
Compaixão da Cruz
Compaixão da Cruz
Marcos 15.1–41
Introdução
Chegamos hoje ao capítulo 15 em nossa série de estudos no Evangelho de Marcos. Em Marcos 15.1, vemos Jesus diante de Pilatos. Começaremos com essa cena e prosseguiremos num ritmo acelerado, mas lento o suficiente para destacar algumas coisas importantes para entendermos melhor o que Cristo suportou por nossa causa.
- O julgamento injusto de Jesus.
A primeira coisa que desejo destacar é o julgamento injusto de Jesus. Veja Marcos 15.1:
Logo pela manhã, entraram em conselho os principais sacerdotes com os anciãos, os escribas e todo o Sinédrio...
Entenda bem que isso é algo ilegal, no mínimo impostura. Conforme a Lei, esses líderes deveriam dormir e executar a decisão somente no dia seguinte. Dessa forma, se decidissem que o réu era culpado e digno de morte, passariam a noite, voltariam no outro dia de manhã, se reuniriam e concordariam: “É, de fato, ele é réu de morte.”
Contudo, como você talvez se lembra em nosso estudo anterior, os líderes já tinham, um dia antes, decidido que Jesus morreria. Então, eles se reuniram apenas por uma questão de aparência, simplesmente para que o povo dissesse: “É, eles se reuniram na manhã do dia seguinte.” Todavia, em seus corações, os líderes judeus já tinham determinado que mandariam Jesus para a cruz.
Jesus diante de Pilatos
Veja, agora, Jesus diante de Pilatos. Continue em Marcos 15.1b–2:
...e, amarrando a Jesus, levaram-no e o entregaram a Pilatos. Pilatos o interrogou: És tu o rei dos judeus?...
Esse homem ficou intrigado com a Pessoa de Jesus Cristo, um homem acusado de insurreição, o qual, conforme os judeus diziam a Pilatos, buscava usurpar o trono de Herodes. Acho que Pilatos coçou a cabeça e pensou: “Este homem aqui, vestido em roupas de carpinteiro... será que ele realmente está dizendo ser o rei dos judeus?”
Creio que Pilatos está sendo sincero e busca saber por si mesmo: “Você realmente é o rei dos judeus?” Jesus responde no verso 1: Tu o dizes. Nesse momento, o verso 3 nos conta que os principais sacerdotes o acusavam de muitas coisas; e lemos no verso 5: Jesus, porém, não respondeu palavra, a ponto de Pilatos muito se admirar. Pilatos ficou impressionado com o fato de Jesus não reagir às acusações.
Eu e você, contudo, sabemos que Jesus permaneceu em silêncio porque Isaías profetizara anos antes que o Senhor permaneceria em silêncio (Isaías 53.7); nesse julgamento, Jesus cumpre profecias. Ele foi como um cordeiro para o matadouro e Ele foi em silêncio. Portanto, Cristo cumpre as profecias ao não responder seus acusadores.
Pilatos diante da multidão
Em seguida, nos deparamos com Pilatos diante da multidão e essa cena nos apresenta a um costume interessante. Veja Marcos 15.6:
Ora, por ocasião da festa, era costume soltar ao povo um dos presos, qualquer que eles pedissem.
Lembre-se que, nessa ocasião, aproxima-se a Páscoa. O costume era o de liberar um criminoso terrível, em certo sentido, perdoando seus pecados. Isso servia de um retrato da Páscoa, na qual Deus perdoara os pecados da nação; essa era uma espécie de recurso visual: já que Deus tinha perdoado a nação, a nação perdoaria um criminoso.
Então, Pilatos vai ao povo e pergunta: “Querem, então, que eu solte este prisioneiro?” pensando que o povo diria: “Sim, pode soltar Jesus.” Mas, ao invés disso, lemos no verso 7:
Havia um, chamado Barrabás, preso com amotinadores, os quais em um tumulto haviam cometido homicídio.
Jesus seria crucificado ao lado de dois membros de uma gangue assassina conhecida como os “sicários.”
O nome Barrabás pode ser traduzido como “filho do rabino.” Portanto, esse talvez não tenha sido seu nome, apenas uma designação. Apesar de não termos certeza, é possível que o pai de Barrabás tenha sido um rabino famoso de Jerusalém e que seu filho Barrabás era conhecido como “o filho do rabino.” Então, ele pode ter sido filho de um homem que reverenciava a lei, mas é membro da gangue dos sicários.
O nome sicário significa “punhal no manto.” Os membros dessa gangue carregavam um punhal debaixo de seus mantos e assassinavam pessoas, envolvendo-se, constantemente, em guerrilhas contra o Império Romano. Barrabás, portanto, era um criminoso terrível; na verdade, um homicida, conforme vemos no verso 7.
Mas observe que Pilatos percebe a inveja por parte dos líderes judeus. Pule para Marcos 15.9–10:
E Pilatos lhes respondeu, dizendo: Quereis que eu vos solte o rei dos judeus? Pois ele bem percebia que por inveja os principais sacerdotes lho haviam entregado.
Essa inveja tinha começado anos antes enquanto Cristo pregava e ensinava. Você se recorda do que o povo dizia? Depois de ouvirem Jesus ensinar, eles se maravilharam e disseram: “Esse homem é diferente; ele prega com autoridade, não como os escribas” (Marcos 1.22). A partir desse momento, os escribas se encheram de inveja.
Essa foi uma briga de pregadores. Ou seja, “Mais pessoas ouvem sua pregação do que a minha; sua congregação é maior do que a minha.”
Essa briga não é nova, nem singular. É interessante que Charles Spurgeon, aos 18 anos de idade, já pregava para mais de 10 mil pessoas; aos 20 anos, mudou-se para Londres para pastorear uma igreja. A congregação construiu um prédio, o qual logo ficou superlotado. Pouco depois, construíram outro Tabernáculo com capacidade para 6 mil pessoas e precisavam realizar vários cultos. Spurgeon tinha apenas 10 anos e era um autodidata que nunca frequentou uma escola.
Em sua época, havia pregadores que pregavam há anos para 25 pessoas; eles tinham se formado em seminários. Como você pode imaginar, esses homens se juntaram em inveja contra Spurgeon. Finalmente, um dia, a União Batista, da qual Spurgeon era membro, decidiu censurar o jovem pastor. Em outras palavras, eles disseram às pessoas: “Não deem ouvidos a ele. Ele é herege.” Olhamos para a história e vemos claramente que Spurgeon foi censurado por um motivo apenas: inveja.
F. B. Meyer foi um famoso pregador nos séculos 19 e 20. Há anos, ele pregava a milhares de pessoas. Daí, outro homem apareceu na cidade, um homem chamado G. Campbell Morgan. Morgan ficou conhecido como “O Príncipe dos Expositores.” Imediatamente, a igreja de Morgan ficou transbordando de pessoas. F. B. Meyer lutou contra inveja. Ele foi diferente, contudo, pois ganhou vitória sobre a inveja e passou a orar para que Deus enchesse ainda mais o auditório de Morgan. Posteriormente, Meyer escreveu: “O que temos, agora, é que Deus respondeu minhas orações e o excesso da igreja de Morgan encheu a minha.”
A luta contra a inveja certamente não é recente. Jesus foi vítima da inveja por ser popular com o povo que se arrebanhava para ouvi-lo. Havia apenas um motivo por que os líderes judeus queriam crucifica-lo: a motivação em seus corações não foi rejeição apenas, mas também inveja.
Por isso, começaram a pedir pela morte de Jesus. Veja Marcos 15.11:
Mas estes incitaram a multidão no sentido de que lhes soltasse, de preferência, Barrabás.
Quanta tolice do povo que se deixou ser influenciado por esses líderes invejosos! Contudo, creio que esse é o retrato preciso de nossos dias: muitas pessoas são movidas por líderes que determinam o curso de suas vidas e neutralizam o pensamento crítico para que não perguntem: “Será que isso está certo mesmo?”
Já que estamos falando de pregadores, deixe-me ir um pouco mais adiante. Jamais pressuponha que o que vem de trás de um púlpito está correto; jamais pense que, só porque aquele indivíduo estudou e veste paletó e gravata, você precisa acreditar em suas palavras. Não estou falando que você deve questionar cada mínimo detalhe que ouve dos pregadores, mas que não aposente a capacidade que Deus deu de pensar criticamente e dizer: “Será que isso é a Palavra de Deus realmente?”
Você lembra da vez em que Paulo pregou ao povo da cidade de Bereia? Esse grande apóstolo pregou um sermão e o que os homens e mulheres fizeram? Foram investigar no Antigo Testamento para saber se o que Paulo dizia era verdade (Atos 17.10–12).
Essa multidão em Jerusalém não fez isso. Eles agiram de forma tola e negligente; como resultado, acabaram se tornando cúmplices de um conluio terrível para colocar Jesus Cristo na cruz.
A covardia de Pilatos aparece em Marcos 15.14–15:
Mas Pilatos lhes disse: Que mal fez ele? E eles gritavam cada vez mais: Crucifica-o! Então, Pilatos, querendo contentar a multidão, soltou-lhes Barrabás...
Pilatos quis apenas agradar o povo.
Agora, precisamos pegar leve com Pilatos. Sabemos, pela história, que, nesse exato momento, Pilatos estava envolvido numa briga com Tibério, o imperador. Tibério dizia que Pilatos, o governador daquela nação judaica difícil, era muito inflexível. Então, se Pilatos negasse o pedido para crucificar Jesus, os judeus iriam relatar a Tibério que Pilatos, realmente, era muito intransigente. Portanto, Pilatos cede ao pedido do povo na esperança de evitar problemas com o imperador.
- A tortura desumana de Jesus.
O que vemos em seguida é a tortura desumana pela qual Jesus passa.
Os açoites
Agora, Pilatos faz algo que não precisava fazer. Na verdade, era contra a lei fazer isso a um homem que deveria morrer na cruz. Lemos em Marcos 15.15 que Pilatos mandou açoitar a Jesus.
Registros históricos indicam que os açoites eram conhecidos como a “meia morte.” De fato, muitos criminosos não sobreviviam aos açoites. Não havia um número específico de açoites; a quantidade ficava por conta dos soldados romanos: se estivessem se sentindo vingativos, descontavam no pobre criminoso; se estivessem se sentindo misericordiosos, davam por volta de uma dúzia de açoites.
Os soldados usavam um objeto chamado de flagellum, uma vara curta e grossa com longas tiras de couro presas à uma das pontas. Presos nas tiras, havia pedaços de pedra e ferro. A vítima dos açoites ficava nua e curvada diante de um poste com as mãos atadas. Nessa posição, os soldados romanos, um do lado esquerdo e outro do direito, alternavam na flagelação. E eles continuavam até não quererem mais. Muitas vezes, a vítima ficava delirando e com as costas totalmente laceradas após os açoites.
A zombaria
Após ter sido açoitado, Jesus foi zombado. Veja Marcos 15.16–17:
Então, os soldados o levaram para dentro do palácio, que é o pretório, e reuniram todo o destacamento. Vestiram-no de púrpura e, tecendo uma coroa de espinhos, lha puseram na cabeça.
O manto de púrpura é, provavelmente, apenas um pedaço de pano, não um manto completo.
Não desejo enfatizar demais esse cenário sangrento, mas entenda bem a agonia de Cristo aqui. Ele é humilhado e está nu, e os soldados jogam sobre seus ombros lacerados um pedaço de pano. Em seguida, tecem uma coroa de espinhos e a colocam em sua cabeça. Continue no verso 18:
E o saudavam, dizendo: Salve, rei dos judeus!
Os soldados estavam se divertindo com esse judeu que diz ser rei. A zombaria continua no verso 19:
Davam-lhe na cabeça com um caniço, cuspiam nele e, pondo-se de joelhos, o adoravam.
Por mais repugnância que eu sinta diante disso, minha ira é amenizada quando penso que eu poderia ter feito isso. Também nos ajuda pensar em Apocalipse 19, onde vemos Jesus Cristo, o Rei da glória, vindo vestido em mantos reais com um diadema, não uma coroa de espinhos, para governar o mundo. Um dia, Jesus Cristo será vindicado. Daí, não haverá zombaria, mas honra, conforme diz Filipenses 2.10–11:
para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai.
O trajeto ao Gólgota
Em Marcos 15.20–21, vemos o trajeto de Jesus ao Gólgota:
Depois de o terem escarnecido, despiram-lhe a púrpura e o vestiram com as suas próprias vestes. Então, conduziram Jesus para fora, com o fim de o crucificarem. E obrigaram a Simão Cireneu, que passava, vindo do campo, pai de Alexandre e de Rufo, a carregar-lhe a cruz.
A prática na época era mandar o criminoso que estava sendo crucificado carregar a trave transversal, não a cruz inteira, até o local da execução. Essa viga horizontal apenas pesava cerca de 50 kg; os soldados a colocavam nos ombros do criminoso e ele a carregava. Em seguida, quatro soldados—um na frente, um atrás e um de cada lado—o conduziam ao local de crucificação pela rota mais demorada, não pela mais curta. Neste caso, Jesus caminhou por todas as ruas possíveis de Jerusalém em seu trajeto ao Gólgota, onde seria crucificado. Isso era uma espécie de desfile e servia para mostrar para o máximo de pessoas possível a terrível penalidade imposta sobre os que desafiavam Roma. Multidões se enfileiravam pelas ruas para assistir ao espetáculo.
Agora, Jesus foi açoitado. Dos três crucificados naquele dia, até onde sabemos ele foi o único a receber açoites. Por causa dos açoites, ficou tão fraco que não conseguia carregar a trave de sua cruz. Então, os soldados buscaram dentre a multidão um circunstante.
Conforme lemos no verso 21, o circunstante era natural de Cirene, provavelmente em Jerusalém para celebrar a Páscoa. Cirene era uma cidade no norte da África. Muito provavelmente, ele era negro e foi forçado pelos soldados a carregar a cruz.
O verso 21 nos diz que esse homem se chamava Simão Cireneu... pai de Alexandre e de Rufo. Agora, isso é interessante. Mas qual é o significado disso para nós? Nenhum. Mas teve significado aos leitores, os quais conheciam Rufo por causa da carta de Paulo aos Romanos. Lemos em Romanos 16.13:
Saudai Rufo, eleito no Senhor, e igualmente a sua mãe, que também tem sido mãe para mim.
Então, Rufo era um homem piedoso, membro da igreja, quem sabe talvez o mesmo Rufo filho de Simão o Cireneu. Não sabemos.
O que sabemos com certeza é que os soldados obrigaram Simão o Cireneu a carregar a cruz, o que significa que ele não queria; provavelmente, discutiu. Carregar a cruz era humilhação: ele levaria nas costas aquela trave de 50 kg pelas ruas como se fosse um criminoso.
Mas, quem sabe, talvez ele tenha ficado em Jerusalém. É fascinante pensar que Simão o Cireneu tinha ido a Jerusalém para celebrar a Páscoa—celebrar o sacrifício do cordeiro, o derramamento de sangue pelos pecados de um ano—e que ali conheceria o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Talvez nessa ocasião ele confiou em Cristo e contou a verdade aos seus filhos; depois, Rufo se tornou parte da igreja.
Simão aparece novamente em Atos 13.1 auxiliando Paulo em sua primeira viagem missionária. Evidentemente, nos bastidores, nas entrelinhas, houve uma conversão tremenda no trajeto para o Calvário.
- A compaixão inacreditável de Jesus.
Agora, com essa crueldade como pano de fundo, chegamos ao local da crucificação. É com esse pano de fundo de agonia que o Salvador é pendurado na cruz pelos pecadores.
Assim como um diamante, a beleza da cruz brilha ainda mais intensamente com esse pano de fundo tenebroso. A cruz é um belíssimo diamante na história da humanidade. Ela é bela quando compreendemos toda a crueldade e agonia e, quando olhamos para a cruz, vemos não amargura, mas a compaixão de Jesus Cristo ao ser pendurado no madeiro. Gostaria de destacar dois episódios nesse relato que revelam a incrível compaixão de Cristo.
Compaixão para com seus acusadores
Primeiramente, notamos a compaixão de Jesus por seus acusadores. Precisamos consultar o Evangelho de Lucas. Veja Lucas 23.33:
Quando chegaram ao lugar chamado Calvário, ali o crucificaram, bem como aos malfeitores, um à direita, outro à esquerda.
Conforme a prática da época, quando chegaram ao monte da crucificação, os soldados tiraram a trave dos ombros do homem que a carregava; neste caso, Simão. Depois, colocavam essa trave sobre a barra vertical. Em seguida, o criminoso era deitado sobre a cruz e seus pulsos eram pregados, bem como seus pés, um sobre o outro.
Entre as pernas do crucificado havia uma peça chamada sedulum, uma espécie de assento onde poderia descansar e respirar. Contudo, logo que sua força terminava, ele escorregava desse assento; se não conseguisse se erguer novamente, morreria sufocado. Por isso, os soldados vinham depois e quebravam as pernas dos criminosos para que escorregassem do assento de uma vez por todas e sufocassem por não mais conseguirem respirar. No caso de Jesus, suas pernas não foram quebradas.
Após pregarem Jesus na cruz junto com os dois criminosos, ele se encontra pendurado no Calvário. Veja Lucas 23.34–35:
Contudo, Jesus dizia: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem... O povo estava ali e a tudo observava. Também as autoridades zombavam e diziam: Salvou os outros; a si mesmo se salve, se é, de fato, o Cristo de Deus, o escolhido.
Toda vez em que alguém se aproximava da cruz, olhava para Jesus pendurado a 3 metros de altura e zombava dele, Cristo dizia: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem.
Agora, Jesus pede que o Pai perdoe essas pessoas. Perdoá-las do que mais especificamente? Perdoá-las de homicídio em primeiro grau. Quando estudamos o Antigo Testamento, nos deparamos com uma prática interessante chamada “cidade refúgio,” no caso daqueles que tivessem matado alguém por acidente.
Digamos que temos uma cidade refúgio hoje. Lá está você dirigindo seu carro quando, de repente, um menino corre para o meio da rua; você o atropela e mata acidentalmente. Não foi um homicídio doloso, isto é, premeditado, mas um homicídio culposo; foi uma morte por acidente—você não intencionou matar o garoto.
A lei ditava que, se a família do menino o pegasse, poderia mata-lo. Mas você tinha a oportunidade de fugir para a cidade refúgio antes de os familiares do menino o matarem. Se conseguisse chegar à cidade refúgio e permanecesse ali pelo tempo determinado, você estaria seguro.
Creio que Cristo pensa nas provisões que a lei fazia àqueles que matavam outro por acidente ou sem conhecimento. Ele diz: “Pai, perdoe essas pessoas, pois elas não estão cometendo homicídio em primeiro grau. Acuse-as de homicídio culposo apenas para que tenham a oportunidade de fugir para a cidade refúgio.”
E quem é a cidade refúgio? Jesus Cristo.
Portanto, havia esperança, mesmo para as pessoas que colocaram Jesus na cruz. E existe esperança para mim e para você; nós o penduramos ali também.
Jesus Cristo evidencia compaixão tremenda e inacreditável para com seus acusadores.
Compaixão para com os acusados
Mas Jesus revela compaixão também para com os acusados. Veja Lucas 23.35:
O povo estava ali e a tudo observava. Também as autoridades zombavam e diziam: Salvou os outros; a si mesmo se salve, se é, de fato, o Cristo de Deus, o escolhido.
Note a partícula se. Esses homens não entendem que, pelo fato de ele ser o Cristo, Jesus não pode descer da cruz. Se descesse, provaria que não era Cristo. Se permanecer ali e morrer, provará que é o Cristo.
Continue no verso 36:
Igualmente os soldados o escarneciam e, aproximando-se, trouxeram-lhe vinagre...
Enquanto esteve na cruz, ofereceram duas bebidas a Jesus. Uma delas foi “vinho com fel” (Mateus 27.34), que era um líquido que mulheres devotas costumavam levar aos criminosos sendo crucificados. A bebida era uma mistura de vinho e mirra, já que a mirra tinha propriedade anestésica. Em compaixão, as mulheres serviam vinho com fel ou mirra para aliviar a dor dos crucificados em profundo sofrimento. Jesus recusou beber essa bebida anestésica (Mateus 27.34). A segunda bebida veio numa esponja ensopada, que foi vinagre para fortalece-lo, como vemos aqui em Lucas 23.36; Jesus aceitou beber o vinagre.
Continue em Lucas 23.38:
Também sobre ele estava esta epígrafe [em letras gregas, romanas e hebraicas]: ESTE É O REI DOS JUDEUS.
O soldado que caminhava adiante do criminoso desfilava pelas ruas de Jerusalém com uma placa descrevendo o crime do qual o criminoso era culpado. Pense nisto: o soldado desfiou pelas ruas de Jerusalém carregando essa placa, a qual também foi pregada à cruz no Calvário. O crime de Jesus era dizer ser O REI DOS JUDEUS. Que ironia.
Continue nos versos 39–41:
Um dos malfeitores crucificados blasfemava contra ele, dizendo: Não és tu o Cristo? Salva-te a ti mesmo e a nós também. Respondendo-lhe, porém, o outro, repreendeu-o, dizendo: Nem ao menos temes a Deus, estando sob igual sentença? Nós, na verdade, com justiça, porque recebemos o castigo que os nossos atos merecem...
Gostaria de destacar duas coisas na vida do criminoso que repreende o crucificado que blasfemava contra Jesus.
- Primeiro, note sua coragem com base no que ele diz em seguida: mas este nenhum mal fez.
A nação judaica inteira, todos os escribas, fariseus e líderes religiosos tinham declarado Jesus culpado, mas esse criminoso declara que Jesus é inocente. Que grande repreensão à nação. E esse foi o plano de Deus desde o início. Quando Jesus entrou no planeta terra em forma humana, quem anunciou sua vinda não foram os líderes religiosos, mas os pastores desprezados pelos religiosos. Agora, em sua morte, quem declara que ele é o Cristo inocente é um criminoso, não os religiosos.
Esse criminoso revela muita coragem porque, ao dizer isso, perdeu qualquer compaixão por parte do povo e por parte de seu companheiro que está sendo crucificado do outro lado.
- Segundo, note a humildade desse criminoso em Lucas 23.42: E acrescentou: Jesus, lembra-te de mim quando vieres no teu reino.
Muitos túmulos da época não tinham o nome do morto, mas apenas a frase: “Lembra de mim.” Essa era a oração de muitas pessoas tementes a Deus, as quais oravam pedindo que Deus se lembrasse delas na ressurreição. Agora, o criminoso faz a mesma oração a Jesus: “Lembra de mim.”
Sua humildade é vista no fato de ele não pedir uma posição de autoridade ou proeminência no reino. Ele diz apenas: “Senhor, quando você vier no seu reino, poderia se lembrar de mim?” E Jesus responde em amor no verso 43: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso.
Quatro doutrinas falsas que a compaixão de Jesus refuta
Agora, a resposta compassiva de Jesus refuta pelo menos quatro doutrinas falsas.
- Primeiro, a resposta de Jesus ao ladrão refuta a falsa doutrina da regeneração batismal.
O ladrão não recebeu nenhum tipo de batismo, mas Jesus afirma que ele entrará no Paraíso. Aqueles que dizem que você precisa ser batizado para ser salvo precisam ler esse verso. Fica evidente que a salvação não vem por meio de um banho ou aspersão de água, mas unicamente pela fé em Cristo.
- Segundo, a resposta de Jesus refuta a falsa doutrina da salvação pelas obras.
O ladrão estava preso à cruz; suas mãos estavam pregadas; ele não havia realizado boas obras; ele também não frequentou alguma igreja no Calvário. Simplesmente, o ladrão não pode realizar coisa alguma. Mesmo assim, Jesus diz: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso.
Ninguém entra no reino por realizar obras, estudar a Bíblia, ser membro de igreja, etc. Como alguém disse: “É somente chegando ao ponto em sua vida em que deixa de confiar em si mesmo para salvação e passa a confiar em Deus para sua salvação.”
- A terceira doutrina falsa refutada pela resposta de Jesus é a do sono da alma.
Conforme alguns dizem, quando você morre, sua alma entra num estado inconsciente enquanto aguarda o retorno de Jesus. Mas Cristo disse ao ladrão: hoje estarás comigo no paraíso.
- E a quarta doutrina falsa que a resposta de Jesus refuta é a do purgatório.
Conforme diz essa doutrina católica, depois da conversão você ainda passará pelo fogo do inferno para ser purificado e preparado para o reino.
Contudo, conforme lemos em Romanos 5.1, já fomos justificados pelo sangue de Jesus Cristo e, por causa desse sangue e de nossa fé no sangue de Jesus, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo.
Não existe purgatório; não precisamos temer fogo algum. Você foi aperfeiçoado, não por suas obras, mas pela obra de Cristo na cruz.
Conclusão
É nesse momento que lemos em Marcos 15.33 que houve trevas sobre toda a terra. Houve trevas. Mais uma vez, somos conduzidos de volta ao Antigo Testamento, à décima praga que Deus lançou sobre o Egito: escuridão.
Essa é uma indicação poderosa de que Cristo, o Filho unigênito de Deus, está prestes a morrer. Semelhantemente, é uma indicação clara de que, se você não aplicar o sangue de Cristo aos umbrais da porta de seu coração, você enfrentará morte eterna. Então, houve trevas.
Pouco tempo depois, Jesus Cristo pronuncia uma palavra grega: tetelestai. Conforme lemos em João 19.30: Está consumado! O que foi consumado? O plano de redenção de Deus está completado.
O termo era empregado pelos escravos que iam aos seus senhores para dizer que tinham terminado a tarefa ordenada. Também era usado por mercadores que escreviam tetelestai no recibo, indicando que o preço havia sido pago por completo. E foi esse termo que Cristo escolheu empregar para indicar, como servo de Deus, que sua vontade foi realizada, que o preço foi pago por completo.
Cristo veio e completou o que tinha vindo fazer; ele tinha vindo do céu para construir uma ponte da terra ao céu e a ponte veio no formato de uma cruz. Uma ponte que eu e você podemos atravessar. Você já atravessou?
Este manuscrito pertence a Stephen Davey, pregado no dia 27/03/1988
© Copyright 1988 Stephen Davey
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