
A Promessa do Sofrimento
A Promessa do Sofrimento
João 15.18–27
Introdução
Quando o assunto é imaginação fantasiosa, alguns “profetas” do passado tentaram prever o futuro, mas erraram por muito. Deixe-me ler algumas declarações feitas por esses profetas:
- A Revisão Trimestral de 1825 registrou esta declaração interessante: “O que seria mais absurdo do que promover o prospecto de uma locomotiva capaz de viajar duas vezes mais rápido do que a diligência ou a carruagem?”
- A Compilação Literária de 1889 escreveu: “A carruagem ordinária não movida a cavalos é um luxo dos ricos. E, apesar de o seu preço provavelmente cair num futuro próximo, seu uso nunca será, é claro, tão comum como o da bicicleta.”
- A revista Ciência Popular de 1901 citou William Baxter, dizendo: “Como meio de transporte rápido, viajar pelo ar nunca competirá com a viagem pelos trilhos.”
Por mais difícil que seja de acreditar, essas declarações representaram, por um tempo, a opinião comum da época. Vemos como o pensamento contemporâneo tem se confundido bastante.
Jesus Cristo está no processo de mudar o pensamento cristão popular no Evangelho de João, capítulo 15. Já aprendemos que não somos nós os que produzem os frutos, apenas carregamos os frutos; e amor não é um sentimento, mas uma decisão.
Perseguição Não É A Exceção,
Mas A Regra
Depois de falarmos de várias coisas maravilhosas sobre nosso relacionamento com Cristo—que somos seus amigos e estamos ligados à sua alegria que traz a vida—a conclusão poderia ser: “Está tudo ótimo, então. Que vida boa o Cristianismo será. Com certeza, Jesus, sendo nosso amigo mais chegado, endireitará a estrada de nossa vida, corrigirá os erros e nos dará saúde e dinheiro, prosperidade e privilégios. Seremos procurados, amados, apreciados e promovidos pelo mundo no qual vivemos.” Mas, antes que você chegue a essa conclusão, Jesus estende suas mãos e mostra as cicatrizes.
Ele continua em João 15 com uma declaração dissonante. Veja os versos 18 e 19, e lembre-se: você está ligado à videira, você é um amigo:
Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós outros, me odiou a mim. Se vós fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu; como, todavia, não sois do mundo, pelo contrário, dele vos escolhi, por isso, o mundo vos odeia.
Agora, a frase que começa com a partícula se não implica que talvez isso não aconteça. Por exemplo: “Se você não ligar o seu despertador, chegará atrasado no trabalho amanhã.” Não. Essas declarações com “se” são verdadeiras na vida. No:
- verso 18: Se o mundo vos odeia—e eles odiarão;
- verso 19: Se vós fôsseis do mundo—mas vocês não são;
- verso 22: Se eu não viera, nem lhes houvera falado—mas ele veio e falou; e
- verso 24: Se eu não tivesse feito entre eles tais obras, quais nenhum outro fez—mas ele fez.
Essas não são possibilidades, mas conjecturas.
Jesus diz: “Se vocês me tiverem como amigo mais chegado, o mundo irá odiá-los, injuriá-los, desdenhá-los, ridicularizá-los, abandoná-los, ignorá-los e ter pena de vocês—tudo o que fizeram contra mim.” Nossa mensagem fica distorcida quando falamos de Cristo às pessoas apresentando apenas o lado positivo sem mencionar as cicatrizes, isto é, a cruz. Discipulado é impossível sem a cruz.
Em seu livro O Reino Secreto, Pat Robertson escreve com a vantajosa perspectiva popular da garantia da prosperidade. Ele convoca os crentes a empregar as “leis da prosperidade às quais o próprio Deus está sujeito.” Ele afirmou: “É mais ou menos como ligar uma estação de rádio ou um canal de televisão: você coloca na frequência correta e pega o programa desejado.”
Então, o que diremos àqueles que nunca foram curados ou nunca receberam o milagre financeiro tão desejado?
Ou ele errou ao tentar captar os pontos que demonstramos acerca da maneira como o reino opera, ou não está vivendo de acordo com os princípios que temos explorado.
O teólogo reformado Michael Horton escreveu uma reprovação severa contra a teologia da prosperidade em seu livro Fabricado nos Estados Unidos. Ele escreveu:
O Evangelho é agora centralizado no consumo ao invés de em Deus. É como se Deus tivesse que ser justificado diante do pecador; agora é o descrente que tem que ficar satisfeito com Deus e seus termos. Então, embrulhamos o Evangelho com termos e promessas atraentes para vender o Cristianismo para as pessoas da Feira da Vaidade.
Você quer ver a teologia da prosperidade? Abra em Hebreus, capítulo 11, e veja a fé de nossos pais do passado—cristãos dos séculos primeiro, segundo, terceiro e quarto, ao redor de todo o mundo. Veja os versos 36 a 38 que falam sobre esses crentes da igreja primitiva:
Outros, por sua vez, passaram pela prova de escárnios e açoites, sim, até de algemas e prisões. Foram apedrejados, provados, serrados pelo meio, mortos a fio de espada; andaram peregrinos, vestidos de peles de ovelhas e de cabras, necessitados, afligidos, maltratados (homens dos quais o mundo não era digno), errantes pelos desertos, pelos montes, pelas covas, pelos antros da terra.
As teologias de Pat Robertson, Kenneth Hagin, Benny Hinn, Copeland, Edir Macedo, Valdemiro Santiago, R. R. Soares e muitos outros são fabricações humanas dirigidas ao consumidor.
Algo incrível acerca de Jesus Cristo é que ele chacoalha o pensamento contemporâneo dos crentes em João 15. Quando você vai a Cristo e se torna seu amigo mais próximo, é possível que você, na verdade, perca seu emprego e amigos.
Temos em nossa igreja um professor que passou por uma pressão enorme dos seus superiores para silenciar a sua fé. Temos alunos que, por causa do seu testemunho, receberam notas inferiores e injustas em aulas da universidade. Temos irmãos em nossa igreja que foram desprezados por suas famílias por causa da fé.
Esse capítulo de João revela que, por causa do Senhor, o crente será menosprezado, insultado, escarnecido, objeto de pena e muitas outras reações negativas por parte do mundo. E Jesus diz, com efeito: “Se você ainda não passou por nada disso, eu não sou, de fato, seu amigo.”
Missiólogos estimam que, num dado momento qualquer, cerca de sessenta por cento dos crentes no mundo estão sendo perseguidos. Dietrich Bonhoeffer se opôs ao regime de Hitler e, como resultado, esse pastor e teólogo pagou com sua vida. Uma das muitas afirmações que escreveu foi: “Jesus Cristo convida a pessoa para ir e morrer.” Note os versos 26 e 27 de João 15:
Quando, porém, vier o Consolador, que eu vos enviarei da parte do Pai, o Espírito da verdade, que dele procede, esse dará testemunho de mim; e vós também testemunhareis, porque estais comigo desde o princípio.
A palavra testemunho é a mesma palavra grega para “mártir.” Precisamos falar sobre algo que chamaremos de “Ultrapassando Limites.” Isto é, sair de um Cristianismo secreto e viver um Cristianismo público. E, a propósito, não estou falando de simplesmente colocar um adesivo de peixinho no seu carro.
Perseguição Naquela Época
A fim de entendermos João 15, precisamos parar e olhar para trás. Precisamos nos lembrar de que, a essa altura da vida da igreja, existia a constante ameaça de perseguição. O Cristianismo era, na verdade, ilegal. Um oficial da cidade poderia condenar alguém à morte simplesmente por declarar ser um cristão, não importava o que tivesse feito. Na época em que o Evangelho de João foi escrito, o ódio pelo Cristianismo já havia começado há vários anos. O historiador romano do século primeiro, Tácito, escreveu sobre os cristãos como “as pessoas que eram odiadas.” Seutônio, também um historiador daquele período, escreveu sobre “uma raça de homens que faziam parte de uma superstição nova e maligna.” O problema foi que, nos tempos em que muitos deuses eram adorados, o Cristianismo estava fora de moda—era diferente e uma afronta escancarada à sociedade romana politicamente correta e politeísta.
Adoração a César
O princípio unificador do Império Romano era a religião. Foi na Ásia Menor que as pessoas começaram a ver o César, Imperador Romano, como o deus encarnado em Roma. Eles assim fizeram em total gratidão pelo que Roma lhes havia concedido. A pax Romana ou “paz Romana” se estendia desde a Alemanha até o norte da África; desde o Eufrates até a Bretanha.
De início, os imperadores tentaram impedir essa adoração, mas depois viram que não venceriam. A princípio, a adoração a César ficou confinada à Ásia Menor, mas logo se espalhou. Daí, o governador percebeu que isso poderia ser utilizado para unificar o Império. Finalmente, chegou o dia em que cada habitante do Império Romano teria que oferecer um sacrifício a César e declarar: “César é o Senhor!” Ao fazer isso, o cidadão demonstrava lealdade a Roma. Quando adorava o imperador, o cidadão recebia um certificado comprovando que havia adorado e era liberado para retornar à adoração de seus deuses ou nenhum deus.
E era exatamente isto que nenhum crente poderia fazer: não poderia chamar nenhum homem de Senhor, exceto Jesus Cristo. Eles se recusaram a se conformar com a sociedade e, por isso, foram considerados perigosos e desleais.
Ostracismo Judeu
William Barclay listou as muitas acusações feitas contra os crentes. Eles foram acusados de serem revolucionários, canibais (uma má interpretação feitas pelos de fora acerca da celebração da Ceia) e incendiários (frequentemente viviam na expectativa da Segunda Vinda de Cristo e pregavam a destruição do mundo pelo fogo, conforme 2 Pedro 3).
Quando o imperador romano Nero (o que executou Paulo) quis reconstruir Roma, ele secretamente deu ordens para que a cidade fosse incendiada. Tácito e Seutônio concordam que foi o próprio Nero quem deu ordem para o incêndio. Depois de ter assolado dois terços da cidade, o fogo passou e Nero acusou os cristãos de terem causado o incêndio, a fim de cumprir suas pregações acerca de um futuro fogo destruidor. Tácito escreveu:
Nero foi em busca de um bode expiatório e encontrou na raça de homens comumente chamados de cristãos. O nome se derivava de Cristo, o qual, no reinado de Tibério, sofreu nas mãos de Pôncio Pilatos. Nero continuou e forçou muitos cristãos a confessar falsamente e, baseados em tal falsa evidência, muitos foram declarados culpados. Foram condenados à morte com profunda crueldade e, para piorar o sofrimento, Nero adicionou zombaria e insulto. Alguns foram cobertos com peles de animal e lançados para serem devorados por cães selvagens; outros, foram crucificados; inúmeros foram enterrados vivos; muitos foram cobertos com materiais inflamáveis, amarrados a estacas e queimados para servirem de tochas durante as festas no jardim de Nero.
As palavras de Jesus, certamente, ecoaram em seus corações: “O mundo vos odiará, assim como odiou a mim—sem causa.”
Famílias Divididas
A propósito, uma outra acusação contra os crentes era a de que eles se envolviam em divisões nos relacionamentos familiares; ou seja, dividiam famílias e lares. Jovens renunciavam à idolatria e iam a Cristo. A sociedade ficou tão revoltada que em Atos 17, verso 6, o povo se refere aos crentes como estes que têm transtornado o mundo. Jesus profetizou em Mateus 10, versos 34 a 38:
Não penseis que vim trazer paz à terra; não vim trazer paz, mas espada. Pois vim causar divisão entre o homem e seu pai; entre a filha e sua mãe e entre a nora e sua sogra. Assim, os inimigos do homem serão os da sua própria casa. Quem ama seu pai ou sua mãe mais do que a mim não é digno de mim; quem ama seu filho ou sua filha mais do que a mim não é digno de mim; e quem não toma a sua cruz e vem após mim não é digno de mim.
Jesus está dizendo: “Se você quer me seguir, então entenda que não ofereço riquezas, nem prosperidade, nem saúde, nem promoção, nem paz, mas ofereço uma cruz severa.”
Perseguição Agora
Essa foi a perseguição daquela época; qual é a perseguição agora? Obviamente, não estamos queimando na estaca dos liberais, nem sendo alimentados aos leões. Ninguém está amarrado a uma estaca e servindo de tocha para alguma festa do presidente—pelo menos ainda não e pelo menos não aqui, ainda.
Será que Jesus desejou que essa passagem se aplicasse a nós hoje? Com certeza, sim! Paulo escreveu em 2 Timóteo 3, verso 12: Ora, todos quantos querem viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos.
Precisamos voltar a João 15, verso 18, para começar a esclarecer as coisas um pouco. O que Jesus quis dizer com o mundo, quando disse nesse verso: Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós outros, me odiou a mim?
O termo “mundo” é usado de diferentes maneiras na Bíblia. Ele se refere:
- ao mundo criado—João 1, verso 10, diz: o mundo foi feito por intermédio dele;
- ao mundo da humanidade—João 3, verso 16, diz: Porque Deus amou ao mundo; e
- ao sistema deste mundo, isto é, aos planos, atividades, filosofias, valores e agendas deste mundo—João 15, verso 18. Como crentes, Paulo nos diz em Romanos 12, verso 1: E não vos conformeis com este século, se referindo ao sistema de valores, planos e estilo de vida deste mundo.
Outras passagens nos informam que o sistema deste mundo é criado e controlado por Satanás. Em 2 Coríntios 4, verso 4, Paulo chama Satanás de o deus deste século. Em João 14, verso 30, Jesus diz: Já não falarei muito convosco, porque aí vem o príncipe do mundo; e ele nada tem em mim. E no capítulo 12, verso 31: Chegou o momento de ser julgado este mundo, e agora o seu príncipe será expulso. Veja, agora, o capítulo 17, versos 14 a 17:
Eu lhes tenho dado a tua palavra, e o mundo os odiou, porque eles não são do mundo, como também eu não sou. Não peço que os tires do mundo, e sim que os guardes do mal. Eles não são do mundo, como também eu não sou. Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade.
A verdade é que, enquanto você se conformar a este mundo com seus modismos e valores, conviverá muito bem. Mas, quando começar a brilhar como luz da justiça e a agir como sal, confrontando a sociedade decadente, logo descobrirá que não somente está fora de moda, como fora do seu ambiente. John MacArthur escreve algo interessante a esse respeito:
Os crentes são a consciência do mundo; nosso testemunho confronta o sistema do mundo com um padrão de justiça que expõe sua malignidade egocêntrica. Somos a consciência do mundo. Portanto, quando sairmos deste mundo por ocasião do arrebatamento logo antes da tribulação, toda maldade infernal se soltará na terra porque a consciência do mundo terá se retirado.
Essa é a ideia de João 15, versos 21 e 22, onde Jesus diz:
Tudo isto, porém, vos farão por causa do meu nome, porquanto não conhecem aquele que me enviou. Se eu não viera, nem lhes houvera falado, pecado não teriam; mas, agora, não têm desculpa do seu pecado.
Isso é algo crítico a entender. Jesus não está falando sobre o pecado em geral porque, tivesse ele vindo ou não, os homens ainda seriam pecadores. Jesus fala da culpa da rejeição espontânea à revelação total de Deus. A culpa mais trágica que uma pessoa pode ter é a rejeição diante da revelação bem específica de Deus.
Aquele mundo esteve frente a frente com os padrões de Deus e os rejeitou. O mundo rejeitou o que Deus havia declarado que o mundo era. Esse padrão está agora impresso. O mundo daquela época teve a revelação completa da Palavra Viva; nós temos a revelação completa da Palavra Escrita. E o mundo ainda odeia essa revelação.
Em 1971, um reavivamento ocorreu nas igrejas do oeste do Canadá. Saiu até nos jornais, porque muitas pessoas foram às lojas para pagar o que deviam. Quer tenha sido impostos não pagos, desonestidade nos negócios ou outras mentiras até para a alfândega canadense, centenas de pessoas se dispuseram a fazer o necessário para se acertarem com Deus e com os demais homens. Um certo autor escreveu o seguinte a respeito do fenômeno:
Quando esses crentes demonstraram um desejo enorme pela justiça, o mundo tanto os amou, como também os odiou. Por um lado, as pessoas da região ficaram felizes em ver os crentes corrigindo os erros do passado; mas, por outro lado, ficaram profundamente ofendidos com tamanha integridade. Pois, no processo de verem a justiça trabalhando na vida de outros, também viram seus próprios pecados sendo expostos.
Você já viveu com a culpa do pecado e uma consciência que simplesmente não se cala? É exatamente isso que eu e você somos para o mundo quando proclamamos o Evangelho de Jesus Cristo—que ele veio para morrer por pecadores. Então, como resultado, o mundo ainda responde à consciência de diversas formas. Jesus chama a reação deles de “perseguição.”
Chuck Colson disse certa vez que somos bastante parecidos com Ray Croc, o fundador do McDonald’s. Quando perguntado numa entrevista sobre o que ele cria, ele respondeu: “Deus, minha família e o hambúrguer do McDonald’s.” Em seguida, adicionou: “E, quando chego no escritório, inverto essa ordem.”
Meus amigos, se não invertermos a ordem e colocarmos Deus sempre antes de tudo, ficaremos fora de moda, nadando contra a maré do sistema deste mundo. Seremos:
- discriminados pelos amigos;
- ridicularizados;
- pessoalmente odiados por não nos conformar com o resto do grupo;
- considerados não como uma autoridade em nossa área por causa de nosso “fanatismo religioso;”
- negados uma promoção porque não colocamos a empresa primeiro em nossa lista de prioridades;
- considerados intolerantes e fanáticos porque não concordamos com estilos de vida pecaminosos;
- ridicularizados a qualquer hora que uma figura pública crente tropeça e cai em pecado;
- traídos e pisados porque não nos defendemos; e
- zombados por causa de nossa pureza e valores.
Penso no policial que não recebeu sua promoção porque não se juntou ao seu patrão nos hábitos da bebedice. Ou no homem que trabalhava num depósito. Ele sabia que alguns materiais estavam danificados por causa do mal cuidado por parte dos empregados. Por isso, não assinava notas que declaravam que os danos haviam ocorrido antes do recebimento.
Meus amigos, apesar de talvez estarmos isentos de tortura e morte por enquanto, o desprezo básico contra Jesus sobe à superfície em qualquer cultura onde o crente e a igreja brilham como luz do mundo.
Num certo dia, meus filhos trouxeram para mim uns papéis da escola. Era da Secretaria de Educação explicando acerca de um novo programa chamado “Educação de Caráter.” Minha esposa e eu lemos e ficamos, francamente, maravilhados com o conteúdo e ainda mais com o propósito do programa. Dizia:
Ajudar as crianças que frequentam escolas públicas a aprender a pensar antes de agir e a compreender as diferenças fundamentais entre o certo e o errado.
Eu sou totalmente a favor, mas o interessante foi que eu li num jornal local sobre um professor falando que não existem absolutos quando o assunto é o certo e o errado—o certo é qualquer coisa que a sociedade decide fazer para o seu próprio bem e propósitos. Mesmo assim, o programa estava falando sobre certo e errado.
Havia uma lista de diversas características que tentariam ensinar às crianças: coragem, bom julgamento, integridade e bondade. Ouça a definição dada para “bondade:” “Tratar outros como você gostaria de ser tratado.” Agora, não existe nenhum versículo bíblico ao lado disso, mas estava começando a suspeitar que tinha algum crente por trás desse projeto. Ouça estas palavras relacionadas à “autodisciplina:” “Autodisciplina é ter o controle apropriado das palavras, ações, impulsos e desejos. Escolher a abstinência da relação sexual antes do casamento, uso de drogas, álcool, tabaco e outras substâncias e comportamentos nocivos.”
Ficamos nos perguntando: “Como isso passou despercebido pela Secretaria de Educação e chegou até a nossa casa?” Daí, comecei a fazer algumas ligações. Finalmente, consegui entrar em contato com o escritório da Secretária de educação de nossa região. Sua assistente atendeu e eu falei: “Veja, minhas crianças trouxeram para casa hoje um material e gostaria de falar com a secretária sobre isso.” Ela respondeu: “Ah, ela está numa reunião agora.” Percebi pelo seu tom de voz que estava pensando: “Era só o que faltava... outra ligação.” Então, imediatamente me identifiquei. “Sou o pastor da igreja batista de nossa cidade e estou ligando para parabenizar pela iniciativa.” Ela disse: “Ah!” Em seguida me deu o telefone da casa da secretária. E comentou: “Ela vai gostar muito de receber sua ligação.” E me disse três vezes: “Ligue para ela, por favor.”
Nunca consegui falar com a secretária, mas falei com a chefe da equipe que trabalhava no projeto. Conversei com ela um pouco e, depois de ter feito algumas perguntas, disse: “Para qual igreja você vai?” Ela disse o nome de uma igreja evangélica local que já imaginava. Eu perguntei: “Você é crente?” Ela disse: “Sou.” Repliquei: “Como você está conseguindo até mesmo imprimir esse material?” Ela respondeu: “Bom, estamos, de fato, numa enorme batalha. É um desafio tanto para mim como para a secretária ver esse projeto implementado nas escolas.” A secretária também é crente. E eu continuei: “Vocês devem estar recebendo muitos telefonemas e cartas a esse respeito, não é?” Ela contou que a secretária já havia sido ameaçada de morte, tanto por telefone como por carta. A própria chefe da equipe também já tinha recebido cartas de baixo nível que nem repetiria para mim. Ela disse que foram contatos não só de pessoas da comunidade, mas também de igrejas liberais, que estão dizendo: “O que você pensa que está fazendo?”
Você sabe o que é isso? Mesmo que o nome de Jesus nunca apareceu—mesmo que nenhum verso bíblico tenha sido associado a qualquer ensino—, o mundo pode sentir o cheiro da verdade, e eles odeiam isso.
Quando defendemos Cristo num mundo secular, avarento, egoísta, sem valor ou temor a Deus, talvez recebemos algum telefonema ou e-mail. Quando deixamos o Cristianismo secreto e vamos para o Cristianismo público, no qual dizemos: “Vou viver dessa forma e levar Jesus comigo para o meu trabalho de 8h às 6h. Ele é meu amigo,”—se estamos dispostos a apresentar Jesus a outras pessoas—, seremos odiados de uma forma ou outra. Talvez nos custe tudo, mas, no final, não teremos perdido nada e teremos ganhado tudo.
Erwin Lutzer escreveu:
Essa mensagem no cenáculo coloca um fim à crença tão comum que sucesso e riqueza são o resultado inevitável de uma vida comprometida a Cristo. Cristo prometeu que teríamos tribulações neste mundo.
Lições Aprendidas com As Perseguições
O que aprendemos com as perseguições? Deixe-me dar algumas lições para você agora.
- Primeiro, devemos lembrar que, apesar de não haver motivo ou justificativa para tanto ódio, ele deve ser esperado.
Você viu em João 15, verso 25?
Isto, porém, é para que se cumpra a palavra escrita na sua lei: Odiaram-me sem motivo.
Essa é uma citação de dois salmos de Davi.
Por que Jesus foi rejeitado? A soma total de todas as razões é que ele declarou ser igual a Deus e, movidos pela inveja, os líderes judeus entregaram Jesus. Será que existe sequer uma boa razão? Não. À luz da história e do futuro, a nação de Israel agiu de forma irracional—de mente fechada e autocentrada. Mas o ódio a Cristo não foi somente prometido, como também profetizado. E ele profetiza o mesmo acerca de nós, seus discípulos.
- Segundo, devemos saber que ser ridicularizados, ignorados, rejeitados, desprezados ou sofrer qualquer outra forma de ódio é uma evidência de que estamos cumprindo nossa missão como testemunhas de Cristo.
C. S. Lewis escreveu:
Não quero dizer que devemos fazer um mau uso de nós mesmos e testemunhar de forma imprópria, mas haverá uma hora em que deveremos mostrar nossas cores de crentes, caso desejemos ser verdadeiros ao Senhor Jesus Cristo.
A ideia é: não fuja daquele trabalho, família ou vizinho que não gosta de você, o ignora ou insulta. Você é a luz e é ali que brilha.
- Terceiro, devemos constantemente nos lembrar de que o ódio do mundo é equilibrado pelo nosso amor uns pelos outros.
Veja o verso 17: Isto vos mando: que vos ameis uns aos outros. Por quê? Porque ninguém nesse sistema do mundo o amará. Portanto, garanta o amor uns pelos outros.
Recentemente, li sobre Jackie Robinson. Ele foi o primeiro negro a entrar para a liga profissional de beisebol e sair da chamada Liga dos Negros. Ele foi eleito para o Hall da Fama do Beisebol Nacional em 1962. Não foi um início fácil para esse jovem rapaz. As multidões racistas zombavam dele e o ameaçavam. Em um dos jogos, a zombaria atingiu níveis extremos. Mas algo aconteceu que desafiou a torcida e encorajou Jackie. Um de seus colegas de time saiu do banco de reservas, entrou no campo, o abraçou e se pôs ao seu lado, encarando a torcida. A zombaria não terminou, mas eles estavam, agora, juntos nessa, não como apenas um outro jogador solitário, mas como amigos.
Jesus garante que o mundo zombará ou até matará. O encorajamento virá quando colocarmos nossos braços nos ombros do outro e compartilharmos aquele fardo e permanecermos firmes.
Este manuscrito pertence a Stephen Davey, pregado no dia 16/10/1994
© Copyright 1994 Stephen Davey
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