
Um Curso de Reciclagem: Pescaria
Um Curso de Reciclagem: Pescaria
João 21.1–14
Introdução
Depois que ressuscitou dos mortos, Jesus apareceu pelo menos seis vezes diferentes em Jerusalém ou em seus arredores. Um pouco depois, os discípulos retornaram para a Galileia ainda meio incertos e sem ideia de qual seria o futuro deles. Pense somente pelo que eles passaram nas últimas semanas:
- a entrada triunfal do Mestre amado e as grandes esperanças de que Roma seria derrotada e o reino seria estabelecido;
- uma ceia no cenáculo cheia de demonstrações e palavras misteriosas;
- a surpresa da prisão no meio da noite no jardim;
- a traição por um dos amigos mais próximos;
- o julgamento e crucificação de Jesus;
- o sepultamento de Jesus;
- a ressurreição e aparições de Jesus dizendo-lhes mais uma vez palavras cheias de mistério.
O que os discípulos farão agora? Eles fizeram o que Jesus mandou: voltaram para a Galileia e esperaram. Enquanto esperavam, provavelmente a incerteza e a perplexidade devem ter aumentado. O que será que acontecerá agora? Então, eles foram fazer a melhor coisa que sabiam fazer: juntaram suas coisas e foram pescar!
Observações do Senhor Ressurreto e Os Discípulos do Novo Testamento
Isso me conduz à primeira observação que gostaria de fazer a respeito dos versos que estudaremos hoje. Abra sua Bíblia no Evangelho de João, capítulo 21, versos 1 a 14.
- A primeira observação é que o Senhor ressurreto ainda usa lugares simples para ensinar lições profundas.
Veja os versos 1 a 3:
Depois disto, tornou Jesus a manifestar-se aos discípulos junto do mar de Tiberíades; e foi assim que ele se manifestou: estavam juntos Simão Pedro, Tomé, chamado Dídimo, Natanael, que era de Caná da Galiléia, os filhos de Zebedeu (que são Tiago e João), e mais dois dos seus discípulos. Disse-lhes Simão Pedro: Vou pescar. Disseram-lhe os outros: Também nós vamos contigo.
Pedro está cansado de esperar sentado; ele não para quieto. Além disso, já faz um tempinho que ele não joga redes na água ou sente a brisa do mar em seu rosto. Então ele diz: “Vou pescar.” Os outros homens dizem: “Ótima ideia! Nós vamos também!”
Então, será durante essa atividade quase tão antiga como o próprio homem—a pescaria sobre as ondas do mar—que os discípulos aprenderão algumas lições preciosas.
Eles estão utilizando redes ou tarrafas que, quando lançadas, fazem o formato de um círculo. Redes desse tipo foram encontradas em túmulos do Egito datando de dois mil anos antes de Cristo. Não há nada de anormal nesse cenário. Oito homens estão simplesmente pescando.
Para você, talvez a situação comum do dia-a-dia seja na cozinha, na lavanderia, num caixa de supermercado, numa reunião de negócios ou sentado à frente de um computador. É exatamente no moído do dia-a-dia deste mundo que Deus revela a sua glória. Qual é o seu mundo? Qual é a sua rotina? Qual é a sua profissão? Onde Deus o colocou? Será nessa sala de aula que ele mais o ensinará. As responsabilidades comuns do dia se tornam o quadro no qual Deus escreve as lições mais profundas. E Jesus está prestes a ensinar os discípulos algumas verdades profundas das quais jamais se esquecerão.
- A segunda observação é que Jesus Cristo ainda nos conduz aos lugares onde nos sentimos mais confiantes, a fim de nos ensinar sobre nossa necessidade de total dependência nele.
Veja a última parte do verso 3: Saíram, e entraram no barco, e, naquela noite, nada apanharam.
Agora, esse verso contém muito significado. Eu só fui pescar umas duas ou três vezes em minha vida—e o verso 3 diz por que. Contudo, li sobre homens, inclusive um deles era Thomas Edison, que iam pescar sem isca. Eles não tinham a intenção ou desejo de pegar nada. Para eles era apenas diversão, um tempo para reflexão.
Pessoalmente, não acredito que Simão Pedro era como Thomas Edison. Ele não ia pescar para refletir, mas para pegar peixe—e ele era bom nisso. Pedro conhecia os lugares certos para pescar naquele mar; ele já tinha viajado cada centímetro quadrado desse mar milhares de vezes. Daí, lemos na Bíblia que nada apanharam.
Em que lugar você se sente mais confiante? Em qual lugar você possui maior força? No reino de Deus não existe homem ou mulher independente. E essa não é uma lição fácil de aprender em uma sociedade que idealiza total independência.
Uma pesquisa foi realizada entre professores de creche, coordenadores acadêmicos, pais e especialistas em desenvolvimento infantil. Eles foram perguntados qual era a coisa mais importante que uma criança tinha que aprender nessa fase pré-escolar. Trinta e quatro por cento das pessoas responderam “independência” e “autoconfiança”. “Simpatia” e “preocupação com outros” ficaram com apenas cinco por cento das respostas. Dificilmente existe algo mais prejudicial para o crescimento do crente do que a autoconfiança e o sentimento de independência.
Veja os discípulos—eles estão num local que conheciam como a palma da mão e para o qual iam frequentemente, e fazendo algo no qual eram especializados. Eles estão autoconfiantes. Contudo, é aqui que Jesus ensina que é possível fracassar numa área da vida em que você é especializado. O outro lado da lição é: “Se vocês me seguirem para fazer algo que nunca fizeram antes, é possível obter sucesso.”
Lembro-me de um treinamento com atletas deficientes visuais que iam esquiar na neve. Cada atleta recebia a ajuda particular de outro atleta que podia enxergar. Primeiro, eles iam para uma área plana e aprendiam a fazer as curvas para a direita e para a esquerda. Depois que já dominavam essa parte, eram levados para uma descida e seus instrutores ficavam apenas ao lado gritando: “Direita! Esquerda!” Enquanto obedeciam aos comandos, os atletas conseguiam fazer o percurso e cruzar a linha de chegada, dependendo totalmente da palavra do outro atleta. Era confiança completa ou fracasso completo.
Podemos adicionar mais uma observação.
- A terceira observação é que os discípulos do Novo Testamento ainda estão aprendendo que servir com a força da carne resulta em redes vazias.
E é nesse instante que Jesus aparece mais uma vez. Veja os versos 4 e 5:
Mas, ao clarear da madrugada, estava Jesus na praia; todavia, os discípulos não reconheceram que era ele. Perguntou-lhes Jesus: Filhos, tendes aí alguma coisa de comer?
Vamos dar uma parada aqui agora. Esta é a pior pergunta que alguém pode fazer a um pescador que passou a noite inteira sem pegar nada, a não ser picadas de mosquito, latas de refrigerante e sapatos velhos: “Não pegou nada?”
Continue até o verso 5 para ver a resposta deles: Responderam-lhe: Não. Essa resposta implica que já estavam cansados de tentar! Eles não disseram: “Ainda iremos, vamos tentar mais...” ou, “Ainda não...”, mas simplesmente “Não.” O Senhor não faz a pergunta porque não sabe a resposta; ele simplesmente deseja que os discípulos admitam e reconheçam o fracasso.
Deus tem feito muitas perguntas no decorrer da história. A primeira foi em Gênesis 3, verso 9, para Adão: “Onde você está, Adão?” Será que é porque não sabia onde Adão e Eva estavam se escondendo? “Vamos ver... será que estão atrás do pé de manga?” Também em Gênesis 4, verso 9, Deus perguntou a Caim: “Onde está Abel, teu irmão?” Deus faz perguntas para nos forçar a encarar a realidade da situação.
Muitas vezes, nossos esforços em trabalho, relacionamentos, família e ministério nos deixam com “redes vazias.” Estou convencido de que Deus permite que passemos por um tempo de falta de produtividade, frustração e até mesmo fracasso para nos aproximar da verdade de que a dependência nele não é opcional, mas essencial.
Veja o verso 6:
Então, lhes disse: Lançai a rede à direita do barco e achareis. Assim fizeram e já não podiam puxar a rede, tão grande era a quantidade de peixes.
Parece uma ordem boba: “Joguem as redes do lado direito do barco.” A questão é bem simples: “Se você seguir minhas ordens, as coisas serão eficientes, haverá frutos e produtividade. Se ignorar minhas ordens, isso significa uma coisa: rede vazia.”
“Mas Senhor, por que o lado direito do barco? O Senhor também pode trazer peixes para o lado esquerdo, não é? Além disso, já estou indo naquela direção e já firmei meus pés para o lado esquerdo. Por que essa ordem para mudar de direção?”
O ponto crucial é que Cristo deu a ordem não porque faça sentido aos olhos humanos—não porque a vida será mais fácil assim, não porque seja esse o padrão para a pesca—, mas simplesmente porque Jesus assim mandou.
Será que nós, assim como aqueles discípulos, também temos, segundo nossa própria sabedoria, pescado do lado errado do barco, tomando nossas próprias decisões, tentando fazer as coisas com nossa própria força e sabedoria, dizendo para nós mesmos: “Vou pescar sozinho”? Talvez você esteja hoje brigando com a direção para a qual o Senhor ressurreto o mandou ir. Você sabe qual é a ordem dele; sabe que ele o mandou fazer alguma mudança—sair de um território familiar e ir para águas inexploradas, lançar as redes numa outra direção—, mas o seu coração simplesmente diz: “Não!” “Homens, parem de jogar suas redes ao lado esquerdo do barco! Quero que mudem o alvo e lancem suas redes ao lado direito.”
Agora, os discípulos (daquela época e de hoje) podem continuar jogando as redes para onde quiserem. Podemos dizer: “Senhor, já estou acostumado a te servir dessa forma. Sei o que estou fazendo; sou um pescador que pesca do lado esquerdo do barco. Foi assim que aprendi. Somente abençoe o que eu sei fazer!”
Cresci ouvindo que, para a igreja crescer, algumas coisas são necessárias. Foi incutido em minha mente que certos métodos deveriam ser utilizados. Enquanto estudava no seminário, servi em várias igrejas que somente viram visitantes depois de um esforço enorme para mapear a vizinhança. Enviar convites e materiais pelos correios era bom e não havia nada de errado com propagandas, mas “o método usado por Deus para dar crescimento à igreja é bater à porta das casas.”
Também fui ensinado que deveria ir o mais breve possível para a casa das pessoas que visitassem nossa igreja. Um bom pastor passa tempo na sala de estar de cada uma das pessoas. Daí, trinta dias antes de nossa igreja realizar o primeiro culto, caminhei pela vizinhança toda no bairro para o qual tínhamos acabado de nos mudar, e saí batendo às portas da casa do povo. Anotei os nomes das pessoas que pareciam estar interessadas e lhes escrevi uma carta depois. Foi meu jeito de assegurar que alguém estaria lá para o primeiro culto. Então, no primeiro culto, vinte e oito pessoas apareceram—nenhuma delas era do bairro! Até o dia de hoje, ninguém daquele bairro veio ainda para nossa igreja. Acho que foi porque me conheceram! É como se o Senhor estivesse me dizendo, bem no início do meu ministério: “Eu vou edificar esta igreja e será com métodos totalmente diferentes do que você espera. Você pode trabalhar do lado esquerdo do barco o quanto quiser, mas os peixes estão do lado direito.”
Daí, enfrentei um outro problema: tinha agora todas essas pessoas para visitar. Saía de casa toda noite, tocando a campainha das casas das pessoas sem nem avisar com antecedência. A linha de raciocínio padrão de pastores é: “Se você deseja que as pessoas retornem, tem que visitá-las dentro de uma semana.” Foi assim que eu fui ensinado. Gosto muito de estar com pessoas e esse foi o método que Deus usou para fazer as pessoas voltarem para a igreja. Mas o problema foi que, depois dos primeiros dois domingos, vinte famílias já tinham visitado a igreja. Dificilmente eu conseguiria visitar todos.
Não muito tempo depois disso, bati à porta da casa de um homem. Ele tinha quase uns sessenta anos e era dono de uma empresa grande em nossa região. Posteriormente, eu o discipularia por quase um ano. Ele atendeu a porta e eu lhe disse que estava muito feliz de tê-lo como visitante em nossa igreja e que desejava visitá-lo um pouquinho. Ele me convidou para entrar e, quando estávamos no meio do corredor já chegando à sala de estar, ele se virou para mim e disse: “Você se importa se eu perguntar uma coisa?” Eu disse: “Pode perguntar!” Ele perguntou: “Vocês pastores marcam hora para visitar ou simplesmente aparecem na casa das pessoas sem avisar?” Eu nunca aprendi isso no seminário! Tinha que reaprender a pescar.
Agora, não estou sugerindo que todos que estão no ministério devem fazer as coisas do mesmo jeito que fiz; isso seria errado também. Mas, quanto a mim e à nossa igreja, Deus deixou as coisas bem claras desde o início: “É assim que eu quero que você jogue suas redes. Não gaste todo o seu tempo em salas de estar; passe seu tempo na cozinha preparando a comida para o povo faminto. Se voltarem, será quando eu quiser e pelos motivos que eu quiser que eles voltem.”
E as demais áreas de nossas vidas? Muitos de nós tentam criar os filhos apenas copiando os métodos usados por outras pessoas, seguindo algum livro ou sistema. Mas talvez Deus queira que você faça as coisas diferentes em sua família, que seja algo único.
Talvez alguns de vocês estejam tratando o seu matrimônio seguindo os mesmos padrões danosos que viram quando crianças. Adotar o padrão bíblico para o seu relacionamento pode envolver a quebra de padrões antigos que foram transmitidos em sua família por várias gerações.
Alguns de vocês estão convencidos de que Deus nunca os usará numa área de serviço com a qual não têm experiência. Então, você permanece forçando uma área e ainda continua com redes vazias. Cristo quer que você vá para o lado direito do barco e deixe o lado esquerdo.
- Isso me leva à quarta observação: seguir o Senhor ressurreto geralmente nos conduz de um ambiente familiar para um não familiar.
A expedição da pescaria em João 21 é um curso de reciclagem, uma recordação do que havia acontecido anos antes. Lucas 5 registra um incidente bastante semelhante a este. Veja os versos 4 a 6:
Quando acabou de falar, disse a Simão: Faze-te ao largo, e lançai as vossas redes para pescar. Respondeu-lhe Simão: Mestre, havendo trabalhado toda a noite, nada apanhamos, mas sob a tua palavra lançarei as redes. Isto fazendo, apanharam grande quantidade de peixes; e rompiam-se-lhes as redes.
Pule até os versos 8 e 9:
Vendo isto, Simão Pedro prostrou-se aos pés de Jesus, dizendo: Senhor, retira-te de mim, porque sou pecador. Pois, à vista da pesca que fizeram, a admiração se apoderou dele e de todos os seus companheiros.
Agora, ouça com atenção o que Jesus diz no verso 10: Não temas; doravante serás pescador de homens. O que chama minha atenção aqui é o fato de o Senhor preceder o desafio a Pedro de se tornar pescador de homens com a frase: Não temas. Por quê? Porque território não familiar sempre produz temor. Esses homens sabiam muito sobre peixe, mas pescar peixes é bem diferente de pescar homens! Quando se pesca peixe, todo trabalho é feito à beira do lago; quando fisga e pega um peixe, você terminou o serviço—e o peixe morre. Todavia, no caso de pessoas, elas não morrem quando são fisgadas pela verdade, mas vão à vida e o seu trabalho apenas começou.
Jesus Cristo diz a esses homens, firmados em sua profissão, enraizados em suas famílias: “Venham comigo. Saiam de um ambiente familiar para fazer algo completamente distinto. Quero que pesquem homens.”
A propósito, a expressão “pescar homens” não foi inventada por Jesus; já era usada com bastante frequência por mestres gregos e romanos. Naquela época, ser um “pescador de homens” significava buscar persuadir e “pescar” ou “fisgar” homens com a verdade, qualquer que fosse a verdade para aquele mestre em específico. Então, na realidade, Jesus propõe que esses homens troquem suas varas de pesca pela verdade do reino. Sua isca não será mais minhocas da terra, mas a sabedoria do céu. Apesar de estarem acostumados a usar seus músculos para a pesca, Jesus agora quer que eles usem seus lábios, declarando a verdade do Evangelho do Senhor ressurreto. Que mudança! Gosto das palavras de Kent Hughes, que disse:
O horizonte desses pescadores estava limitado às margens do mar da Galileia. De vez em quando, iam a Jerusalém para alguma festa. Mas eles conheciam pouquíssimo do mundo além dos seus barcos, das correntes do mar e das muitas pessoas das peixarias... Daí veio Cristo e o mundo deles foi transformado! João iria para Éfeso, Tomé para a Índia e André para as fronteiras com a Rússia.
Homens cujas vidas giravam em torno de remendar suas redes e pegar alguns peixes agora são mexidos e transformados para alcançar o mundo. Você está disposto a ter o seu mundo transformado por Deus?
- A quinta observação é que os discípulos do Novo Testamento ainda estão descobrindo as surpresas que ficam do outro lado da “obediência.”
Volte ao capítulo 21 de João. Os discípulos poderiam ter dito “não” e remado à areia. Estou convencido de que, caso isso tivesse acontecido, o Senhor ainda os teria alimentado e lhes ensinado o significado das redes vazias e da necessidade de lhe obedecer, mas teriam perdido a oportunidade de presenciar um milagre maravilhoso.
Você já foi surpreendido por Deus? Quando você responde ao chamado de Deus para se tornar um pescador de homens, se prepare: você começa uma vida cheia de acontecimentos imprevisíveis. Não há nenhum plano e você não faz a mínima ideia de como isso ou aquilo mudará o amanhã. Você começa a viver com um senso de antecipação: “Qual será a próxima coisa que Deus vai fazer?” Sinceramente, essa é uma das razões por que muitas pessoas ficam na areia. Mas, para aqueles que já são pescadores, deixe-me encorajá-lo com a próxima observação.
- A sexta observação é que os discípulos do Novo Testamento ainda estão reconhecendo que as ordens de Cristo serão sempre acompanhadas pela sua provisão.
Para onde quer que o Senhor direcionar sua vida, ele o capacitará. Seu chamado garante sua capacitação. Se ele deseja que você pesque, não se esqueça de que ele sabe muito bem onde os peixes estão, sabe qual isca usar, onde jogar a linha, quantos peixes você pegará, quando você precisará de comida e de encorajamento, e sabe qual é a hora apropriada de voltar à areia. Cristo nunca o levará a um lugar e o abandonará lá.
A coisa maravilhosa é que Jesus nunca disse aos discípulos: “Sigam-me e vocês me observarão pescando homens.” A verdade é que Jesus poderia remar o barco, lançar as redes e puxar tudo para a terra. Mas, ao invés disso, escolheu nos usar. Ele não quer um barco cheio de espectadores; quer que arregacemos nossas mangas, sintamos o puxar das redes e trabalhemos juntos uns com os outros na força dele.
Charles Swindoll fez uma aplicação desse texto, dizendo: “Excelência na vida cristã requer que lancemos nossas redes no mar da humanidade, enquanto a mediocridade se deita na areia, se bronzeia ao sol e assiste ao barco dos outros passando carregado de peixes.”
Essa passagem nos ensina que Cristo exige obediência, mas também derrama bênçãos. O que fazemos? Envolvemo-nos no trabalho lançando as redes!
- Uma observação final é que o Senhor ressurreto ainda revela a sua disposição em perdoar e conceder segundas e terceiras oportunidades.
Como você acha que os discípulos se sentiram quando comeram aquele peixe com Jesus? Animados? Um pouco. Envergonhados? Talvez. Incertos? Com certeza. A sabedoria do mundo diria: “Senhor, você escolheu doze fracassados. É melhor começar de novo.” Por que desperdiçar mais de seu tempo com eles? Obviamente, eles não possuem nenhum potencial real.
Em 1894, um professor de retórica deu o seguinte relatório sobre um adolescente de dezesseis anos: “Uma evidente falta de sucesso.” E o adolescente era Winston Churchill. Em 1905, a Universidade de Berlin reprovou a dissertação de Ph.D. de um jovem aluno de física, alegando que a dissertação era “irrelevante e irreal.” O jovem aluno de física que escreveu a dissertação foi Albert Einstein e o assunto foi a Teoria da Relatividade.
Não existe nenhuma sombra de dúvidas de que os discípulos esperavam uma segunda chance. Depois de três anos de treinamento, eles não passaram na prova final. Também tenho certeza absoluta de que ligaram os eventos de agora com os acontecimentos de três anos antes, quando Jesus milagrosamente os levou a fisgar uma incrível quantidade de peixes e disse: “De agora em diante vou fazer de vocês pescadores de homens.” Eles decepcionaram o Senhor. Por que Jesus os convidaria novamente a serem pescadores de homens e mulheres?
Quero que você veja algo maravilhoso aqui. Essa não foi a prova final. Veja os versos 9 a 14 de João 21:
Ao saltarem em terra, viram ali umas brasas e, em cima, peixes; e havia também pão. Disse-lhes Jesus: Trazei alguns dos peixes que acabastes de apanhar. Simão Pedro entrou no barco e arrastou a rede para a terra, cheia de cento e cinqüenta e três grandes peixes; e, não obstante serem tantos, a rede não se rompeu. Disse-lhes Jesus: Vinde, comei. Nenhum dos discípulos ousava perguntar-lhe: Quem és tu? Porque sabiam que era o Senhor. Veio Jesus, tomou o pão, e lhes deu, e, de igual modo, o peixe. E já era esta a terceira vez que Jesus se manifestava aos discípulos, depois de ressuscitado dentre os mortos.
A propósito, Jesus sempre dava graças antes de comer, mas no verso 13 ele não ora. Por quê? Porque ele mesmo foi a fonte criadora. Note que, apesar de nos versos 10 e 11 Pedro ter arrastado as redes até à praia e Jesus ter pedido a Pedro para trazer algum peixe, lemos no verso 9: Ao saltarem em terra, viram ali umas brasas e, em cima, peixes; e havia também pão. De onde veio o pão? De onde veio o peixe? Como a brasa já estava acesa, queimando viva? Milagre após milagre, Jesus Cristo, o Criador ressurreto, revelou sua habilidade sobrenatural de não somente fazer um cardume de peixes pular dentro das redes, mas também de criar um peixe e um pão para comer.
Vamos voltar agora ao princípio que estamos estudando. Na cultura Oriental dos tempos de Jesus, comer com alguém que o tinha ofendido era uma demonstração clara de que você havia perdoado o ofensor. Portanto, o que testemunhamos aqui é muito mais do que apenas um café da manhã; esse foi o jeito especial de Jesus dizer que tinha perdoado os discípulos. Então, aqui está Jesus fazendo o papel de Servo, Anfitrião, Cozinheiro, Garçom, Amigo, Mestre e Senhor. Na verdade, ele estava dizendo aos discípulos que não iria desistir deles e lança-los fora.
Conforme o resto do capítulo ensina (e que iremos estudar em outra ocasião), Jesus queria que eles não desistissem também. Ele tinha planos para os discípulos; Jesus tinha um futuro para eles; afinal, ele queria que eles fossem pescadores de homens.
O famoso pianista e primeiro ministro da Polônia Ignace Paderewski estava em um concerto. Os salões estavam repletos de pessoas que esperavam ansiosamente pela apresentação. Uma mãe, desejando encorajar o filho a continuar em suas aulas de piano, comprou ingressos para o concerto. Ela e seu filho acharam seus assentos; e eram bem próximos do palco. O garoto se sentou, admirado com tudo ao seu redor, inclusive com o piano esplendoroso no palco.
Logo a mãe achou uma amiga com quem conversar um pouco e o garoto saiu sem que ela percebesse. De repente, o som do piano se espalhou e, com o silêncio da plateia, todos viram que era apenas um garoto. Lá estava ele, todo inocente, tocando a música “Brilha, Brilha Estrelinha.” Sua mãe deu um suspiro e a plateia, a princípio, riu. Entretanto, pouco depois, pessoas começaram a gritar: “Tirem ele daí!” Antes que sua mãe chegasse ao palco, o pianista famoso e estrela da festa ouviu a comoção e foi até o palco. Em seguida, aproximou-se rapidamente do piano e disse ao menino: “Continue tocando; não pare.” Inclinando-se um pouco, Paderewski baixou sua mão esquerda e começou a tocar, fazendo o baixo. Daí, colocou o seu braço direito do outro lado, envolvendo o menino no meio e fazendo um acompanhamento. Juntos, o famoso pianista e o garoto fascinaram o auditório. Em todo o tempo, Paderewski dizia ao menino: “Não pare, continue tocando... não pare.”
Em nossas vidas, apesar de nossos toques meio desafinados, é o Mestre quem nos envolve e diz em nossos ouvidos: “Não pare... continue tocando.”
Essa foi uma das lições que os discípulos aprenderam naquele café da manhã comendo peixe e pão. E nós aprendemos com isso hoje, uma vez que somos discípulos de Cristo também.
Talvez você não seja um tocador hábil—nenhum de nós domina a vida; tocamos notas erradas, não importa o quanto nos concentremos; nossas mãos se cansam e nossa mente se distrai com a plateia. Jesus Cristo diz, porém: “Não pare.” Quando você decepcionar Cristo e se arrepender, ele o perdoa. Ele continua a conduzir sua vida, oferecendo alimento e comunhão; e ele diz: “Não pare agora, continue tocando,” ou então: “Fique no barco... não pare. Com o vento da fé batendo nas velas, continue pescando.”
Este manuscrito pertence a Stephen Davey, pregado no dia 16/04/1995
© Copyright 1995 Stephen Davey
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