
Espírito Santo Misterioso
Espírito Santo Misterioso
João 1.19–34
Introdução
Hoje trataremos de um assunto que eu creio ser um dos assuntos mais mal entendidos nas Escrituras—o Espírito Santo. Pouquíssimos crentes se sentem confortáveis com o assunto da terceira pessoa da Trindade, principalmente por causa da falta de entendimento. Somos como um filho que se afastou de sua mãe por quinze anos. Quando se encontra com ela, fica meio sem jeito sem saber se deve abraçá-la ou se esconder dela; sabe que deve amá-la, mas não sabe a melhor maneira de demonstrar esse amor. Da mesma maneira, não temos certeza de como nos relacionar com o Espírito Santo. Sabemos que ele faz parte do pacote completo da salvação, mas hesitamos abrir essa parte do pacote.
Por esse motivo, gostaria de levar um tempo falando sobre o Espírito Santo. E este estudo será mais ou menos como puxarmos um fio de lã: ele nos conduzirá a muitas áreas diferentes. Ao mesmo tempo que responderá muitas perguntas, provavelmente levantará muitas outras mais. Abra a sua Bíblia no Evangelho de João, capítulo 1.
O Batismo de João
João Batista se referiu muito ao batismo do Espírito Santo enquanto pregava às pessoas no seu ministério. Veja os versos 19 a 25:
Este foi o testemunho de João, quando os judeus lhe enviaram de Jerusalém sacerdotes e levitas para lhe perguntarem: Quem és tu? Ele confessou e não negou; confessou: Eu não sou o Cristo. Então, lhe perguntaram: Quem és, pois? És tu Elias? Ele disse: Não sou. És tu o profeta? Respondeu: Não. Disseram-lhe, pois: Declara-nos quem és, para que demos resposta àqueles que nos enviaram; que dizes a respeito de ti mesmo? Então, ele respondeu: Eu sou a voz do que clama no deserto: Endireitai o caminho do Senhor, como disse o profeta Isaías. Ora, os que haviam sido enviados eram de entre os fariseus. E perguntaram-lhe: Então, por que batizas, se não és o Cristo, nem Elias, nem o profeta?
Na mente do povo judeu, “batismo,” ou baptizo no grego, era um termo comum que significava “imersão.” Era bastante utilizado para se referir ao ato de mergulhar tecidos para tingi-los. A lã era primeiramente mergulhada em água sanitária ou cloro, limpando-a e clareando-a; em seguida, era mergulhada em outro líquido para se conseguir a cor desejada. Para o judeu, batismo transmitia tanto a ideia de limpeza como também a de consagração a uma nova identidade ou novo relacionamento.
A água também foi utilizada frequentemente no Antigo Testamento em relação a limpeza ou purificação cerimonial. De acordo com o livro de Levítico, a pessoa impura deveria se lavar com água a fim de remover qualquer impureza antes de ser reintegrada à comunhão.
Portanto, João Batista aparece e demanda arrependimento e batismo—purificação cerimonial com água. Ninguém podia seguir João sem que cresse na sua mensagem e fosse batizado; ambos eram importantes. O mesmo ocorreu na lei mosaica: uma pessoa vivendo naquela dispensação não poderia crer na mensagem sem que fosse circuncidada. Veja Marcos 1.4–5:
Apareceu João Batista no deserto, pregando batismo de arrependimento para remissão de pecados. Saíam a ter com ele toda a província da Judéia e todos os habitantes de Jerusalém; e, confessando os seus pecados, eram batizados por ele no rio Jordão.
E qual era a mensagem desse profeta? Pule até o verso 8:
Eu vos tenho batizado com água; ele, porém, vos batizará com o Espírito Santo.
Agora, precisamos reconhecer que o batismo de João não é o mesmo batismo do crente. Apesar de estarmos lendo um livro do Novo Testamento, lembre-se: ainda estamos no período do Antigo Testamento e João Batista é um profeta do Antigo Testamento.
De fato, os discípulos de João que posteriormente creram em Jesus tiveram que ser rebatizados. Veja Atos, capítulo 19.3–5:
Então, Paulo perguntou: Em que, pois, fostes batizados? Responderam: No batismo de João. Disse-lhes Paulo: João realizou batismo de arrependimento, dizendo ao povo que cresse naquele que vinha depois dele, a saber, em Jesus. Eles, tendo ouvido isto, foram batizados em o nome do Senhor Jesus.
Voltando para João capítulo 1, note que o batismo de João Batista gerou certa confusão. Se não era o Cristo nem Elias, por que ele batizava? No Antigo Testamento, havia algo chamado “batismo de prosélitos.” Um gentio que desejava se converter ao Judaísmo passava por um batismo de prosélito. E foi exatamente aí que o batismo de João gerou confusão.
Dois Problemas com o Batismo de João
Os fariseus tinham dois problemas com o batismo de João:
- O primeiro era que, em um batismo de prosélito, os candidatos batizavam a si mesmos. No batismo de João, contudo, ele assumiu uma postura de autoridade ao realizar o batismo;
- O segundo problema era que João ordenava que os judeus fossem batizados! Os judeus estavam convencidos de que os gentios eram impuros e precisavam de purificação, mas colocar os judeus no mesmo patamar dos gentios era um insulto. Eles criam que já eram o povo de Deus!
Duas Razões para o Batismo de João
Havia duas razões para o batismo de João:
- era um símbolo de arrependimento;
- era um símbolo de preparo.
Quatro Tipos de Batismos Diferentes
Talvez você já tenha identificado quatro batismos diferentes:
- O batismo de João—identificação com um profeta da Antiga Aliança;
- O batismo de Jesus feito por João—identificação com a nação de Israel;
- O batismo do crente—identificação com o Messias da Nova Aliança;
- O batismo do Espírito Santo—imersão dentro do corpo de Cristo na Nova Aliança.
Existem ainda outros dois batismos aos quais farei referência depois.
O Batismo de Jesus
Vamos dar uma olhada mais detalhada no batismo de João, especialmente quando se relaciona ao batismo de Jesus. Veja em João 1.29– 30:
No dia seguinte, viu João a Jesus, que vinha para ele, e disse: Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo! É este a favor de quem eu disse: após mim vem um varão que tem a primazia, porque já existia antes de mim.
João faz uma clara referência à pré-existência de Cristo. Se Cristo não existisse antes de seu nascimento em carne, então como João poderia dizer já existia antes de mim, se João nasceu seis meses antes de Jesus?
Continue até os versos 31 e 32:
Eu mesmo não o conhecia, mas, a fim de que ele fosse manifestado a Israel, vim, por isso, batizando com água. E João testemunhou, dizendo: Vi o Espírito descer do céu como pomba e pousar sobre ele.
Vamos preencher as lacunas com um referência de Marcos 1.9–11:
Naqueles dias, veio Jesus de Nazaré da Galiléia e por João foi batizado no rio Jordão. Logo ao sair da água, viu os céus rasgarem-se e o Espírito descendo como pomba sobre ele. Então, foi ouvida uma voz dos céus: Tu és o meu Filho amado, em ti me comprazo.
Cinco Motivos para Jesus Ter sido Batizado
Por que Jesus foi batizado? Existem cinco razões para isso.
- A primeira razão foi para se identificar com a mensagem de João Batista. Jesus estava dizendo: “O reino de Deus é chegado.”
- A segunda razão foi para João saber, sem dúvida alguma, quem ele deveria apresentar à nação como o Messias de Israel!
Dê uma olhada mais para frente nos versos 33 e 34:
Eu não o conhecia; aquele, porém, que me enviou a batizar com água me disse: Aquele sobre quem vires descer e pousar o Espírito, esse é o que batiza com o Espírito Santo. Pois eu, de fato, vi e tenho testificado que ele é o Filho de Deus.
Deus evidentemente já havia falado a João um pouco antes que o sinal seria o Espírito Santo descendo em forma de pomba no batismo do Messias.
- A terceira razão foi para apontar o início do ministério do Messias.
No Antigo Testamento, um profeta, um sacerdote ou um rei era ungido antes de assumir qualquer responsabilidade. Em Levítico 8, vemos os três passos da unção sacerdotal: primeiro com água, depois com óleo (representando a habitação e poder do Espírito Santo), e por último com sangue (esse batismo ocorreria por meio do sacrifício de sangue feito por Jesus com seu próprio corpo na cruz).
- A quarta razão foi para revelar a aprovação de Jesus e sua cooperação com as outras duas pessoas da Trindade.
Você percebeu em Marcos que o Filho está na água, o Espírito descendo e o Pai falando do céu—uma representação clara da Triunidade?
- E, finalmente, a quinta razão foi para servir como figura de um batismo futuro.
Veja novamente João capítulo 1.33b:
Esse é o que batiza com o Espírito Santo.
Veja também em Marcos 1.8:
Eu vos tenho batizado com água; ele, porém, vos batizará com o Espírito Santo.
E Mateus 3.1:
Eu vos batizo com água, para arrependimento; mas aquele que vem depois de mim é mais poderoso do que eu, cujas sandálias não sou digno de levar. Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo.
Agora, em Atos 1.4–5, Jesus, enquanto dá instruções aos apóstolos, repete esse tema de um batismo futuro:
E, comendo com eles, determinou-lhes que não se ausentassem de Jerusalém, mas que esperassem a promessa do Pai, a qual, disse ele, de mim ouvistes. Porque João, na verdade, batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo, não muito depois destes dias.
Os apóstolos sabiam ao que Jesus estava se referindo? Não! Será que eles entendiam que a dispensação da igreja estava prestes a iniciar? Não! Eles haviam entendido que a oferta do reino havia sido prorrogada? Não! Eles entendiam a sua missão? Não! Por isso mesmo Jesus disse: “Estou de partida; e, depois que eu partir, enviarei outra Pessoa para instruir e ensinar vocês.”
Permita-me, agora, mudar um pouco de direção e lidar rapidamente com um problema de interpretação das Escrituras numa passagem sobre Jesus.
Existem muitos movimentos hoje em dia: o movimento Vineyard, os movimentos Pentecostais e Carismáticos, o das Últimas Chuvas, o Apostólico e o da Segunda Bênção que interpretam erroneamente o texto de Hebreus 13, verso 8:
Jesus Cristo, ontem e hoje, é o mesmo e o será para sempre.
Devido a uma má interpretação desse verso, eles entendem que, pelo fato de Jesus ter feito certas coisas no passado, ele certamente as faz no presente e as continuará fazendo no futuro também. Jesus Cristo é realmente o mesmo ontem, hoje e sempre? Em sua natureza e essência, sim; mas em sua função, não.
Quatro Mudanças ou Transições em Relação a Jesus
Deixe-me fornecer quatro mudanças ou transições importantes relacionadas a Jesus Cristo.
- Há uma mudança no comissionamento de Jesus.
Veja em Mateus capítulo 10, versos 5 e 6:
A estes doze enviou Jesus, dando-lhes as seguintes instruções: Não tomeis rumo aos gentios, nem entreis em cidade de samaritanos; mas, de preferência, procurai as ovelhas perdidas da casa de Israel.
Pensamos que essa ordem é cheia de preconceito, mas não necessariamente. Ela não é tendenciosa, se entendermos que Jesus em breve mudaria seu comissionamento; não se entendermos que a intenção inicial de Jesus era oferecer um reino literal à nação de Israel. Essa oferta foi rejeitada e Israel foi colocada de lado por algum tempo. No final de tudo, o Evangelho seria proclamado tanto para gentios como para os judeus.
- Há também uma mudança no local em que Jesus realiza seu ministério.
Abra sua Bíblia para João capítulo 16, verso 28:
Vim do Pai e entrei no mundo; todavia, deixo o mundo e vou para o Pai.
E o verso 7 também:
Mas eu vos digo a verdade: convém-vos que eu vá, porque, se eu não for, o Consolador não virá para vós outros; se, porém, eu for, eu vo-lo enviarei.
E, finalmente, o verso 13a:
Quando vier, porém, o Espírito da verdade, ele vos guiará a toda a verdade.
- A terceira mudança é no ministério e foco de Jesus:
No Antigo Testamento |
Ele é o Anjo do Senhor |
Nos Evangelhos |
Ele é o Salvador |
No livro de Atos |
Ele é o que sobe aos céus e comissiona os apóstolos |
Nas Epístolas |
Ele é o Pastor intercessor |
No livro de Apocalipse |
Ele é o Cordeiro conquistador |
- Finalmente, a quarta mudança é na revelação de Cristo—o que chamamos de revelação progressiva, pois se expande gradualmente.
Talvez o diagrama na página seguinte irá ajudá-lo a compreender melhor a revelação progressiva de Jesus para a humanidade:
|
Evangelhos |
Atos |
Epístolas |
Apocalipse |
Posição |
Sua vida revelada |
Seu poder revelado |
Sua liderança revelada |
Sua supremacia revelada |
Atividade |
Crucificado e ressurreto |
Assunto aos céus |
Intercede |
Retorna |
Igreja |
Temos um modelo de cristianismo |
Temos um exemplo |
Temos uma explicação |
Temos uma conclusão |
Jesus Cristo é o mesmo, ontem, hoje e para sempre? Em relação à sua divindade, com certeza. Isso é o que chamamos de imutabilidade de Cristo. Mas em relação ao seu ministério, não. E as mudanças na revelação de Deus a nós mudam a nossa resposta também. E isso é de fundamental importância.
Existem movimentos religiosos hoje que querem levar a igreja de volta aos tempos do Antigo Testamento. Estou confiante, contudo, que a igreja não é encontrada no livro de Levítico. Na semana passada eu comi queijo com presunto; também adorei a Deus no domingo ao invés de no sábado; e estou usando roupas feitas com materiais diferentes sem medo de estar em desobediência a Deus. Quando foi a última vez que você ofereceu ao Senhor um sacrifício de animal? Sabendo ou não o significado desta palavra, você acaba sendo um dispensacionalista. A propósito, uma dispensação é simplesmente um período da história no qual Deus revela algo sobre si mesmo àqueles que o seguem, exigindo também algumas responsabilidades por parte do homem.
Há outros movimentos que conduzem a igreja para o futuro, para o livro de Apocalipse, especialmente entre os capítulos 4 e 18 quando a ira de Deus é derramada sobre o mundo. Se esse fosse o caso, eu seria um tolo se não estivesse preparando um esconderijo subterrâneo com estoque de alimento suficiente para minha família durante sobreviver à tribulação.
Há também grupos religiosos que querem impedir a igreja de caminhar além das experiências vistas nos primeiros capítulos do livro de Atos. Eles não consideram fatos importantes, tal como que, até o capítulo 20, a igreja ainda se reunia aos sábados. Ainda mais trágico, esses grupos ensinam as experiências dos apóstolos e certas manifestações de Deus como permanentes, quando, na verdade, são temporárias. Existem indivíduos hoje que dizem ter o poder apostólico de curar enfermos (caso os enfermos tenham fé suficiente para isso) e de levantar os mortos; mas, na realidade, enganam milhões de pessoas e enriquecendo no processo. Enquanto isso, os leitos dos hospitais estão repletos de pessoas doentes, inclusive de crentes fiéis, e os cemitérios abarrotados de mortos.
Dois Princípios Doutrinários Básicos de Interpretação Bíblica
Precisamos ter um entendimento dos princípios básicos de interpretação bíblica. Sem isso, seremos como um barco a remo num mar tempestuoso sem nenhum leme ou remo—lançados de um lado a outro por todo o vento de doutrina.
Toda a Bíblia é inspirada e foi escrita para nós, mas nem tudo na Bíblia é normativo para nossa vida hoje
- O primeiro princípio básico é que toda a Bíblia é inspirada e foi escrita para nós, mas nem tudo o que ela diz serve como norma para as nossas vidas hoje.
No Antigo Testamento, Deus ordenou certas coisas que não se aplicam mais a nós hoje. Deus disse a Adão em Gênesis, capítulo 1, verso 28: Sede fecundos, multiplicai e enchei a terra... Eu e minha esposa não sentimos nenhuma pressão ou urgência de encher a terra!
Deus também ordenou: ...governai sobre os peixes do mar e sobre as aves do céu... Recentemente, comprei um periquito. Colocamos o nome nele de “Fugitivo,” porque é a única coisa que ele sabe fazer é fugir! Eu tento colocar comida dentro da gaiola e ele belisca meu dedo. Simplesmente não consigo governar as aves do céu, não consigo nem meu único passarinho dentro da gaiola! Minha experiência com animais é diferente da de Adão. Alguma mudança tem que ter ocorrido.
As experiências de um crente não são normativas para todo crente
- O segundo princípio básico de interpretação bíblica é que as experiências de um crente não são normativas para todo os demais crentes.
Imagine um santo do Antigo Testamento vendo Elias fazer descer fogo do céu e dizer: “Ah, se Elias pode fazer descer fogo do céu, eu também posso!”
Pegue sua Bíblia e abra no título do livro de Atos. Qual é o título completo do livro? Os Atos dos Apóstolos. Está dizendo “Os Atos de todos os Crentes”? Não! Se você guardar em sua mente o título do livro, também se guardará de uma enorme confusão doutrinária. Você olhará para Pedro e Paulo da mesma forma que um santo do Antigo Testamento olhava para Elias e Eliseu.
Vamos detalhar ainda mais esse princípio. Se pegarmos somente o Novo Testamento, descobriremos diversas transições nele também:
- nos Evangelhos, a igreja foi predita;
- em Atos, a igreja foi criada;
- nas Epístolas, a igreja é instruída.
O livro de Atos serve como uma ponte entre os Evangelhos e as Epístolas. Este quadro auxilia no entendimento dessa transição:
Evangelhos |
Epístolas |
Sinagoga |
Igreja |
Circuncisão e leis de dieta |
Liberdade de escolha |
Nacionalismo |
Globalismo |
Profecia e palavra de conhecimento |
Palavra escrita |
Sacrifícios de animais |
Sem sacrifícios |
Rabinos |
Pastores e mestres |
O livro de Atos nunca foi designado como a base para as doutrinas e experiências da igreja. Caso fosse, deveríamos vender todos os nossos bens e viver uma vida comunal, sobrevivendo todos da mesma panela. Também seguiríamos o capítulo 1 de Atos e escolheríamos nossos líderes por meio da sorte. Toda igreja precisaria de três bandejas: uma para ofertas, uma para a ceia e outra para os dados. Os milagres seriam a expressão normal dos servos de Deus. Veja o que Hebreus capítulo 2.3–4 diz:
Como escaparemos nós, se negligenciarmos tão grande salvação? A qual, tendo sido anunciada inicialmente pelo Senhor, foi-nos depois confirmada pelos que a ouviram; dando Deus testemunho juntamente com eles, por sinais, prodígios e vários milagres e por distribuições do Espírito Santo, segundo a sua vontade.
Que milagres ou sinais confirmatórios passados foram esses? Marcos capítulo 16.20 se refere à comunidade apostólica:
E eles, tendo partido, pregaram em toda parte, cooperando com eles o Senhor e confirmando a palavra por meio de sinais, que se seguiam.
Marcos 16.17–8 fornece uma lista de sinais confirmatórios do passado:
Estes sinais hão de acompanhar aqueles que crêem: em meu nome, expelirão demônios; falarão novas línguas; pegarão em serpentes; e, se alguma coisa mortífera beberem, não lhes fará mal; se impuserem as mãos sobre enfermos, eles ficarão curados.
Note que havia cinco sinais (dons ou maravilhas) usados durante o período de transição para confirmar a mensagem que esses apóstolos pregavam. Não podemos simplesmente escolher um ou dois dentre eles; ou estão todos em operação hoje, ou nenhum está ativo. Eles eram sinais do passado.
Na ausência da Palavra de Deus em forma escrita, esses sinais serviam para confirmar a mensagem de Deus proclamada pelos apóstolos. Agora existe outra mensagem, uma nova função e uma nova dispensação chamada de a dispensação da igreja—a era da graça. Joseph Dillon escreveu: “Não podemos cometer o grave erro de ensinar as experiências apostólicas, mas nossa experiência deve ser no ensino desses apóstolos.”
É interessante porque podemos juntar as peças, vendo textos que os apóstolos escreveram posteriormente, e notar que eles mesmos mudaram o seu uso de sinais e maravilhas. Por exemplo, Paulo curou no início do seu ministério. Contudo, mais tarde ele deixou Timóteo doente e o mandou tomar remédio para as suas frequentes enfermidades (1 Timóteo 5.23). Epafrodito, que trabalhou com Paulo, quase morreu doente, segundo Paulo falou em Filipenses 2.25–27. E no último livro que Paulo escreveu, 2 Timóteo 4.20, ele diz: Quanto a Trófimo, deixei-o doente em Mileto.
Aplicar os sinais miraculosos como ministério permanente dos apóstolos é totalmente errado. Com certeza, aplicar esses sinais milagrosos a todos os crentes é não somente errado, como também perigoso. Por quê? Porque, todo ano, pessoas que tocam em serpentes são picadas; aqueles que bebem veneno, morrem; crentes têm câncer, doença de coração e outras enfermidades graves. Dá para entender a frustração quando milagres são aplicados equivocadamente como parte permanente da igreja.
O Batismo do Espírito Santo
Agora, o que deu início ao período de transição repleta de milagres? Foi a criação da igreja no livro de Atos. Ela aconteceu no dia de Pentecostes, literalmente, o quinquagésimo dia depois da Páscoa judaica. Esse foi o evento sobre o qual João se referiu e o qual Jesus prometeu. Veja em Atos 2.1:
Ao cumprir-se o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar.
Três coisas ocorreram no dia de Pentecostes
Três coisas ocorreram aos apóstolos no Dia de Pentecostes:
- Algo audível ocorreu em Atos 2.2.
De repente, veio do céu um som, como de um vento impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam assentados.
Veja que não houve um vento impetuoso, mas um som como de um vento impetuoso.
- Algo visível também ocorreu em Atos 2.3.
E apareceram, distribuídas entre eles, línguas, como de fogo, e pousou uma sobre cada um deles.
Novamente, note que não se trata de um fogo literal; eram línguas como de fogo. Lucas expressa em sua linguagem algo que é quase impossível de se explicar—pareciam labaredas de fogo.
- Algo verbal ocorreu em Atos 2.4.
Todos ficaram cheios do Espírito Santo e passaram a falar em outras línguas, segundo o Espírito lhes concedia que falassem.
Qual foi o resultado desses acontecimentos? Atos 2, verso 41:
Então, os que lhe aceitaram a palavra foram batizados...
(pela água)
...havendo um acréscimo naquele dia de quase três mil pessoas.
A igreja acabou de nascer! Algo que nunca havia antes existido, agora passou a existir. E a marca é a habitação do Espírito Santo.
Dois motivos por que o Pentecostes não acontecerá novamente
Será que o Pentecostes acontecerá novamente? Não. Deixe-me dar duas razões para isso:
- Atos 2 marca o início da era da igreja. Repetir Atos 2 e a criação da igreja se assemelha a uma igreja receber seu alvará de funcionamento todo domingo. É impossível. A única coisa que se pode fazer é relembrar o que já foi realizado!
- Atos 2 marca a descida do Espírito Santo do céu. Uma vez que ele desceu, veio para ficar.
Agora, lembre-se, Atos representa uma transição. De fato, o batismo do Espírito Santo está intimamente ligado à imposição de mãos dos apóstolos. Você pode notar em várias ocasiões os apóstolos viajando para outras regiões a fim de impor as mãos e os crentes receberem o Espírito Santo. Isso assegurou muitas coisas, inclusive a unidade da igreja primitiva nas doutrinas e autoridade dos apóstolos.
Podem as experiências da igreja primitiva ser experimentadas outras vezes? Não. Uma vez que a igreja já foi criada e o Espírito já desceu, nós estamos muito além do encontro com tais experiências—o ponto de origem da igreja.
Uma Distinção Importante
O que Paulo diz em suas instruções à igreja? Veja 1 Coríntios 12.13:
Pois, em um só Espírito, todos nós fomos batizados em um corpo, quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres. E a todos nós foi dado beber de um só Espírito.
Quando você experimentou o batismo do Espírito Santo? Você o experimentou no mesmo tempo desses irmãos da igreja de Corinto: quando se tornou parte do corpo de Cristo, isto é, no momento da salvação. De fato, a única referência doutrinária direta ao batismo do Espírito Santo é esse verso. Acontece com todos nós!
Isso levanta uma questão importante. Qual, então, é a diferença entre o batismo e a plenitude do Espírito? É-nos dito em 1 Coríntios que fomos batizados (passado), mas em Efésios 5.18, somos exortados a sermos cheios (presente) do Espírito. É importante entendermos a diferença entre o batismo e a plenitude do Espírito. O quadro abaixo, baseado no ensino dos apóstolos, serve ajuda nisso:
Batismo no Espírito Santo |
Plenitude do Espírito Santo |
Um ato passado |
Uma experiência constante e atual |
O Espírito Santo pertence a você |
Você pertence ao Espírito Santo |
A evidência é interna (adoção, selo, habitação) |
A evidência é interna e externa (amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio-próprio) |
A coluna da esquerda não deve ser entendida como uma experiência, pois isso traz à mente a ideia de sentimento. No momento da conversão, várias coisas ocorreram relacionadas ao Espírito:
- Você foi adotado—sentiu alguma coisa?
- Você foi selado—sentiu algo?
- Você foi batizado dentro do corpo de Cristo—sentiu isso?
Não! Essas coisas foram atos de Deus de uma vez por todas.
Certo autor disse:
O batismo do Espírito coloca o crente numa união vital com Cristo. Ser batizado com o Espírito Santo significa que Cristo nos imerge no Espírito, por meio do qual nos dá um princípio de vida comum. O batismo no Espírito é o que nos conecta a todos os demais crentes em Cristo e nos torna parte do Corpo de Cristo. Isso é um fato, não um sentimento.
Dois Batismos Adicionais
Existem ainda dois batismos adicionais mencionados no Novo Testamento.
O batismo do pecado sobre Cristo no calvário
- O batismo do pecado sobre Cristo no calvário.
Veja Lucas 12, verso 50, onde Jesus, ao se referir à cruz, diz:
Tenho, porém, um batismo com o qual hei de ser batizado; e quanto me angustio até que o mesmo se realize!
O batismo da ira de Deus sobre os incrédulos
- O batismo da ira de Deus sobre os incrédulos.
Veja Mateus 3, versos 11 e 12:
Eu vos batizo com água, para arrependimento; mas aquele que vem depois de mim é mais poderoso do que eu, cujas sandálias não sou digno de levar. Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo. A sua pá, ele a tem na mão e limpará completamente a sua eira; recolherá o seu trigo no celeiro, mas queimará a palha em fogo inextinguível.
Jesus disse que batizaria com o Espírito Santo e com fogo. O movimento carismático interpreta o primeiro batismo, o do Espírito Santo, de maneira literal, enquanto o segundo batismo, o com fogo, interpreta como uma metáfora. Eu entendo que ambos os batismos devem ser entendidos literalmente. Mateus explica um pouco mais à frente, no verso 12, que o segundo batismo não se relaciona às línguas de fogo do Pentecostes, mas a um fogo que nunca apaga—o fogo eterno do inferno. Versos 11 e 12, lidos juntos, claramente ensinam isso.
Compare com Apocalipse 20.14–15:
Então, a morte e o inferno foram lançados para dentro do lago de fogo. Esta é a segunda morte, o lago de fogo. E, se alguém não foi achado inscrito no Livro da Vida, esse foi lançado para dentro do lago de fogo.
Meu amigo, Jesus prometeu que batizaria com o Espírito Santo; isso aconteceu no Pentecostes e acontece com todo aquele que o recebe como Salvador. Mas ele também prometeu um batismo vindouro com fogo—julgamento sobre aqueles que rejeitam. Portanto, a era da graça ou da igreja é claramente dividida em dois grupos: aqueles que são batizados com o Espírito Santo, e aqueles que serão batizados com fogo. Em qual desses grupos você se encontra?
Este manuscrito pertence a Stephen Davey, pregado no dia 03/10/1993
© Copyright 1993 Stephen Davey
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