
A Trilha da Oração
A Trilha da Oração
Neemias 1.5–11
Introdução
Nos versos 1 a 4 de Neemias capítulo 1, vemos um homem que busca o máximo da atenção de Deus. Ele chorou profusamente; ele jejuou porque tinha perdido o seu apetite pela comida; ele lamentou como uma pessoa lamenta a morte de um ente querido; e ele fez uma oração de lamentação por quatro meses.
Ele foi um homem profundamente incomodado com a condição de um povo destruído. O fardo de Neemias deveria se tornar o nosso fardo, à medida que buscamos representar a glória de Deus a este mundo caído, neste mundo destruído.
O Fardo de Neemias...
E Meu Também!
O fardo de Neemias é melhor definido a partir de três elementos que ajudam a completar a exata imagem de um fardo piedoso.
Uma preocupação esmagadora...
- Primeiro, um fardo piedoso é uma preocupação esmagadora com alguns aspectos do pecado e angústia humanos.
Eu recebi, outro dia, a ligação de um irmão de nossa igreja que é advogado. Ele me disse: “Pastor, depois de estudar sobre o fardo e angústia de Neemias por aquelas pessoas destruídas, Deus me convenceu. Sempre me interessei em ajudar índios numa determinada reserva indígena do outro lado do país. Fui lá fazer uma visita um tempo atrás e você não vai acreditar a pobreza, carência espiritual e desolação daquele povo. Você acha que Deus pode estar querendo que eu passe um tempo nessa reserva ajudando, servindo e, como possível, pregando o evangelho a eles?”
Um fardo piedoso interrompe nossas vidas. Raramente é algo conveniente. Na verdade, geralmente, é bem inconveniente.
Uma convicção irresistível...
- Segundo, um fardo piedoso inclui uma convicção irresistível de que Deus possui a solução.
Uma submissão sem reservas...
- Terceiro, um fardo piedoso é uma submissão sem reservas a Deus para usar você a fazer parte dessa solução.
Quando ganha a atenção de Deus, você participa da angústia de Deus pelo mundo caído. Jesus Cristo chorou sobre Jerusalém. Um fardo piedoso interrompe nossas vidas de forma singular.
Grande parte dos crentes não carrega nenhum fardo, porque carregar irá lhes custar alguma coisa. Para Neemias, seu fardo lhe custará tudo.
E ele parece saber muito bem disso. E ele também ora, no verso 6a:
Estejam, pois, atentos os teus ouvidos, e os teus olhos, abertos, para acudires à oração do teu servo...
Será que Neemias pensa que Deus nem sempre está lhe ouvindo? Será que ele pensa que seus olhos nem sempre estão abertos, que ele, por algum motivo, se esqueceu de seu universo?
Ele ora novamente no verso 11a:
Ah! Senhor, estejam, pois, atentos os teus ouvidos à oração do teu servo...
O que está acontecendo aqui é que Neemias não deseja dar nenhum passo antes de saber que ele tem a máxima atenção de Deus. Essa máxima atenção pode ser descrita como aquela intimidade e comunhão com Deus que o próprio Deus recompensará com coragem, força e os recursos necessários para restaurar alguma parte desse mundo destruído.
Antes de qualquer homem, ou mulher, trilhar o caminho de um restaurador ou reconstrutor, ela ou ela deve, primeiramente, como Neemias, trilhar o caminho da oração a Deus. O segredo para o serviço é descoberto em secreto. O que tornou Neemias um homem bem-sucedido em público diante da humanidade foi seu sucesso em sua vida particular com Deus.
O capítulo 1 é um registro público da vida particular de Neemias.
Quatro Passos na Trilha da Oração
Por causa do propósito de nosso estudo, gostaria que víssemos a oração de Neemias como se fosse uma trilha para Deus. Quatro passos firmes, ao longo do caminho, concederam a esse crente, e concedem a qualquer um hoje, a máxima atenção de Deus.
Prioridade...
- A primeira pedra firme ao longo dessa trilha é a clara prioridade da soberania.
Note como Neemias começa sua oração no verso 5.
...ah! SENHOR, Deus dos céus, Deus grande e temível...
Oração que passa do teto de nossa sala de estar é a oração que reconhece, primeiramente, que Deus é soberano e o homem é apenas um servo. A oração devida coloca Deus em Seu trono e a humanidade aos Seus pés.
Oração não é nós conseguindo com Deus o que desejamos; é Deus realizando em nós aquilo que Ele deseja. Oração não é nós manipulando ou controlando Deus; mas Deus nos controlando. Oração não é nós pressionando Deus, é Deus nos pressionando. E se você realmente não deseja a pressão, faça outra coisa qualquer, mas não ore.
Certa vez, Donald Grey Barnhouse chocou sua congregação ao começar uma de suas pregações orando da seguinte forma: “A oração não muda nada.”
Dava para ouvir até um alfinete cair no chão. Seu comentário, é claro, foi feito para levar o crente a pensar sobre a soberania de Deus—que Deus está assentado nos céus, que nada nunca O surpreende ou sai de Seu controle. Deus não pode ser subornado, induzido por alguém, convencido ou pressionado a mudar. Quando as Escrituras falam que Deus mudou de ideia, aquilo, na verdade, já fazia parte de Seu plano soberano. Deus é imutável.
Eu até adiciono à declaração de Barnhouse que oração não muda nada para Deus, mas muda tudo para nós. E, até que você esteja pronto para orar não para que você possa mudar Deus, mas para que Deus mude você, você ainda não estará pronto a orar.
Neemias começou dizendo:
...ah! SENHOR, Deus dos céus...
A propósito, o Senhor Jesus ensinou os discípulos a orarem seguindo esse mesmo modelo. A oração que Ele ensinou aos discípulos em Mateus 6, verso 9, começa com as palavras:
...Pai nosso, que está nos céus...
Neemias orou:
...ah! SENHOR, Deus dos céus...
Note que a mesma prioridade da soberania introduz a oração do crente tanto no Antigo como no Novo Testamento.
A frase “que está nos céus” ou, “Deus dos céus” não está relacionada ao endereço de Deus, mas aos Seus atributos. “Dos céus” ou “Nos céus” é uma referência à Sua posição elevada em relação à criação. Ele é transcendente; exaltado; majestoso; soberano. Apesar de nos aproximarmos confiadamente desse Pai celestial, reconhecemos que Ele é um Pai santo, justo em todos os Seus caminhos.
Foi isso o que Davi quis dizer quando compôs um hino, o Salmo 99, versos 1 e 5, dizendo:
Reina o SENHOR; tremam os povos. Ele está entronizado acima dos querubins; abale-se a terra... Exaltai ao SENHOR, nosso Deus, e prostrai-vos ante o escabelo de seus pés, porque ele é santo.
Esse pensamento modifica a maneira como oramos porque modifica nossa visão de Deus.
- Esse é o Deus vivo que disse a Jó que Ele trovejava com Sua voz;
- Ele vestia o manto da dignidade e eminência e honra e majestade;
- Ele deu ordens à manhã e colocou a alvorada no seu devido lugar;
- Ele deitou os fundamentos da terra e criou suas medidas;
- Ele entrou nas correntes dos oceanos e caminhou no recôndito das profundezas dos mares;
- Esse é o Deus soberano que sabe onde a luz habita e o caminho do vento oriental;
- Ele foi quem criou o propósito das inundações e dos raios, do gelo e do granizo;
- Ele lidera as constelações; Ele determina as órbitas dos planetas;
- Ele conta as nuvens e mede a quantidade de água nos céus;
- Ele criou os animais com seus instintos;
- Foi Ele quem espalhou o céu como um espelho;
- Ele é o único exaltado em poder e cercado de majestade.
Tente orar a esse Deus.
Esse Deus não é o gênio que vai conceder a você os seus três desejos se você esfregar a lâmpada mágica da oração. Ele não é o vovô coruja que tira pirulitos de seu bolso para os netinhos. Ele não é uma máquina onde você insere suas moedas da oração e retira seu chiclete ou sua pipoca.
Esse é Aquele sentado nos céus. Esse Deus é tanto amoroso, como também temível. Ele é gracioso, mas também santo. Ele é misericordioso e, ao mesmo tempo, sem misericórdia.
Quando você orar, imagine esse Deus nas alturas, elevado em Seu trono de majestade com anjos cantando continuamente ao seu redor: Santo, santo, santo.
Como imaginar isso? Como descrever esse Deus? Neemias só conseguiu dizer na próxima frase do verso 5: Deus grande e temível.
E isso foi o melhor que ele conseguiu fazer.
Em seu livro Uma Paixão pela Fidelidade, J. I. Packer escreveu o seguinte sobre Neemias: Ele captou a grandeza de Deus.”
Esse tipo de perspectiva conduz à prioridade correta do controle e domínio de Deus.
Reconhecimento...
Quero continuar dizendo que uma confissão da soberania de Deus sempre leva e sempre envolve uma confissão de pecado. Na verdade, esse é o segundo passo ao longo da trilha da oração. E Neemias dá esse passo.
- Ganhar a atenção de Deus exige não somente prioridade da soberania, mas também inclui um segundo passo na trilha da oração, que é um reconhecimento contrito de pecado.
Um dos motivos por que permitimos pecado em nossas vidas é porque não entendemos a prioridade da soberania e domínio de Deus sobre nossas vidas.
Isaías teve uma visão da glória de Deus e, imediatamente, confessou no capítulo 6, verso 5:
...Porque sou homem de lábios impuros, habito no meio de um povo de impuros lábios...
Paulo progrediu em sua própria caminhada espiritual com Cristo. E, já próximo do fim de sua vida, ele destacou em 1 Timóteo 1, verso 15b:
...pecadores, dos quais eu sou o principal.
A pessoa que não possui a clara prioridade da soberania de Deus jamais irá orar com compreensão clara de seu próprio pecado. Daí, a trilha da oração perde todos os seus ricos benefícios.
Neemias ora no verso 6:
Estejam, pois, atentos os teus ouvidos, e os teus olhos, abertos, para acudires à oração do teu servo, que hoje faço à tua presença, dia e noite, pelos filhos de Israel, teus servos; e faço confissão pelos pecados dos filhos de Israel, os quais temos cometido contra ti; pois eu e a casa de meu pai temos pecado.
Note que ele se inclui com o povo de Israel nos pecados. Ele usa o pronome “eu” e “nós,” que está implícito no verbo “temos.” Ele não diz: “Ah, Senhor, deixe-me Te dizer o que eles fizeram. Senhor, meus pais estragaram tudo.” Não! “Eu e a casa de meu pai temos pecado.”
Talvez, pela primeira vez, Neemias foi tocado pelo pensamento de que ele não deveria estar em Susã, mas em Jerusalém. Ele se refere à aliança no verso 5 e, depois, desenvolve o assunto um pouco mais nos versos 8 e 9. Ele se refere a Deus com o nome que O relaciona à Sua fidelidade em cumprir suas alianças e promessas, Yahweh. Essa aliança a qual ele se refere é a aliança Palestiniana. Falaremos um pouco mais sobre ela em outra ocasião.
Mas, agora, ele começa a confessar, com pleno entendimento, que ele não estava onde deveria estar. Ele não pertencia àquele palácio; ele pertencia à Palestina.
O verso 6b diz:
...eu e a casa de meu pai temos pecado.
Você deseja ter a máxima atenção de Deus? Você consegue dizer e você diz: “Ah, Senhor, eu tenho pecado?”
Note que Neemias não disse: “Senhor, cometi alguns erros recentemente... Eu realmente vacilei hoje... O Senhor me conhece e sabe como sou indiscreto... O Senhor provavelmente me ouviu contando aquela mentirinha branca... E eu suponho que o Senhor também tenha visto aquele episódio de minha indignação justa. O Senhor sabe como eu sou...”. Deus não perdoa desculpas, ele perdoa pecados.
E não pare só com a palavra “pecado.” Se você tem problemas com essa palavra pequena, note o que Neemias continua dizendo no verso 7:
Temos procedido de todo corruptamente contra ti, não temos guardado os mandamentos, nem os estatutos, nem os juízos que ordenaste a Moisés, teu servo.
Somos culpados do pecado de corrupção, de desobediência e quebra da Lei. Ele deixou algo de fora?
As pessoas que sabem como ganhar a atenção de Deus são pessoas que sabem que são pecadoras. E, em suas orações, elas não buscam nenhum meio de escapar dessa realidade.
Davi escreveu em sua oração de confissão no Salmo 51, verso 17:
Sacrifícios agradáveis a Deus...
Ou seja, os sacrifícios que realmente chamam a atenção de Deus.
...são o espírito quebrantado; coração compungido e contrito, não o desprezarás, ó Deus.
Pessoas com coração quebrantado são pessoas usadas por Deus para restaurar um mundo quebrado e destruído. Por que? Porque elas enxergaram a grandeza de Deus e reconheceram sua culpa. Elas captaram um pouco da soberania de Deus e de seus próprios pecados e reconheceram os dois. Elas se submeteram às consequências tanto da soberania, como também do pecado. Geralmente, nós não oramos assim.
Contudo, a Bíblia promete em 1 João 1, verso 9:
Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça.
Minha esposa chegou outro dia em casa do mercado trazendo salsicha para cachorro-quente; e ela trouxe o tipo que a gente gosta de comer, livre de recheios, conservantes, derivados e sem a adição de corantes ou sabor artificial. Dessa forma, você sabe que não está comendo coisa feita em fundo de quintal.
A marca da salsicha que minha esposa comprou era chamada Salsicha de Carne Nacional Hebraica Kosher. Enquanto comíamos cachorro-quente Kosher, minha esposa leu para as crianças uma frase que estava na frente da embalagem. Quando ela terminou de ler, eu disse: “Essa frase serviria perfeitamente para uma ilustração de sermão um dia.” E eu guardei a embalagem por vários meses.
Ouça em que essa empresa acredita e o que imprimiu na frente da embalagem:
Nacional Hebraica
E embaixo uma outra frase dizendo:
Nós respondemos a uma autoridade superior.
Daí, na parte de trás da embalagem, tinha um parágrafo que dizia:
Você já deve ter ouvido a palavra KOSHER antes, mas você sabia que ela significa “adequado para comer”? Nacional Hebraica é obrigada a seguir leis bíblicas rigorosas de dieta, usando apenas cortes qualificados de bife kosher e alcançando os padrões mais elevados de qualidade. Por 95 anos, nosso compromisso em fabricar produtos somente de altíssima qualidade significa que derivados artificiais simplesmente não são permitidos. Kosher também zela por qualidade e sabor, por isso cremos que nossas salsichas têm um sabor superior. Nacional Hebraica responde a uma autoridade superior – para que você possa desfrutar o que há de melhor.
Isso não é interessante?! Imagine uma empresa tão convencida que responde a uma autoridade superior a ponto de controlar até a maneira como fabrica salsichas!
Ah, como seria bom se cada crente vivesse como se em suas mãos e pés estivesse escrito: “Respondo a uma autoridade superior.”
Eu presto contas a um Ser Superior. E, quando vou a Ele em oração, eu não digo algumas coisas a Ele; eu presto contas de todas as coisas.
“Respondemos a uma autoridade superior.”
Que lema maravilhoso para a vida cristã.
Aqueles dispostos a adotar esse padrão para suas vidas estão prontos a dar os dois passos seguintes em sua trilha da oração. Falaremos desses dois passos restantes em nosso próximo estudo.
Este manuscrito pertence a Stephen Davey, pregado no dia 13/02/2000
© Copyright 2000 Stephen Davey
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