
Esmagando o “Reino do Eu”
Esmagando o “Reino do Eu”
Humildade—Parte 4
Filipenses 2.7b
Introdução
Em nosso encontro anterior, começamos a estudar sobre a humildade exemplificada de forma perfeita na pessoa de Jesus Cristo. Em contraste com a atitude do Senhor, o ser humano, conforme vimos, exige seus direitos; quando tais direitos são violados, ele quer ser indenizado e retratado. Mencionei um caso absurdo de um rapaz que foi indenizado porque se feriu enquanto roubava as calotas do carro de seu vizinho. Vivemos em um mundo, de fato, voltado para o “eu.”
Alguns anos atrás, um jornal americano publicou um artigo sobre um homem chamado Kevin Baugh e seu próprio reino, o qual chamou de “A República de Molossia.” Kevin mandou um alfaiate preparar para si um uniforme marrom especial com fitas douradas e cinco medalhas, além de um cinto azul, branco e verde. Kevin atende pelo pronome de tratamento “Vossa Excelência.” O artigo dizia: “Se você jamais ouviu falar da República da Molossia, é porque ela consiste simplesmente de sua casa de três quartos e de seu terreno com pouco mais de 5 mil m².”
O artigo continua dizendo que Kevin nutre um senso de humor sobre seu reino. Ele disse ter um programa espacial, enquanto [rindo] apontava para um foguete de plástico. Kevin também diz ter um sistema de metrô público, o que não passa de um trem de brinquedo. Sua república tem um esporte predileto e sua marinha é um barco inflável que fica guardado em sua garagem. Apesar de estar brincando, Kevin fala sério quando diz que aquele é o seu reino.
O repórter escreveu: “Esse homem de 45 anos de idade e pai de dois filhos é o que chamamos de micro-nacionalista, ou seja, um grupo de pessoas que hasteiam bandeiras na frente de sua casa e dizem que sua propriedade é seu reino particular. Kevin chama o seu reino de “O Reino do Eu.”
“O Reino do Eu.”
Esse pode até ser um exemplo exagerado, mas ele revela o potencial em cada coração humano para defender seus próprios direitos, sua própria reputação, suas próprias reivindicações, sua própria imagem e sua própria vida que, de fato, gira apenas em torno do “reino do eu.”
Uma das maneiras que nosso Senhor capacitou os cristãos primitivos a esmagar a mentalidade do reino do eu foi por meio da inspiração de um hino. Começamos a expor a letra desse hino em nosso último encontro, um hino que está em Filipenses 2, começando no verso 5:
Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus,
Que tipo de sentimento é esse? Bom, o que Paulo faz em seguida é citar—ou talvez compor—um hino. Não sabemos se foi de fato Estêvão, um dos primeiros diáconos, que escreveu esse hino, ou se foi Paulo.
A igreja tem mantido o hábito de escrever hinos desde o princípio—escrever hinos, canções e cânticos espirituais para o benefício do corpo de Cristo, a fim de todos aprenderem e lembrarem de verdades doutrinárias e práticas (Efésios 5.19; Colossenses 3.16).
Paulo usa a letra de um hino nos versos 5 a 11. Ao fazer isso, a letra desse hino passa a ser um texto inspirado por Deus. Esse hino é um memorial da humildade de Cristo em Sua encarnação ao abrir mão voluntariamente de Seus direitos pessoais quando desceu à Terra.
Agora, se observar cuidadosamente, você verá que as duas primeiras frases do hino se referem à essência do Senhor—Sua divindade.
A Essência do Senhor—Divindade
Veja o verso 6:
pois ele, subsistindo em forma de Deus...
Isso não é uma pergunta, mas uma afirmação da verdade. O verbo subsistindo se refere a um pré-existência eterna. Jesus existiu na eternidade passada na natureza e essência da divindade como o Deus Filho. Portanto, em nosso esboço, vimos o primeiro direito que Jesus abnegou:
- Ele abnegou o direito de viver como Deus.
Em outras palavras, Ele colocou de lado a glória de Sua majestade pré-existente e desceu à Terra.
Em seguida, Paulo faz mais uma declaração de verdade, a verdade de que Jesus é igual a Deus o Pai. Todavia, Cristo não se agarrou a esse direito, mas esvaziou Suas mãos.
- Então, dissemos que Jesus Cristo, em segundo lugar, abnegou o direito de agir como Deus.
Ou seja, Ele jamais usou o poder e atributos que claramente tinha o direito de usar para o Seu próprio conforto, benefício e vindicação.
Paulo continua e escreve que Cristo não somente abnegou direitos iguais aos do Pai. Conforme o verso 7, Jesus a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma [natureza] de servo.
Aquele que era supremo desde a eternidade passada, agora desce à Terra e se torna um escravo pobre. Ele tomará tudo emprestado, sendo dono de basicamente nada. Jesus esvaziou Suas mãos do esplendor, prerrogativas e direitos divinos e se tornou o Servo Pastor Salvador. Ele foi a única pessoa que andou na face da terra com o direito de possuir e fazer o que bem desejasse, mas Ele abriu mão desses direitos para o nosso benefício e salvação eternos.
A Semelhança do Senhor—Humanidade
Agora, Paulo adiciona a essas duas declarações sobre a divindade de Cristo duas declarações sobre a humanidade de Cristo. Vou incluir essas duas afirmações sob o mesmo título de mais um direito que Jesus abnegou. Portanto, Cristo não somente abnegou o direito de viver e de agir como Deus:
- Em terceiro lugar, Cristo Jesus abnegou o direito de se parecer como Deus.
Veja o verso 7, a penúltima parte:
...tornando-se em semelhança de homens...
Podemos entender essa frase literalmente como Jesus se unindo à raça humana. Ou seja, Ele se tornou um membro da humanidade.
A palavra que Paulo emprega para semelhança é o grego homoioma, que fala de algo semelhante a outra coisa não somente em aparência, mas também em realidade. Jesus não foi um clone, nem um alienígena disfarçado.
Ele não foi um deus que se vestiu de uma roupa de carne para enganar todos. Cristo teve o mesmo sangue e carne que nós temos; Ele experimentou as mesmas limitações que nós experimentamos; Ele passou pelos mesmos altos e baixos da vida que nós passamos; Ele esteve sujeito a todas as emoções e tentações às quais nós estamos sujeitos.
O interessante nisso tudo é que a palavra semelhança nos informa que Jesus Cristo é verdadeiramente semelhante a nós, mas diferente de nós de maneira peculiar. Conforme um autor escreveu: “Essa palavra que Paulo utiliza aqui traduzida como ‘semelhança’ serviu para informar seus leitores que, apesar de o Senhor ser realmente semelhante aos homens, essa semelhança não expressava a inteireza de Seu ser.” Ou seja, havia mais em Cristo do que olhos podiam enxergar.
Conforme já vimos, Ele não possuía a natureza pecaminosa e possuía também uma natureza divina. Ele foi tentado como nós, mas sem pecado. Ele foi completamente um membro da raça humana, mas permaneceu um membro da Trindade Divina. Dessa maneira, dependendo da passagem que você estiver lendo, Ele falará como um ser humano comum; mas, outras vezes, Ele fará alegações audaciosas de que é Deus ou de que é igual ao Pai.
De fato, numa dada ocasião, quando os judeus compreenderam que era exatamente isso o que Jesus dizia ser, eles pegaram pedras para mata-lO e Jesus lhes perguntou:
...Tenho-vos mostrado muitas obras boas da parte do Pai; por qual delas me apedrejais? Responderam-lhe os judeus: Não é por obra boa que te apedrejamos, e sim por causa da blasfêmia, pois, sendo tu homem, te fazes Deus a ti mesmo (João 10.32–33).
Veja bem, esses judeus entenderam o que Jesus disse da mesma maneira que Seus discípulos entenderam, mas os discípulos creram nEle, creram que Ele era tanto Deus como homem—o Deus-Homem.
Em outra ocasião, lá estava Jesus, absolutamente cansado, dormindo em meio a um furacão enquanto o barco no qual estava com os discípulos ameaçava afundar no Mar da Galileia por causa de uma tempestade terrível. Os discípulos estão certos de que morrerão e Jesus está tão cansado que dorme em meio ao desastre. Finalmente, os discípulos O acordam; Ele se levanta e manda o vento e o mar se acalmarem (Marcos 4.39). Diante disso, os discípulos cochicham uns para os outros: Quem é este que até o vento e o mar lhe obedecem? (Marcos 4.41).
Você sabe qual é o problema? Jesus abriu mão do direito de se parecer com Deus. Sua aparência é de um ser humano ordinário; e o que um membro qualquer da raça humana pensa que está fazendo ao mandar o vento e o mar se aquietarem?! Parte do problema foi que Jesus tornou-se em semelhança de homens.
Paulo ainda vai mais adiante na descrição da humanidade de Cristo. Veja a última frase do verso 7: e, reconhecido em figura humana.
O verbo reconhecido significa simplesmente que as pessoas observaram e reconheceram Cristo como um homem autêntico.
Em outras palavras, quando as pessoas O conheciam, Jesus não tinha orelhas pontudas e sem personalidade de maneira que todas as pessoas sabiam que Ele tinha vindo de outro planeta. Não, quando as pessoas conheciam e conversavam com Jesus, elas viam nele um ser humano comum. Ser reconhecido em figura humana significa que qualquer pessoa poderia verificar que Jesus era um ser humano real.
Agora, Paulo escolhe empregar outro termo para figura. É a palavra schema, a qual reforça o fato de que a aparência externa de Deus o Filho era absolutamente humana. Esta é a realidade incrível do Deus Filho: O Deus glorioso, pré-existente, Criador, a Segunda Pessoa da Triunidade eterna se tornou Jesus, um bebê judeu que cresceu para ser um homem judeu comum.
Mas isso não é possível! A Igreja Católica Medieval e a Igreja Ortodoxa não puderam suportar a ideia de Maria ter sido um ser humano normal e de Jesus ter se submetido aos rigores da normalidade. Por isso, surgiram alguns escritos apócrifos e lendas para ajeitar a história e fazer de Jesus um ser humano longe do comum.
Por exemplo, logo após seu nascimento, conforme diz uma lenda, enquanto José, Maria e o bebê viajavam para o Egito, eles se abrigaram numa caverna tão fria que o chão estava congelado. Havia uma aranha na entrada que reconheceu como o bebê era santo e especial. Então, ela teceu uma teia tão grossa na entrada da caverna que funcionou como uma cortina, mantendo a caverna quente e confortável.
Não podemos deixar essa família exposta ao frio.
Outra tradição da igreja conta que, enquanto viajavam, Jesus mandava as árvores se abaixarem para que José conseguisse alcançar os frutos. Mais adiante, Jesus mandou uma fonte de água jorrar das raízes de uma árvore para saciar a sede da família. Maria até recebeu a ajuda de anjos para conseguir dormir; eles vieram e tocaram violinos para a mãe de Jesus dormir. Muitas outras tradições da igreja contam que, para onde viajavam, os animais se prostravam e ídolos se desfaziam em pó.
Quando já era um menino, os colegas da vizinhança colocavam seus mantos no chão para Jesus se sentar sobre eles e o coroavam com uma guirlanda de flores. Todos em Nazaré sabiam que esse menino era especial.
Quando finalmente começou Seu ministério, Jesus pregou na sinagoga de Sua cidade, Nazaré; quando terminou, as pessoas disseram maravilhadas:
Não é este o filho do carpinteiro? Não se chama sua mãe Maria, e seus irmãos, Tiago, José, Simão e Judas? Não vivem entre nós todas as suas irmãs? Donde lhe vem, pois, tudo isto? (Mateus 13.55–56).
Em outras palavras, faz anos que elas conhecem a família inteira; elas sabiam os nomes dos meios-irmãos e irmãs de Jesus—a família toda. Quando o Senhor concluiu esse sermão em Sua cidade, ninguém na sinagoga se levantou e disse: “Eu sabia! Eu sabia que Jesus era diferente. Eu sabia que havia algo estranho em todos aqueles milagres que Ele fez quando era criança... Sabia que havia algo diferente nesse rapaz!”
Não. Na verdade, bem diferente disso, o verso seguinte diz que todas as pessoas escandalizavam-se nele (Mateus 13.57). Ou seja, “Quem você pensa que é?”
Jesus abnegou o direito de se parecer com Deus.
- tornando-se em semelhança de homens—significa que Ele passou a ser um membro da raça humana.
- Reconhecido em figura humana—significa que Ele escolheu ter um rosto de ser humano.
Antes de Sua encarnação, Cristo estava revestido de glória e esplendor divinos que nem sequer conseguimos imaginar, invisível ao olho humano, assim como o Deus Pai e o Deus Espírito. Mas, agora, o Deus Filho assumiu a carne e sangue e o resultado é o seguinte: Ele se parece com um homem qualquer de descendência judaica.
Agora, isso não parece ser tão ruim assim, parece? O que há de tão humilde assim em ser semelhante aos homens? Nossa aparência não é tão terrível assim! Não achamos que isso seja humilhante demais porque sabemos quase nada sobre a glória pré-existente de Cristo. Deixe-me contar uma história para você.
Quando eu e minha esposa nos mudamos para iniciar a igreja que pastoreio ainda hoje, alugamos uma casa. Quando entramos, descobrimos um problema grave: os antigos inquilinos tinham doze gatos que andavam por todos os cômodos da casa.
Quando eu fui olhar a casa pensando na possibilidade de aluga-la, havia gatos no balcão da cozinha comendo resto de comida nos pratos das pessoas—havia gato em todo canto da casa. Já que não gosto de gatos, você imagina como eu queria alugar aquela casa!
A família finalmente foi embora e levou consigo sua dúzia de gatos. Eu entrei na casa alguns dias antes de minha esposa que chegaria depois com as crianças. Meu irmão mais novo veio de outro estado para me ajudar: pintamos e limpamos a casa.
Algumas semanas depois, minha esposa e eu começamos a sentir algumas coceiras nos tornozelos, onde estavam aparecendo alguns pontos vermelhos.
Daí, numa bela noite, estávamos jantando e um de nossos filhos estava enrolado num cobertor e deitado no carpete. Quando eu me abaixei para tirar um pontinho preto de seu rosto, aquele pontinho pulou. Era uma pulga! A casa estava infestada de pulgas.
Liguei para uma empresa de limpeza de carpete; os homens vieram e as pulgas parecem ter gostado do banho. Liguei para uma empresa de dedetização; os exterminadores de insetos vieram e jogaram inseticida pela casa inteira. Mesmo assim, nenhum sinal de rendição por parte das pulgas.
Finalmente, fui a uma loja e comprei um veneno que emitia um gás mortal. Conforme dizia a embalagem, uma caixa de veneno seria o suficiente para acabar com as pulgas da minha casa. Mas, isso também não funcionou. Pode até ter dado uma azia nas pulgas, mas elas continuaram vivendo felizes.
Pronto, havia chegado a hora de pegar pesado com as pulgas! Estávamos planejando viajar por alguns dias. Então, voltei à loja e comprei seis caixas de veneno de gás mortífero; a casa inteira virou uma enorme câmara de gás de pulgas. Ativei os venenos e fomos embora. Fiquei apenas imaginando o gás saindo pelas janelas e na esperança de que nenhum dos vizinhos ligaria para os bombeiros. Alguns dias depois, quando voltamos, não havia mais nenhuma pulga dentro de casa!
Agora, eu não odeio pulgas! Na verdade, eu não me importo se elas vivem ou se morrem; eu somente não as quero dentro da minha casa. Como eu conseguiria divulgar a mensagem de que o julgamento final das pulgas estava chegando? Como elas saberiam que a destruição estava próxima? A única maneira seria me transformar numa pulga.
Agora, eu não iria querer experimentar a vida de uma pulga; e, para ser bastante honesto, jamais abriria mão do meu direito de viver como ser humano a fim de resgatar uma casa cheia de pulgas. Isso seria humilhação!
Veja bem: o Filho de Deus glorioso abriu mão do direito de viver, agir e se parecer com Deus, a fim de viver e morrer para que os que ouvirem sua mensagem e se beneficiarem de Sua encarnação, creiam em seu Evangelho de salvação pela fé nele somente e sejam resgatados. Meu amigo, Jesus Cristo se tornar homem seria como eu e você nos tornando pulgas.
Contudo, Jesus foi ainda mais adiante na Sua manifestação de humildade. Deixe-me explicar isso com uma pergunta: se você fosse o Deus Filho, soubesse que se tornaria homem e, pelo fato de ser Deus, poderia escolher sua aparência, que tipo de homem você escolheria ser ou qual aparência escolheria para si?
Mulher, se pudesse escolher seu rosto, imagem e corpo, qual aparência você teria ao se tornar em semelhança de ser humano? Homem, se pudesse escolher seu tórax, seus bíceps, a cor de seus olhos e cabelo... ou, se teria cabelo. Se pudéssemos escolher nossa aparência, todas as mulheres parariam o trânsito, todos os homens seriam uma combinação de Brad Pitt, Tom Cruise, Denzel Washington, etc.
Agora, o que o Filho de Deus escolheu para sua aparência quando se tornou em semelhança de homens? Bom, a única descrição detalhada e física de Jesus Cristo se encontra em Isaías. O profeta escreveu sobre o Messias vindouro e o descreveu da seguinte forma:
...não tinha aparência nem formosura; olhamo-lo, mas nenhuma beleza havia que nos agradasse (Isaías 53.2).
No nosso idioma hoje, diríamos: “Era um cara judeu comum feinho.” Imagine! Esse foi o rosto e o físico que o Filho de Deus escolheu.
Ele verdadeiramente abnegou o direito de se parecer como Deus.
Não é surpresa alguma, então, que as pessoas acharam que Jesus era qualquer coisa, menos o Deus encarnado, o Rei dos reis revestido de carne judaica comum.
Jesus Cristo voluntariamente abnegou:
- O direito de viver como Deus.
- O direito de agir como Deus.
- O direito de se parecer como Deus.
Mas antes de terminarmos nossa meditação, vamos manter essa mensagem dentro de seu devido contexto. Esse hino da igreja primitiva é muito mais do que um lembrete do grande sacrifício de Cristo; ele é uma ordem para imitarmos a humildade de Cristo. Essa ordem começa no verso 5:
Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus.
Então:
- Não seja tentado a dizer: “Jesus é simplesmente maravilhoso; estou feliz que tenha feito isso porque eu, com certeza, não consigo!”
- E não se contente em dizer: “O Senhor pode fazer isso, mas Ele sem dúvida entenderá que eu não consigo.”
“Eu tenho que defender meus direitos, eu preciso ser vindicado, não posso ser ultrapassado ou desprezado. Se alguém me ofende, essa pessoa irá se arrepender. Vou defender o Reino do Eu.”
Meu querido, abnegue o desejo de se vindicar, se defender e de se esconder por trás das paredes do Reino do Eu.
Conclusão
Eu tenho um amigo pastor que já pregou várias vezes na minha igreja. Da última vez que veio, ele contou sobre o evento trágico da morte de seu filho em 2011. Antonio tinha 34 anos de idade e estava trabalhando até tarde da noite no seu restaurante quando um bandido que tentava um assalto perdeu o controle da situação, atirou nele e o matou na hora.
Pouco tempo atrás, um periódico que assino trouxe um artigo; reconheci a foto do meu amigo pastor. O artigo era sobre o incidente e meu amigo contou mais alguns detalhes. Ele escreveu:
No último julgamento, vi as costas do assassino de meu filho, o qual na época tinha 18 anos de idade. Vi sua mãe e outros familiares chorando ao ouvirem a sentença de que passará muitos anos na prisão. Após o assassinato de nosso filho, o qual parecia não ter valor redentivo algum, a pergunta que o Espírito de Deus fazia ao meu coração era a seguinte: “Você realmente crê no Evangelho que prega?” Eu sabia como explicar, ilustrar e aplicar o perdão de uma perspectiva bíblica; agora, Deus me desafiava, dizendo que eu devo, pela Sua graça, viver esse perdão.
30 anos antes do assassinato de Antonio, eu também estava trabalhando numa loja num sábado à noite por volta das 11:30 e fui assaltado à mão armada; Deus me livrou. Lutei para entender por que Deus teria me poupado, mas não poupado meu filho. Deus vinha me preparando para espelhar o perdão exemplificado por Jesus Cristo que morreu pelos ímpios.
Eu perdoei o assassino de Antonio. Confesso que a dor ainda está aqui dentro, mas o ferrão paralisante foi engolido no amor agape de Deus.
Em setembro de 2012, finalmente enviei uma carta para esse jovem, pedindo que ele adicionasse meu nome à lista de visitantes, a fim de que pudesse visita-lo e lhe pregar a mensagem do Evangelho de Cristo. Poucos meses atrás, ele me adicionou à sua lista.
Em breve, pela graça de Deus, verei o jovem cujo rosto foi o último que nosso filho viu antes de entrar na presença do Senhor.
Esse é o sentimento e a atitude de Jesus Cristo, o qual deixou de lado Seus direitos e abnegou o que merecia por amor e graça.
Jesus Cristo abnegou Seu direito de viver, agir e se parecer como Deus. Paulo escreve que Sua humildade terminará com Sua morte. Por fim, Jesus Cristo abnegará o direito de ser tratado como Deus!
Para o crente e para a igreja, essa atitude de abnegação e sacrifício pessoais não é opcional, mas essencial. Isso é o que significa “esmagar o reino do eu,” rendendo-se ao reino e caráter de Cristo.
Ao demonstrarmos essa humildade para os outros e para o nosso mundo quando abrimos mão de nossos direitos, o Evangelho é validado e Cristo, no fim, exaltado.
Este manuscrito pertence a Stephen Davey, pregado dia 08/03/2015
© Copyright 2015 Stephen Davey
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