Apresentando a Igreja de Filipos

Apresentando a Igreja de Filipos

Ref: Philippians 1:1

Apresentando a Igreja de Filipos

Aos Cidadãos do Céu—Parte 1

Textos Selecionados

Introdução

Caso o apóstolo Paulo e seu companheiro de viagem, Silas, tivessem conseguido fazer as coisas do seu jeito—se Deus tivesse respondido suas orações realizando aquilo que a dupla pensava ser a vontade de Deus—uma igreja no litoral da Grécia—na verdade, a primeira igreja da Europa—jamais teria sido estabelecida.

Por um tempo, os planos de Paulo de viajar e pregar foram barrados por um “não” de Deus:

  • Talvez iremos para o leste da Ásia—mas o Espírito de Deus disse “não.”
  • Então vamos para a Bitínia—e o Espírito de Deus disse “não.”

O ministério de Paulo havia se transformado numa série de becos sem saída.

Mas, daí, numa bela noite, conforme seu próprio testemunho, ele teve uma visão vinda de Deus: um homem o chamava, não do leste, mas do oeste, no litoral do que hoje é a Grécia. E esse homem chamava: “Paulo... venha nos ajudar! Venha para cá nos ajudar!”

Paulo pressupôs corretamente que a visão viera de Deus; a visão foi o download mais atualizado de Deus no GPS missionário de Paulo. De repente, o “não” de Deus se transformou num “sim,” e Paulo e Silas tomaram o navio.

Essa instrução mudará o curso da história eclesiástica e a história mundial quando o Evangelho avança do Oriente para o Ocidente, entrando no continente hoje conhecido como Europa.

Dez anos depois, o apóstolo Paulo escreverá uma carta à primeira igreja da Europa, uma igreja saudável em crescimento localizada na cidade de Filipos. Conhecemos essa carta pelo nome de “Filipenses.” Hoje daremos início a uma jornada pela epístola aos Filipenses.

Um autor chamou essa carta de uma dança de palavras com exclamações de deleite. Outro a chamou de curta e doce; apesar de curta, magnífica; um pergaminho precioso... uma jornada à alegria.

A carta possui 104 versos; ela é mais curta do que os artigos comuns de jornais e podemos lê-la em apenas 15 minutos.

O título da carta é “Epístola de Paulo aos Filipenses.” A palavra “epístola” é a designação grega para “carta.”

A fim de entendermos o tom da carta—a perspectiva e encorajamentos dados a esses crentes—, preciso primeiramente apresenta-lo à igreja em Filipos.

Essa é uma das poucas igrejas do Novo Testamento cujo um de seus membros fundadores nos é revelado—um dos membros fundadores da primeira igreja da Europa.

Enquanto lia a história da fundação da igreja em Filipos e da variedade de pessoas que Deus reuniu em torno do Evangelho naquela cidade, foi impossível não pensar no dia em que Deus estabeleceu a minha igreja com pessoas de todos os tipos: mecânicos, professores, um competidor de corrida de carro, um executivo de computação, um médico e um coronel aposentado que levou um tiro em Berlim no final da Segunda Guerra Mundial. Grande variedade!

A igreja precisa ser uma demonstração viva do poder unificador, perdoador e motivador do Evangelho de Jesus Cristo. Esse corpo de crentes em Filipos se tornará um exemplo de igreja por muitas razões que descobriremos mais adiante. É de se esperar que essa se tornará uma das igrejas preferidas de Paulo nos anos seguintes.

Agora, preciso admitir que, no início, tive a impressão de que haveria pouca possibilidade de essa igreja dar certo. Deixe-me mostrar a você por que.

A sala de parto da igreja em Filipos se encontra em Atos 16. Lembre-se: igreja não é um prédio, mas pessoas. Igreja é um organismo vivo, uma assembleia de pecadores redimidos compromissados a seguir a Cristo e cumprir a grande comissão.

Portanto, o foco da atenção não está no primeiro projeto de construção, mas no primeiro nascimento espiritual do primeiro crente. Em Atos 16, lemos o relato dos três primeiros membros da igreja em Filipos.

A primeira pessoa a ser mencionada é uma mulher chamada Lídia. Veja Atos 16.11–12:

Tendo, pois, navegado de Trôade, seguimos em direitura a Samotrácia, no dia seguinte, a Neápolis e dali, a Filipos, cidade da Macedônia, primeira do distrito e colônia...

É aqui que nos deparamos com problemas. A estratégia típica de Paulo ao entrar numa cidade era primeiro ir aos judeus e à primeira sinagoga onde poderia pregar (Atos 14.1). O problema que ele e sua equipe enfrentam é que não há sinagoga em Filipos; e isso já é um mau indicador.

A Mishna—uma coletânea de tradições, regras e regulamentações orais que os rabinos judeus começaram a organizar muito tempo antes do nascimento de Cristo—estipulava que uma sinagoga deveria ser estabelecida em qualquer cidade na qual houvesse pelo menos dez homens judeus. A sinagoga era um local consagrado para um propósito primário: oração.

Contudo, Paulo não encontra nem uma sinagoga. Será que realmente não havia nem mesmo dez homens judeus numa cidade de quinze mil pessoas? Isso é pouco provável. O mais provável é que não havia em Filipos dez homens judeus em toda população interessados em seguir a Deus e estabelecer um local de adoração.

Então, Paulo e Silas saem à procura de alguns judeus fieis que ainda se importam com Deus. Eles passam vários dias pedindo informação na região e finalmente alguém diz que existe um lugar onde um pessoal ora às margens do rio. Veja Atos 16.12–13:

…Nesta cidade, permanecemos alguns dias. No sábado, saímos da cidade para junto do rio, onde nos pareceu haver um lugar de oração; e, assentando-nos, falamos às mulheres que para ali tinham concorrido.

Note isto: não havia nem mesmo um homem judeu ali. Essa reunião é ao ar livre, o que indica que nenhum dos maridos quer saber dessa prática de oração dentro de suas casas, especialmente no final de semana. A única faísca de interesse espiritual genuíno se encontra num grupo de mulheres.

Temos aqui esse estudo bíblico de mulheres acontecendo perto do rio—elas estão fazendo um estudo bíblico indutivo pelo livro de Êxodo. Ou talvez em um dos Profetas Menores, estudando a Lei, ficam cheias de perguntas e dúvidas e, de repente, chega um ex-fariseu, um erudito, um mestre da Lei chamado Paulo. Ele diz: “Mulheres, tem problema se eu me sentar aqui e explicar para vocês o que vem depois do livro de Malaquias?” Veja o verso 14:

Certa mulher, chamada Lídia, da cidade de Tiatira, vendedora de púrpura, temente a Deus, nos escutava...

Em outras palavras, ela é uma asiática (Ásia Menor) interessada no Deus de Israel, o que é algo incrível à luz de sua posição na sociedade. Lucas escreve aqui que Lídia era licenciada para vender bens ou tecidos feitos de púrpura. O tecido de púrpura era o mais cobiçado de todos, altamente estimado e o mais caro no império. Eram necessárias oito mil conchas para produzir apenas um grama de tinta de cor púrpura. Mantos de púrpura eram usados por imperadores; cada senador romano usava um manto branco com bordas feitas de tecido de púrpura; cidadãos usavam cachecóis e outras peças de roupas manchados de púrpura para exibir sua riqueza.

Lídia é dona de seu próprio suprimento de púrpura na rodovia principal que conduz a Roma. Ela transporta e lida com o tecido mais caro do planeta.

Somos informados ainda que ela é dona de propriedades em Tiatira e Filipos—ambas as cidades ficavam em interseções de rodovias principais. Se estivesse vivendo em nossos dias, Lídia seria dona de sua própria empresa de moda com casas em Nova Iorque, Paris e Milão.

Mas, em meio a tudo isso, ela chegou à conclusão de que não possui o que realmente precisa. Então, ela participa de uma reunião de oração de mulheres judias no dia de sábado.

O verso 14 nos informa que o Senhor lhe abriu o coração para atender às coisas que Paulo dizia. Essa é outra maneira de dizer que Deus a salvou; ela creu no Evangelho proclamado por Paulo naquele dia.

Algum tempo depois—não imediatamente, já que envolveu seus empregados, servos e familiares—, vemos no veros 15:

Depois de ser batizada, ela e toda a sua casa, nos rogou, dizendo: Se julgais que eu sou fiel ao Senhor, entrai em minha casa e aí ficai. E nos constrangeu a isso.

Ela é o tipo de mulher a quem você não diz “não,” e sua casa é grande o bastante para receber essa equipe missionária que provavelmente contava com quatro homens, caso Timóteo e Lucas estejam com Paulo e Silas.

Não é maravilhoso quando pessoas de negócio conectam aquilo que possuem com aquilo que Deus pode realizar? Alguém que diz: “Minha casa e minhas coisas pertencem a Deus—tudo está à tua disposição, ó Deus!”

Sei muito bem a importância de um local para ficar. Deus usou pessoas fundamentais para me receber em suas casas enquanto plantava a igreja que hoje já pastoreio há trinta anos. Pessoalmente, tenho um profundo apreço por esse convite de Lídia que disse aos missionários: “Minha casa é de vocês!”

Existe um aluno em nosso seminário que veio da Índia e está morando nos fundos da casa de uma viúva de nossa igreja. Ele é casado, mas sua esposa teve que ficar na Índia juntamente com sua filha de apenas onze meses. Ele viajou para conhece-la nas últimas férias e ver sua filha pela primeira vez. Ele veio para receber o treinamento teológico que precisa; depois, voltará para a Índia e assumirá a liderança de uma instituição teológica que seu pai fundou anos atrás. Enquanto isso, existe uma viúva sendo usada por Deus que disse: “Minha casa é sua.”

Acho incrível que a primeira igreja da Europa foi impactada de forma estratégica por uma pessoa que compreendeu a ligação entre o que possuía e o que Deus poderia usar para a sua glória.

Ainda existe outro membro original dessa igreja em Filipos. Ele nos é apresentado no verso 16:

Aconteceu que, indo nós para o lugar de oração, nos saiu ao encontro uma jovem possessa de espírito adivinhador, a qual, adivinhando, dava grande lucro aos seus senhores.

O termo traduzido como adivinhador é a palavra grega python, da qual derivamos “píton.” Essa era uma adivinhação de ocultismo e energizada pelo demônio. Como sabemos que esses são demônios e não anjos? Porque Deus proibiu expressamente a adivinhação e o contato com os mortos (Deuteronômio 18); e Deus proibiu essas práticas, não porque sejam falsas, mas porque podem se conectar verdadeiramente com o mundo demoníaco. O problema é que os demônios desejam apenas distrair a pessoa da simplicidade do Evangelho e de uma caminhada de fé e confiança no Senhor vivo que busca direção e discernimento nele. Os demônios não negam a sabedoria da Bíblia necessariamente; eles apenas abrem as mentes das pessoas para a possibilidade de que existe algo melhor do que a Bíblia.

E veja bem: os demônios sabem muito bem o apelido de seu tataravô, onde seu tio morava, a última coisa que sua mãe disse antes de morrer, o time predileto de seu irmão falecido e muitas outras coisas. Eles sabem que você será contratado por aquela empresa, não porque conhecem o futuro—eles são tão oniscientes quanto eu e você—, mas porque possuem uma rede universal que obtém informação ao ouvir conversas nos escritórios da empresa onde você se candidatou. Essas informações são, então, repassadas entre o mundo dos demônios e colocadas nas mentes de pessoas caídas que se envolvem com o mundo espiritual e repassam a outras pessoas. Todos esses meios de comunicação estão conectados ao mundo demoníaco.

Não brinque com ele; não leia as predições do horóscopo no jornal ou na internet, não assista a programas de televisão onde necromantes contatam os mortos e levam pessoas a lágrimas com o que revelam. Não se envolva com isso, não porque essas coisas sejam mentiras, mas porque podem ser verdadeiras. Em breve você enfrentará a tentação de não mais confiar e esperar em Deus, estudar sua Palavra e depender no seu Espírito apenas.

Não demora muito até que as práticas ocultas de Filipos começam a incomodar Paulo e Silas. Aqui temos uma serva do templo que enriquecia seus donos, muito provavelmente sacerdotes do templo. E perceba no verso 17 que ela diz a verdade:

Seguindo a Paulo e a nós, clamava, dizendo: Estes homens são servos do Deus Altíssimo e vos anunciam o caminho da salvação.

Obviamente, ela diz a verdade, mas era também a pessoa errada a fazer uma campanha de propaganda. Sua conexão com Paulo e Silas tiraria o crédito do Evangelho diante das pessoas.

Isso se equipara a um lutador de boxe que acabou de esmurrar seu oponente e, enquanto seu adversário é conduzido para o hospital, ele, com o rosto ensanguentado, diz no microfone: “Gostaria de agradecer ao meu Salvador Jesus Cristo.” É melhor deixar o nome de Jesus Cristo fora disso. Isso também se assemelha a um adúltero convidando colegas do trabalho para ir à igreja. Em outras palavras, o nome de Jesus Cristo e a igreja de Cristo podem ser descreditados se a pessoa errada fizer a propaganda.

Paulo e Silas simplesmente não conseguem se livrar dessa moça. Finalmente, depois de vários dias de importunação, vemos no verso 18:

Isto se repetia por muitos dias. Então, Paulo, já indignado, voltando-se, disse ao espírito: Em nome de Jesus Cristo, eu te mando: retira-te dela. E ele, na mesma hora, saiu.

A igreja em Filipos acabou de dobrar de tamanho. Duas mulheres, completamente diferentes, foram resgatadas do reino das trevas e conduzidas para o reino da maravilhosa luz:

  • Lídia era da Ásia Menor; a moça era grega;
  • Lídia estava em controle de seus negócios; essa moça era uma escrava de negócios alheios;
  • Lídia era refinada e instruída; a moça carecia de cuidado e instrução sobre coisas básicas da vida;
  • Lídia desfrutava de um sonho de vida; a moça vivia num constante pesadelo;
  • Lídia era conhecida pelo seu nome e era bem conectada na sociedade; a moça era uma escrava anônima com conexões erradas.

O Evangelho libertou as duas. Não ignore isto: ambas precisavam de salvação; ambas caminhavam em direção ao inferno. A diferença é que uma delas era instruída e usava roupas de grife.

Agora, essa segunda cena chamou a atenção e o parágrafo seguinte arruma o palco para o terceiro membro original dessa igreja a conhecer o Salvador. Você provavelmente está familiarizado com essa passagem, mas quero que perceba a atitude da cultura filipense. Veja o verso 19:

Vendo os seus senhores que se lhes desfizera a esperança do lucro, agarrando em Paulo e Silas, os arrastaram para a praça, à presença das autoridades;

Existe uma acusação dupla contra os missionários:

  • Estes homens, sendo judeus, perturbam a nossa cidade.

O texto revela o profundo antissemitismo da comunidade: estes homens são judeus e estão nos incomodando. Em outras palavras, eles nem sequer pertencem ao Império Romano; eles são judeus e não se encaixam bem aqui.

Talvez seja esse o motivo de não haver ali sinagoga alguma—homens judeus mantinham sua herança em segredo.

  • propagando costumes que não podemos receber, nem praticar, porque somos romanos.

Essa é uma acusação falsa, já que a única coisa que os missionários têm feito é orar. Contudo, agora eles mexeram com a situação comercial de um negócio da comunidade. Eles tocaram no dinheiro.

O fato de Paulo e Silas terem ousado contrariar os costumes de sua cultura, apesar de não passar de demonismo e o fato de eles haverem afetado inadvertidamente práticas comerciais, apesar de isso envolver a escravidão perversa de uma garota ao templo pagão, não importavam. Era assim que os romanos viviam, agiam e lucravam. “Não ouse nos contrariar!”

Um autor escreveu: “Podemos ouvir o orgulho romano emergindo dessas acusações contra Paulo e Silas.”

Paulo tratará desse assunto quando escrever sua carta e mandar a igreja de Filipos assumir uma postura diante desse tipo de pressão; ele lhes lembra de que são, primeiramente e acima de tudo, cidadãos do céu (3.20).

Veja a reação violenta contra eles em Atos 16.22–23:

Levantou-se a multidão, unida contra eles, e os pretores, rasgando-lhes as vestes, mandaram açoitá-los com varas. E, depois de lhes darem muitos açoites, os lançaram no cárcere, ordenando ao carcereiro que os guardasse com toda a segurança.

Pare por um momento.

Se fosse estabelecer uma igreja na cidade de Filipos, você agora estaria pensando que os planos de Deus para essa cidade acabaram. Você ganhou duas pessoas e alguns sócios dos negócios de Lídia para Cristo e testemunhou Deus realizando coisas maravilhosas ao abrir os olhos e o coração de duas mulheres, algo possível apenas pela graça de Deus.

Você jamais imaginaria Paulo e Silas, no interior daquela prisão, dizendo: “Rapaz, que começo maravilhoso! Está evidente que Deus tem muita coisa para fazermos nesta cidade.” E jamais imaginaríamos Paulo e Silas pensando que a próxima conversão que veriam seria a do carcereiro.

Geralmente nos apressamos para o terremoto que liberta os missionários e ignoramos como esse carcereiro foi descuidado e indiferente para com Paulo e Silas. Ele os leva para o calabouço. O verso 24 diz:

Este, recebendo tal ordem, levou-os para o cárcere interior e lhes prendeu os pés no tronco.

Ele não está com medo que os dois escaparão; seu único interesse é tortura-los. Eles já foram açoitados nas costas; agora, o guarda adiciona seu toque final a esses prisioneiros: ele prende seus pés a troncos. A palavra grega se refere ao instrumento romano usado em tortura. Tratava-se de um tronco comprido com vários buracos. Dependendo da altura e corpo do prisioneiro, suas pernas eram esticadas ao máximo; os tendões e juntas eram esticados terrivelmente e, em seguida, seus pés eram recolocados em posição. Além disso, a dor se tornava ainda mais aguda quando se deitavam, já que suas costas estavam laceradas com feridas abertas.

O que fazer agora?

O verso seguinte nos diz que em torno da meia-noite Paulo e Silas oravam e cantavam hinos a Deus e os prisioneiros os ouviam. E aposto que estavam ouvindo sim, já que eles não cantam com as costas abertas em feridas e com o futuro incerto numa prisão... à meia-noite.

Paulo está prestes a demonstrar na prática algo sobre o qual escreveria dez anos depois em sua pequena carta: Alegrai-vos sempre no Senhor; outra vez digo: alegrai-vos (Filipenses 4.4).

Um terremoto interrompe a terceira estrofe e suas cadeias se soltam, bem como as de todos os prisioneiros (v. 26). O verso 27 diz:

O carcereiro despertou do sono e, vendo abertas as portas do cárcere, puxando da espada, ia suicidar-se, supondo que os presos tivessem fugido.

Por que o carcereiro faria isso? Porque seu castigo seria a morte. O código romano de Justiniano declarava que, se um carcereiro deixasse um criminoso escapar, ele receberia a punição devida ao criminoso. Então, obviamente, havia alguns prisioneiros condenados à morte; talvez Paulo e Silas fossem dois deles. Se escapassem, o carcereiro seria torturado e morto; então, é melhor tirar logo sua vida.

Paulo o interrompe no verso 28 com a notícia surpreendente de que ninguém havia escapado. Isso espantou o carcereiro. Lembre-se de que ele não tinha ouvido Paulo e Silas cantando de madrugada. Ele deve ter ouvido a mensagem do Evangelho antes da prisão dos missionários e pensado que eram loucos.

Como sabemos que ele não estava ali ouvindo, deitado, sendo convencido pela canção deles à meia-noite? Porque o verso 27 nos informa de que ele despertou depois de o terremoto ter soltado as cadeias dos criminosos. Baseado no texto, é possível entender que algum tempo se passou entre a soltura dos bandidos e o despertamento do carcereiro. Isso sugere que esses delinquentes de coração duro foram acorrentados pelo Espírito de Deus—pela mensagem que ouviram cantada e pregada; eles ouviram tudo e temos todo motivo do mundo para crer que houve muitas conversões dentro dessa prisão. Doutra sorte, como os prisioneiros deixariam que o carcereiro os colocasse de volta dentro da cela? Isso não é natural.

Algo dramático aconteceu, não somente com as cadeias que se soltaram, mas na atitude de todos os prisioneiros. A mensagem do Evangelho foi, de falto, algo sobrenatural. Os versos 30 e 31 nos dizem:

...Senhores, que devo fazer para que seja salvo? Responderam-lhe: Crê no Senhor Jesus e serás salvo, tu e tua casa.

Conforme os versos 32 e 33, o carcereiro e toda sua família creram e, imediatamente, eles se identificaram com o Salvador crucificado, sepultado e ressurreto por meio do batismo, afirmando publicamente serem seguidores de Jesus Cristo.

Finalmente, as autoridades fazem com que Paulo e Silas deixem a cidade, mas não antes de pedirem desculpas a Paulo por terem-no açoitado sem um julgamento justo, pois ele, para o terror de todos, também era um cidadão romano.

Paulo fez isso para proteger essa congregação em crescimento, mantendo os crentes fora de perigo imediato, pelo menos por enquanto.

Agora, avançamos dez anos. Paulo escreve uma carta a essa igreja. Imagine, sentada ali na igreja vestindo roupas de grife, uma empresária, uma moça ex-endemoninhada e um guarda com sua família e amigos. Esses três primeiros membros originais e fundadores representam três nacionalidades diferentes: asiáticos, gregos e romanos. Todos eles ocupavam diferentes níveis na sociedade:

  • Lídia era rica;
  • a moça era uma escrava;
  • o carcereiro era um membro da classe média.

Os três representavam a classe alta, média e baixa da sociedade. Na verdade, o Império Romano inteiro era composto por esses três grupos.

E você pensa que isso é coincidência? Será que Deus tinha uma mensagem embutida no relato do estabelecimento da primeira igreja da Europa? Sem dúvidas. Este é o Evangelho, este é o poder de Cristo que resgata qualquer um—ninguém se encontra numa posição elevada demais que não possa ser alcançado, nem baixa demais que não possa ser resgatado.

Este é o princípio unificador e transformador que consolida a igreja: pecadores redimidos que encontram perdão em Cristo. Há somente uma família na igreja, na qual o chão é plano e a graça une nossos corações uns aos outros e ao nosso Senhor, o Supremo Pastor de sua igreja.

Com isso, Paulo inicia sua carta. Nela, ele definirá e descreverá, ilustrará e encorajará o que significa ser não somente um cristão, mas também um membro de uma igreja local do Novo Testamento que segue a Cristo. Paulo fará isso e muito mais em sua Epístola à igreja de Filipos.

 

Este manuscrito pertence a Stephen Davey, pregado dia 07/07/2014

© Copyright 2014 Stephen Davey

Todos os direitos reservados

 

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