De Mãos Atadas (Parte 1)

De Mãos Atadas (Parte 1)

by Stephen Davey Ref: 1 Kings 1–22; 2 Kings 1–25; 1 Chronicles 1–29; 2 Chronicles 1–36

De Mãos Atadas (Parte 1)

2 Reis 2.19–25; 4.1–2

Introdução

Vários anos atrás, recebi um artigo sobre um incidente que um pastor registrou. Inicialmente, achei meio esquisito. Mas, depois de ter pensado um pouco, percebi que não era tão esquisito assim.

Esse ocorrido se passou na Rússia antes da queda da Cortina de Ferro. Esse autor, o pastor, e vários outros pastores estavam viajando pelo nordeste da Rússia em busca de novas oportunidades para a instalação de uma estação de rádio evangélica.

Em uma das cidades onde pararam, o Comissário (uma espécie de prefeito) os conduziu numa caminhada. Ele não sabia que eram pastores – sabia apenas que eram americanos. E, evidentemente, ele queria comunicar alguma mensagem para esses turistas americanos. Quando eles caminhavam em direção ao centro da cidade, ele lhes disse que os cidadãos tinham orgulho da igreja deles e os convidou para entrar e vê-la de perto.

Ao se aproximarem da igreja, os pastores ficaram bastante surpresos ao verem uma bela construção branca com as famosas torres em formato de cebola bastante comuns na Rússia. Ao entrarem, perceberam que o saguão de entrada era bastante parecido com os das igrejas do ocidente, tendo portas que conduziam ao templo.

Contudo, quando eles abriram as portas e entraram no templo, ficaram boquiabertos: ele havia perdido qualquer semelhança a um local de adoração a Deus. Desde o chão até o teto, estavam pendurados vários poleiros repletos de galinhas chocadeiras.

O Comissário gesticulou com os braços e disse: “A nossa igreja é a chocadeira mais elegante de toda a região.” Daí, ele olhou para os americanos e anunciou: “Deus não é real, mas as galinhas são.”

A biografia de Eliseu começa agitada com vários acontecimentos. Logo de início nos deparamos com seis histórias que levam menos de cinco minutos para ler. Cada uma delas é um esboço que busca comunicar simplesmente que Deus é real, que Deus está envolvido nas lutas, provações, vitórias e realizações cotidianas do crente. Deus está vivo e vai bem!

Podemos afirmar com ousadia que todo crente pode testemunhar, de uma forma ou de outra, do poder, intervenção e tempo de Deus. Talvez tenha sido através de alguma situação dificílima, um acontecimento desagradável, um relacionamento que terminou, uma tarefa complicada ou, ainda, através do diagnóstico desanimador de um médico. Todo crente pode testificar do maravilhoso fato de que as mãos de Deus estiveram envolvidas, mesmo quando suas mãos estavam atadas.

Verdades Primárias
da Vida de Eliseu

Apesar de eu geralmente destacar algumas verdades no final de nossos estudos, hoje resolvi mencioná-las logo no início de nossa série biográfica em Eliseu. Permita-me salientar alguns pontos que devemos sempre manter em mente, especialmente quando encaramos situações adversas.

  • Primeiro: quando Deus está no controle, planos não devem se transformar em caos.

Talvez você já tenha ouvido o velho ditado: “Não fique aí parado! Faça alguma coisa!” Às vezes, o que o céu nos diz é: “Não faça nada! Fica aí parado... e espere!” Em outras palavras, depender do Senhor significa confiar no seu agir a seu tempo.

  • Segundo: quando Deus está no controle, confiança não deve se transformar em culpa.

O apóstolo Paulo escreveu à igreja de Corinto (e a nós) que os acontecimentos registrados no Antigo Testamento sobre a história de Israel foram escritos para o nosso ensino para que não repitamos o mesmo pecado de descrença.

Para dizer a verdade, quando encaramos uma situação que parece ser impossível—especialmente quando nos vemos de mãos atadas durante uma tragédia—nossa reação tende a ser exatamente a mesma da nação de Israel.

Deixe-me dar um exemplo; abra sua Bíblia em Êxodo 14. Acredite ou não, um capítulo no livro de Êxodo serve para nos ensinar.

Em Êxodo 14, os israelitas acabaram de sair do Egito. O Faraó muda de ideia e envia seu exército para ou matar os israelitas, ou leva-los de volta ao Egito como escravos. Então, os israelitas se encontram à beira do Mar Vermelho e o Faraó com seu exército atrás deles. Veja o verso 10:

E, chegando Faraó, os filhos de Israel levantaram os olhos, e eis que os egípcios vinham atrás deles, e temeram muito; então, os filhos de Israel clamaram ao Senhor.

  • A primeira reação é caos, pânico.

Para ser honestos, se estivéssemos no meio desse grupo de pessoas que não têm para onde correr—montanhas de um lado, o mar na frente e o exército egípcio atrás—teríamos dito: “Já era! Estamos perdidos!” Esse é o momento de ficar com medo, de entrar em pânico.

  • A segunda reação, que resulta da primeira, é culpa.

Veja o verso 11:

Disseram a Moisés: Será, por não haver sepulcros no Egito, que nos tiraste de lá, para que morramos neste deserto? Por que nos trataste assim, fazendo-nos sair do Egito? 

  • A terceira reação é o veredito: todos decidem se desesperar.

Veja o verso 12:

Não é isso o que te dissemos no Egito: deixa-nos, para que sirvamos os egípcios? Pois melhor nos fora servir aos egípcios do que morrermos no deserto. 

O povo avalia a situação, processa os dados e o resultado é duas opções: ou voltar para o Egito e viver como escravos novamente, ou morrer. Então, eles dizem: “Moisés, nossa análise chegou à seguinte conclusão: é morte ou escravidão.”

Eles nunca pensaram que Deus poderia ter uma terceira opção. Que tal águas abrindo ao meio e o povo atravessando o mar em seco e, em seguida, os egípcios morrendo afogados atrás dos israelitas? Alguém aí gosta dessa ideia?

Meu amigo, suas mãos estão atadas? Você anda oscilando entre medo, culpa e desespero? Você disse para Deus que tem uma ou duas opções apenas?

De fato, pode ser que Deus queria que você atravesse o Mar Vermelho a nado ou que construa um bote, mas ele garante que, quando você chegar ao lar, ele não terá que pedir desculpas porque algo o pegou de surpresa.

Nosso problema é que, quando estamos de mãos atadas, dizemos: “Senhor, andei analisando a situação aqui e só existe um jeito de o Senhor resolver esse problema.”

Apesar de ser muito mais fácil falar do que fazer isso, existe algo em nossa vida como crentes que substitui medo por confiança, que remove a culpa e, conforme amadurecemos em nosso relacionamento com Jesus Cristo, isso nos impede de ficar amargurados contra Deus e as demais pessoas; e esse algo é o seguinte: conhecer, amar e descansar em nosso Deus soberano, gracioso e sábio. Ele mesmo disse no Salmo 46.10: Aquietai-vos e sabei que eu sou Deus.

Até onde Deus sabe, existe algo tranquilizador em conhece-lo. Estudar e adorar a Deus transforma pânico em confiança tranquila. Então, ao invés de pensar nas 5 maneiras como Deus o tem decepcionado, pense nas 5 maneiras como você pode conhecer seu poderoso Deus melhor.

 

Impossibilidades no Ministério de Eliseu

Vamos, agora, para a história de Eliseu em 2 Reis, começando no capítulo 2. É aqui que o profeta pega o manto de seu mentor após Elias ter sido levado para o céu numa carruagem em meio a um redemoinho.

Eliseu acaba de assumir a posição de principal porta-voz de Deus e, imediatamente, se depara com algumas situações complicadas. Da perspectiva humana, suas mãos estão atadas. Vamos ver como Deus age em seu favor.

  • A primeira impossibilidade com que Eliseu se depara é a necessidade de purificação na nação de Israel por meio de uma intervenção divina.

Veja 2 Reis 2.19–22:

Os homens da cidade disseram a Eliseu: Eis que é bem-situada esta cidade, como vê o meu senhor, porém as águas são más, e a terra é estéril. Ele disse: Trazei-me um prato novo e ponde nele sal. E lho trouxeram. Então, saiu ele ao manancial das águas e deitou sal nele; e disse: Assim diz o Senhor: Tornei saudáveis estas águas; já não procederá daí morte nem esterilidade. Ficaram, pois, saudáveis aquelas águas, até ao dia de hoje, segundo a palavra que Eliseu tinha dito.

A maioria dos estudiosos bíblicos afirma que o milagre aconteceu na única fonte de água próxima a Jericó. Ela brota perto do pé de um morro na cidade antiga e, até hoje, corre pela planície de Jericó.

Agora, o milagre não esteve no sal, não foi resultado de uma reação química. O sal era simplesmente um símbolo de preservação em meio a corrupção e decomposição.

Com esse milagre, Eliseu está pregando um sermão sobre a necessidade de purificação divina. O povo de Jericó e a nação toda precisavam de purificação de Deus. Eles seriam preservados apenas por intervenção de Deus.

É interessante descobrir em 2 Crônicas 13 que o trono de Davi foi estabelecido para sempre com uma aliança de sal. Então, o sal pode ter sido usado nesse milagre simbolicamente como um lembrete de que a nação precisava não somente de purificação vinda de Deus, mas para indicar que ainda estava sob a responsabilidade da aliança de Deus, o qual permanecia no controle de seu reino divino.

A propósito, essa fonte solitária de água ainda corre em Jericó hoje, com água saborosa e fresca. A fonte recebeu o nome “A Fonte de Eliseu.”

  • A segunda impossibilidade que Eliseu encara está ligada à rebelião da nação de Israel à Palavra de Deus.

Leia 2 Reis 2.23–24:

Então, subiu dali a Betel; e, indo ele pelo caminho, uns rapazinhos saíram da cidade, e zombavam dele, e diziam-lhe: Sobe, calvo! Sobe, calvo! Virando-se ele para trás, viu-os e os amaldiçoou em nome do Senhor; então, duas ursas saíram do bosque e despedaçaram quarenta e dois deles. Dali, foi ele para o monte Carmelo, de onde voltou para Samaria.

Agora, você já deve ter ouvido muitas piadas sobre essa passagem; geralmente, os carecas apelam a esse texto em tom de brincadeira para dizer: “Está vendo? Cuidado com as piadinhas sobre carecas!”

Obviamente, essa passagem é muito mais séria do que isso. Deixe-me destacar alguns detalhes que explicam sua seriedade.

Primeiramente, é importante saber que a narrativa se passa do lado de fora de cidade de Betel. Durante os ministérios de Elias e Eliseu, Betel tinha se tornado o centro do culto a Baal em Israel.

Em segundo lugar, os rapazinhos eram homens jovens. O termo hebraico usado para falar dos rapazinhos, naar, é empregado no decorrer do Antigo Testamento em referência a jovens casados. Esses rapazes tinham idade suficiente para serem responsabilizados por suas ações diante de Deus.

O que esses rapazes fazem com Eliseu é um insulto. A gravidade do insulto se deve ao fato de eles estarem falando não de sua aparência física, mas de seu ofício como profeta de Yahweh. Note novamente a primeira parte do verso 23, onde eles dizem: Sobe...! Sobe...!

A maioria dos estudiosos que consultei acredita que a referência é ao fato de Elias ter subido, ou supostamente subido trasladado para o céu. Para os adoradores de Baal, é claro, a ida de Elias foi, na verdade, um alívio. Agora, eles mandam Eliseu, o substituto de Elias, subir, ou seja, ir embora também.

Os insultos desses rapazes foram muito mais sérios do que meras piadinhas. A gravidade de seu pecado aparece no verso 24, onde lemos que duas ursas despedaçaram 42 deles. Em outras palavras, havia mais do que 42; quem sabe, talvez uns 100 homens saíram para insultar em massa o profeta de Yahweh. Eles o seguem e gritam cada vez mais alto. Essa aqui é uma quadrilha cujo objetivo final pode muito bem ser o de ferir o profeta. Conforme um autor colocou, foram necessárias duas ursas para proteger Eliseu de um possível linchamento.

Enquanto o sal na água solidificou a liderança de Eliseu sobre os israelitas tementes a Deus, duas ursas anunciariam aos idólatras descrentes que Eliseu era o profeta de Deus naqueles dias.

  • O capítulo 4 começa com ainda outra situação difícil para Eliseu: a viúva de um profeta lhe conta sobre sua necessidade desesperadora de ajuda.

Veja 2 Reis 4.1:

Certa mulher, das mulheres dos discípulos dos profetas, clamou a Eliseu, dizendo: Meu marido, teu servo, morreu; e tu sabes que ele temia ao Senhor. É chegado o credor para levar os meus dois filhos para lhe serem escravos.

Pare aqui por um instante. Coloque-se no lugar de Eliseu. Ele não tem dinheiro algum. Conforme o sistema legal de Israel, a esposa e os filhos de devedores se tornavam servos do credor por até 7 anos.

Os profetas geralmente viviam juntos numa comunidade, perto um do outro, e se ajudavam entre si com roupa, comida, etc. Eles eram pessoas pobres, especialmente vivendo numa época em que os profetas de Deus formavam uma minoria desprezada. Nem mesmo os outros profetas puderam ajudar essa viúva desamparada.

Segundo o Targum, escritos aramaicos datados de antes de Cristo, essa viúva era a esposa do profeta Obadias, o mesmo Obadias que escreveu o livro profético.

Flávio Josefo, historiador judeu do século primeiro depois de Cristo, registra que ela era a esposa de Obadias e que Obadias, antes de morrer, tomara emprestado dinheiro a fim de alimentar os profetas que escondera de Jezabel nas cavernas. Já estudamos esse acontecido em 1 Reis.

Portanto, tudo indica que essa era a esposa piedosa de um profeta piedoso que morreu inesperadamente. Sua morte foi tão repentina que Obadias não teve a oportunidade de colocar seus negócios financeiros em ordem. Na época, não havia seguradoras. Então, sua esposa e filhos estão em perigo de se tornarem servos até que a dívida seja paga.

A viúva, então, conta sua situação a Eliseu. Esperaria que o profeta dissesse: “Dona, me desculpe, mas não tem jeito. Você está numa situação complicada e não posso fazer nada.”

Gostaria de destacar dois pensamentos sobre impossibilidades antes de prosseguirmos adiante.

  • O primeiro é: até mesmo os crentes mais compromissados com Cristo, às vezes, passam por momentos de grande teste.

Uma das acusações do diabo é: “Se você fosse um crente melhor, isso não estaria acontecendo agora. Se andasse mais perto de Deus, essa situação vergonhosa e dolorosa que ameaça seu lar e vida jamais teria acontecido.”

O indivíduo que pensa dessa maneira ou fala dessa forma se une aos conselheiros de Jó. Meu amigo, certifique-se de que você não se transformará num conselheiro de Jó para si mesmo.

  • O segundo pensamento é o seguinte: com maior frequência, as respostas de Deus só aparecem quando experimentamos os momentos mais desesperadores.

Conforme lemos no Salmo 46.1, Deus é socorro bem presente na tribulação. Perceba que o verso não diz que Deus é socorro antes da tribulação, mas presente na tribulação.

Você sente a urgência nessa história? Observe mais uma vez o final do verso 1 e veja os detalhes, coloque-se no lugar dessa viúva:

...Meu marido, teu servo, morreu; e tu sabes que ele temia ao Senhor. É chegado o credor para levar os meus dois filhos para lhe serem escravos.

O verso transmite a ideia de que o credor está de pé do lado de fora da casa da viúva, esperando o pagamento; seus filhos estão dentro de casa chorando e a viúva suplica a Eliseu: “Eliseu, você tem alguma palavra do Senhor?”

Veja o verso 2:

Eliseu lhe perguntou: Que te hei de fazer? Dize-me que é o que tens em casa. Ela respondeu: Tua serva não tem nada em casa, senão uma botija de azeite.

Aplicação

Permita-me concluir com três aplicações que nos ajudam a saber que, quando nossas mãos estão atadas, nossos corações ainda podem triunfar.

  • Primeiro: dificuldades servem para desenvolver nossa confiança em Deus.
  • Segundo: aqueles dispostos a confiar verão, no fim, o poder de Deus sendo revelado.
  • E terceiro: quando a solução de Deus é revelada, nossa reação final é louvor.

 

Este manuscrito pertence a Stephen Davey, pregado no dia 14/01/1996

© Copyright 1996 Stephen Davey

Todos os direitos reservados

 

 

 

 

Transcript

 

 

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