Coisas Quebradas

Coisas Quebradas

by Stephen Davey

Coisas Quebradas

João 21.15–17

Introdução

Kathy Ormsby foi uma atleta de sucesso. Ainda estudava medicina na universidade enquanto participava de competições como corredora; chegou até a bater um recorde na modalidade. Ela estava com tudo. Classificou-se para várias competições, correndo os 3, 5 e 10 mil metros. Era uma celebridade. Tudo parecia estar dando certo para essa jovem de vinte e um anos.

Algo, contudo, estava perigosamente errado: estava obcecada com seu desejo de vencer. Durante uma competição de 10 mil metros, ela desistiu quando atingiu os 6 mil e 500 metros. Totalmente sobrecarregada, sua vida logo perdeu o sentido—vencer uma corrida não significava mais nada. Ela se virou e saiu do estádio, correu para a ponte que ficava a dois quarteirões dali e se jogou, caindo de uma altura de 15 metros. Agora, está paralisada do tórax para baixo. Kathy Ormsby nunca mais poderá correr. Ao retratar o incidente, um jornal fez a seguinte pergunta: “Quantos outros atletas, também obcecados com a vitória, correm em direção à queda?”

A inspiração e a autenticidade da Bíblia são comprovadas vez após vez ao registrar as falhas dos seus personagens principais. Se deixada sozinha, a mente humana modificará a história para amenizar ou esconder os erros fatais e os defeitos de cada personagem. Um dos três amigos mais chegados de Simão Pedro escreveu um porção inspirada das Escrituras e relatou uma falha de Pedro. É registrada de maneira aberta, sem nenhuma tentativa de escondê-la. João, o autor, seguiu a direção do Espírito Santo e escreveu sobre o fracasso de seu amigo.

Em nosso estudo dessa narrativa conhecida como o Evangelho de João, temos observado Pedro meio orgulhoso, um atleta forte, obcecado com a vitória e que se gabava afirmando que jamais seria derrotado. Então, nós o vimos ficar emocional e espiritualmente paralisado pelo medo e, daí, veio o fracasso. Somos deixados na expectativa: será que ele voltará a correr?

Essa história tem um final feliz. João também inclui em seus comentários finais a maravilhosa restauração de Pedro à comunhão e ao serviço. Na realidade, é a história de como Deus restaura e usa coisas quebradas e corações quebrados—pessoas quebradas—para a sua glória.

A Questão do Amor

Abra sua Bíblia na incrível narrativa de João, capítulo 21. Começaremos com os versos 12 a 14:

Disse-lhes Jesus: Vinde, comei. Nenhum dos discípulos ousava perguntar-lhe: Quem és tu? Porque sabiam que era o Senhor. Veio Jesus, tomou o pão, e lhes deu, e, de igual modo, o peixe. E já era esta a terceira vez que Jesus se manifestava aos discípulos, depois de ressuscitado dentre os mortos.

Agora, nos versos 15 a 17, vemos registrada uma das conversas mais impressionantes entre Deus e um homem:

Depois de terem comido, perguntou Jesus a Simão Pedro: Simão, filho de João, amas-me mais do que estes outros? Ele respondeu: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Ele lhe disse: Apascenta os meus cordeiros. Tornou a perguntar-lhe pela segunda vez: Simão, filho de João, tu me amas? Ele lhe respondeu: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Disse-lhe Jesus: Pastoreia as minhas ovelhas. Pela terceira vez Jesus lhe perguntou: Simão, filho de João, tu me amas? Pedro entristeceu-se por ele lhe ter dito, pela terceira vez: Tu me amas? E respondeu-lhe: Senhor, tu sabes todas as coisas, tu sabes que eu te amo. Jesus lhe disse: Apascenta as minhas ovelhas.

A fim de entendermos e aplicarmos essa passagem corretamente, vamos dividi-la em três partes. Cada uma dessas três partes do diálogo entre Jesus e Pedro contém uma Pergunta, uma Resposta e uma Ordem.

A Primeira Pergunta

Veja novamente a primeira parte do diálogo no verso 15: Simão, filho de João, amas-me mais do que estes outros? Agora, essa é uma pergunta intrigante por muitos motivos. Uma razão é a sua natureza comparativa: “Pedro, você me ama mais do que estes outros?”

Deixe-me fornecer três possíveis interpretações:

  • Você me ama mais do que essas redes de pesca, a fisgada do peixe, o seu negócio de família?

Em outras palavras, “Você está disposto a deixar o seu trabalho e a segurança desse negócio antigo de família para me seguir e fazer a minha vontade?”

  • Você me ama mais do que esses homens?

Esses são os seus melhores amigos e os seus relacionamentos foram enraizados em solos férteis. Você está disposto a deixar esses que você ama para me seguir?

  • Você me ama mais do que esses homens me amam?

Sinceramente, creio que era isso o que estava na mente de Jesus. Isso ecoa aquela conversa registrada em Mateus 26, quando Jesus declarou no cenáculo, no verso 21, dizendo: um dentre vós me trairá. Todos eles disseram no verso 22: ...acaso sou eu, Mestre? Então Jesus disse a Pedro, no verso 34: tu me negarás três vezes.

Pedro reage a isso e afirma no verso 35:

Ainda que venhas a ser um tropeço para todos, nunca o serás para mim... Ainda que me seja necessário morrer contigo, de nenhum modo te negarei.

Em outras palavras, “Embora todos esses homens aqui o negarão, Senhor, o meu amor por ti é muito mais forte e maior do que o deles... eu serei o que permanecerá firme.”

“Certo, Pedro, e agora, você me ama mais do que esses outros homens me amam? Você realmente vai permanecer firme?”

E, a propósito, o Senhor escolhe a palavra grega agapao para “amor,” quando pergunta a Pedro: Pedro, tu me amas ou agapao? Esse é o tipo de amor intelectual, volitivo; é uma palavra que expressa compromisso, independente das circunstâncias. Essa é a palavra utilizada para se referir ao amor entre o marido e a esposa. Então Jesus pergunta a Pedro: “Você realmente tem esse tipo de amor firme por mim? Está bem solidificado em seu compromisso?”

Antes de finalizarmos essa primeira pergunta, deixe-me fazer uma pergunta. Se Cristo estivesse sentado com você na areia da praia com aquela fogueira do lado e perguntasse: “Você me ama mais do que estes outros?”, no seu caso, o que “esses outros” representaria? Será que seria sua vida profissional, sua casa, seus filhos, seu cônjuge, sua estabilidade financeira, sua saúde? Uma das melhores maneiras de revelar o seu amor pelo Senhor é quando ele remove um desses de sua vida.

A Primeira Resposta 

Então, vamos ver a resposta de Pedro no verso 15: Ele respondeu: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Pedro escolhe responder usando uma palavra diferente para “amor;” é a palavra grega phileo, que significa “amor fraternal, afeição profunda.”

É como se Pedro, já bastante humilhado, dissesse: “Senhor, eu já me orgulhei de meu compromisso resoluto contigo. Agora, mais do que nunca, estou ciente de minha fraqueza, sensível às minhas limitações e com medo de me gloriar novamente. Eu tenho um amor muito forte, uma profunda afeição por ti, Senhor.”

A Primeira Ordem

Agora, Jesus dá uma ordem no verso 15: Apascenta os meus cordeiros. Jesus manda que Pedro apascente ou “alimente,” usando a palavra grega bosko, meus cordeirinhos, arnion, que significa “aqueles novos na fé que têm a tendência de se desviar.”

Três Observações 

Neste ponto, desejo fazer algumas observações.

  • A primeira observação é que os cordeiros ou ovelhas pertencem a Cristo, não à igreja.

Em cada um desses três versos, Cristo dá ordens a Pedro usando o pronome possessivo meus ou minhas:

  • verso 15: Apascenta os meus cordeiros.
  • verso 16: Pastoreia as minhas ovelhas.
  • verso 17: Apascenta as minhas ovelhas.
  • A segunda observação é que é possível ocupar o ofício de pastor, mas nunca alimentar as ovelhas.

Existem muitos pastores e líderes eclesiásticos que não são pastores de fato, uma vez que nunca alimentam o rebanho. A palavra “pastor,” no grego poimenes, significa “aquele que alimenta.” Jesus está dizendo: “Pedro, certifique-se de que cumprirá seu ofício de alimentar as ovelhas.”

  • A terceira observação é que, nessa passagem, não somente a função da liderança espiritual é explicada, mas também a preocupação profunda de Cristo com o seu rebanho é revelada.

No verso 17 a ordem de Cristo é: “Apascenta as minhas ovelhas,” que poderia ser traduzida: “Cuide das minhas ‘queridas’ ovelhas.”

Para todos aqueles envolvidos com o ensino e a alimentação espiritual, existe uma recomendação especial de Jesus, além de uma recompensa especial para aqueles que entram no ministério pastoral. Esse é um bom lembrete de que, no coração de Cristo, existe uma profunda preocupação com suas ovelhas.

As acusações mais fortes contra o povo de Israel no Antigo Testamento eram contra os seus líderes—os sacerdotes e profetas que desviavam o povo e cujos rebanhos estavam famintos por causa da falta de instrução. Haverá muitos pastores e mestres da Bíblia que perderão suas recompensas porque conduziram o rebanho para um deserto de terra seca ao invés de levá-lo para os pastos ricos da Palavra de Deus. Tiago advertiu os líderes do Novo Testamento com suas palavras no capítulo 3, verso 1, que diz:

Meus irmãos, não vos torneis, muitos de vós, mestres, sabendo que havemos de receber maior juízo.

Esse é o final da primeira parte do diálogo de Jesus com Pedro.

A Segunda Pergunta

Jesus faz uma segunda pergunta a Pedro no verso 16: Tornou a perguntar-lhe pela segunda vez: Simão, filho de João, tu me amas [agapao]?

Duas coisas precisam ser mencionadas antes de prosseguirmos:

  • Veja que, nessa segunda pergunta, Jesus deixa de lado qualquer aspecto comparativo do amor; ele não se referiu de novo a “esses outros.” Creio que não é mais necessário, pois Pedro entendeu a questão. Sua consciência já queima com seu orgulho naquela noite da Ceia e com a sua negação.
  • Note também que Jesus se referiu a Pedro usando seu antigo nome, Simão. Com certeza, isso chamou a atenção de Pedro mais do que qualquer outra coisa. 

Volte para João 1 e veja os versos 40 a 42:

Era André, o irmão de Simão Pedro, um dos dois que tinham ouvido o testemunho de João e seguido Jesus. Ele achou primeiro o seu próprio irmão, Simão, a quem disse: Achamos o Messias (que quer dizer Cristo), e o levou a Jesus. Olhando Jesus para ele, disse: Tu és Simão, o filho de João; tu serás chamado Cefas (que quer dizer Pedro).

A palavra olhando descreve um olhar concentrado e bem intencionado. Poderia ser entendido como: “Jesus não somente olhou para Pedro, mas olhou dentro de Pedro.” Daí Jesus Cristo, com sua autoridade sobre Simão, disse: “Vou mudar o seu nome.” Isso era geralmente feito baseado em alguma qualidade ou traço característico da pessoa. “Vou mudar o seu nome para “rocha,” significando, “forte, perseverante, imóvel, consistente, controlado.” Não é surpresa nenhuma que Pedro não disse nada—ele ficou sem palavras. E isso é algo raro, como você bem sabe, pois Pedro abria a boca até para dar um passo.

Pedro era qualquer outra coisa, menos como uma pedra. Ele tinha a tendência de ter explosões emocionais; era aquele cuja boca agia antes que o cérebro, aquele que sempre estava lutando com seu próprio temperamento, ambição e consistência. Ele queria se tornar discípulo de Jesus. A questão crucial era: Será que queria ser radicalmente transformado?

Existem muitas pessoas que seriam discípulos, mas que usam a desculpa de sua personalidade ou inconsistência. Jesus nunca oferece desculpas, também não aceitará nenhuma desculpa de você. Ele oferece um programa de mudança radical chamado “discipulado.” Nesse programa, temos que admitir erros, falhas, pecados. Existe uma parte do discipulado que é desconfortável. Nossa necessidade de mudança é exposta—mudança em nosso caráter, personalidade, vocabulário, etc. Muitas pessoas não se dispõem a alimentar as ovelhas porque nunca tiveram uma conversa face a face ou franca com Jesus ao lado de uma fogueira, deixando que ele lhes mostrasse seus erros graves.

A dificuldade de Pedro era que ele achava que realmente era aquilo que o seu nome significava—uma rocha. Jesus estava no processo de lhe ensinar que, à parte da força de Cristo, Pedro era apenas um grãozinho de areia. Então, Jesus deixa isso bastante claro ao se referir a Pedro como Simão, dizendo: Simão, tu me amas?

A Segunda Resposta  

Agora, a segunda resposta de Pedro é revelada no meio do verso 16 de João 21: Sim, Senhor, tu sabes que te amo [phileo].

A Segunda Ordem

Então, Jesus dá uma segunda ordem na última parte do verso 16: Pastoreia as minhas ovelhas. Pastoreia é a palavra poimaino, que significa “cuidar de, alimentar.” Então, Jesus está dizendo: “Seja um pastor de minhas ovelhas.” E essas ovelhas são aquelas que ainda não estão maduras na fé. “Você precisa cuidar delas, protegê-las, guiá-las e liderá-las.”

A Terceira Pergunta 

Olhe agora o verso 17 e identifique a terceira pergunta. Existe uma mudança de palavras interessante que o nosso português não consegue transmitir: Simão, filho de João, tu me amas [phileo]? O Senhor decide usar a mesma palavra que Pedro vinha usando para falar do “amor,” deixando de lado agapao e usando phileo. É algo poderoso quando ele diz: “Você tem uma afeição profunda por mim?”

Deixe-me parafrasear e esclarecer isso, a fim de transmitir o que eu creio que está acontecendo nesta cena. É como se o Senhor dissesse a Pedro: “Certo, Pedro, o melhor que você pode me oferecer é profunda afeição. Estou feliz em vê-lo usando a palavra ‘afeição,’ porque nós dois sabemos que, neste momento em sua vida, se você dissesse que tem um compromisso sólido de amor para comigo, estaria apenas sendo mais uma vez presunçoso. Muito bem, então, Simão, filho de João, você realmente possui essa afeição profunda por mim?”

Creio que essa pergunta trouxe tristeza por causa da combinação de dois motivos:

  • a mudança de palavras de Jesus atingiu o coração de Pedro e o humilhou novamente; 
  • e Jesus fez a mesma pergunta a Pedro três vezes.

Veja como as Escrituras deixam isso explícito no verso 17: Pedro entristeceu-se por ele lhe ter dito, pela terceira vez: Tu me amas? Três vezes Pedro negou o Senhor, conforme Mateus 26 nos diz:

  • verso 70b: Não sei do que vocês estão falando.
  • verso 72b: Não conheço o homem.
  • verso 74a: ele começou a praguejar e jurar: Não conheço esse homem!

O capítulo 22, versos 61 e 62, do Evangelho de Lucas adiciona a informação de que o olhar de Pedro atravessou o pátio no mesmo instante em que Jesus olhou para ele, e seus olhares se encontraram. Que momento agonizante para Pedro. Ele saiu correndo do pátio e chorou amargamente.

Agora, ao lado dessa fogueira, de novo, três vezes assombram sua vida, revelando sua culpa e quebrando-o ao meio. Jesus diz: “Pedro, você me ama?”

É interessante porque Jesus poderia ter perguntado milhares de coisas a Pedro, como:

  • “Pedro, você se arrepende do que aconteceu?”
  • “Pedro, você já se arrependeu de fato?”
  • “Pedro, você deseja pedir perdão?”
  • “Pedro, você promete que não será mais desleal daquela forma?”

Mas não. “Pedro, você me ama?” Tudo se resume a isso. E é assim também com a nossa vida cristã:

  • marido, se está sendo infiel à sua esposa é porque você não ama Cristo.
  • aluno, se trapaceia em seus estudos é porque você não ama Cristo.
  • amigo, se está com raiva pela maneira como tem sido maltratado por outros é porque retirou os seus olhos de Jesus Cristo.

Você sabe o que precisamos fazer? Precisamos parar de orar pedindo a Deus por mais amor por nossa esposa, filhos, casa, trabalho, ministério e investir mais tempo pedindo que ele nos conceda maior amor pelo seu Filho Jesus. Todas essas coisas são boas, mas a melhor que podemos fazer é cumprir o maior mandamento já dado, conforme registrado em Mateus 22, verso 37:

...Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento.

A Terceira Resposta 

A terceira resposta está no meio do verso 17: Senhor, tu sabes todas as coisas, tu sabes que eu te amo [phileo]. Que tremendo sinal de crescimento na vida de Pedro! Pouco tempo atrás, ele teria tentado convencer o Senhor de que ele não sabia ao certo o que se passava em seu coração: “Senhor, deixe-me dizer o que meu coração realmente sente por você.” Agora não. Pedro simplesmente reconhece a onisciência de Cristo e diz: “Senhor, não existe nada em minha vida que o Senhor não conheça. Você sabe de tudo. O Senhor sabe que eu tenho uma afeição profunda por você.”

A Terceira Ordem

A terceira ordem segue no texto e se encontra na última parte do verso 17. Jesus diz a Pedro: Apascenta as minhas ovelhas. Apascenta é a palavra grega bosko, que significa “alimentar”, e ovelhas é a palavra probaton, significando “cordeiros novos.”

Também me impressiona o fato de que Jesus poderia ter mandado Pedro fazer muitas coisas, como:

  • “Pedro, edifique a minha igreja.”
  • “Pedro, evangelize o mundo.”
  • “Pedro, treine líderes para o futuro.”
  • “Pedro, ore todos os dias depois que eu partir.”
  • “Pedro, memorize as Escrituras.”
  • “Pedro, seja um exemplo para a igreja.”

Todavia, Jesus disse: “Pedro, quero que você cuide das minhas ovelhas.” Pode ser que envolva todas as outras coisas, mas a prioridade é não deixar que as ovelhas passem fome.

As Características de Um Quebrantamento

Jesus está no processo de ordenar o Pedro quebrantado ao ministério.

Quero agora deixar aquela areia e fogueira à beira da praia e viajar até a nossa realidade hoje. Jesus está em busca de discípulos quebrantados hoje mais do que nunca. Quais as características de um quebrantamento? Sinto que Deus vem trabalhando em minha vida. Será que é isto que ele tem feito—me quebrantando? Permita-me compartilhar três características de um quebrantamento para ajudá-lo em sua caminhada cristã.

  • A primeira característica é que ser quebrantado é perceber que Jesus Cristo sabe tudo sobre você e mesmo assim o ama.

Jesus Cristo conhece as piores coisas a nosso respeito e mesmo assim nos ama.

Um autor destacou o aspecto maravilhoso da onisciência de Cristo. Se ele não sabe de todas as coisas, precisamos temer que um dia algo tão ruim ocorrerá em nossas vidas que fará com que Deus remova de nós seu amor. Ele diria: “Que pecado horrível! Não sabia que isso estava aí. Que horror! Isso muda tudo. Não tenho mais nada a ver com você.” Não, nunca surpreenderemos Deus. No caso de Pedro, seria sua negação e suas lágrimas amargas de confissão que marcariam o início de seu crescimento.

Tem mais uma coisa. Já que Jesus sabia tudo a respeito de Pedro (e sabe tudo a nosso respeito), ele também sabe tudo aquilo que futuramente nos tornaremos. Ele pode olhar para nós e mudar nosso nome para rocha, misericordioso, compassivo, sincero, zeloso, cuidadoso, ensinável, visionário.

  • A segunda característica de um quebrantamento é quando você entende que, sem a mudança sobrenatural, nunca refletirá o caráter de Cristo.

Temos que abandonar a ideia de que, quando nos tornamos crentes, passamos a nos parecer levemente com Cristo. Temos que entender que Deus não tem que apenas aparar umas beiradas aqui e ali, fazer algumas poucas mudanças e depois: “Pronto, terminado.” Não quero saber quão moralista, honesto ou educado você tenha sido antes de receber a Cristo; não importa quão limpa sua ficha seja—nem eu, nem você nos parecíamos nem um pouco com Jesus.

A Palavra de Deus nos diz que, no momento em que confiamos em Cristo para a salvação, nós nos tornamos crianças de Deus. Somente ali começou o processo de conformação à imagem de Cristo e ainda estamos no processo de transformação.

Meus filhos têm uns brinquedos chamados Transformers®. Quando eu comprei, eles se pareciam com um robô. Depois que meus filhos tiraram do pacote, viraram os braços para um lado, enfiaram a cabeça num buraco no meio do peito do robô, dobraram as pernas para as costas... o robô agora era um tipo de carro. Fiquei impressionado. Não se parecia nada com um carro quando estava no pacote, mas depois foi transformado.

Meu amigo, parte de nosso problema no crescimento espiritual é que não estamos realmente convencidos de que muita cosia tem que acontecer antes de nos parecermos com Cristo. A verdade é que nossa cabeça, braços, pernas, coração, mente, desejos e personalidades precisam ser totalmente remodelados. Estamos falando de uma mudança radical! Jesus Cristo não está interessado em ignorar suas falhas de caráter; ele não faz de conta que não vê sua raiva e temperamento explosivo; ele não varre a sua infidelidade, seus vícios e suas mentiras para debaixo do tapete real. Pare de inventar desculpas e admita a sua responsabilidade pessoal.

A falta de capacidade para assumir as responsabilidades é bem ilustrada por Tony Campolo. Ele fez alusão à propaganda de um sabão bastante comum. A camisa do marido estava com uma mancha enorme no colarinho. A esposa querida tenta de tudo, mas começa a chorar ao ver que a bendita camisa, mesmo depois de lavada, ainda tem aquela marca preta grossa ao redor do pescoço. Tony disse: “Sabe, a propaganda nunca pergunta o óbvio: ‘Por que o marido dela nunca lava o pescoço?’”

Meus amigos, em resumo, discipulado é o seguinte: se deseja crescer em Cristo, você precisa se responsabilizar pelas mudanças a serem feitas, deixar que Jesus exponha e coloque à sua frente seus pecados, falhas e fraquezas que gostaria de esconder. Então, você se deita completamente exposto e permite que Cristo faça a cirurgia sobrenatural com a quantidade exata de anestesia espiritual, permitindo que você ainda sobreviva.

  • A terceira característica é que ser quebrantado significa estar desanimado com os fracassos mas, ao mesmo tempo, contemplando a fidelidade de Cristo; ser humilhado por sua total incapacidade e, ao mesmo tempo, pelo amor de Jesus.

Após trinta anos de cegueira, George Matheson escreveu:

Oh Amor que não me abandona,

Descanso minha alma cansada em Ti;

Devolvo a Ti a vida que devo,

Para que nas profundezas do Teu oceano

Possa fluir mais rica e plenamente.

Pedro... Quebrantado... Aprendendo

O Pedro quebrantado foi ordenado. O que ele aprendeu? Será que ele aprendeu a ter compaixão e a se importar com os outros? Com certeza! 1 Pedro 3, versos 8 e 9, claramente revela essas características em Pedro:

Finalmente, sede todos de igual ânimo, compadecidos, fraternalmente amigos, misericordiosos, humildes, não pagando mal por mal ou injúria por injúria; antes, pelo contrário, bendizendo...

1 Pedro 5, verso 2, também demonstra o seu cuidado por outros:

Pastoreai o rebanho de Deus que há entre vós, não por constrangimento, mas espontaneamente, como Deus quer; nem por sórdida ganância, mas de boa vontade;

Será que Pedro aprendeu a importância da humildade? Ele dissera antes: “Senhor, todos irão te abandonar, menos eu. Sou feito de material superior. Ninguém te ama como eu!” Mais tarde, Pedro escreveria em 1 Pedro 5, verso 5b:

...cingi-vos todos de humildade, porque Deus resiste aos soberbos, contudo, aos humildes concede a sua graça.

Essa é outra forma de dizer: “Ele concede graça aos quebrantados.”

Charles Colson escreveu:

O verdadeiro legado de minha vida foi o meu grande fracasso: eu era um ex-presidiário. Minha maior humilhação: ser mandado para a prisão, mas foi aí que Deus começou a usar minha vida grandemente. Para a sua glória, ele escolheu uma experiência da qual não podia me gloriar.

Agora, será que Pedro voltou a ser orgulhoso quando obteve sucesso? Será que o fato de as pessoas olharem para ele e para os demais apóstolos não o induziu a se exaltar e dizer: “É, eu sei, fui infiel no passado, mas agora sou Pedro a rocha.”? Bom, as últimas palavras que Pedro escreveu, como lemos em 2 Pedro 3, verso 18, dizem:

Antes, crescei na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. A ele seja a glória, tanto agora como no dia eterno.

As falhas de Pedro não foram fatais, mas ele aprendeu muito em seu quebrantamento. E quando finalmente se quebrantou, ele entendeu o que Davi aprendeu após sua grande queda, conforme escreveu no Salmo 51, verso 17:

Sacrifícios agradáveis a Deus são o espírito quebrantado; coração compungido e contrito, não o desprezarás, ó Deus.

Você está no processo de quebrantamento também? Sente que Deus está virando sua vida do avesso—puxando um lado, empurrando o outro? Se, em meio à sua dor, você puder me ouvir, tenho boas notícias: coisas quebradas e pessoas quebrantadas são especiais e têm a maior atenção de Deus. Os quebrantados são os que estão com Deus à beira da fogueira; são eles os separados para instrução pessoal, aprendizado, crescimento e aprofundamento. C. H. Spurgeon disse certa vez: “Nossa melhor situação espiritual é quando naufragamos na ilha da soberania de Deus.”

Gostaria de encerrar nosso estudo com as palavras de Vance Havner, que escreveu:

Deus usa coisas quebradas. É o vaso de alabastro quebrado que espalha perfume; é o solo rachado que produz uma colheita; são as nuvens quebradas que trazem a chuva; é o grão moído que vira pão e o pão partido que dá força... Deus usa coisas quebradas.

Você deseja entregar seu coração quebrantado a Cristo agora em total rendição e submissão? Quer dizer em seu coração: “Estou pronto para ser quebrantado! Desejo mudar! Estou pronto a ser alvo da pergunta mais poderosa que um ser humano deve responder: ‘Será que realmente amo o Senhor de fato?’ Estou disposto a aprender. E, Senhor, tu sabes todas as coisas. Tu sabes tudo a meu respeito—tu sabes que eu te amo!”

Este manuscrito pertence a Stephen Davey, pregado no dia 23/04/1995

© Copyright 1995 Stephen Davey

Todos os direitos reservados

 

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