Curando A “Consumite” Aguda

Curando A “Consumite” Aguda

Ref: Philippians 1–4

Curando A “Consumite” Aguda

Filipenses 4.11–13

Introdução

Vários anos atrás, um documentário foi realizado sobre o consumismo que afeta basicamente todas as pessoas e todas as coisas. Com bastante frequência, vemos exemplos disso na sociedade. Um dos maiores exemplos surge na época de final de ano quando as pessoas começam a comprar presentes de Natal. Além disso, ainda existe a moda de fazer as compras do Black Friday, quando lojas supostamente baixam os preços de seus produtos.

Em uma loja em particular, quando o funcionário abriu as portas, 2 mil pessoas correram o mais rápido que puderam que até acabaram arrebentando as dobradiças das portas. Em meio àquela loucura, o funcionário acabou sendo pisoteado e morreu ali mesmo nos pés da multidão.

Até mesmo depois de a polícia haver chegado, os policiais foram empurrados pelos comerciantes que corriam para dentro da loja. Quando a polícia pediu que as pessoas mantivessem a ordem no local, compradores discutiram com eles enquanto se esbarravam uns nos outros sem nem mesmo oferecer qualquer ajuda.

Sem dúvida alguma, você não vai arriscar perder a oportunidade de comprar um item a preço de banana para ajudar outra pessoa. Afinal, pessoas não são tão importantes quanto produtos, especialmente depois de você haver esperado desde a madrugada para ser a primeira pessoa a entrar na loja.

Isso é consumismo em sua manifestação mais diabólica.

A verdade é que cada pessoa nasce infectada com essa doença terminal; esse é apenas mais um sintoma na epidemia do “eu, meu e mim mesmo.” E a geração passada parou de oferecer à geração presente o antídoto do sacrifício pessoal, humildade e paciência.

Uma pesquisa popular apontou que 26% das crianças passam a ter uma televisão e seu quarto aos dois anos de idade. Empresas de publicidade investem quinze bilhões de dólares todo ano para atrair especialmente a atenção de crianças de idade entre dois e doze anos. Cada criança ouvirá em média 40 mil vezes por ano que ela não tem o suficiente, que o que tem não é o mais novo, bom o suficiente, legal o suficiente ou divertido o suficiente.

Um artigo que li recentemente relatou os resultados de um estudo que revelou que, por volta da idade de dois anos, crianças já reconhecem logotipos e começam a pedir coisas com base no nome de marcas. Cerca de vinte e três bilhões de dólares são gastos todos os anos em brinquedos apenas.

Se você pensa que as crianças não estão infectadas realmente um artigo estima que, em apenas um ano, crianças influenciarão mais de seiscentos bilhões de dólares de compras, desde lanches que comem a carros que seus pais dirigem.

Eu também encontrei vários artigos nos quais grupos de pais estavam escrevendo cartas a empresas de publicidade pedindo que parassem de alvejar seus filhos, e dizendo como propagandas são injustas e danosas aos seus filhos.

Meu desejo foi escrever para esses pais dizendo: “Desligue a televisão!”

A verdade é que o problema é mais profundo do que televisão; pelo menos espero, já que planejo assistir a um futebol mais tarde. E o problema não é a compra de produtos em liquidação. O problema não é aquilo que possuímos, mas aquilo que nos possui. A questão não é a posse, mas a preocupação.

As pessoas em geral se preocupam com o desejo de possuir mais uma coisa simplesmente porque é a mais nova, maior, menor, mais bonita, mais legal, mais popular, mais rápida ou mais recente.

A “consumite” aguda é um sentimento excessivo, escravizador e insatisfatório que resulta do esforço de tentar possuir as mesmas coisas que o seu vizinho.

Efeitos da “Consumite” Aguda

O problema é que o Cristianismo não é uma vacina contra a “consumite.” Por esse motivo, Tiago escreveu para crentes repreendendo-os da seguinte forma: invejais e nada podeis obter (Tiago 4.2). Ou seja, “Você inveja o que a outra pessoa tem, mas não tem dinheiro suficiente para compra-la.” E Tiago continua no verso 3:

pedis e não recebeis, porque pedis mal, para esbanjardes em vossos prazeres.

Meu amigo, a doença da “consumite” não é curada automaticamente no momento da conversão. Ainda mais, a “consumite” não afeta apenas o que você pensa que deveria ter, mas afeta também aquilo que você pensa que deveria ser na vida.

Na sua terceira carta, João escreve sobre Diótrefes, um homem com um caso agudo de “eumesmite;” e ele transmite sua doença para a igreja toda a vez que espirra. O apóstolo João desmascara as pretensões desse líder na igreja que havia passado a perna em muita gente. João escreve no verso 9: Diótrefes, que gosta de exercer a primazia...

No caso desse homem, a questão não é posses apenas, mas posição. João utiliza de forma negativa a mesma palavra que Paulo emprega no sentido positivo. João escreve no verso 10: [Diótrefes] não satisfeito com estas coisas. A palavra satisfeito significa “ser suficiente.”

Paulo empregou a mesma palavra quando escreveu em Filipenses 4.11: aprendi a viver contente em toda e qualquer situação.

Diótrefes era insatisfeito com a vida; ele sofria de “consumite” aguda, mas Paulo tinha a cura.

Curando a “Consumite” Aguda

Eu e minha esposa tivemos o prazer de jantar com nossos filhos semana passada e a avó materna deles. Enquanto jantávamos, cada um mencionou o nome de um personagem bíblico que rendeu graças a Deus.

Daniel, mesmo sabendo do decreto que declarava que qualquer um que fosse pego orando a outro que não o imperador Dario seria lançado na cova dos leões, entrou em seu quarto, assim como fizera antes, e rendeu graças a Deus (Daniel 6).

Um leproso, curado juntamente com outros 9 que foram embora para voltar às suas vidas, parou, voltou e agradeceu a Jesus por havê-lo curado (Lucas 17).

Jesus rendeu graças com Seus discípulos, mesmo sabendo que o Getsêmani e o Calvário estavam logo adiante (Mateus 26).

E, é claro, existe Paulo que foi encarcerado numa prisão domiciliar, acorrentado a soldados romanos. Ouça o que Paulo escreve em Filipenses 4.4, 6:

Alegrai-vos sempre no Senhor; outra vez digo: alegrai-vos… em tudo, porém, sejam conhecidas, diante de Deus, as vossas petições, pela oração e pela súplica, com ações de graças.

Três palavras se destacam aqui como impossibilidades: sempre, tudo e ações de graças. Não há brecha alguma em torno das palavras sempre, tudo e ações de graças.

Talvez você seja tentado a dizer: “Bom, é exatamente por isso que Paulo era um apóstolo! Apóstolos faziam essas coisas e, além do mais, apóstolos deviam agir assim mesmo!”

Isso não é verdade. Na realidade, Paulo nos revela um pouco de seu testemunho pessoal nessa cena emocionante e honesta. Ao fazer isso, ele nos fornece a cura para a “consumite” aguda. Veja o verso 11:

Digo isto, não por causa da pobreza, porque aprendi a viver contente em toda e qualquer situação.

Voltarei a isso daqui a pouco, mas sublinhe a palavra aprendi. Continue no verso 12 e também sublinhe a expressão tenho experiência:

Tanto sei estar humilhado como também ser honrado; de tudo e em todas as circunstâncias, já tenho experiência, tanto de fartura como de fome; assim de abundância como de escassez;

A palavra contente em aprendi a viver contente é o termo grego autarkes, que pode ser traduzido como “uma atitude interior de suficiência,” ou simplesmente, “ter o suficiente.”

Paulo nos revela nada menos do que uma maneira radical de pensar: “Aprendi a como pensar com gratidão.” Ele revela o que podemos chamar de “Três Passos para Curar a ‘Consumite’ Aguda.”

Três Passos para Curar a “Consumite” Aguda

  • Primeiro: aceite o fato de que o contentamento não é uma característica de personalidade, mas uma disciplina.

Talvez você já tenha lido essa passagem em Filipenses antes e pensado: “Queria muito ter a mesma personalidade do apóstolo Paulo; queria possuir o dom do contentamento.”

Mas veja bem que não foi isso o que acabamos de ler. Paulo escreve: aprendi (v. 11). Essa é a mesma palavra traduzida em outros lugares como “disciplinar-se.” Ou seja, “No decorrer de longos anos de discipulado, seguindo e aprendendo com Cristo, aprendi a pensar com gratidão, não importa onde esteja e o que aconteça.”

O primeiro passo para curar a “consumite” é aceitar o fato de que um espírito grato e contente não tem nada a ver com nossa personalidade, mas tudo a ver com nossa mente disciplinada. Cada murmuração aprofunda ainda mais as raízes do descontentamento em nossos corações; cada palavra grata disciplina e transforma nossa perspectiva um pouco mais. Essa disciplina é um esforço consciente de imitarmos a atitude de nosso Mestre, o Senhor Jesus.

Charles Spurgeon, o pregador e mestre eloquente inglês dos anos de 1800, escreveu em seu devocional sobre esse verso em particular:

Não precisamos ensinar os homens a murmurar; eles murmuram rápido o suficiente sem qualquer instrução. O contentamento, por outro lado, precisa ser cultivado. Não contemple a ideia de que pode ter contentamento sem aprender, ou de que pode aprender sem disciplina. O contentamento nunca é exercido naturalmente, mas é uma ciência adquirida sobrenaturalmente. Meu irmão, silencie aquele pensamento murmurador, por mais natural que seja, e continue sendo um aluno diligente na Escola do Contentamento.

Primeiro, aceitamos a realidade de que o contentamento não é uma característica de personalidade, mas uma disciplina aprendida com o decorrer do tempo.

  • Segundo, aceitamos o fato de que o contentamento não diminui com as provações, mas desenvolve.

Veja novamente a primeira parte de Filipenses 4.12. Vou ler devagar para destacar algumas palavras que são repletas de sentimento. Paulo escreve: Tanto sei estar humilhado.

A palavra humilhado apareceu antes nesta carta, no capítulo 2, quando Paulo falou sobre a disposição de Jesus Cristo a se humilhar e aceitar a posição de encarnado. Ele nasceu de pais humildes, foi envolvido em pano simples e, evidentemente porque Maria e José estavam exaustos e precisavam dormir, Ele foi colocado no local em que animais se alimentavam num estábulo. É impossível fazer da humilhação de Cristo algo ainda mais dramático do que isso.

Paulo emprega a mesma palavra nesse verso para se referir à sua própria humilhação. Essa é, sem dúvida alguma, uma referência à prisão na qual se encontra. Um comentarista sugeriu que Paulo talvez esteja insinuando a própria entrega voluntária de seus direitos pessoais pela igreja primitiva ao ser difamado, maltratado, mau entendido e até ignorado em seu encarceramento.

O contentamento não surge na sua vida porque você venceu as situações, mas porque aprendeu a viver com elas.

Paulo ainda diz um pouco mais adiante no verso 12: já tenho experiência, tanto de fartura. Em outras palavras, “Sei como viver em abundância.”

Você já parou para pensar que muitas pessoas que vivem na prosperidade vivem vidas miseráveis, enquanto muitas que passam necessidades vivem vidas felizes?

Quão contente é você com as coisas que possui? A verdade é que, quando oferecemos ações de graças a Deus, geralmente colocamos a conjunção “mas” depois:

  • “Obrigado, Senhor, pelos meus amigos, mas gostaria de ter mais.”
  • “Obrigado, Senhor, pela minha saúde, mas será que o Senhor pode resolver minha artrite?”
  • “Obrigado, Senhor, pela minha casa, mas preciso de um guarda-roupas novo.”
  • “Obrigado, Senhor, pela minha igreja, mas a pregação é demorada demais.”

A verdade é que temos muitas coisas e não sabemos como lidar com elas com um espírito de contentamento.

Quando o cálice do crente em geral termina, ao invés de agradecer a Deus, ele reclama pelo tamanho do cálice. Paulo diz: “Já vivi com um cálice transbordante e com um cálice vazio.”

Você percebeu que Paulo vai de um extremo a outro no verso 12? De abundância de comida a escassez; de abundância a grande necessidade. Mesmo assim, ele escreve, “Aprendi a viver contente.”

Paulo era contente de um extremo a outro, o que significa que mudança nas condições de vida não elimina o contentamento, mas fornece um novo ambiente para ele ser desenvolvido.

Wiersbe escreveu que a mente disciplinada enxerga a vida, não como uma série de acontecimentos acidentais, mas como uma série de agendamentos. Ele escreveu: “Portanto, alegre-se; isso é melhor do que ser feliz porque felicidade depende daquilo que acontece; é possível ser alegre mesmo quando as coisas dão errado.”

Esse é o sentimento interno de satisfação descrito pelo apóstolo Paulo nesse texto, escrito com uma lamparina ao seu lado numa prisão.

Se você deseja curar a “consumite” aguda:

  • aceite o fato de que o contentamento não é uma característica de personalidade, mas uma disciplina;
  • aceite o fato de que o contentamento não diminui com as provações, mas desenvolve.
  • Terceiro, aceite o fato de que o contentamento nunca canta um solo, mas faz um dueto.

Paulo descreve sua experiência pessoal nos versos 12 e 13:

Tanto sei estar humilhado como também ser honrado; de tudo e em todas as circunstâncias, já tenho experiência, tanto de fartura como de fome; assim de abundância como de escassez;

Aqui está o segredo da experiência de Paulo:

tudo posso naquele que me fortalece.

Infelizmente, esse verso geralmente é retirado de seu devido contexto e aplicado a tudo na vida. Todavia, o contexto da passagem indica que o tudo ao qual Paulo se refere são os extremos da vida. Ele diz: “Posso suportar perder meus direitos, viver com pouca comida e conforto, sobreviver nessa prisão com alegria e com uma satisfação interior que se expressa por meio do contentamento.”

Paulo diz: “Sei lidar com os bons êxitos de conquistas, sucesso, riqueza e muita comida e conforto; sei reagir a essas coisas com humildade, graça e gratidão.”

Ou seja, “Sei lidar com os extremos da vida com equilíbrio e graça; fico satisfeito na vida com ambos os lados desse espectro.”

Como? “Pelo poder de Cristo que habita em mim.”

J. B. Phillips traduziu esse verso da seguinte forma: “Estou pronto para qualquer coisa através do poder daquele que vive dentro de mim.”

Esse não é o poder do pensamento positivo, a propósito, mas o poder de um pensamento centrado em Cristo e de uma vida centrada em Cristo. Isso conduz a uma satisfação interior—a cura para a “consumite” aguda é a presença interior daquele a quem rendemos todas as coisas.

Lembre-se apenas de se tata de um dueto, não de um solo. Cristo não o forçará a ser grato; Ele capacitará sua mente disciplinada. Cristo não fará de você uma pessoa grata, mas Ele o ajudará a transformar seu coração e mente. Paulo disse: “Posso,” significando, “irei,” e Cristo participa dizendo: “Eu o capacito a fazer isso.”

Com o passar do tempo, podemos aprender—assim como esse apóstolo velho de cabelos grisalhos, sentado em cadeias, aguardando ser chamado diante do imperador para ser executado—o segredo do contentamento e da satisfação.

  • O contentamento não é uma característica da personalidade, mas uma disciplina.
  • O contentamento não diminui com as provações, mas desenvolve.
  • E o contentamento nunca faz um solo, mas um dueto.

Assim como Paulo, Daniel e nosso Senhor, também podemos encarar ameaças, dificuldades, prisões e Getsêmanis e dar graças ao mesmo tempo: sempre... em tudo... com ações de graças.

Que desafio dizer com o apóstolo Paulo: “Estou satisfeito com tudo e pronto para qualquer coisa pelo poder daquele a quem me submeti; ele vive dentro de mim, capacitando-me a demonstrar um estilo de vida curado da ‘consumite’ aguda; uma vida marcada de forma singular pela satisfação e pela gratidão.”

 

Este manuscrito pertence a Stephen Davey, pregado dia 30/11/2008

© Copyright 2008 Stephen Davey

Todos os direitos reservados

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