
Um Tributo ao Cordeiro: Condenado
Um Tributo ao Cordeiro: Condenado
João 18.1–24; Mateus 26.57–68
Introdução
Por vários séculos, crianças têm cantado músicas que, no decorrer dos anos, perderam seu contexto original – contexto de horror e sofrimento. Recentemente, li os versos da seguinte música que surgiu nas ruas de Londres, Inglaterra:
Um bolso cheio de flores.
Atchim! Atchim!
E todos caem!
Essa musiquinha surgiu em torno de 1665 durante um epidemia que ficou conhecida como a “Peste Negra.” Cada verso do soneto se refere a sintomas que revelavam a doença—áreas avermelhadas pequenas que se formavam nas pessoas infectadas com a praga:
- “Um bolso cheio de flores” – uma referência à crença antiga de que o cheiro ruim era na verdade o bafo venenoso dos demônios que afligiam as pessoas com a doença. O povo pensava que o perfume de ervas e flores espantaria os demônios; daí, os doentes enchiam seus quartos e bolsos com flores.
- “Atchim! Atchim!” – referência ao espirro que era um dos sintomas da doença.
- “Todos caem” – referência a cair morto – à morte negra.
Hoje, muitos conhecem essa musiquinha. Há séculos atrás, contudo, foi uma canção que representava completo horror.
Em nosso estudo de João, estamos nos aproximando dos dias finais de nosso Senhor cujo horror já foi esquecido por muitas pessoas. Muitos pulam as narrativas do julgamento a fim de chegar logo ao Calvário.
Todavia, enquanto pensava no assunto, percebi que eu nunca tinha estudado os julgamentos de Cristo detalhadamente e, francamente, nunca ouvi um sermão detalhado no assunto. Não estou dizendo que sou o primeiro; é apenas uma observação de que pregadores, em suas pregações superficiais, tendem a evitar assuntos com os quais não estão familiarizados.
Iremos, portanto, estudar esses julgamentos cheios de zombaria. E quero que você saiba que os julgamentos foram narrados em detalhes não para que fossem ignorados, mas para revelar e nos ajudar a entender o que significou para Jesus ter sido rejeitado e condenado; para saber o que Isaías 53, verso 7, quis dizer com ir para a cruz, “...como cordeiro foi levado ao matadouro...” e “...ele não abriu a boca.”
A propósito, Isaías não quis dizer com isso que Jesus não falou nenhuma palavra na corte, porque Ele disse coisas poderosas, como iremos aprender. Isaías quis dizer que Jesus não argumentou pela Sua inocência! Ele não buscou Seus direitos – e você ficará pasmo em saber que os Seus direitos foram “varridos para debaixo do tapete”. Ao invés disso, Ele estava resoluto em Seu desejo de se tornar o meu substituto, o seu substituto – para se tornar, como Filipenses 2, verso 8, diz: “...obediente até a morte, e morte de cruz.”
Jesus Perante Anás
Então, hoje, vamos entrar na propriedade de Anás por meio do quintal iluminado de Caifás, o sumo sacerdote, e assistir, com plena admiração, ao que aconteceu.
Vamos dar continuidade a esse tributo ao Cordeiro em João 18, versos 12 e 13.
Assim, a escolta, o comandante e os guardas dos judeus prenderam Jesus, manietaram-no e o conduziram primeiramente a Anás; pois era sogro de Caifás, sumo sacerdote naquele ano.
Agora, imagine comigo rapidamente essa cena interessante. Como expliquei num estudo anterior, Jesus iria atravessar o ribeiro de Cedrom e entrar no Getsêmani – e, agora, Ele é conduzido, preso, e atravessa, novamente, o riacho de Cedrom. As águas desse ribeiro já estavam escuras, manchadas com o sangue dos cordeiros que estavam sendo sacrificados durante a festa anual da Páscoa. Agora, estava chegando a hora de ser derramado o sangue de Jesus.
Além disso, o jardim do Getsêmani ficava ao pé do Monte das Oliveiras, no lado oriental de Jerusalém. Dessa forma, Jesus seria conduzido à cidade pelo Portão das Ovelhas – exatamente o mesmo portão pelo qual os animais destinados ao sacrifício eram obrigados a passar. Imagine - eles estão trazendo, preso, o Cordeiro de Deus, que seria o último sacrifício.
Talvez você tenha notado que, ao invés de levar Jesus ao sumo sacerdote, os guardas o levam primeiro até a casa de Anás. É óbvio que Anás tinha dado ordens de que o primeiro golpe em Jesus seria dele.
E isso não é algo complicado de entender! Deixe-me explicar. Anás era o homem mais poderoso de Jerusalém. Ele havia sido o sumo sacerdote cerca de vinte anos antes, mas ainda controlava virtualmente todo o sistema religioso de Jerusalém. Ele controlava o templo, os animais a serem vendidos para sacrifício e os cambistas, onde valores exorbitantes eram cobrados dos adoradores.
Nos tempos de Jesus, você não poderia entrar no templo para adorar a Deus sem pagar os sacerdotes, e essas eram taxas ilegais. E Anás havia montado todo esse esquema; sua família controlava tudo. Na verdade, historiadores judeus se referem ao templo de Jerusalém como o “Bazar de Anás.” Ele havia se enriquecido grandemente às custas do povo pobre da Judeia.
Então – Jesus o desmascara! Mateus, Marcos e Lucas registram que Jesus chamou o “Bazar de Anás” de “cova de ladrões” – e era mesmo. Foi Jesus quem derrubou as mesas, lançou todo o dinheiro dos cambistas e os expulsou do pátio dos gentios. Jesus estava expondo e condenando a corrupção da religião naquela nação – e o líder religioso corrupto era Anás.
Agora, veja João 18, verso 19a:
Então, o sumo sacerdote interrogou a Jesus...
E pule até o verso 24:
Então, Anás o enviou, manietado, à presença de Caifás, o sumo sacerdote.
Não, não existem dois sumo sacerdotes. A aparente discrepância pode ser facilmente explicada pelo fato que, uma vez que você servisse como sumo sacerdote, você seria chamado de sumo sacerdote pelo resto de sua vida. Da mesma forma hoje, em nosso país, nos referimos a presidentes passados ainda com o título de presidente.
Mas, o Antigo Testamento exigia que um sumo sacerdote servisse por toda a sua vida. Todavia, nos tempos de Cristo, os romanos tinham começado a designar quem seria o sumo sacerdote como uma maneira de controlar a posição mais poderosa em Israel. Na verdade, o simples fato de você ter sido um sumo sacerdote significava que sua alma havia sido comprada pelo governo romano.
Apesar de Anás ter sido substituído, ele era influente em Roma o bastante para assegurar que os sumo sacerdotes seguintes fossem seus filhos – cinco deles, um após outro, e, agora, seu genro Caifás.
Então, Anás queria por as mãos nesse carpinteiro/mestre, esse homem que, sem dúvidas, havia tirado muitas noites de seu sono, talvez causando uma hipertensão e, com certeza, havia se tornado um pesadelo do qual queria se livrar.
Não existe nada mais cruel que religião oficial corrupta!
Veja como Jesus se portou com dignidade diante do homem mais poderoso e corrupto de Israel. Veja os versos 19 e 20.
Então, o sumo sacerdote interrogou a Jesus acerca dos seus discípulos e da sua doutrina. Declarou-lhe Jesus: Eu tenho falado francamente ao mundo; ensinei continuamente tanto nas sinagogas como no templo, onde todos os judeus se reúnem, e nada disse em oculto.
Em outras palavras, “Anás, o que você está fazendo neste momento é ilegal. Você está realizando um julgamento à meia-noite sem passar pelo devido processo.”
Deixe-me usar minhas próprias palavras. Jesus olhou diretamente nos olhos de Anás e disse, na verdade: “Quem você pensa que é? Você não tem autoridade para controlar a Lei Hebraica. Você, Anás, está totalmente errado.”
Todo mundo se ligou agora! Estava ali naquela sala o homem que sabia que eles eram corruptos; que sabia que Anás era um fraudulento e que, provavelmente, tratava todos ali com desprezo. Talvez todos ali já tinham sido subornados, ameaçados e controlados por esse velho hipócrita rico. Agora eles vêem um carpinteiro de mãos calejadas controlado, com dignidade e coragem, colocando o próprio Anás em seu lugar. Dá para imaginar isso? Ninguém havia feito isso com Anás antes!
Precisamos entender que Anás era o papa e o presidente ao mesmo tempo – ninguém cruzava seu caminho e continuava vivo!
Você não se enche de satisfação quando alguém finalmente se levanta contra o papo intimidador de um professor, colega de trabalho ou chefe que trata todos com arrogância, olha nos seus olhos e diz corajosamente: “Não quero saber quem você é ou o que você pode fazer comigo, você passou dos limites. E, além do mais, não gosto do que você está fazendo!”
Mas isso não acontece muito, não é verdade?
Anás provavelmente deu uma recuada e suspirada meio surpreso com o que estava vendo. Veja o verso 22.
Dizendo ele isto, um dos guardas que ali estavam deu uma bofetada em Jesus, dizendo: É assim que falas ao sumo sacerdote?
Aqui, um oficial leal, sabendo que o sumo sacerdote tinha sido envergonhado, se virou e literalmente, bateu no rosto de Jesus. Veja a resposta de Jesus no verso 23.
Replicou-lhe Jesus: Se falei mal, dá testemunho do mal; mas, se falei bem, por que me feres?
Quando pensamos bem sobre isso, vemos que foi um absurdo. Liguei para um irmão de nossa igreja que é juiz para perguntar algo relacionado a isso. Perguntei o que aconteceria se um criminoso o retrucasse durante um julgamento e, à luz disso, um guarda o ferisse no rosto. Ele respondeu basicamente: “Em nosso tribunal, se isso ocorresse, o guarda teria agido com desrespeito. Em breve, ele passaria pelo próprio julgamento dele.”
Jesus Perante Caifás
Mas, esse não foi o caso aqui! Continue até o verso 24.
Então, Anás o enviou, manietado, à presença de Caifás, o sumo sacerdote.
Em outras palavras, Jesus havia provado ser muita areia para o caminhão de Anás. Suas palavras penetraram a fachada da hipocrisia e avareza. Anás irá tentar apagar essa cena vergonhosa – ele vai se livrar de Jesus. Então Jesus, preso, talvez com o nariz sangrando, é levado, no meio da noite, a um homem, igualmente corrupto, para outro julgamento ilegal.
Enquanto estudava a ilegalidade desses acontecimentos, me sinto como um garoto chamado Michael. Ele estava na escola dominical de sua igreja. O pastor Evans, o pastor da igreja, recontou esse episódio que havia sido passado por uma professora da escola dominical. Ela estava ensinando essa história e percebeu que Michael estava meio aéreo durante a aula. Quando ela terminou, perguntou: “Alguém tem alguma pergunta?”
Michael levantou sua mão e disse: “Quero saber uma coisa: onde estava a polícia quando tudo isso aconteceu?”
A verdade é que a polícia estava envolvida nisso também. Era, literalmente, Jesus contra o mundo inteiro – ou melhor, Jesus pelo mundo inteiro.
Já houve no mundo muitos julgamentos interessantes que captaram a atenção de todos.
Um desses julgamentos foi o de Sócrates diante do senado de Atenas. Ele foi condenado por perverter a moral e se recusar a reconhecer os deuses gregos. Ao recusar qualquer tipo de defesa, Sócrates aceitou o veredito. Um mês após o julgamento, ele foi forçado a beber veneno – sendo, portanto, executado por suicídio. Depois de sua morte, o mundo grego reconheceu o erro e condenou à morte os três homens que haviam feito a acusação.
Muitos outros julgamentos interessantes ocorreram no mundo, mas, no decorrer dos últimos dois mil anos, nenhum se compara ao julgamento de Jesus perante Caifás. Os relatórios desse julgamento são os relatórios mais lidos da humanidade. E por boas razões, uma vez que esse julgamento e o seu veredito representam o ponto crucial da humanidade – e todo o mundo será afetado.
Mateus nos dá detalhes que João não escreveu. Abra sua Bíblia em Mateus 26.
Enquanto você abre sua Bíblia, precisamos entender bem alguns aspectos da Lei Hebraica a fim de realmente nos maravilharmos diante de tudo isso que está acontecendo aqui.
Os judeus se orgulhavam de seu sistema legal – os conselhos e a suprema corte – o Sinédrio. O Sinédrio, algumas vezes chamado de Senado ou Conselho dos Anciãos, era composto por setenta e um homens – vinte e três sacerdotes, vinte e três escribas e vinte e três anciãos e o sumo sacerdote escolhido por Roma e o verdadeiro sumo sacerdote, Anás, que serviria pelo resto da vida.
É interessante o que lemos em Marcos 10, versos 32 a 34:
...E Jesus, tornando a levar à parte os doze, passou a revelar-lhes as coisas que lhe deviam sobrevir, dizendo: Eis que subimos para Jerusalém, e o Filho do Homem será entregue aos principais sacerdotes e aos escribas; condená-lo-ão à morte e o entregarão aos gentios; hão de escarnecê-lo, cuspir nele, açoitá-lo e matá-lo; mas, depois de três dias, ressuscitará.
Ele estava dizendo aos discípulos que, em breve estaria diante da suprema corte de Israel e seria condenado à morte.
Todavia, o propósito do Sinédrio não era condenar pessoas à morte – mesmo quando fossem culpadas de crimes terríveis. A máxima rabínica dizia: “O Sinédrio deve salvar e não destruir a vida.”
E, mesmo assim, nos julgamentos de Jesus, o desejo do Sinédrio estava bem claro que não era salvar, mas destruir a vida de Jesus. Dessa forma, nos julgamentos de Jesus, pelo menos seis princípios ou leis relacionados ao processo legal foram intencionalmente quebrados pelo desejo diabólico do Sinédrio de crucificar Jesus.
Seis Leis Hebraicas... Seis Leis Ignoradas
Havia seis coisas que a lei judaica demandava... e seis leis foram quebradas!
1ª Lei – Julgamentos não devem acontecer secretamente durante a noite, mas publicamente durante o dia
- Primeira lei - Julgamentos não devem acontecer secretamente durante a noite, mas publicamente durante o dia.
Veja Mateus 26, verso 57.
E os que prenderam Jesus o levaram à casa de Caifás, o sumo sacerdote, onde se haviam reunido os escribas e os anciãos.
Aqui vemos a imagem dos membros do Sinédrio se reunindo secretamente no meio da noite na casa de José Caifás. Eles estavam reunidos ilegalmente – haviam se juntado secretamente para ilegalmente julgar um homem que nem havia sido ainda acusado de nada. Por que? Pelo simples desejo de se livrar Dele.
2ª Lei – O acusado não era exigido que se pronunciasse
- A segunda lei – o acusado não era exigido que se pronunciasse.
E Anás já havia quebrado essa lei ao exigir que Jesus explicasse acerca de Seus ensinos e Seus discípulos. Entretanto, quando questionado e exigido dar resposta, o Cordeiro permaneceu em silêncio. Veja os versos 62 e 63a.
E, levantando-se o sumo sacerdote, perguntou a Jesus: Nada respondes ao que estes depõem contra ti? Jesus, porém, guardou silêncio.
Foi um silêncio de inocência; silêncio de integridade; o silêncio de firme confiança no Pai que havia dado esse cálice para o Filho.
Qual é o seu maior insulto? Quais as suas injúrias mais profundas? Veja o Cordeiro de Deus – Ele estava certo – acusado erradamente – e o Seu silêncio enfurecia os juízes que desesperadamente desejavam terminar aquele julgamento antes que o amanhecer revelasse a sua depravação. Então o Sinédrio fez o papel de acusação – e eles repreenderam o acusado por não se pronunciar.
Que frustração essa de Caifás – afinal, onde achar testemunhas confiáveis no meio da noite?!
3ª Lei – Duas testemunhas devem se pronunciar, concordando exatamente em suas acusações
- Terceira lei - duas testemunhas devem se pronunciar, concordando exatamente em suas acusações.
Numa situação normal, as testemunhas apresentariam suas evidências e, depois, seriam questionadas para verem se seu testemunhos estavam corretos.
Não havia advogados de acusação num tribunal hebraico – as testemunhas serviam de acusação e o Sinédrio servia de defesa.
Normalmente, o Sinédrio lembraria as testemunhas da preciosidade da vida humana e também o sumo sacerdote as lembraria da veracidade de seus testemunhos. Se o seu testemunho fosse falso, a Lei exigia que as testemunhas recebessem a pena que o suposto acusado receberia. Isso com certeza evitava muitos falsos testemunhos!
Mas, veja o verso 59.
Ora, os principais sacerdotes e todo o Sinédrio procuravam algum testemunho falso contra Jesus, a fim de o condenarem à morte.
Você percebeu que eles, “...procuravam algum falso testemunho...”?
Como isso é possível? “Ei, estamos em busca de alguém disposto a mentir a respeito desse homem para que a gente possa condená-lo à morte.”
O mais engraçado é que eles não conseguiram encontrar nem dois homens para mentirem com consistência!
Veja os versos 60 e 61.
E não acharam, apesar de se terem apresentado muitas testemunhas falsas. Mas, afinal, compareceram duas, afirmando: Este disse: Posso destruir o santuário de Deus e reedificá-lo em três dias.
O evangelho de Marcos adiciona a informação de que essas testemunhas não conseguiam acertar os seus testemunhos. Marcos 14, verso 58, registra que uma das testemunhas disse:
Nós o ouvimos declarar: Eu destruirei este santuário edificado por mãos humanas e, em três dias, construirei outro, não por mãos humanas.
Mas, o verso em Mateus diz que Jesus havia dito que Ele poderia destruir o templo e reconstruir o mesmo templo em três dias.
Então Marcos 14, verso 59 diz:
Nem assim o testemunho deles era coerente.
Caifás perdeu o juízo. Caifás, cujo nome significa “inquiridor,” percebe que esse julgamento está perto de escapar de sua mão; até mesmo o Conselho enganador encontrou dificuldades em condenar Jesus sem provas consistentes que o acusassem.
4ª Lei – O Sinédrio não era permitido iniciar acusações ou exigir que o acusado testemunhasse contra si mesmo
- Quarta lei - o Sinédrio não era permitido iniciar acusações ou exigir que o acusado testemunhasse contra si mesmo.
Até mesmo nossos tribunais de hoje possuem leis acerca da autoincriminação.
Uma das razões por que Jesus permaneceu em silêncio foi para assegurar que o Sinédrio cumprisse suas próprias leis. E isso enfureceu mais ainda a Anás e Caifás.
E é aqui que Caifás viola outro princípio da lei judaica. Ele se levanta e toma a posição de juiz, júri e acusação e faz algo arriscado, incomum – é sua última chance antes do amanhecer! Veja Mateus 26, verso 63.
Jesus, porém, guardou silêncio. E o sumo sacerdote lhe disse: Eu te conjuro pelo Deus vivo que nos digas se tu és o Cristo, o Filho de Deus.
Caifás colocou Jesus diante de um juramento; ele deixou o processo legal de lado – então, na verdade, Caifás está pedindo que Jesus se incrimine a si mesmo!
Jesus poderia ter permanecido em silêncio, pois o pedido era ilegal. Mas, ao invés disso, foi somente aqui que Jesus abriu a boca. Da mesma maneira que Ele ajudou os soldados a Lhe prenderem, agora Ele ajuda o Sinédrio a condená-lO. Esse drama no tribunal revela o resoluto amor e propósito de Cristo em carregar “...em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados...”, conforme 1 Pedro 2, verso 24.
Continue até o verso 64.
Respondeu-lhe Jesus: Tu o disseste...
(disse o que? Veja o verso 63c: “...se tu é o Cristo, o Filho de Deus.” – ou o Messias, Deus em carne. Jesus disse: “Isso Eu sou!” e adiciona...)
...entretanto, eu vos declaro que, desde agora, vereis o Filho do Homem assentado à direita do Todo-Poderoso e vindo sobre as nuvens do céu.
E era exatamente isso o que os acusadores esperavam ouvir. Sim, Ele é culpado – o motivo: Sua divindade!
Imagine – eles perguntaram: “Você é o Messias?”
Ele respondeu: “Sim.”
E Seus milagres e ensinos eram evidências irrefutáveis de que Ele era o Messias, mas eles ainda não criam.
Talvez hoje, você esteja pensando: “Se eu apenas tivesse mais evidência de que Jesus é o Messias, eu iria crer.”
Não, não iria!
“Se eu pudesse ver pelo menos alguma evidência milagrosa não teria problemas em crer.”
Sim, teria!
Não importa o que você tenha visto ou ouvido, a salvação é ato da graça de Deus na sua vida – e você, sem ter visto, tocado ou provado, responde à salvação. Nas palavras de Efésios 2, verso 8:
Porque pela graça sois salvos mediante a fé...
Agora, eu quero que você entenda que o que Jesus disse à suprema corte foi algo bastante poderoso. Foi, na verdade, três profecias messiânicas do Antigo Testamento combinadas em uma.
- Em Mateus 26, verso 64a, Ele diz:
...desde agora vereis...
A profecia de Isaías 52, verso 8, diz:
...porque com seus próprios olhos distintamente vêem o retorno do SENHOR a Sião.
Quando isso acontecer, não terão como negar!
- No verso 64b, Ele diz:
...vereis o Filho do Homem assentado à direita do Todo-Poderoso...
A profecia de Salmo 110, verso 1, que diz:
Disse o SENHOR ao meu senhor: Assenta-te à minha direita, até que eu ponha os teus inimigos debaixo dos teus pés.
- No verso 64c, Ele diz:
...e vindo sobre as nuvens do céu.
A profecia de Daniel 7, verso 13, que diz:
...nas minhas visões da noite, e eis que vinha com as nuvens do céu um como o Filho do Homem...
Jesus está dizendo: “Vocês estão me julgando, mas eu vou julgar vocês todos um dia. Vocês podem Me condenar agora, mas, se vocês não crerem em Mim um dia, vocês serão condenados.”
A verdade é: Jesus não está sendo julgado aqui – mas o Sinédrio é que está sob julgamento.
5ª lei – Um veredito era dado somente depois de um dia de jejum
- Quinta lei – um veredito era dado somente depois de um dia de jejum.
Ninguém comia nada, ninguém bebia nada no dia seguinte ao julgamento. O Sinédrio deveria estar agonizando por causa do futuro do homem sendo condenado à morte.
A Mishnah diz: “O Sinédrio que condena um homem à morte uma vez a cada sete anos é considerado um matadouro.”
Mas, para este Sinédrio, o veredito seria motivo para celebração – afinal, Jesus iria morrer!
Veja Mateus 26, versos 65 e 66.
Então, o sumo sacerdote rasgou as suas vestes, dizendo: Blasfemou! Que necessidade mais temos de testemunhas? Eis que ouvistes agora a blasfêmia! Que vos parece? Responderam eles: É réu de morte.
Nessa armação teatral, Caifás dá a impressão de estar defendendo a honra de Deus, mas, no fundo, ele não se preocupava nem um pouco com a honra de Deus!
Então, o tribunal responde com um brado unânime pedindo a morte de Jesus.
6ª Lei – Um voto unânime feito pela corte permitia que acusado fosse libertado
- Sexta lei - um voto unânime feito pela corte permitia que acusado fosse libertado.
No nosso mundo Ocidental, nós buscamos votos unânimes. Mas, na mente Oriental, unanimidade implicava em falta de pensamento crítico. Os rabinos ensinavam que se a corte votasse unanimemente a favor da morte de alguém, havia, obviamente, falta de misericórdia. Portanto, um parecer unânime permitia imediatamente que o acusado fosse libertado.
Mas, em vez disso, veja o que eles fizeram nos versos 67 e 68.
Então, uns cuspiram-lhe no rosto e lhe davam murros, e outros o esbofeteavam, dizendo: Profetiza-nos, ó Cristo, quem é que te bateu!
Marcos ainda adiciona no capítulo 14, verso 65a:
Puseram-se alguns a cuspir nele, a cobrir-lhe o rosto, a dar-lhe murros...
Certas cenas geram repugnância em mim – como um jornal local mostrou um artigo sobre um policial que espancou uma pessoa indefesa; e isso acontece em nosso país e em todo o mundo.
Você consegue imaginar a Suprema Corte do nosso país tendo condenado alguém e, depois, todos os magistrados descendo de seus lugares e cuspindo e, vendando seus olhos, e, cheios de amargura e ódio, dando socos no rosto do condenado?
A suprema corte de Israel se degenerou naquele dia, agindo como uma corja de setenta e um homens violentos – cuspindo, batendo, xingando e zombando.
Quem foram os blasfemadores naquele dia? Quem foram os acusados? O Sinédrio e a nação que eles representavam. Como também todos aqueles que já ouviram a história de Jesus e se recusam a se prostrar e adorá-lO.
Você já ouviu a história desse prisioneiro? Você entende que esse Cordeiro, inocente e puro, está sendo julgado diante da suprema corte de Israel para que eu e você não precisemos enfrentar um julgamento no céu? Ele foi condenado à morte pela justiça humana para que eu e você nunca sejamos condenados pela justiça celestial. Ele enfrentou raiva, ódio e hostilidade de líderes religiosos para que todos os que crêem Nele nunca experimentem a ira do Deus justo.
Ele fez isso por você. Você irá rejeitá-lo, como esses homens o rejeitaram, ou você irá adorá-lO? Esse é o amoroso, puro, justo, misericordioso, perfeito Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo!
Este manuscrito pertence a Stephen Davey, pregado no dia 11/12/1994
© Copyright 1994 Stephen Davey
Todos os direitos reservados
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