fecho os olhos ou não? Fico de pé, me ajoelho, me deito ou fico sentado? Você acredita que o Concílio de Nicéia, no século quarto, teve que resolver essa questão? Eles elaboraram vinte declarações formais que tratavam de tudo, desde o dia a se celebrar a Páscoa até a quantidade de juros que um ministro receberia em um empréstimo e a postura apropriada ao se orar dentro da igreja—de pé, ajoelhado ou sentado? Paulo teria dito: “Simplesmente ore sobre isso!”

Na verdade, Paulo disse em 1 Tessalonicenses 5.17, orai sem cessar. Isso significa que podemos orar logo antes de adormecer. Dentro de poucos anos após a carta aos Romanos ter sido escrita, a igreja já estava profundamente ativa pensando nas questões cinzas.

Pelo menos uma coisa é certa: Deus desejou que esses assuntos na área cinza nos façam raciocinar. Esses assuntos servem para nos amadurecer, aguçar nosso entendimento da Palavra e fortalecer nossa decisão por um viver santo. Ao mesmo tempo, eles servem para desenvolver em nós um espírito gracioso para com as pessoas com as quais discordamos em questão não doutrinárias. Isso é algo difícil de se fazer. Pelo menos foi difícil para a igreja de Roma.

A verdade é que a graça é perturbadora. Preferiríamos que alguém chegasse e resolvesse todas as diferenças de opinião para que houvesse unidade e uniformidade em opinião. É como o poema que li um tempo atrás. Ele expressa bem minha própria experiência passada e talvez a sua também. Ele diz:

Creia como eu creio,
Nem mais, nem menos;
Que eu estou certo
E ninguém mais, por favor confesse;
Sinta-se como eu me sinto,
Pense como eu penso;
Coma o que eu como e beba o que eu bebo;
Vista-se como eu me visto,
Faça sempre o que eu faço;
Então, e somente então,
Terei eu comunhão com você.

A verdade é que Deus não usou uma forma para fazer os crentes; Ele criou até o pé esquerdo diferente do direito. Ao mesmo tempo, diferenças de opinião não são desculpas para um pensamento negligente—ou vida superficial. Paulo diz: “Decida-se—desenvolva bem suas convicções do que você fará e não fará.”

Sem dúvida alguma, Paulo agita a jaula. Ambos gentios e judeus dentro da igreja acabaram de perder suas munições. Na verdade, creio que Paulo sugere que, se um dos lados vence o argumento, ambos saem perdendo—a verdade da graça é perdida.

Limites em Questões Cinzas

Então, existe alguma ajuda hoje para aqueles que não estão necessariamente brigando por questões de dias de adoração e dieta? Entretanto, lutamos com a necessidade de desenvolver convicções sobre uma miríade de outros assuntos. Existe alguma diretriz para nós ao ponderarmos sobre assuntos nebulosos? Creio que sim.

Cerca de seis anos atrás, um de nossos vizinhos nos informou que tinham um filhote macho de Basset que precisava de um lar. Ele tinha até pedigree comprovando que era de raça. Não sei por que isso importava, mas causou boa impressão. Já tínhamos um cachorro—uma mistura de Beagle com Basset. Achei que seria bom ter dois cachorrinhos para as crianças.

Como não havia cercado na frente de nossa casa, colocamos uma cerca invisível. Daí, colocamos coleiras especiais equipadas com um sinal sonoro e bolas de metal que davam choque. Não sei como funcionava; a única coisa que sei é que, quando os cachorros chegavam próximo ao limite que havíamos colocado no quintal, a coleira emitia um alerta sonoro como um apito. Esse apito ficava cada vez mais rápido à medida que o cachorro se aproximava mais da cerca invisível. Se passassem da cerca, levavam choque. Podíamos regular o choque para baixo, médio, médio alto ou alto. Ao levar o choque, o cachorro dava um grito, voltava e permanecia dentro do quintal.

Para nossa cachorrinha, isso funcionou muito bem, mas para o macho Basset não funcionou. Ele simplesmente não conseguia entender o sistema. Evidentemente, o papel de seu pedigree não era a mesma coisa que um diploma. Se ele visse um gato ou uma pessoa passando na calçada, ele corria até o limite da cerca invisível e nunca diminuía de velocidade. Ele simplesmente gritava com o choque ao atravessar a linha invisível e continuava correndo. Vez após vez eu tive que ir buscá-lo na rua. Daí, aumentei o choque para o nível máximo. A voltagem era a mesma de uma cadeira elétrica—a energia na vizinhança caía quando meu cachorro atravessava a cerca invisível e levava o choque! Finalmente, descobri que meu cachorro não era burro—ele simplesmente tinha uma tolerância maior à dor. Ele não se importava com a dor, pois sabia que ela não duraria por muito tempo. Que aborrecimento—todo tempo que desperdicei. Meu cachorro passou sua vida toda atravessando a cerca invisível e cavando buracos no quintal. Finalmente, eu o levei para um abrigo. A pessoa de lá me garantiu que várias pessoas estavam à procura de Bassets puros. Em breve alguém o levaria.

Você usa sua massa cinzenta para pensar? Você está pronto para raciocinar sobre esses assuntos? Deixe-me fornecer duas perguntas que servem como uma cerca invisível. Elas nos impedem de chegar próximo demais da cerca onde dor, culpa e consciência ofendida nos aguardam.

  • Primeiro, pergunte-se: Posso fazer o que faço e permanecer em total submissão a Deus?

Deixe-me dizer isso com poucas palavras: Estou vivendo em submissão a Jesus Cristo?

Perceba que Paulo, repetidamente, se refere à prioridade do Senhor. Você poderia circular os nomes de Deus que aparecem dez vezes em quatro versos. Veja Romanos 14.6–9:

Quem distingue entre dia e dia para o Senhor o faz; e quem come para o Senhor come, porque dá graças a Deus; e quem não come para o Senhor não come e dá graças a Deus. Porque nenhum de nós vive para si mesmo, nem morre para si. Porque, se vivemos, para o Senhor vivemos; se morremos, para o Senhor morremos. Quer, pois, vivamos ou morramos, somos do Senhor. Foi precisamente para esse fim que Cristo morreu e ressurgiu: para ser Senhor tanto de mortos como de vivos.

A propósito, esse é um texto excelente para defender a divindade de Cristo—os nomes Senhor, Deus e Cristo se referem à mesma Pessoa. Ele é Deus—Senhor e Messias.

Você faz o que faz para Deus? Ele é o Senhor e Mestre sobre suas ações, decisões e convicções? O ensino de Paulo é que podemos fazer o que quisermos, desde que o Senhor não se envergonhasse, caso estivesse conosco. Diga o que quiser, veja o que quiser, coma o que quiser, desde que o Senhor se sinta em casa dizendo, vendo e comendo essas coisas também. Quanto menos confortável você pensa que o Senhor se sentiria, mais perto se encontra da cerca da tristeza e da culpa, e a decepção está a poucos passos adiante.

Estou vivendo em submissão a Jesus Cristo, meu Senhor?

  • Segundo, pergunte-se: Posso experimentar o que estou experimentando e, ao mesmo tempo, ter um espírito de apreciação a Deus?

Uma versão mais curta é: Vivo em gratidão a Deus? Perceba a repetição de uma frase em Romanos 14.6:

quem come para o Senhor come, porque dá graças a Deus; e quem não come para o Senhor não come e dá graças a Deus.

Ambos estão em gratidão a Deus! Eles dizem: “Muito obrigado, Senhor, por esses legumes!” Eu nunca conseguirei orar desse jeito!

A grande questão é a seguinte: será que você pode fazer o que faz e ainda baixar sua cabeça em oração, dizendo: “Deus, agradeço pelo que estou prestes a fazer, experimentar e assistir. Muito obrigado, Senhor!”?

A história de Eric Lidell foi retratada no filme Carruagens de Fogo; em sua maioria, o relato do filme foi verdadeiro. Ele era chamado de “O escocês voador” por causa de sua velocidade incrível. Ele queria competir nos jogos olímpicos, enquanto sua família queria que ele ingressasse na vida missionária. Ele decidiu adiar sua entrada no campo missionário e colocá-la para depois das Olimpíadas. Sua família ficou muito triste com sua decisão.

Eric fez parte da equipe britânica e foi para os jogos em Paris. Contudo, ao chegar, descobriu que as corridas classificatórias seriam realizadas no domingo. Ele decidiu que não correria no domingo. Ao invés disso, pregou em uma igreja em Paris naquele domingo. É interessante que, para sua família, ele comprometeu seus valores quando decidiu correr, enquanto, ao mesmo tempo, ele recusou correr no domingo. Ambas as controvérsias eram áreas cinzas. Correr ao invés de entrar no ministério—cinza; pregar no domingo ao invés de correr—cinza. Eric, contudo, tinha tomado sua decisão de até onde iria nesses assuntos.

Ele se classificou para outra competição—a corrida dos 400 metros. Não foi para isso que ele tinha treinado, mas acabou vencendo a corrida e estabelecendo um novo recorde mundial. Após seu triunfo nos jogos olímpicos, Eric viajou para a China, onde foi ordenado e começou a servir no ministério. E ele serviu, de fato, pelo resto de sua vida.

No meio da discussão com sua família sobre se deveria ou não adiar sua ida para o ministério para depois das Olimpíadas, Eric fez uma declaração maravilhosa para a qual o apóstolo Paulo diria, “Amém!” Eric disse: “Creio que Deus me criou para um propósito, mas ele também me criou rápido. E, quando eu corro, sinto o seu prazer.” Essa é outra maneira de dizer: “Corro para Deus e lhe agradeço por esse privilégio.”

Meu amigo, decida-se. Fale sobre o assunto; converse com seus amigos; estude a Palavra; veja os versos em comentários e as palavras em léxicos; converse com expositores e professores. Mas, independente do que escolher fazer, lembre-se de que você foi salvo para raciocinar. Ao tomar sua decisão, lembre-se desses limites invisíveis que se tornarão bastante visíveis às pessoas ao seu redor. Certifique-se de que Cristo tem prioridade e gratidão é sua prática. Depois, por favor, decida-se!

 

Este manuscrito pertence a Stephen Davey, pregado no dia 12/02/2006

© Copyright 2006 Stephen Davey

Todos os direitos reservados

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