
Que Domingo!
Que Domingo!
Uma Encomenda Especial—Parte 3
Apocalipse 1.9–20
Introdução
O escritor Eugene Peterson alguns anos atrás escreveu palavras que provocaram meu pensamento:
A revelação de Deus a respeito de Si mesmo é rejeitada com uma frequência muito maior do que é aceita, mais pessoas a ignoram do que a abraçam, e ela tem sido atacada ou desprezada pelas principais nações ou civilizações nas quais é testemunhada: o Egito grandioso, a Assíria cruel, a Babilônia bela, a Grécia artística, a Roma política, a França iluminada, a Alemanha nazista, a Itália renascentista, a Rússia marxista, a China Maoísta e os Estados Unidos que buscam a felicidade. A comunidade do povo de Deus sobreviveu em todas essas culturas e civilizações, apesar de sempre ser a minoria, marginalizada e insignificante para as estatísticas.
O apóstolo Paulo deixou isso bastante claro para a igreja primitiva quando essa nova revelação do Evangelho estava sendo revelada. Paulo disse que o Evangelho causaria guerras espirituais como nunca antes imaginadas, e que os crentes deveriam se preparar para o tipo certo de batalha com o tipo certo de armamento e o tipo certo de atitude (Efésios 6). Paulo disse que o Evangelho seria ofensivo ao descrente (1 Coríntios 1.18).
Ou seja, aqueles que acreditam que após a morte a pessoa reencarna em insetos e vacas estão certos, mas os que acreditam que após a morte as pessoas devem prestar contas ao Criador dos insetos e vacas estão com problemas.
Ao redor de todo o mundo hoje, o sangue dos mártires corre como nunca antes daqueles que se recusam negar a exclusividade da salvação através de Cristo Jesus somente. Por causa do apoio satânico a falsa religião, as religiões do mundo toleram tudo, menos o Cristianismo verdadeiro que prega o Evangelho e exalta Cristo.
Por que? Porque o Evangelho da cruz de Cristo atinge a raiz da consciência culpada da humanidade, revela a total futilidade da religião humana, expõe a verdade intuitiva incutida por Deus no homem sobre o pecado, condena a autoconfiança e autoajuda, exige humildade ao requerer que a humanidade abdique do trono do seu coração e o ofereça voluntariamente ao Carpinteiro crucificado que é ninguém mais do que o Senhor vivo e verdadeiro encarnado que subiu aos céus e um dia voltará.
O mundo quer acreditar em qualquer outra coisa, menos a verdade.
Eu encontrei um artigo do jornal USA Today em 2007 que falava sobre um acampamento de crianças projetado para filhos de agnósticos, ateus e humanistas. Imagine ser um conselheiro nesse acampamento! E você pensava que o acampamento da igreja já era complicado!
O diretor do acampamento afirmou, “A missão de nosso acampamento é promover respeito por outros com perspectivas, valores e crenças diferentes.” Isso é algo bastante comum em nossos dias, não é verdade? O que ele realmente está querendo dizer é promover respeito por todos, menos pelos crentes. Ele se entregou um pouco mais adiante na entrevista quando disse, “Nós reprovamos esforços... que buscam explicar o mundo do ponto de vista sobrenatural e buscam salvação fora da natureza.”
O que esse diretor está dizendo é o seguinte, “Reprovamos qualquer ponto de vista que exija salvação do pecado.”
O interessante é que esse acampamento termina com um exercício no qual cada criança inventa sua própria religião, tendo recebido a instrução específica de que sua religião não pode ofender ninguém.
Isso me lembra do provérbio humorado, “Deus criou o homem e o homem retornou o favor.”
A igreja no mundo de hoje é não somente reprovada, mas abertamente odiada e perseguida; e isso começou cedo. Na verdade, a igreja mal havia nascido em Atos 2 e já havia sementes de perseguição plantadas no solo do Império Romano.
Por volta da época em que João escreve o Apocalipse de Jesus Cristo, a perseguição já havia começado com um ódio inspirado pelo demônio.
Plínio, o governador romano que viveu próximo do final do século primeiro, escreveu, “...[O Cristianismo é] uma superstição depravada e extravagante... o contágio dessa superstição se espalhou não somente pelas cidades, mas pelas vilas... também.”
Outro escritor romano do século primeiro escreveu, “Milhares de cristãos são mortos, entre os quais nenhum realizou algum ato contrário às leis romanas que os tornaram dignos de perseguição.”
Próximo do final do século primeiro, Domiciano tomou o trono de Tito, seu irmão, a quem assassinou ao envenenar seu peixe no jantar. Em seguida, ele forçou ainda mais perseguição contra os crentes. Ele era tão perverso quanto fora Nero, assim como quase todos os imperadores romanos antes dele, cuja maioria foi abertamente homossexual ou bissexual.
Podemos apenas imaginar a natureza ofensiva da carta de Paulo aos Romanos ao condenar sob inspiração divina qualquer atividade sexual fora do matrimônio.
Domiciano reestabeleceu o que chamou de julgamentos de traidores, e informantes podiam entregar qualquer pessoa suspeita de filosofia subversiva. Convenientemente, ele também determinou que era divino e estampou em moedas imagens em honra à sua divindade. A adoração a César foi encorajada e passou a crescer. Adicione-se a isso o fato de que ele era paranoico e um tanto esquisito.
Em seu livro Os Doze Césares, Michael Grant mostrou como Domiciano era um homem miserável. Ele era obcecado com seu cabelo. Na verdade, se ele ouvisse alguém fazendo piada com carecas, Domiciano provavelmente mataria essa pessoa.
Domiciano venerava as antigas religiões romanas e, no fim, acabou exilando o apóstolo líder dessa superstição chamada Cristianismo, uma vez que João se recusara a adorar o imperador ou qualquer outro deus romano.
João é o último dos apóstolos; os demais já haviam sido martirizados antes dele. Segundo as tradições da igreja:
- Mateus foi morto à espada na Etiópia;
- Natanael foi esfolado à morte por açoites na Armênia;
- André foi crucificado em uma cruz com formato de “x,” tendo ficado ali pendurado por dois dias antes de finalmente morrer;
- Tomé morreu com punhaladas de lança em uma de suas viagens missionárias à Índia;
- Matias, o apóstolo escolhido para substituir Judas, foi apedrejado e decapitado;
- Paulo foi torturado e decapitado por Nero;
- Pedro foi executado por Nero um ano antes ao ser crucificado de cabeça para baixo;
- Tiago, o irmão de Jesus, o presbítero que liderava a igreja de Jerusalém, foi jogado de cima do muro do templo. Depois que sobreviveu à queda de trinta metros de altura, ele foi morto com golpes de cassetete;
- João, o último dos doze ainda vivo, está velho e exilado em uma ilha onde criminosos e prisioneiros políticos eram enviados para trabalhar em minas.
Imagine o que o livro de Apocalipse representou para a igreja. Os prospectos da igreja primitiva são desanimadores. Que esperança os crentes tinham? Onde estava o Senhor ressurreto? Será que Ele realmente se importava? Será que esse era o fim?
Essas perguntas desapareceram depois que leram os primeiros parágrafos desse livro da profecia, no qual Jesus Cristo diz,
Eu sou o Alfa e Ômega, diz o Senhor Deus, aquele que é, que era e que há de vir, o Todo-Poderoso (Apocalipse 1.8).
“Eu não os abandonei. Na verdade, sei tudo pelo que vocês têm passado.”
Que grande esperança isso produz nas vidas de pessoas morrendo por sua fé! Que encorajamento isso é para o crente que carece de coragem e perseverança! E como isso revela a culpa daqueles que já estão se desviando da verdade!
Agora, começando em Apocalipse 1.9, João faz alguns comentários pessoais, os quais chamaremos de “momentos biográficos.”
Momentos Biográficos do Apóstolo João
- O primeiro momento biográfico de João é o da humildade.
Esse é um que deve servir de grande encorajamento para os crentes. Em Apocalipse 1.9a, João escreve:
Eu, João, irmão vosso e companheiro na tribulação, no reino e na perseverança…
“Estou com vocês perseverando em Jesus.”
João tinha todo motivo para mostrar seu currículo a fim de chamar a atenção de todos—“Eu sou João, o autor do Evangelho da vida e ministério de nosso Senhor; o autor de três epístolas; um dos discípulos mais chegados do nosso Senhor que se assentou ao lado dEle na última ceia; o único discípulo a aparecer na cruz de Cristo; para o qual Jesus pediu para cuidar de Maria, Sua mãe.”
Tudo isso é incrivelmente verdadeiro. Contudo, João diz, “Eu, João, vosso irmão e companheiro na tribulação da vida em Cristo.”
Nathan Meyer escreveu em seu comentário nessa passagem algo bastante admirável sobre o ex-presidente americano Franklin Roosevelt. Apesar de ele ser um milionário e presidente do país, depois de haver passado um tempo em fazendas no interior para se recuperar de poliomielite, ele escolheu se referir a si mesmo como fazendeiro ao invés de presidente. Na verdade, até quando ia se registrar para votar, ele se registrava como fazendeiro.
João tinha todo direito de dizer, “É o seguinte... sou eu, João, o discípulo amado de Cristo.”
O que desejo chamar atenção nessa passagem é que, quando estamos cativados pela pessoa de Cristo e esperando Seu retorno, quem somos não é tão importante quanto quem Ele é. O fato de Ele estar vindo ofusca o fato de você já ter chegado.
Mais provavelmente, no verso 9, João se refere à presente tribulação do século primeiro, mas está ciente de um reino vindouro de nosso Senhor.
- João fornece mais um momento biográfico no qual vemos não somente um retrato de humildade, mas um de tenacidade.
Ele escreve em Apocalipse 1.9b:
Eu, João... achei-me na ilha chamada Patmos, por causa da palavra de Deus e do testemunho de Jesus.
Ele deixa bastante claro—João sofre por causa de sua pregação fiel, pura, perseverante e corajosa do Evangelho de Jesus Cristo.
Ele ainda escreve no verso 10a:
Achei-me, em espírito, no dia do Senhor...
Essa é uma referência ao domingo. Existe uma construção grega distinta usada para falar do futuro e terrível “dia do Senhor.”
Essa é a única ocorrência dessa expressão no Novo Testamento. Contudo, “dia do Senhor” em referência ao domingo foi utilizado na igreja para falar do dia em que a igreja adorava de maneira especial, pois foi nesse dia que o Senhor ressuscitou.
Esse foi, de maneira especial, o dia do triunfo do Senhor. Por volta de Atos 20, quando a igreja já havia se desenvolvido um pouco e se separado da sinagoga, os cristãos escolheram o dia do Senhor como o dia especial de adoração.
Podemos adorar legitimamente em qualquer dia (Romanos 14.4–6), mas a igreja escolheu esse dia em comemoração à ressurreição do Senhor no domingo.
Inácio, escrevendo somente quinze anos após João ter escrito Apocalipse, disse, “os cristãos deixaram de guardar o sábado judaico e viveram segundo o Dia do Senhor, no qual nossas vidas brilham, graças a Ele.”
Plínio, o governador romano descrente que já mencionei antes, escreveu na mesma época, em torno de 110 d.C., “Os cristãos se reúnem aos domingos, o primeiro dia da semana, e cantam louvores ao seu Senhor Jesus.”
Justino Mártir, um líder na igreja, escreveu quarenta e cinco anos depois, “Todos nós realizamos essa reunião comum aos domingos, já que esse é o dia em que Jesus Cristo nosso Salvador ressuscitou dos mortos.”
João escreveu, “No domingo, achei-me em espírito.”
A única coisa que isso nos diz é que João recebeu sua primeira visão no dia do Senhor e que o Espírito de Deus era o agente administrando as visões.
Antes de prosseguirmos para essa visão incrível, vamos fazer uma pausa e pensar no que isso revela não somente sobre João, mas sobre mim e você também.
João estava resistindo o que ele, nesse momento, pensava ser a última etapa de perseguições em Patmos. Ele se encontrava em uma ilha deserta, removido de sua família, separado dos demais crentes, dormindo (conforme muitos crêem) em uma caverna, mal alimentado, mal vestido, trabalhando nas minas com quase noventa anos de idade.
Um casal de nossa igreja recentemente visitou a ilha de Patmos em um passeio pela região. Eles trouxeram para mim uma lembrança e um livro com imagens grandes e coloridas da ilha. Apesar de hoje já ter desenvolvido um pouco e estar habitada até certo ponto, consegui imaginar facilmente essa ilha pedregosa e árida, distante de seus amigos, familiares e da igreja que João havia pastoreado em Éfeso.
A maioria dos estudiosos acredita que João retornou a Éfeso após a morte de Domiciano. Contudo, não se esqueça que, a essa altura, João ainda não sabia disso. Até onde ele sabe, seus bons dias de ministério ficaram para trás. Deus deve ter terminado com o trabalho e amor desse apóstolo para a igreja e Cristo, o Supremo Pastor. Acabou.
Imagine—o ministério mais significante de João ainda está por vir.
Deus ainda não havia terminado de falar através de João, mas estava prestes a revelar a João o futuro da história humana, um vislumbre dos julgamentos e até um passeio pelo céu. Um autor escreveu as seguintes palavras bastante perceptivas, “Às vezes, é de grande sofrimento que o povo de Deus conquista seus maiores triunfos. Às vezes, quando as circunstâncias parecem ser as mais tenebrosas, é em tal momento de solidão e desespero que Deus brilha mais intensamente.”
Ali, na desolação, solidão e deserto de Patmos, Deus veio a João e revelou Seus grandes mistérios.
Eles começam com uma visão de ninguém mais além do Supremo Pastor da igreja. Veja Apocalipse 1.10b–11:
…ouvi, por detrás de mim, grande voz, como de trombeta, dizendo: O que vês escreve em livro e manda às sete igrejas: Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia e Laodicéia.
Essas são igreja literais; não são épocas na história da igreja, mas igrejas reais históricas que representam igrejas em qualquer geração. É possível, em nossa geração, ser uma igreja de Filadélfia com grande oportunidade, ou ser como a igreja de Éfeso que perdeu seu amor pelas coisas de Cristo. Essas são igrejas literais com problemas literais e com lutas literais e uma necessidade literal de se arrepender e seguir a Cristo mais de perto.
Todavia, as igrejas são mencionadas de maneira figurada como candeeiros. Veja o que João escreve em Apocalipse 1.12:
Voltei-me para ver quem falava comigo e, voltado, vi sete candeeiros de ouro
A metáfora do testemunho da igreja brilhando para o mundo é claramente explicada em Apocalipse 2 onde a igreja é advertida sobre a possibilidade de Cristo remover seu candeeiro caso não se arrependa. Literalmente, Ele removerá o testemunho da igreja como uma luz em um mundo escuro. Observaremos isso mais detalhadamente no próximo estudo.
Veja Apocalipse 1.13a:
e, no meio dos candeeiros, um semelhante a filho de homem...
Sem dúvida alguma, esse é o título messiânico de Jesus Cristo. Ele não se esqueceu da igreja, mas se encontra no meio de todas elas.
Eu descobri que esse título foi usado na igreja primitiva como o título de Cristo quando se tinha em vista o sofrimento dos crentes e o de Cristo.
Ou seja, Jesus Cristo sabe o que é sofrer. E lembre-se, Ele prometeu que Seus seguidores sofreriam alguma forma de perseguição (Mateus 10.34).
O apóstolo Paulo prometeu em 2 Timóteo 3.12,
Ora, todos quantos querem viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos.
Entretanto, anime-se. Jesus Cristo caminha por entre os candeeiros; Ele está no meio de Sua noiva amada enquanto ela brilha para Sua glória.
Vamos, agora, deixar para trás os momentos biográficos do apóstolo João para o que podemos chamar de “mostruário fantástico” de Cristo.
O Mostruário Fantástico do Filho do Homem
A visão de João apresenta pelo menos oito características de Cristo.
- Primeiro, Seu manto e cinta falam de Sua superioridade.
João escreve em Apocalipse 1.13b:
...com vestes talares e cingido, à altura do peito, com uma cinta de ouro.
Vestes talares eram o mesmo que um manto que se estendia até o chão, uma peça de roupa vestida pela realeza. Esse manto era chamado de podere, o qual era um emblema de alta patente e dignidade.
Mantos longos foram as vestes usadas pelo rei Josafá, pelos reis de Midiã e por Jônatas, príncipe de Israel e filho de Saul. Alguns destacam que os profetas também usaram mantos longos.
Sem dúvidas, Jesus Cristo é tanto Profeta como Rei e o podere é perfeitamente cabível.
Todavia, o uso mais comum dessa palavra no Antigo Testamento estava ligado ao sumo sacerdote. A palavra foi empregada para se referir à roupa formal do sumo sacerdote enquanto servia no templo. O sumo sacerdote também usava um cinto de ouro durante o serviço (Êxodo 28.4).
A ideia de que essas vestes retratam Cristo em Seu ministério atual como o Sumo Sacerdote é um pensamento maravilhoso. Cristo não se esqueceu dos crentes perseguidos; Ele não abandonou Sua noiva; Ele está operativo em sua tarefa de Sumo Sacerdote.
O escritor de Hebreus retratou a superioridade do contínuo ministério de Cristo ao escrever que o nosso Sumo Sacerdote também pode salvar totalmente os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles (Hebreus 7.25).
Nós temos um Sumo Sacerdote que pode compadecer-se das nossas fraquezas... foi ele tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado (Hebreus 4.15).
O vestuário de Cristo claramente fala de Sua advocacia e Sua superioridade ao conquistar para nós acesso ao tribunal celestial.
- Segundo, Sua cabeça e cabelo falam de Sua eternidade.
Veja Apocalipse 1.14a:
A sua cabeça e cabelos eram brancos como alva lã, como neve…
Essa é uma referência ao trono de Deus e à imagem que Daniel contemplou ao ver o Ancião de Dias com seu cabelo branco, sugerindo a glória de sua longevidade.
Agora, essa mesma descrição nessa visão é atribuída a Cristo, o qual é igual ao Pai.
A cor branca é uma tradução do termo grego leukos, o qual tem uma conotação de algo “brilhoso.” A cor simboliza a existência gloriosa, santa, pura e eterna de Deus o Filho.
João vê Jesus manifestando fisicamente um senso de idade—Aquele que é eternamente passado, presente e futuro, sem começo ou fim.
- Terceiro, Seus olhos revelam Sua percepção.
João ainda menciona em Apocalipse 1.14b:
...os olhos, como chama de fogo.
O anjo Gabriel é retratado de forma semelhante. O que temos aqui é aquele olhar de inteligência espiritual que sonda e discerne. Cristo consegue cortar e penetrar em nosso ser, enxergar por trás de nossa máscara e fachada. Ele ainda será descrito dessa mesma maneira em Apocalipse 2.18 e 19.12.
Essa é uma imagem impressionante da percepção de Cristo. Nada escapa ao Seu olhar.
O comentarista Matthew Henry escreveu, “Deus não somente vê o homem, mas Ele também esquadrinha o homem.”
O Senhor caminha com percepção e discernimento em meio aos Seus candeeiros—Suas igrejas—e Ele vê tudo e todos.
Imagine o nosso Senhor, no momento em que O cultuamos na igreja, apesar de invisível aos nossos olhos, vestido em um manto real de Sumo Sacerdote, Rei e Profeta, andando pelos corredores da igreja, passando por cada banco, olhando para nós com olhos de sabedoria e discernimento divinos enquanto passa vendo nossos corações e pensamentos, conhecendo nossos motivos, planos e desejos.
É por bom motivo que, quando João vê o Senhor, ele cai no chão como homem morto (Apocalipse 1.17).
E a visão ainda não acabou.
- Quarto, Seus pés falam de Sua supremacia.
João se refere aos pés do Senhor em Apocalipse 1.15a:
os pés, semelhantes ao bronze polido, como que refinado numa fornalha...
Na antiguidade, os reis se assentavam em tronos elevados de maneira que os que eram por eles julgados sempre se encontravam debaixo dos seus pés. Por isso, a expressão “os pés do rei” passou a se referir à autoridade. Nesse verso, existem os pés vermelhos brilhantes de Cristo, o qual caminha pela igreja exercendo Sua análise perfeita do coração, posição e obras de todos.
- Quinto, Sua voz indica Sua autoridade divina.
João continua em Apocalipse 1.15b:
...a voz, como voz de muitas águas.
Um dia, quando Cristo falar, o mundo inteiro ouvirá, apesar de agora os pecadores emudecerem Seu Evangelho e zombar de Suas palavras.
Imagine tentar argumentar com as cataratas de Foz do Iguaçu. Tente encobrir o barulho das águas com sua voz medíocre. Caminhe no tablado ao lado, ou suba no barco e se aproxime das cachoeiras. Depois, grite com toda a força de seus pulmões para afogar o som das águas.
A voz de Cristo afogará a voz medíocre do homem. Na verdade, em Sua presença no julgamento final, o mundo ficará calado ao reconhecer em total terror que todos, diante dEle, devem prestar contas e são culpáveis (Romanos 3.19).
- Sexto, Sua mão direita se refere à Sua soberania.
Veja Apocalipse 1.16a:
Tinha na mão direita sete estrelas...
Essa é uma referência à liderança das igrejas—Cristo controla todas com Sua mão soberana. Veja Apocalipse 1.20, onde Cristo explica as metáforas:
Quanto ao mistério das sete estrelas que viste na minha mão direita e aos sete candeeiros de ouro, as sete estrelas são os anjos [mensageiros] das sete igrejas, e os sete candeeiros são as sete igrejas.
Em outras palavras, esses mensageiros, que eram responsáveis por entregar a mensagem de Cristo à igreja, representavam a maior autoridade na igreja. Trata-se aqui dos líderes que ocupam o ofício na igreja—os “prebyteroi,” ou “presbíteros” da igreja, e mais especificamente o presbítero que lidera a igreja, conforme veremos em Apocalipse 2.
- Sétimo, Sua boca se refere à Sua indestrutibilidade.
João escreve em Apocalipse 1.16b sobre a boca de Cristo:
...e da boca saía-lhe uma afiada espada de dois gumes...
A espada se refere à defesa da igreja por Cristo, o qual destrói todas as ameaças contra Sua noiva, tanto dentro como fora da igreja, conforme veremos nas cartas que seguem essa visão.
John MacArthur escreveu o seguinte sobre essa visão, “Aqueles que atacam a igreja de Cristo, aqueles que semeiam mentiras, geram discórdia e ferem Seu povo serão tratados pessoalmente pelo Senhor da igreja. Sua palavra é poderosa.”
Isaías profetizou dizendo que, um dia, o Senhor ferirá a terra com a vara de sua boca (Isaías 11.4).
Paulo escreveu que o Anticristo será derrotado com o sopro de sua boca (2 Tessalonicenses 2.8).
John Phillips disse o seguinte sobre essa visão, “Nada detém a Palavra de Deus. Quer seja como Criador, Confortador ou Conquistador, a Palavra poderosa de Cristo é invencível.”
Essa é a indestrutibilidade da Palavra do nosso Senhor.
Imagine o significado disso para crentes vivendo debaixo do poder de Domiciano. Sua palavra poderia arrancar tudo de suas vidas; Roma estava em controle, não a igreja. Ah, mas eles não precisavam temer, pois suas vidas estavam debaixo da proteção de Cristo e Ele era soberano.
Cristo foi revelado àqueles crentes e a nós:
- Primeiro, em Sua superioridade;
- Segundo, em Sua eternidade;
- Terceiro, em Sua perceptibilidade;
- Quarto, em Sua supremacia;
- Quinto, em Sua autoridade;
- Sexto, em Sua soberania;
- Sétimo, em Sua indestrutibilidade.
Vamos ver mais um.
- Finalmente, oitavo, Seu rosto revela Sua majestade.
João escreve em Apocalipse 1.16c:
...O seu rosto brilhava como o sol na sua força.
O rosto de Cristo é como o sol? O sol irradia quatro milhões de toneladas de calor por segundo.
O mostruário fantástico do nosso Senhor foi algo tão glorioso, apavorante e majestoso que João disse em Apocalipse 1.17a:
Quando o vi, caí a seus pés como morto...
Como podemos nos aproximar dEle?
Todavia, ali mesmo no chão, com o rosto entre os braços, João ouve:
...Não temas... (Apocalipse 1.17b).
Ele já tinha ouvido essas palavras antes quando ele ficou aterrorizado no meio de uma tempestade no mar com os demais discípulos. O Senhor veio andando por sobre as águas e lhes disse,
...sou eu; não temais (João 6.20).
“João, não tenha medo; sou Eu,”
...o primeiro e o ultimo e aquele que vive; estive morto, mas eis que estou vivo pelos séculos dos séculos e tenho as chaves da morte e do inferno (Apocalipse 1. 17b–18).
Você alguma vez já perdeu suas chaves e ficou com o carro, escritório ou sua casa trancada?
Jesus diz, “Eu tenho as chaves da morte e do Hades.”
Ou seja, “Crente, ninguém pode trancar você dentro, nem impedi-lo de entrar.”
Aplicação
- Mesmo quando a vida é interrompida, o nosso Senhor continua intercedendo.
Você se encontra em algum lugar árido e incômodo? O seu Sumo Sacerdote passeio no mio de tudo neste exato momento; Ele sussurra ao Pai suas necessidades e segura cada aspecto em Suas mãos graciosas.
Para os que sofrem injustiças, incertezas e tribulações—você jamais está sozinho.
Quando Jim Denison estava na faculdade, ele foi para a Malásia durante as férias em uma viagem missionária. Enquanto esteve lá, ele trabalhou em uma igreja pequena. Durante um dos cultos nessa igreja, haveria o batismo de uma das adolescentes que frequentava a igreja. Conforme o costume do lugar, ela havia anunciado ao pastor e à igreja que tinha decidido comprometer sua vida a Cristo e desejava ser batizada publicamente como testemunho de sua fé em Cristo. No decorrer do culto, Jim viu algumas malas velhas encostadas na parede de trás da igreja. Depois do culto, ele perguntou ao pastor o que eram aquelas malas. O pastor apontou para a adolescente que tinha acabado de ser batizada e disse, “O pai dela disse que, se fosse batizada como cristã, ela jamais poderia voltar para seu lar. Então, ela já trouxe suas malas.”
- Mesmo quando a vida se encontra em densas trevas, podemos continuar seguindo o nosso Senhor com confiança.
Que grande domingo foi esse para João! Até onde ele sabia, ele nunca mais voltaria para casa.
Nessa época, tanto para João como para nós agora, quando crentes encaram seus maiores momentos de insegurança, Deus nos relembra de Sua supremacia. Deus a revelou a João e a nós hoje.
Este manuscrito pertence a Stephen Davey, pregado no dia 27/01/2008
© Copyright 2008 Stephen Davey
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