
Morte por Crucificação
Morte por Crucificação
João 19
Introdução
O Dr. Thomas Dooley escreveu um livro intitulado A Noite em que Queimaram a Montanha. Ele serviu como missionário e médico em Laos e se tornou amigo do povo. Ganhou até um filhotinho de urso himalaia de presente uma vez como bicho de estimação. Era uma bolinha de pelo marrom todo engraçadinho. O Dr. Doley começou a construir uma jaula para o animal e, enquanto construía, um velho chinês se deparou com ele. O velho parou, olhou e começou a soluçar e chorar enquanto olhava para a jaula. O Dr. Dooley chegou até ele e descobriu o motivo das lágrimas. E ouviu a história mais trágica em toda sua vida.
O velho chinês e seu filho trabalharam juntos certa vez numa comunidade na China soviética. Ele disse ao Dr. Dooley que os trabalhadores das plantações não podiam pegar nem sequer um grão de arroz, pois tudo era para a República da China. Mas, sua esposa tinha ficado muito doente de beribéri e desnutrida, o que levou o filho a esconder alguns grãos de arroz na sua roupa para levar para sua mãe que morria de fome. Entretanto, as autoridades o pegaram e decidiram torná-lo um exemplo público. Eles o prenderam numa jaula, não muito diferente daquela que o Dr. Dooley estava construindo para o seu urso, e colocaram a jaula com o garoto dentro no centro da cidade. A jaula era tão pequena que o menino não podia nem se mexer ou se sentar direito. O velho continuou dizendo:
Sua mãe e eu fomos forçados a assistir àquela cena triste, eu de um lado da rua e ela do outro. Mas os guardas não nos deixavam nos aproximar dele. Dia após dia, quando o víamos, ele morria lentamente, debaixo do sol escaldante, sem comer ou beber nada, coberto de sujeira e moscas. Foi um alívio quando os guardas finalmente disseram que ele havia morrido.
Aquele homem nunca esqueceu a imagem de seu filho preso numa jaula e sua morte lenta!
Francamente, concordo com Kent Hughes, quando escreveu:
É fácil falarmos sobre a morte de Cristo de forma desinteressada... pensar nisso – e depois esquecer. O problema é que estamos dessensibilizados por causa das cenas diárias de violência... a carnificina e assassinatos não nos movem mais. Da mesma forma, a morte de Cristo na cruz se tornou uma parte tão fundamental de nossa educação religiosa que nem mais notamos a cruz, muito menos somos movidos por ela.
Assim como milhares de pregadores, posso pregar sobre a cruz – e depois sairmos e comermos uma pizza como fazemos aos domingos depois do culto. Não posso fazer nada para mudar essa realidade, amigos, mas minha oração é que o Espírito de Deus, através de mim, reavive poderosamente as verdades do Calvário em nossas vidas.
Gostaria que olhássemos com espanto, como o apóstolo Paulo disse em Filipenses 2, verso 8b:
...[Jesus] se tornou obediente até a morte, e morte de cruz.
Em nosso estudo sobre a crucificação, quero que olhemos para os eventos como se fosse a primeira vez. Eles são reais; são horríveis; eles são libertadores. Quando vistos de maneira apropriada, esses acontecimentos são um janela para vermos o coração de Deus, que, parafraseando João 3, verso 16: “...nos amou tanto que enviou o Seu Filho para morrer na cruz, para que aquele que crer nEle não morra, mas tenha vida eterna.”
Jesus, o Filho de Deus, está perto de entrar, espontaneamente, numa jaula – torturado até a morte – e Seu Pai não irá interferir.
Quero falar desses eventos como três cenas separadas.
Primeira Cena – A Morte “Parcial”
A primeira cena começa em João 19, verso 1.
Então, por isso, Pilatos tomou a Jesus e mandou açoitá-lo.
Agora, talvez você se lembre que, em nosso estudo anterior, vimos que Pilatos tentou libertar Jesus de várias formas, mas nada deu certo. Finalmente, ele entregou Jesus aos soldados romanos.
Antes de qualquer pessoa ser crucificada, ela era açoitada. Era comumente chamado a morte “parcial.” A maioria das vítimas entrava em estado de choque e muitos morriam antes mesmo de chegar à cruz.
O historiador judeu Flávio Josefo, que viveu no Império Romano durante a vida de Jesus, escreveu sobre o filho de Ananus, “Que foi açoitado até que seus ossos apareceram.”
O escritor do terceiro século Eusébio relatou que muitos dos primeiros mártires da igreja foram açoitados até que, “As veias e artérias mais profundas fossem expostas, e até mesmo órgãos internos pudessem ser vistos.”
João não dá nenhuma descrição dos açoites ou da crucificação. Por que? Porque os seus leitores já conheciam os detalhes. Eles tinham até testemunhado amigos e parentes passarem por aquilo.
Na verdade, cerca de quinze anos antes de João publicar o seu evangelho, Jerusalém foi destruída pelo exército romano. Durante o cerco, as tropas romanas crucificaram quinhentos judeus por dia por vários meses. Açoites e crucificação eram a realidade da vida de muitos crentes que liam os evangelhos como nós lemos hoje!
Então, João nos diz que Jesus foi levado para ser açoitado e experimentar a Sua “morte parcial”.
Os açoites eram administrados por carrascos profissionais chamados “lictor”. Muitas vezes dois deles revezavam nas chicotadas.
O instrumento utilizado era um flagelo, que era uma espécie de chicote com cabo de madeira e longas tiras de couro. As tiras eram interlaçadas e variavam em tamanho e tinham pedaços de ferro e osso presos em intervalos.
A severidade dos açoites dependia da disposição dos lictores. Pelo registro de João, eles eram perversos e vingativos.
O Senhor teria toda a sua roupa removida e seria amarrado a um poste de madeira com suas mãos presas à parte superior. Quando terminassem os açoites, Jesus estaria, assim como qualquer outra vítima, perto de um colapso ou até mesmo morto.
Alguns anos atrás, médicos pesquisaram e escreveram um relatório detalhado dos aspectos clínicos dos açoites e crucificação de Jesus. Eles publicaram os resultados no Periódico da Associação Médica Americana. Deixe-me ler o que eles escreveram. Não quero ser terrível ou grotesco com isso, mas quero somente que você entenda um pouco do sofrimento físico que Jesus passou por mim e por você.
À medida que os soldados romanos batiam repetidamente nas costas da vítima com força total, as bolas de ferro, ou pedra, causavam contusões profundas e as longas tiras de couro e ossos de carneiro cortavam a pele e os tecidos mais profundos. Então, com as chicotadas contínuas, as lacerações rasgavam os músculos do esqueleto, causando um estremecimento da carne ensanguentada. A dor e perda de sangue geralmente levavam a um choque no sistema circulatório. A quantidade de sangue perdido provavelmente determinava o tempo em que a vítima permaneceria pendurada na cruz.
Veja os versos 2 e 3:
Os soldados, tendo tecido uma coroa de espinhos, puseram-lha na cabeça e vestiram-no com um manto de púrpura. Chegavam-se a ele e diziam: Salve, rei dos judeus! E davam-lhe bofetadas.
A. W. Pink escreveu:
Cristo estava prestes a fazer expiação pelo pecado; portanto, o pecado deve ser revelado em toda a sua grandeza.
Pecado é algo ilegal, por isso Pilatos escarneceu de Um inocente.
Pecado é transgressão, por isso Pilatos deixou de lado todos os princípios da lei romana.
Pecado é rebelião contra Deus, por isso judeus e gentios maltrataram o Filho de Deus.
Pecado é uma ofensa, por isso eles violaram todos os ditames da consciência e decência.
Pecado é carecer da glória de Deus, por isso eles amontoaram insultos contra o Filho de Deus.
Pecado é corrupção, por isso eles cobriram o rosto de Jesus com cuspe imundo.
As mãos do Senhor concederam cura; as mãos do povo deram golpes; a voz do Senhor falou palavras de alegria; eles O insultaram. Sua alma santa transbordava com amor e misericórdia; eles estavam cheios de amargura, assassinato e desprezo.
Veja na narrativa de João que não há nenhuma menção de Jesus arrancando a coroa de Sua cabeça; nenhuma cena Dele deixando o manto de púrpura deslizar de seus ombros e cair no chão. Não, ali estava Ele, o Cordeiro, em silêncio no matadouro, uma massa de carne inchada, ferida e ensanguentada.
Esse foi o cálice da maldição, como C. H. Spurgeon escreveu, “Ele pegou voluntariamente o cálice, bebeu e engoliu seco!”
Pilatos não consegue libertar Jesus e a multidão, no verso 15, grita:
Eles, porém, clamavam: Fora! Fora! Crucifica-o! Disse-lhes Pilatos: Hei de crucificar o vosso rei? Responderam os principais sacerdotes: Não temos rei, senão César!
Continue até os versos 16 e 17.
Então, Pilatos o entregou para ser crucificado. Tomaram eles, pois, a Jesus; e ele próprio, carregando a sua cruz, saiu para o lugar chamado Calvário, Gólgota em hebraico,
2ª Cena – A “Via Dolorosa”
Abra em Mateus 27, onde temos um registro mais completo dessa longa caminhada de quase dois quilômetros. Chamaremos essa segunda cena de “A Via Dolorosa” – a estrada, o caminho do sofrimento.
Veja Mateus 27, versos 31 e 32.
Depois de o terem escarnecido, despiram-lhe o manto e o vestiram com as suas próprias vestes. Em seguida, o levaram para ser crucificado. Ao saírem, encontraram um cireneu, chamado Simão, a quem obrigaram a carregar-lhe a cruz.
Era costume da época levar o condenado numa espécie de procissão pelas ruas da cidade, exibindo-o às multidões, como também anunciando o crime. Isso servia como um fator inibidor contra a criminalidade e Roma fazia questão de usar essa ferramenta.
Jesus estava cercado por quatro soldados romanos. À frente, seguia o centurião carregando o “titulus.” O titulus era uma placa de madeira informando o tipo do crime cometido pelo condenado.
Agora, geralmente temos em mente a imagem de Jesus cansado carregando a cruz e caindo. Mas em nenhum lugar da Bíblia diz que Ele tenha tropeçado ou caído. Talvez eles soubessem que Jesus estava muito fraco para carregar a trave. Ou, talvez eles queriam que Ele morresse logo e Ele teria que andar bem devagar em suas condições físicas debilitadas. Não sabemos.
Mateus 27, verso 32, simplesmente diz:
Ao saírem, encontraram um cireneu, chamado Simão, a quem obrigaram a carregar-lhe a cruz.
Warren Wiersbe sugere algo interessante. Ele diz:
O fardo de carregar a cruz era uma marca da culpa do criminoso; e Jesus não estava morrendo porque era um criminoso condenado por algum crime ou pecado; a humanidade que era culpada. Então, vemos Jesus andando naquela Via Dolorosa, liderado pelo centurião que ia à frente carregando Seu título, “Rei dos Judeus,” enquanto um representante da humanidade culpada carrega a cruz.
Agora, preciso reformatar o seu pensamento. Precisamos entender que a cruz pesava cerca de 130 quilos. O condenado não tinha como arrastar aquela cruz de 130 quilos por quase dois quilômetros e subindo uma ladeira.
Graças aos historiados judeus e romanos, somos informados que a parte vertical da cruz, chamada “estipe,” ficava permanentemente ancorada no local da execução. Era a trave horizontal, chamada “patíbulo”, que era carregada e pesava uns 50 quilos. O condenado apoiava o patíbulo em seus ombros com suas mãos amarradas a ele e o carregava.
Quando chegavam ao lugar da execução, o patíbulo era colocado no chão e o condenado deitado de costas. Suas mãos eram pregadas ao patíbulo e quatro soldados o levantavam e encaixavam na estipe prefixada no chão.
3ª Cena – A Morte Horrorosa
Isso nos leva à terceira cena que, sem dúvidas, é o princípio da cena que faz a crueldade e horror das duas primeiras parecerem brincadeira de criança.
Veja Mateus 27, versos 33 e 34.
E, chegando a um lugar chamado Gólgota, que significa Lugar da Caveira, deram-lhe a beber vinho com fel; mas ele, provando-o, não o quis beber.
A crucificação foi uma invenção dos assírios e persas que já praticavam esse tipo de execução mil anos antes de Jesus.
Os persas criam que a terra era sagrada e não queriam, portanto, contaminá-la com o corpo de um malfeitor.
Alexandre o Grande parecia gostar desse tipo de execução. Ele crucificou dois mil prisioneiros de guerra de uma só vez. Ele apresentou a prática ao povo de Cartago e, posteriormente, os romanos aperfeiçoaram a tortura e transformando-a numa morte lenta com o máximo de dor e sofrimento.
Para prolongar ainda mais o processo, eles adicionaram um assento simples, chamado “sédulo,” o que permitia que o condenado vivesse por até cinco dias. O condenado geralmente morria pela combinação de desidratação, choque, perda de sangue, paralisia do diafragma e aves impacientes; ou quando os soldados romanos quebravam suas pernas, fazendo-o cair do assento e impossibilitando que o condenado se pusesse de pé novamente para encher seus pulmões de ar e respirar.
Quando Jesus foi crucificado, os soldados usaram pregos grandes. Também precisamos entender que os antigos consideravam os punhos como parte da mão. Pelo fato de os pregos dilaceraram com facilidade os tecidos e ossos das mãos, a prática era inserir os pregos nos punhos e não na palma da mão.
Depois, os pés seriam pregados. As pernas eram dobradas como uma posição de agachado e viradas para um lado. Um pé ficava sobreposto ao outro e ambos eram pregados juntos.
Algum tempo atrás, um esqueleto de um jovem que fora crucificado foi encontrado. Os ossos de seus punhos haviam sido perfurados e um prego ainda estava preso aos pés na altura do tornozelo.
A dor era excruciante. O interessante é que a palavra “excruciante” vem de uma palavra latina que literalmente significa “da cruz”. Esse tipo de morte construiu para si um vocabulário próprio para dor.
Li uma vez sobre algumas senhoras piedosas da cidade que tomaram sobre si a responsabilidade de realizar um ministério de misericórdia. Em obediência a Provérbios 31, verso 6a, que diz: “Dai bebida forte aos que perecem...”, elas fizeram uma mistura com narcótico, uma bebia para aliviar a dor; e elas mesmas davam dessa bebida aos criminosos condenados à morte. Jesus se recusou a tomar esse narcótico. Ele não permitiu que o Seu sofrimento fosse aliviado e ainda manteve a Sua lucidez para ministrar misericórdia ao ladrão que morria ao Seu lado, como também para pronunciar Suas últimas palavras maravilhosas que veremos mais à frente.
Agora, se você fosse um cidadão romano, não precisaria temer a morte de cruz. O político romano Cícero, disse: “Nunca deixemos a cruz chegar perto do corpo de um cidadão romano; não, nem mesmo perto de seus pensamentos ou olhos ou ouvidos.”
Os gentios de cultura mais refinada até mesmo evitavam pronunciar a palavra “cruz.”
E isso tem implicações importantes, uma vez que Paulo mais tarde escreveria ao romanos e crentes gentios em Romanos 6 dizendo que cada crente estava “crucificado com Cristo.” E, também como escreveu em Gálatas 6, verso 14a:
Mas longe esteja de mim gloriar-me, senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo...
Agora, volte para João 19, versos 18 a 20.
Onde o crucificaram e com ele outros dois, um de cada lado, e Jesus no meio. Pilatos escreveu também um título e o colocou no cimo da cruz; o que estava escrito era: JESUS NAZARENO, O REI DOS JUDEUS. Muitos judeus leram este título, porque o lugar em que Jesus fora crucificado era perto da cidade; e estava escrito em hebraico, latim e grego.
Pense nisso, o título estava escrito na língua dos judeus, na língua da potência mundial da época e na língua mais universalmente falada em toda a história da humanidade. Em outras palavras, Jesus era o Rei do judeus e o mundo inteiro pode recebê-lO como Rei.
Continue até o verso 21.
Os principais sacerdotes diziam a Pilatos: Não escrevas: Rei dos judeus, e sim que ele disse: Sou o rei dos judeus.
Ou seja, “Insira a palavra ‘eimi’ antes da palavra ‘Rei’.” – que significa “eu sou” em grego.
O verso 22 diz:
Respondeu Pilatos: O que escrevi escrevi.
Ele sabia que isso iria enfurecer os líderes religiosos cheios de inveja; isso foi como sal na ferida deles. E imagine – o primeiro folheto do evangelho foi escrito pelas mãos de um governante pagão – milhares de judeus puderam ler! Desde então, milhões também têm lido. Lá estava Jesus pendurado e a inscrição não era um registro de Seu crime, mas um anúncio de Seu caráter Real – Ele era o Rei! A propósito, um dos ladrões iria ler o folheto e crer.
Veja o verso 23.
Os soldados, pois, quando crucificaram Jesus, tomaram-lhe as vestes e fizeram quatro partes, para cada soldado uma parte; e pegaram também a túnica. A túnica, porém, era sem costura, toda tecida de alto a baixo.
Nessa ocasião aqui, os soldados já estavam fazendo hora extra. Eles levavam para si as roupas dos criminosos e colocavam em seu próprio guarda-roupas como uma recompensa pela sua tarefa detestável.
Continue até o verso 24.
Disseram, pois, uns aos outros: Não a rasguemos, mas lancemos sortes sobre ela para ver a quem caberá -- para se cumprir a Escritura: Repartiram entre si as minhas vestes e sobre a minha túnica lançaram sortes. Assim, pois, o fizeram os soldados.
Ao pé da cruz, esses soldados estão jogando dados improvisados dentro de um de seus capacetes – o primeiro a voar fora do capacete seria o vencedor.
Por que essa agitação? Eles estão lançando dados por algo bastante especial – uma túnica de linho fino, o chamado “chiton,” vestido debaixo da roupa, era algo macio e sem costura. Somente uma pessoa em toda a Jerusalém usava uma dessas – o sumo sacerdote.
Flávio Josefo, bem como outras autoridades em história e cultura dos tempos de Cristo, dão evidências plausíveis de que o sumo sacerdote usava essa túnica de linho como parte de seu traje sacerdotal. Aparentemente, um costureiro havia crido que Jesus era o Perdoador de pecados e fez um “chiton” para o próprio Jesus.
Que ironia – o papel do sumo sacerdote era colocar o povo diante de Deus e levar o conhecimento de Deus ao povo. A palavra “sacerdote,” no latim significa, “aquele que faz uma ponte.” O sumo sacerdote tinha a responsabilidade de construir uma ponte de acesso entre a humanidade e Deus. Mas, nenhum sacerdote humano pôde fazer isso completamente ou de maneira eterna.
E o que Jesus Cristo está fazendo aqui? Ele faz aquilo que somente um Sumo Sacerdote divino pode fazer – construir uma ponte da terra ao céu; uma ponte no formato de uma cruz grosseira e desprezível.
Quatro Chamados da Cruz
A partir da cruz, um chamado é pronunciado; na verdade, deixe-me sugerir quatro chamados que partem da cruz.
Um chamado à realidade
- Primeiro, a cruz faz um chamado à realidade.
Nunca se engane pensando que, já que Jesus Cristo era Deus, o Seu sofrimento não foi tão profundo e ruim como seria se nós estivéssemos passando por aquilo. Não. Ele foi pendurado lá como um homem, dentre todos os demais homens, em total dependência do Pai. Sua dor não foi de maneira alguma aliviada! Pelo contrário, o fato de Ele ser Deus apenas agravou o Seu sofrimento, porque Ele, sem pecado, se tornaria o pecado detestável em nosso lugar.
Um chamado ao reconhecimento
- Segundo, a cruz provê um chamado ao reconhecimento.
O Deus Filho é capaz de compreender as suas tristezas e decepções mais profundas. Ele também sofreu. Ele passou por traição, negação, violação de Seus direitos fundamentais, tortura física, abandono, sede, humilhação... Na verdade, Seu sofrimento foi infinito a fim de que sofresse apenas temporariamente. Ele experimentou tristeza para que nós experimentássemos alegria; Ele se esvaziou para que nós nos tornássemos eternamente ricos.
Um chamado ao regozijo
- Terceiro, a cruz também chama ao regozijo.
Se esses acontecimentos brutais da cruz têm algo a nos ensinar, é o fato de que Deus está no controle até mesmo das piores coisas que ocorrem em nossas vidas. Superficialmente falando, parece que a vida de Jesus foi um desperdício, que Ele falhou em Sua causa – foi uma comédia de erros. Mas, a verdade é que o plano de Deus estava sendo realizado. Nesse momento tenebroso e terrível, Deus estava em total controle – e Ele continuará, em última instância, trazendo regozijo em meio às tristezas.
Um chamado ao arrependimento
- Finalmente, a cruz traz um chamado ao arrependimento.
Quando João Batista apresentou Jesus no início de seu ministério, ele disse em João 1, verso 29b:
Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.
Jesus Cristo não morreu na cruz por causa das boas obras de pessoas religiosas; Ele não foi pregado na cruz para que você O adicione em sua frequência à escola dominical, batismo, boas obras ou outro deus qualquer que você espera que o leve ao céu – Ele foi pendurado na cruz como o Sumo Sacerdote, como o Cordeiro Pascal, como o único caminho ao céu – Ele era e ainda é a ponte viva! E qualquer pessoa que reconhecer que Ele morreu por seus pecados, pode atravessar essa ponte e entrar para a família de Deus.
Lewis Bayly foi um famoso escritor de devocionais no século dezessete. Apesar de seu livro Prática da Piedade não ser popular hoje, ele foi bastante lido alguns séculos atrás. Na verdade, a esposa de John Bunyan, o autor de O Peregrino, deu a ele um desses devocionais de presente. Perto do fim desse livro de devocionais, existe uma conversa interessante entre uma alma e Cristo. Nessa conversa, Jesus explica à alma o significado da cruz.
Quero finalizar nosso estudo lendo algumas linhas desse diálogo.
Alma: Senhor, por que foste levado quando poderias ter escapado dos Teus inimigos?
Cristo: Para que os teus inimigos espirituais não te levassem e trancassem na prisão da escuridão eterna.
Alma: Senhor, por que foste preso?
Cristo: Para que eu pudesse te libertar dos laços das tuas iniquidades.
Alma: Senhor, por que foste levado à cruz?
Cristo: Para que eu te leve comigo ao céu.
Alma: Senhor, por que os Teus pés e mãos foram pregados na cruz?
Cristo: Para aumentar tuas mãos para realizarem as obras da justiça e libertar os teus pés a andaram nos caminhos da paz.
Alma: Senhor, por que tiveste Teus braços abertos e pregados?
Cristo: Para que eu te abraçasse amorosamente, minha alma querida.
Alma: Por que foi o teu lado aberto por uma lança?
Cristo: Para que tu tivesses um acesso ao meu coração.
O pé da cruz tocou a terra, mostrando que Deus havia se mexido para tocar o homem.
O topo da cruz aponta para o céu, apontando o caminho para Deus.
Os braços da cruz se abrem horizontalmente, dizendo: “Quem quiser, venha. Até mesmo eu, até mesmo você.”
Este manuscrito pertence a Stephen Davey, pregado no dia 05/02/1995
© Copyright 1995 Stephen Davey
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