O Soberano Se Tornou Um Escravo

O Soberano Se Tornou Um Escravo

Ref: Philippians 1–4

O Soberano Se Tornou Um Escravo

Humildade—Parte 5

Filipenses 2.8

Introdução

O mundo fica intrigado com os ricos, poderosos e famosos. Revistas, como a americana Forbes, trazem uma lista anual das 100 maiores celebridades e dos 400 mais ricos; outras, como a Fortune 500, anunciam quais são as empresas mais poderosas e ricas; e ainda outras fontes de notícia trazem a lista das 10 pessoas mais poderosas do mundo.

Um tempo atrás, me deparei com uma notícia na internet com uma mudança inesperada: “As 100 Pessoas Menos Poderosas do Mundo.” Dentre elas, estava o ex-presidente de uma empresa de petróleo que, após um incidente de derramamento de petróleo no Golfo do México, ficou desgraçada. A lista incluía ainda investidores, como dois irmãos da Índia, que perderam bilhões de dólares na última crise financeira mundial.

Nesse meio estavam celebridades de Hollywood que estão envelhecendo, cujo rosto e reputação foram arruinados por causa de muitas viagens ao cirurgião plástico. Também muitos atletas que antes exigiram a atenção do mundo, mas que hoje não importam mais.

Todos esses indivíduos—e eu li todos os 100 nomes—estão dentre as pessoas hoje consideradas pelo mundo como as menos poderosas, quer por causa de decisões tolas nos negócios, maus investimentos, fracasso moral, falta ou perda de talento, mudança de circunstâncias. Contudo, o que desejo destacar é o seguinte: nenhuma dessas pessoas escolheu perder todo seu poder. Nenhuma delas se voluntariou para isso. E quem se voluntariaria?!

Eu sei de Um que se voluntariou; e você sabe de quem estou falando. Quando o Deus Filho veio à Terra e se tornou o Filho do Homem, Ele escolheu uma posição sem poder e o estilo de vida de um escravo. E não existe alguém menos poderoso do que um escravo.

Em sua carta aos Filipenses Paulo usa o exemplo de Cristo como o exemplo mais supremo de humildade e nos convoca a imitar o Senhor. Se você esteve conosco em nossos últimos estudos, então sabe que o apóstolo Paulo começa citando um hino antigo—muito provavelmente um dos hinos mais antigos da igreja primitiva. E esse hino, assim como qualquer bom hino, está cheio de verdades teológicas. Em nossos últimos estudos, temos analisado a letra desse hino em Filipenses 2, começando no verso 5:

  • Esse é um hino sobre a encarnação—quando o Deus Filho assumiu a carne humana;
  • Esse hino fala da Sua humilhação—quando Cristo se tornou um doulos, um escravo;
  • Esse hino é sobre Sua crucificação e Sua morte;
  • E esse hino termina com a exaltação e vindicação final de Cristo—quando toda língua confessar que Ele era e ainda é o Senhor soberano.

Agora, a fim de mantermos o hino dentro do contexto de Filipenses e do uso que Paulo faz da encarnação de Cristo como o maior exemplo de humildade—a abnegação de Seus direitos pessoais—sugeri quatro direitos pessoais diferentes que o Deus Filho abnegou quando desceu à Terra.

  • O primeiro direito que Cristo abnegou foi o direito de viver como Deus.

Lemos no verso 6:

pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus;

No idioma original, essas palavras são mais expressivas na declaração de que, apesar de Jesus haver pré-existido com a mesma essência e natureza do Deus Pai como o Deus Filho, ele não se agarrou aos seus direitos iguais com o Deus Pai. De fato, Cristo abriu mão do direito legítimo que tinha de viver como Deus.

  • Segundo, Cristo abnegou o direito de agir como Deus.

O verso 7a diz:

antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo...

Então, o Senhor soberano se tornou um escravo em Sua humilhação. Por causa dessa transformação, Ele se recusa a manifestar Seu poder e atributos para Sua própria conveniência ou conforto.

  • Em seguida, vimos que o terceiro direito que Cristo abnegou foi o direito de se parecer como Deus.

A letra do hino diz na segunda parte do verso 7:

...tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana,

Em outras palavras, antes de Sua encarnação, Cristo estava revestido de esplendor inimaginável; mas, com a encarnação, em profunda humildade, conforme diz o profeta Isaías, Cristo escolheu o rosto e corpo de um homem judeu em nada atraente aos olhos das pessoas (Isaías 53.2).

Já que ele poderia ter escolhido qualquer coisa, desde o tamanho do nariz até sua estatura, Jesus poderia ter sido o homem mais bonito de toda terra. Apesar disso, ele apenas aumenta sua demonstração de humildade não somente ao se tornar homem, mas ao escolher ser um homem ordinário, comum. E ele foi, de fato, tão normal, sem causar impressão alguma nas pessoas que, quando anunciou quem era, os líderes judeus disseram: Não é este o filho do carpinteiro?... E escandalizavam-se nele (Mateus 13.55–57).

E é o seguinte: se tivéssemos vivido no século primeiro, teríamos ecoado as palavras de todas as pessoas ao Seu redor; teríamos dito: “Olha, nós jamais vimos o Filho de Deus; mas, sem dúvida alguma, você não pode ser Ele.”

Quando a princesa Elizabeth e o Duque de Edinburgo se casaram em 1947, o rei Faisal, o monarca do Iraque que tinha apenas doze anos de idade, estava entre os dignitários que visitaram Londres para ver aquele casamento espetacular. As pessoas estavam enfileiradas na rua principal de Londres que leva à catedral para, talvez, conseguir ver o casal real quando passassem. O rei Faisal não estava muito interessado, mas queria ver os cavalos que levavam as carruagens na estrada. Então, ele se vestiu com seu manto oriental, passou pelo meio da multidão para ver melhor. Daí, um policial o pegou pelo braço e mandou que ficasse fora do caminho. Isso era o que um policial naturalmente diria a um menino de doze anos que não se encaixava na cena. Somente depois descobriram que o garoto de doze anos era o rei do Iraque e os pedidos de desculpas vieram em grande número. Nos principais jornais de Londres naquele dia, as matérias das capas foram: “Desculpe-nos, rei Faisal, não sabíamos que era você.”

Não sabíamos que era você! E isso me conduz ao quarto e último direito que Cristo abnegou em Sua humildade e encarnação:

  • O quarto direito que Cristo abnegou foi o direito de ser tratado como Deus.

Paulo escreve no verso 8:

A si mesmo se humilhou—ou seja, Ele se colocou numa posição inferior—tornando-se obediente até à morte e morte de cruz.

Cristo, portanto, se colocará numa posição inferior a ponto de morrer. A propósito, essa frase é mais uma marca que indica que Jesus é mais do que os olhos conseguem ver. Sua morte exigiu obediência.

A nossa morte não exige obediência. Para nós, a morte não é uma questão de obediência. Morremos, quer queiramos ou não. Para nós, a morte não é opcional—ela é uma exigência, e é tão certa quanto os impostos. Preferimos não falar sobre ela, e faremos todo possível para evita-la.

Meus pais me contaram um tempo atrás que, quando eu era adolescente, numa viagem de família, ficamos hospedados num hotel; eu e meus irmãos estávamos compartilhando uma casa grande de casal. Em torno da meia-noite, minha mãe disse que eu de repente me sentei na cama e gritei uma palavra: “Morte!” Em seguida, me deitei e voltei a dormir.

Sem qualquer razão ou provocação aparente, eu simplesmente me sentei na cama e gritei “morte;” e depois voltei a dormir. É claro que acabei com a noite tranquila de sono da minha mãe.

A morte é um assunto com o qual não ficamos ansiosos de nos envolver, apesar de sabermos o que existe do outro lado. E não sabemos quando ela acontecerá. Jesus, por outro lado, sabia. E é exatamente isso o que Paulo quer dizer aqui com tornando-se obediente até à morte e morte de cruz. Em outras palavras, para que Cristo experimente a morte, será necessária obediência. Foi isso o que Ele quis dizer quando afirmou em João 10.18:

Ninguém a tira de mim; pelo contrário, eu espontaneamente a dou. Tenho autoridade para a entregar e também para reavê-la. Este mandato recebi de meu Pai.

Na cruz, Jesus demonstrou essa obediência quando rendeu Seu espírito na morte ao Pai (João 19.30). O verbo rendeu se refere ao ato de dar voluntariamente.

Em outras palavras, Paulo diz aqui, com efeito: “Jesus morreu no exato momento em que decidiu morrer; e tudo foi um ato de obediência até o momento da morte. E essa foi uma obediência à vontade de Seu Pai, conforme ambos haviam predeterminado antes da fundação do mundo.”

A morte de Cristo não foi um acidente, mas um plano.

Posteriormente, Pedro pregaria a nação de Israel atônita: “O homem que vocês mataram foi, na verdade, determinado com antecedência por Deus para morrer exatamente daquela maneira e por aquele motivo” (Atos 2.23).

Portanto, da perspectiva da humanidade e dos eventos de Sua morte, Jesus foi assassinado; mas, da perspectiva do Deus Triúno e do plano de redenção, Cristo não foi assassinado, mas sacrificado. Ele foi o Cordeiro de Deus que tira pecado do mundo (João 1.29). E Seu último ato de obediência—numa vida de obediência perfeita—foi render Seu espírito em morte ao Seu Pai.

Paulo ainda adiciona mais uma declaração aterrorizante no verso 8: e morte de cruz.

Precisamos fazer uma pausa neste ponto em maravilha e ponderar nisso por um instante, conforme o Espírito de Deus deseja que façamos. Cristo se tornou obediente até à morte e—como que dizendo, se você consegue imaginar isto—morte de cruz. Cristo abriu mão do Seu direito de ser tratado como Deus. A morte na cruz foi o maior insulto do pecador e o maior ato de humildade de Deus.

Em 1 Coríntios 1.23, Paulo escreveu que, para os gentios, a morte de Cristo na cruz foi a maior tolice, caso tenha Ele sido, de fato, o Filho de Deus. Deuses não morrem. Paulo também escreveu na mesma passagem que, para os judeus, a crucificação de Cristo foi uma pedra de tropeço; ou seja, eles jamais superariam o fato de que sua própria lei (Deuteronômio 21.23) afirmava claramente que qualquer pessoa morta no madeiro—o que incluía a crucificação—era amaldiçoada por Deus. Isso significa que, se tivesse sido o Filho de Deus, Jesus não teria se tornado maldito pela crucificação; e se Ele tivesse sido verdadeiramente Deus em carne, o Messias de Israel, Ele jamais teria morrido.

Os judeus aguardavam um Messias libertador, governante e que derrotaria seus inimigos; Jesus não poderia ser o Messias.

Quando eu estive em Israel, fui até o local onde arqueólogos descobriram as ruínas do palácio do rei Davi. As paredes desse palácio ficam debaixo de um Centro Turístico e foi uma descoberta recente. Eles construíram um alicerce para o suporte do Centro Turístico e escavaram toda a parte de baixo de forma que podemos ver as paredes da casa de Davi.

Nesse Centro Turístico, existe uma loja de presentes com vários livros com fotos; fiquei ali enquanto aguardava meu grupo que saía do aqueduto construído pelo rei Ezequias. Não havia mais ninguém na loja e a atendente israelense atrás do balcão não tinha muita coisa para fazer. Comecei uma conversa sobre algumas descobertas recentes na cidade velha de Davi. Após alguns minutos, fui direito ao ponto e disse: “Me diz uma coisa: quando você ouve cristãos falando que Jesus é o Messias, qual é o argumento mais forte que você tem para afirmar que Jesus não é o Messias?”

Sem nem piscar o olho, ela respondeu: “Ele não é o Messias porque Ele morreu.” E ela continuou: “E Ele não trouxe paz. Qual é a vantagem disso?”

Que tipo de Messias é esse? Ele morreu!

Antes que eu pudesse falar para ela que Isaías disse que o Messias viria primeiro para sofrer e que depois voltaria para trazer paz e reinar sobre a Terra, outros turistas entraram na loja. Mas ela respondeu com toda convicção: “Ele não é o Messias porque morreu.” Essa é a pedra de tropeço e tem permanecido a pedra de tropeço para Israel nos últimos 2 mil anos.

E Paulo lida com isso, tanto em relação aos gentios que dizem que um deus morto é loucura, como em relação aos judeus que se escandalizam com esse pensamento. Paulo escreve sobre a cruz, ele se gloria na cruz, explica a cruz e redefine a cruz.

Na verdade, Paulo escreve em Gálatas que Cristo veio carregar o nosso pecado e sofrer a maldição e ira de Deus por nossa causa:

Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se ele próprio maldição em nosso lugar (porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado em madeiro) (Gálatas 3.13).

Em outras palavras, foi exatamente para isso que Jesus veio e foi sacrificado na cruz. Ele abnegou Seu direito de ser tratado como Deus e, em profunda humildade, carregou a maldição do pecado e a ira de Deus para que não permanecêssemos amaldiçoados por Deus por toda eternidade.

Todavia, para o mundo em geral, até mesmo na época em que a igreja primitiva entoava esse hino sobre a humildade de Cristo, a crucificação estava, simplesmente, muito além da humilhação, e já era um horror e uma degradação.

Na verdade, foi a crucificação que separou o Cristianismo de todas as demais religiões e a tornou repulsiva; a humanidade preferiria muito mais adorar um deus que matava as outras pessoas ao invés de um deus morto pelas pessoas; que tipo de deus é esse? Isso era inimaginável, especialmente para o mundo de Paulo.

A crucificação havia sido inventada pelos persas porque eles queriam uma forma de matar alguém sem que o morto tocasse em sua deusa, a Terra. Os cartagineses, naturais da cidade de Cartagena no norte da África, desenvolveram a prática, os gregos a popularizaram e os romanos aperfeiçoaram a tortura. A crucificação acabou se tornando o método de punição para os que não eram cidadãos romanos.

O filósofo romano Cícero que morreu 50 anos antes do nascimento de Cristo escreveu: “Amarrar um cidadão romano é crime; açoitá-lo é uma abominação; golpeá-lo é quase um ato de homicídio; crucifica-lo é—o que? Nem sequer existe um termo apropriado que possa descrever ato tão terrível.”

Josefo, o historiador judeu do século primeiro e testemunha da tomada e destruição de Jerusalém pelo general romano Tito no ano 70 d.C., escreveu que os judeus que tentaram escapar da cidade e que foram pegos sabiam que era tarde demais para um apelo de misericórdia. Então, eles foram primeiramente açoitados, depois torturados e, antes de morrer, foram crucificados diante do muro de Jerusalém. O general romano Tito sentiu pena deles, mas já que havia tantos que tinham tentado a fuga—quase 500 por dia—seria arriscado demais deixa-los ir ou mantê-los sob a vigilância de soldados. Então, ele deixou seus soldados fazerem o que desejassem na esperança de que o cenário tenebroso de centenas de cruzes levasse os demais cidadãos a se render. Então, os soldados, por seu ódio pelos prisioneiros, pregaram em diferentes posições os que encontraram e os escarneceram. O número desses foi tão grande que não houve cruzes suficientes para todos os corpos.

Parte de nosso entendimento errado sobre a morte do Senhor se deve ao fato de que a igreja, no decorrer dos séculos, transformou a cruz num símbolo romântico—Jesus sangrou um pouco e foi pendurado simetricamente numa cruz de 3 metros de altura.

A cruz romana, na verdade, tinha em torno de 2 metros de altura. A vítima era pregada numa barra transversal, erguida e essa trave era encaixada numa barra vertical pré-fixada no chão. Essas barras verticais geralmente ficavam sobre um morro permanentemente ou próximas da estrada. Em seguida, a vítima era escorada num assento de madeira que ficava no centro da barra vertical e seus pés pregados.

A vítima poderia ficar ali por vários dias e até semanas; ela estava próxima do chão o suficiente para conversar com alguém, ser zombada, cuspida e até esbofeteada. Muitos dos crucificados morriam em insanidade.

Outro aspecto da crucificação que fez dela a mais vil de todas as formas de execução era que a maioria das vítimas não era sepultada ou enterrada; elas eram simplesmente deixadas para sofrer, morrer e serem consumidas por animais selvagens. Sob o governo de Domiciano, um imperador do século primeiro, existe o registro de um ladrão que foi crucificado e, pouco tempo depois, despedaçado por um urso.

Além disso, havia urubus que recebiam nomes com base nos lugares de crucificação porque sobrevoavam o lugar, sempre prontos para descer e comer os restos dos mortos. Um poeta romano do século primeiro chamado Juvenal escreveu: “O urubu voa apressadamente do gado e do cão morto e da cruz para levar comida para seus filhotes.” Outro registro do século primeiro fala de um homem crucificado como presa para as bestas-feras e pássaros.

Agora, se os romanos precisassem da cruz para outra vítima e não tinham tempo para esperar que os animais selvagens resolvessem o problema—ou se os judeus quisessem alguma vítima fora da cruz por causa das celebrações do Sábado—que foi o caso com Jesus—os soldados quebravam as pernas da vítima e a empurrava de cima de seu assento para que morresse mais rapidamente por asfixia. Talvez você se lembre que os soldados quebraram as pernas dos dois ladrões ao lado de Jesus, mas o Senhor já tinha morrido (João 19.33).

Esse era o motivo porque o mundo gentio considerava como loucura a adoração a um Deus crucificado. Um escritor do século primeiro afirmou que os cristãos eram vistos como pessoas que adoravam um criminoso e sua cruz.

Lucius Caecilius, um banqueiro romano bem-sucedido que viveu na época da morte de Cristo, escreveu que os cristãos pregavam ilusões: “Eles são uma superstição louca e sem sentido que conduz à destruição da verdadeira religião; isso para não mencionar outra monstruosidade da sua fé: eles adoram um que foi crucificado.”

É fácil de entender por que o mundo criava repulsa diante da ideia de que o Cristianismo havia sido fundado por um aldeão que tinha sofrido uma morte tão vil.

Mas precisamos entender outra questão crítica em torno da crucificação: essa era uma forma de execução reservada primeira e principalmente para escravos. Escravos não tinham direitos; não havia justiça para defende-los; eles não eram donos de posses e não recebiam nada em retorno pelo seu serviço. A cruz passou a ser associada, como um escritor romano disse, “à sentença de escravos, à punição para escravos.”

Não havia como não entender o que Paulo estava dizendo aqui. A igreja primitiva teria imediatamente conectado a referência de Paulo no verso 7 a assumindo a forma de doulos ao verso 8, que diz que Cristo se tornou obediente até à morte e morte de cruz. Era exatamente assim que escravos eram geralmente executados.

As estrofes desse hino começam não nos conduzindo para o alto a fim de ver a glória do céu e o esplendor do Deus Triúno; mas, como escreveu um autor, elas conduzem “para baixo, baixo e mais baixo momento na história humana para contemplarmos uma tortura horrível, uma agressão física inexprimível e uma execução sangrenta de um escravo numa cruz. E esse hino celebra a morte deste Escravo na cruz.”

Ele escolheu a cruz; Ele escolheu morrer.

A propósito, não ignore o fato de Jesus Cristo, em Sua humildade e obediência, se tornar aquilo que nenhum sacrifício animal jamais foi. Esses sacrifícios foram insuficientes e eram apenas uma sombra de uma realidade futura—o Cordeiro sem mácula e infinito. Além disso, nenhum desses animais compreendia seu sacrifício, a função que cumpriam e todos morriam involuntariamente. Mas o Cordeiro de Deus foi para o sacrifício consciente, sabendo o que fazia e disposto a morrer em nosso lugar por causa de nosso pecado.

Isaías 53.7 diz: Ele foi oprimido e humilhado, mas não abriu a boca. O verbo humilhado expressa uma atitude voluntária. O Filho de Deus escolheu abrir mão de Seu poder até ao ponto de morrer.

Existem muitas analogias sobre Cristo e a cruz. Vou mencionar seis rapidamente:

  • A cruz revelou falta de misericórdia e Jesus não recebeu misericórdia alguma ao carregar nossos pecados na cruz. Ele clamou em agonia quando a ira de Deus foi derramada sobre Ele (Mateus 27.46) pois, naquele momento, ele conheceu o pecado (2 Coríntios 5.21).
  • Segundo, a cruz sempre envolveu a vergonha pública. Os romanos faziam questão de colocar a cruz sobre um morro alto ou ao lado de uma estrada movimentada para inibir outros criminosos e para a vergonha da vítima. Hebreus 12.2 se refere à vergonha de Cristo na cruz que Ele suportou voluntariamente a fim de ganhar Sua noiva.
  • A cruz era usada para os culpados de traição. Cristo chamou homens e mulheres para serem Seus seguidores a caminho de outro reino e para viver para o Seu reino. Em breve, esses seguidores morrerão por recusarem chamar César de Senhor.
  • A cruz também era usada para executar prisioneiros de guerra. O nosso Salvador foi, por pouco tempo, submetido ao pecado e capturado pela morte para que nós experimentemos a liberdade do cativeiro do inferno eterno.
  • A cruz era usada principalmente para matar escravos e inibir insurreições. Com esse hino, a igreja primitiva cantava de seu Senhor que veio e assumiu a forma de servo—se tornou obediente até a morte—para que nós, escravos do pecado, sejamos libertados e vivamos para a justiça.
  • A cruz era usada para matar criminosos violentos e ladrões. Cristo roubou violentamente o poder do túmulo e o aguilhão da morte, e esmagou a cabeça da Serpente.

Como fazer outra coisa senão cantar este hino junto com a igreja primitiva? É por isso que nós, assim como Paulo e a igreja primitiva, apesar de ser considerado loucura, cantamos até hoje sobre a cruz de Cristo. A cruz se tornou o símbolo de nossa redenção eterna.

Os romanos a utilizaram para deter o crime, punir e gerar medo. Cristo usou Sua cruz para satisfazer ira justa, carregar a nossa maldição, satisfazer a lei, remover a penalidade de nosso pecado e demonstrar o amor de Deus.

Como a maior demonstração de humildade que o mundo já viu, Jesus Cristo abnegou Seus direitos:

  • Ele jamais defendeu o que merecia.
  • Ele jamais exigiu um julgamento justo.
  • Ele recusou se defender.
  • Ele não exigiu adoração, nem mesmo respeito.

O Filho de Deus glorioso abnegou Seus direitos a fim de ser tratado da forma que não merecia ser tratado:

  • Ele abnegou o direito de viver como Deus.
  • Ele abnegou o direito de agir como Deus.
  • Ele abnegou o direito de se parecer como Deus.
  • E ele abnegou o direito de ser tratado como Deus.

Por que? O apóstolo João responde em João 1.12:

Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que crêem no seu nome;

Jesus Cristo abriu mão de tudo o que merecia para que eu e você ganhemos algo que não merecemos: ser inseridos na família de Deus—perdoados, purificados e redimidos.

Um pai da igreja em Alexandria chamado Atanásio arriscou sua vida para defender a divindade de Jesus Cristo—que Jesus era tanto Deus como homem. Ele escreveu: “A crucificação é o único tipo de morte que a pessoa pode sofrer com os braços abertos. Jesus morreu dessa forma como que convidando todas as pessoas, de todas as nações, de todas as gerações para irem a Ele.”

Esta é a humildade de Cristo: o soberano se tornou escravo para que, através de Seu sofrimento e sacrifício, sejamos salvos eternamente.

 

Este manuscrito pertence a Stephen Davey, pregado dia 29/03/2015

© Copyright 2015 Stephen Davey

Todos os direitos reservados

 

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