Nossa Recompensa da Amizade

Nossa Recompensa da Amizade

by Stephen Davey

Nossa Recompensa da Amizade

João 15.12–16

Introdução

Nosso Privilégio de Produzir Frutos

Talvez você se recorde de que, em João 15, Jesus está no processo de mexer com o pensamento cristão convencional. Fomos convidados primeiro a uma vinha da Palestina, em João 15, versos 1 a 11. Aprendemos que somos os ramos e que Cristo é a videira. Naturalmente, pensaríamos que, já que pertencemos ao corpo de Cristo, podemos, agora, produzir coisas maravilhosas, como o fruto do Espírito. Então, fazemos o nosso melhor. Criamos uma lista com o fruto do Espírito e a fixamos na geladeira com ímãs em formato de frutas, ou a colocamos perto de nossa xícara de café. Pensamos: “Vamos ver... esta semana é a semana da alegria. Senhor, esta semana desenvolverei a característica da alegria na minha vida.” Mas, a essa altura, o cachorro do vizinho late bem alto ao lado da sua cozinha, você se assusta e derrama café na lista do fruto do Espírito. Toda a alegria que você pensou que tinha foi-se embora. Daí, você grita com o vizinho, falando poucas e boas com ele, coisas que não poderia deixar passar em branco.

A verdade é que a graça de Deus não permitirá que você faça sozinho algo que o próprio Cristo disse que ele opera em nós. A única coisa que eu e você podemos fazer é ser ramos disponíveis, conectados à vinha. Se você se lembra, os ramos não podem produzir frutos de si mesmos; eles apenas carregam fruto—fruto produzido pela vida da vinha que corre pelos ramos.

Agora, Jesus virará o jogo. Ele dirá: “Agora que vocês são crentes e permanecem na videira, precisam saber que podem realizar determinadas coisas.” Veja João 15, verso 5:

Eu sou a videira, vós, os ramos. Quem permanece em mim, e eu, nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer.

Nós, crentes, não somos simplesmente aleijados quando o assunto é produzir frutos; somos completamente paralisados. O ensino é: a vida de Cristo, que permitimos fluir em nós e através de nós, produzirá os frutos; esses frutos ficarão pendurados em nossas vidas da mesma maneira que o cacho de uvas se pendura nos ramos da videira.

Agora, nos versos 12 a 16 de João 15, Jesus continua a mexer com o pensamento dos discípulos. Saímos de uma vinha da Palestina e caminhamos para dentro de um lar típico da região. Na vinha, descobrimos o privilégio de carregar frutos; no lar, descobriremos a recompensa da amizade e do relacionamento. Por fim, na última parte desse capítulo, versos 17 a 27, sairemos da casa e iremos para a vila, a fim de experimentarmos a dor do abandono. Produção de frutos, amizade e abandono—três experiências comuns aos discípulos de Cristo.

Nossa Recompensa da Amizade

Se fôssemos morrer amanhã às dez horas da manhã, creio que nossos pensamentos e preocupações girariam em torno de nós mesmos. Fico admirado com o fato de que Jesus, menos de vinte e quatro horas antes da cruz, se preocupa com os discípulos; não com os seus direitos pessoais ou suas próprias necessidades, mas com as dos discípulos. Como isso é possível? João não nos deixa à mercê de nossa imaginação. Volte para João 13, verso 1:

Ora, antes da Festa da Páscoa, sabendo Jesus que era chegada a sua hora de passar deste mundo para o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim.

Amor. Amor agape eterno, imutável e inabalável.

Vamos entrar novamente no cenáculo para ouvir a conversa deles que continua nos versos 12 a 16 de João 15:

O meu mandamento é este: que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei. Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a própria vida em favor dos seus amigos. Vós sois meus amigos, se fazeis o que eu vos mando. Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho dado a conhecer. 16 Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros e vos designei para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça; a fim de que tudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome, ele vo-lo conceda.

Li, certa vez, que, se alguém pudesse falar o nome de duas pessoas que considera ser realmente seus amigos, ele estaria em rara companhia. A verdade é que amigos são difíceis de encontrar; refiro-me ao tipo de amigo que ajuda quando todos abandonam. Um pastor escreveu:

Solidão não existe somente no mundo, mas é vista na igreja também. Considere as palavras de uma senhora idosa que me escreveu: “Sento-me no banco próximo a outra pessoa toda semana, mas não sinto nenhum calor humano. Sou da fé, mas não vejo nenhum amor. Canto os hinos junto àqueles sentados ao meu lado, mas ouço apenas a minha voz. Quando o culto termina, saio de lá da mesma forma como cheguei: necessitada de alguém que me abrace e me diga que sou alguém importante para outra pessoa. Um simples sorriso mesmo resolveria isso, ou talvez um outro gesto ou sinal que me diga que não sou uma estranha ali.”   

A solidão não discrimina; não importa se você é rico ou pobre, doente ou saudável, famoso ou discreto. Alfred Lord Tennyson visitou a rainha da Inglaterra. Depois da visita, o poeta disse: “Lá em cima, em toda a sua glória e esplendor, ela estava solitária.” Thomas Wolf, um escritor americano famoso, escreveu: “Toda a convicção de minha vida baseia-se agora na crença de que a solidão é o fato central e inevitável da experiência humana.” Jesus Cristo mudará e tem mudado essa realidade.

Somos chamados de amigos pessoais de Jesus

Vinte e quatro horas antes da morte do Rei dos reis, ele se interessa profundamente em que seus discípulos entendam verdades que os conduzirão pelo resto de suas vidas. Ele diz àquele pequeno grupo de discípulos e a todo o crente hoje: “Você pode me considerar seu amigo íntimo, e eu o considero meu amigo também.”

Mas alguém poderia ir até o verso 14 e dizer: “Ah, veja a condição ali: Vós sois meus amigos, se fazeis o que eu vos mando. Quem poderia guardar todos os mandamentos de Jesus? Isso é demais!” Veja, lembre-se de interpretar a palavra mandamento dentro do contexto. Você viu o verso 12? O meu mandamento é este: que vos ameis uns aos outros. Em outras palavras, “Vocês não podem odiar uns aos outros e pensar que sou amigo de vocês. Mas, se obedecerem ao meu mandamento de amar uns aos outros, então experimentarão a profundeza do meu amor.”

João enfatiza novamente essa verdade em 1 João 4, versos 20 e 21. Lemos:

Se alguém disser: Amo a Deus, e odiar a seu irmão, é mentiroso; pois aquele que não ama a seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê. Ora, temos, da parte dele, este mandamento: que aquele que ama a Deus ame também a seu irmão.

Volte para João 15. O ensino é o mesmo aqui. Jesus diz: “Você não pode ser meu amigo e odiar o outro; mas, se você amar o outro, podemos ser amigos também.”

A próxima pergunta a fazermos poderia ser: Como pode alguém nos mandar amar o próximo? João 15, verso 12 não é uma sugestão; Jesus não diz: “Vejam, pessoal... seria ótimo se pudessem se comportar civilizadamente uns com os outros enquanto eu estiver fora. Façam o seu melhor.” Não. O verso 12 é uma ordem: O meu MANDAMENTO é este: que vos ameis uns aos outros. Como mandar uma pessoa amar outra? Até que eu entenderia se Jesus tivesse dito: “Você está vendo aquele crente ali? Vai e o convida para a sua casa hoje.” “Sim, Senhor!” “Está vendo aquela mulher lá? Conserte a casa dela.” “Está vendo aquele jovem ali? Compre uma roupa para ele.” “Sim, Senhor, posso fazer isso!” Mas não. Jesus diz: “Está vendo aquele irmãozinho ali e essa irmãzinha aqui? Ame-os.” Você replica: “Senhor, não posso simplesmente fazer brotar sentimentos em meu coração por aquele irmão ou por aquela irmã.”

Você sabe por que Jesus mandou que nós amássemos (agape no grego) uns aos outros? Sabe como ele pode dar ordens para um marido amar a esposa, a esposa amar o marido e pais amarem seus filhos? Porque agape, ou amor, não é um sentimento, mas um ato feito com vontade. É uma decisão feita na mente e que o resto do corpo segue. E a prova desse amor não são os sentimentos, mas as atitudes. A boa notícia é que atitudes de amor produzem sentimentos de amor.

A verdade é que os sentimentos em casa, na igreja ou no casamento podem se desgastar com o tempo, mas a ordem ainda permanece. Isso pode ser muito bem ilustrado pelo casal que celebrava sessenta anos de casados. Depois de tantos anos de alegrias e dificuldades, eles decidiram amar um ao outro.

Continuando no texto, veja o que Jesus diz no verso 15:

Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho dado a conhecer.

Agora, quando Jesus disse que não mais os chamaria de servos, ele provavelmente se referiu ao fato de que, naquela época, os discípulos de um rabino ou mestre eram considerados seus servos. De fato, o discípulo agia com satisfação para suprir as necessidades básicas de seu mestre.

Durante os tempos de Jesus, a vida de um servo ou escravo era terrível. Estima-se que, no Império Romano do século primeiro d.C., havia sessenta milhões de escravos. As condições eram insuportáveis, uma vez que as leis romanas permitiam que o mestre tivesse total direito sobre o escravo. Um escravo podia apanhar, ser vendido, abusado, passar fome e até mesmo morrer sem nenhum recurso na lei. O mesmo se aplicava aos escravos do imperador. Ele não era considerado uma pessoa, mas um objeto; vivia apenas se o imperador permitisse.

Um escravo não tinha o direito de entrar na presença de seu mestre da realeza. Na melhor das hipóteses, dava uma espiada quando passava por perto em alguma ocasião. Nunca podia comer na mesma mesa que seus mestres. Escravos tinham cômodos separados e nunca eram convidados a participar em assuntos da família.

Aqui está uma verdade profunda: por causa do amor, Cristo nos considera seus amigos chegados. A palavra grega no verso 15 para amigo (e sugiro que você anote isso na margem de sua Bíblia) se refere a um amigo do palácio. Ela descrevia o círculo íntimo e próximo de amigos em torno do rei ou do imperador.

Somos os amigos do Rei. Naquela cultura, os amigos do rei ou do imperador tinham acesso direto a ele. Eles tinham o direito de se aproximar dele em seus aposentos no início do dia. O imperador conversava com eles antes de conversar com seus generais, seus governantes ou políticos.

Veja novamente o verso 15:

 Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho dado a conhecer.

Em outras palavras, você participa dos assuntos da família! O Senhor Jesus nos considera seus amigos mais chegados.

Agora, todo mundo sabe que apenas os amigos íntimos compartilham de segredos, não é? Davi compreendeu a intimidade com Deus quando escreveu em Salmo 25, verso 14:

A intimidade do SENHOR é para os que o temem, aos quais ele dará a conhecer a sua aliança.

Também escreveu no Salmo 103, verso 7:

Manifestou os seus caminhos a Moisés e os seus feitos aos filhos de Israel.

Ou seja, o povo de Israel viu apenas os atos de Deus; Moisés contemplou os planos de Deus.

A verdade é que, por causa da morte, ressurreição e intercessão de Cristo por nós e nossa recompensa de amizade, estamos mais próximos de Deus do que Moisés ficou e sabemos mais do que Davi sabia. Pense nisto: Deus é seu amigo!

Um panfleto ateu zombou de Deus por causa de sua proximidade com os heróis do Antigo Testamento. O folheto acertadamente observou que Abraão, apesar de ter mentido em diversas ocasiões no registro bíblico, ainda foi chamado de “amigo de Deus.” Apesar de Jacó ter sido um trapaceiro, foi chamado de “um príncipe com Deus.” Apesar de Moisés ter sido um assassino violento, ainda teve o privilégio de receber das mãos de Deus os Dez Mandamentos. Um dos mandamentos era “Não matarás,” o que fez de Moisés um hipócrita por pregar uma mensagem que ele mesmo não cumpriu. Davi foi chamado de “o homem segundo o coração de Deus,” apesar de ter cometido assassinato e adultério. O folheto continuava dizendo: “Se realmente existisse um Deus, que tipo de Deus se associaria com essas pessoas?” A resposta, é claro, é que o Filho de Deus viria para morrer pelos seus pecados e pelos pecados do mundo inteiro para que, aquele que colocar sua fé nele, tenha seus pecados perdoados e esquecidos, de maneira que pode ser chamado de amigo de Deus. E que recompensa maravilhosa—de escravo e pecador para amigos íntimos de Cristo!

Mas isso não é tudo. O amor é o alicerce. O resultado não é somente a amizade que temos com Jesus, mas descobrimos algo mais em João 15. Somos nomeados representantes pessoais de Jesus. Veja o verso 16:

Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros e vos designei para que vades e deis fruto...

Pense nisto. Uma coisa é sermos considerados amigos—é algo que podemos falar com mais facilidade sobre alguns indivíduos. Agora, deixar que outra pessoa o represente e fale por você significa que sua reputação está nas mãos dela. Isso é algo sério!

O problema é que não ficamos admirados com isso porque já achamos que merecemos alguma coisa. Não é interessante que, quando um colega de trabalho é promovido, nosso pensamento é que ele foi sortudo? Por outro lado, quando nós somos promovidos, é porque merecemos. Certo autor colocou isso da seguinte maneira:

Você já notou que:

  • quando outra pessoa está determinada em certa direção, dizemos que ela é teimosa; mas quando nós recusamos mudar, é porque somos pessoas de convicção?
  • Quando o nosso vizinho não gosta de um amigo nosso, é porque ele é preconceituoso; mas quando nós não gostamos do amigo dele, é porque sabemos discernir a natureza humana?
  • Quando alguém trata outra pessoa muito bem, é favoritismo; mas quando nós tratamos alguém muito bem, é porque somos atenciosos?
  • Quando alguém demora para fazer alguma coisa, é porque ele é preguiçoso ou lerdo; quando nós demoramos, é porque somos ponderados e cuidadosos?
  • Quando alguém gasta muito dinheiro, é porque é consumista; quando nós gastamos, somos espertos?
  • Quando alguém age com bondade, é porque é fraco; quando nós somos bondosos, estamos sendo compassivos?
  • Quando outra pessoa se veste muito bem, ela é extravagante; nós, por outro lado, temos bom gosto?
  • E quando alguém fala o que diz, é malvado e sem tato; nós, em contrapartida, somos apenas transparentes e abertos?

Dificilmente gostamos de ver exposto aquilo que realmente somos!

Gosto muito de uma história sobre um homem mesquinho—pão-duro—que foi pego no flagra. Ele estava comprando um presente de Natal, mas tudo era caro demais. Então, finalmente viu um vaso que custava trezentos reais, mas, porque estava com a alça quebrada, estava por apenas trinta reais. O pão-duro comprou o vaso e pediu para a loja embrulhar para presente e mandar pelos Correios. Ele sabia que o seu amigo pensaria que ele tinha pago o preço total por aquele belo vaso, e que imaginaria que a alça havia quebrado acidentalmente durante o transporte. Uma semana depois do Natal, ele recebeu um cartão de agradecimento de seu amigo. O cartão dizia: “Muito obrigado pelo belo vaso. Você foi generoso ao embrulhar as duas partes separadamente.”

Caso pensemos que enganamos Deus ou que escaparemos ilesos, veja novamente o verso 16:

Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros...

Em outras palavras: “Vocês se tornaram meus amigos íntimos porque eu os escolhi.” Foi a graça de Deus que me concedeu o presente da fé para que eu colocasse minha fé em Cristo, tornando-me seu amigo.

O verso 16 continua dizendo: e vos designei. Eu e você recebemos uma nomeação. De novo, será que por que merecemos? Não, mas porque Cristo nos ama. Ele nos escolheu e nos nomeou.

A palavra grega para designei é diferente da palavra para escolhi. Ela significa “designar para serviço especial” ou “enviar por um motivo especial.”

Abra em João 17, verso 18, onde João esclarece a nossa nomeação. Jesus ora ao Pai, dizendo:

Assim como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo. 

Mateus 28, versos 19 e 20 nos revela um dos mandamentos finais do Senhor:

Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado...

Esta é a nossa comissão: fomos escolhidos para a salvação, e fomos designados para o serviço. E ainda tem mais. Não somos somente amigos e representantes de Jesus Cristo, o verso 16 continua nos dizendo mais. Nós também somos considerados propaganda pessoal de Jesus. Veja o verso 16:

...eu vos escolhi a vós outros e vos designei para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça...

Nós representamos Cristo e fomos designados para dar fruto; isto é, devemos ganhar o mundo. Como? De que forma podemos divulgar o céu com eficácia?

Rebecca Pippert, em seu ótimo livro intitulado Fora do Saleiro, contou a história de quando chegou no estado de Oregon. Ela conheceu um aluno no campus onde trabalhava—um jovem inteligentíssimo e que vivia todo descabelado. Ela disse que sempre o via descalço.

Um dia, o estudante decidiu ir a uma igreja de classe média do outro lado da universidade. Essa igreja estava querendo dar início a um ministério com os universitários. O rapaz descabelado entrou na igreja vestido com sua calça jeans, camiseta e, é claro, descalço. As pessoas ficaram olhando para ele meio desconfortáveis, mas ninguém disse nada. Ele desceu o corredor em busca de um lugar para se sentar. O auditório estava um tanto cheio aquele domingo e, quando ele chegou à frente, percebeu que não havia lugar para ele. Daí, ele se sentou no chão—no meio do corredor—, cruzou suas pernas e olhou para o lado.

Como você imagina, ficou aquela tensão no ar. As pessoas esticavam o pescoço para ver o que aquele visitante estava fazendo. Daí, de repente, um homem idoso, que era um dos presbíteros da igreja, começou a descer o corredor em direção ao jovem. Os amigos de Rebecca que viram a cena pensaram: “Ah, não podemos culpar aquele senhor pelo que vai fazer. O jovem está atrapalhando o culto.” Enquanto aquele senhor caminhava em direção ao jovem, a igreja silenciou-se. Todos olhavam para o senhor e não se ouvia nenhum barulho. Quando chegou até o jovem, o presbítero abaixou-se, com certa dificuldade, sentou-se ao lado dele, cruzou suas pernas e compartilhou com ele seu hinário. Naquele domingo, ele cultuou a Deus no chão. Esse homem foi uma propaganda do céu.

Jesus Cristo nos considera seus representantes, e nós devemos ganhar o mundo. Como? Será que debatemos com ele sobre o reino de Deus, colocamos medo, subornamos ou ainda ameaçamos? De forma alguma. Devemos atrair o mundo. Como? Com o nosso amor uns aos outros e pelos frutos que produzimos, refletindo o caráter do próprio Deus.

A propósito, gosto da promessa no verso 16 que geralmente é ignorada: ...eu vos escolhi a vós outros e vos designei para que vades e deis fruto (e o que?) e o vosso fruto permaneça.

Poucas coisas estragam tão rápido como frutas, mesmo que as mantenhamos em lugar seco e fresco. A banana, por exemplo, que deixamos sobre o balcão, estraga em poucos dias. Apesar disso, Jesus promete que o fruto que produzirmos durará eternamente. Somos propagandas do Rei eterno, agindo com um propósito eterno, com poder eterno e com resultados eternos. Como tivemos tanta sorte? Não é sorte; foi a graça de Deus. Foi porque Jesus nos escolheu para ser seus amigos por toda a eternidade.

Você está desfrutando dessa amizade? Descansa no fato que Cristo o aceita e o ama? Sente-se confortável em sua presença? Um certo autor escreveu:

Ah, que conforto se sentir seguro com uma pessoa sem ter que pesar os pensamentos ou medir as palavras, mas derramá-las do jeito que são, joio e trigo, sabendo que uma mão fiel irá pegá-las e separá-las, guardando o que vale a pena e, com bondade, lançando o resto fora.

Esse é o tipo de amigo que Jesus é para nós.

Você viu a outra promessa inserida no final do verso 16?

...a fim de que tudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome, ele vo-lo conceda.  

Em outras palavras, “Já que você é meu amigo, pode falar com minha família a qualquer hora que quiser.” Jesus radicaliza tudo. Não somos mais seus escravos, mas seus amigos. Você, seu discípulo, é o representante pessoal e propaganda especial de Jesus. 

Joseph Scriven nasceu na Irlanda em 1820. Depois de se formar na Faculdade de Trinity, tinha grandes planos e expectativas. O plano era se casar com sua amada irlandesa e juntos dar início a um lar cristão. Com seu conhecimento refinado e bastante prática, abriria seu próprio negócio. Os planos para o casamento estavam feitos e decisões do negócio feitas. Então, a tragédia aconteceu. Sua noiva morreu afogada às vésperas do casamento. O mundo de Joseph se despedaçou.

Na esperança de esquecer aquela tragédia (o que nunca aconteceu), Joseph foi para o Canadá como missionário e lá viveu solteiro e sozinho, mas ajudando os necessitados como missionário. Anos depois, quando sua mãe adoeceu seriamente, ele não teve como ficar com ela. Ao invés de ir vê-la, escreveu-lhe um poema. Fez uma cópia para si mesmo, um rascunho em papel simples que alguém encontrou ao ir visitá-lo. Esse poema seria colocado em forma de uma música que encorajaria a igreja por mais de cento e cinquenta anos. Creio que Joseph parece ter sido motivado pela verdade que acabamos de descobrir em João 15. Ouça estas palavras:

Em Jesus amigo temos mais chegado que um irmão; Ele manda que levemos tudo a Deus em oração.

Oh, que paz perdemos sempre,
Oh, que dor no coração!
Só porque nós não levamos tudo a Deus em oração.

Temos lidas e pesares, e na vida tentação;
Não ficamos sem conforto indo a Cristo em oração.

Haverá um outro amigo de tão grande compaixão? Os contritos Jesus Cristo sempre atende em oração.

E, se nós desfalecemos, Cristo estende-nos a mão; Pois é sempre a nossa força e refúgio em oração.

Se este mundo nos despreza,
Cristo é nosso, em oração.
Em seus braços nos acolhe e nos dá consolação.

Para muitos, Joseph Scriven viveu uma vida solitária, com sonhos frustrados e um coração quebrado. Foi somente após a sua morte (ironicamente também por afogamento) que esse poema começou a circular e a verdadeira força de Joseph foi compreendida: seu amigo mais chegado era Jesus.

Não sei o que você enfrenta agora; não sei quais são suas tribulações, tentações ou fardo. Mas lembre-se do seguinte: Jesus, na noite antes de morrer por você, falou aos ouvidos dos discípulos amedrontados: “Vocês são os meus amigos mais chegados. Vocês podem me chamar de amigo também!” E, como seu amigo, Jesus Cristo nunca o deixará ou o abandonará. Ele é seu amigo... para sempre!

Este manuscrito pertence a Stephen Davey, pregado no dia 09/10/1994 

© Copyright 1994 Stephen Davey

Todos os direitos reservados

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