Manto e Punhal

Manto e Punhal

by Stephen Davey

Manto e Punhal

João 13.21–30

Introdução

Um certo oficial americano patriota começou a se estabelecer como um grande gênio militar. Havia perdido apenas uma batalha. Já tinha se tornado rico e morava no estado de Connecticut, nos Estados Unidos, antes do país declarar guerra de independência contra a Inglaterra.

Quando ouviu que uma batalha havia começado num outro estado, esse oficial se voluntariou e serviu no campo de batalha defendendo a colônia americana diante dos ataques ingleses. O general George Washington percebeu a coragem e a disposição desse homem em sacrificar tudo pela causa das colônias. 

Em fevereiro de 1777, o Congresso criou mais cinco posições de generais, mas esse oficial foi ultrapassado por outros candidatos mais jovens e que gozavam de uma saúde melhor. Isso gerou certa angústia e mágoa em seu coração, a ponto de ele decidir deixar as forças armadas. Mas o general George Washington o convenceu a permanecer. Ele concordou e aceitou uma posição no estado de Nova Iorque, recebendo a incumbência de barrar o avanço inglês naquela região.

Ele comandou um batalhão em mais uma batalha naquele mesmo ano em setembro. Lutou com brilhantismo e coragem, até que foi, mais uma vez, ferido seriamente. Dessa vez, ele acabou aleijado; não iria mais lutar.

Sua angústia continuou crescendo e ele se transformou num enorme reservatório de ressentimentos e, por último, ódio pelo seu país. Em maio do ano seguinte, o próprio general George Washington lhe prometeu uma posição de comando. Mas, a essa altura, seu ódio já havia virado o seu coração. Naquele mês, Benedito Arnoldo fez planos com os ingleses para entregar o comando nas mãos da coroa.

O plano de entregar comando aos britânicos teria dado certo. Mas, naquela noite, um agente secreto britânico foi capturado. Ele carregava em mãos os detalhes da traição e caminhava para fazer contato para os arranjos finais do plano. Benedito Arnoldo soube do ocorrido e escapou num navio britânico, posteriormente denominado O Urubu. Ele terminou seus dias na Inglaterra e lá faleceu, aleijado, velho, inativo, banido e odiado. Contudo, ficou famoso por ter se tornado um traidor. 

Nenhum americano daria ao seu filho o nome de Benedito; mais ainda, ninguém que conhece um pouco da Bíblia daria o nome de Judas ao seu filho. Esse nome, Judas, ainda hoje carrega um grande significado de traição. Enquanto Benedito Arnoldo traiu os Estados Unidos, Judas traiu o próprio Deus.

Nosso estudo no Evangelho de João nos leva agora aos momentos finais do ministério de Jesus. Estamos a menos de vinte e quatro horas da cruz. E é durante a última Ceia, no cenáculo, que Jesus desmascara Judas e revela o seu disfarce.

Vamos para João capítulo 13. Meu desejo é desafiá-lo com algumas verdades e fazê-lo aplicar em sua vida lições retiradas da história de Judas. Ser um traidor não é nenhum exagero. Na verdade, no fim de tudo, traição é a consequência lógica do egoísmo. Deixe-me explicar isso. Se você está determinado a chegar em primeiro lugar e a ser sempre o primeiro, então, todo mundo está destinado a ficar em segundo lugar. Daí, quando você é forçado a fazer uma escolha, sem problemas entregará a vida de outro para salvar a sua própria. Talvez você trabalhe com pessoas que dariam uma punhalada nas suas costas, mentiriam ou roubariam para receber alguma promoção. Traidores são simplesmente pessoas que sempre querem estar em primeiro lugar.

Vamos ver o capítulo 13, lendo os versos 17 a 20:

Ora, se sabeis estas coisas, bem-aventurados sois se as praticardes. Não falo a respeito de todos vós, pois eu conheço aqueles que escolhi; é, antes, para que se cumpra a Escritura: Aquele que come do meu pão levantou contra mim seu calcanhar. Desde já vos digo, antes que aconteça, para que, quando acontecer, creiais que EU SOU. Em verdade, em verdade vos digo: quem recebe aquele que eu enviar, a mim me recebe; e quem me recebe recebe aquele que me enviou. 

Judas: Por Que Um Discípulo?

Agora, essa passagem imediatamente levanta questões quanto ao chamado de Judas.

  • A primeira questão é: se Judas trairia Jesus e Jesus sabia disso, então por que Jesus escolheu Judas para ser um dos doze?

Primeiro, lembre-se de que Jesus, de fato, escolheu Judas para ser seu seguidor. Judas se juntou aos onze e a centenas de outros que professavam ser discípulos de Jesus.

No que diz respeito aos doze, Jesus os escolheu propositada e soberanamente. Marcos capítulo 3, verso 16 nos diz que ele chamou para si doze discípulos. Foi sua escolha, sua vontade e seu soberano propósito. Jesus não viajou pela Judeia em busca de currículos; ele não se levantou no meio de uma multidão de homens judeus e perguntou: “Quem de vocês deseja ser um apóstolo? Dez, onze, e doze... Alguém mais? Então temos doze.” Não. Jesus conhecia quem ele estava chamando, o que fariam e por que os escolheu.

Jesus sabia que Pedro pregaria o primeiro sermão na dispensação da graça; sabia que Mateus seria o discípulo a plantar igrejas na Etiópia antes de ser morto à espada; sabia que João seria exilado na Ilha de Patmos, onde escreveria o livro de Apocalipse antes de ser martirizado, lançado num caldeirão de óleo quente. E Jesus escolheu Judas porque sabia o que Judas faria.

  • Isso nos leva à segunda questão: se Judas foi escolhido para cumprir uma profecia bíblica, será que ele teve uma escolha?

A resposta é “sim.” Ele não foi um fantoche; Deus não armou um laço para Judas. Jesus Cristo deu toda chance no mundo para Judas não o trair. Jesus discipulou Judas por três anos; lavou os pés de Judas como fez com Pedro; na última Ceia, deu-lhe o lugar de honra; no Getsêmani, o chamou de amigo. Por três anos e meio Jesus não demonstrou nenhuma parcialidade, até porque nenhum discípulo detectou animosidade entre os dois.

O que Judas fez foi profecia da mesma forma que a pregação de Pedro foi profecia. Mas Pedro, da perspectiva humana, teve que escolher pregar; João teve que escolher escrever; e Judas teve que escolher trair. 

  • A terceira questão é: o que então atraiu Judas a Jesus?

De maneira simples foi a possibilidade de subverter o império romano e obter posição de poder.

Precisamos entender que as Escrituras deixam bem claro que Judas não era crente. Ele era um hipócrita e um falso discípulo que buscou Jesus pelos motivos errados. Veja João capítulo 6, verso 64, onde Jesus diz:

Contudo, há descrentes entre vós. Pois Jesus sabia, desde o princípio, quais eram os que não criam e quem o havia de trair.

Jesus sabia o tempo todo. Mas, para todos os demais, Judas se parecia, falava e agia como um discípulo verdadeiro. Ele, de fato, pregou, curou e até expulsou demônios junto com os onze.

E isso acontece hoje também. Existem pessoas que dizem ser crentes, que agem e falam como crentes, mas o Senhor sabe que, em seus corações, são hipócritas e seguem Cristo para receber alguma coisa em troca. Se Deus não dá a vida que querem, elas, assim como Judas, abandonam Deus, revelando que nunca aceitaram Cristo genuinamente.

O interessante é que, quando Jesus disse que o traidor estava naquela sala, ninguém olhou para Judas e disse: “Aha! Eu sabia que era você! Eu sabia o tempo inteiro que você era falso!” Não! Os discípulos disseram: “Acaso sou eu, Senhor?” Veja o capítulo 13, versos 21 e 22:

Ditas estas coisas, angustiou-se Jesus em espírito e afirmou: Em verdade, em verdade vos digo que um dentre vós me trairá. Então, os discípulos olharam uns para os outros, sem saber a quem ele se referia.

Ninguém disse: “Eu sabia que era Judas!” A verdade é que eles respeitavam tanto Judas a ponto de lhe confiarem a bolsa com o dinheiro de todos.

Lembre-se: Judas ficou com eles três anos e meio. Ele não era o tipo de pessoa que entrava na igreja sem ninguém ver e sentava no fundo—sem ofensa aos que fazem isso. Ele teria se voluntariado para pregar e ensinar; nós o teríamos escolhido para ser um diácono ou presbítero. Exteriormente, ele era um discípulo comprometido disposto a ser ridicularizado e a passar por privações pelo fato de ser um discípulo de Jesus; mas, interiormente, ele era um traidor armando seu plano.

Judas: Por Que Um Traidor?

Como isso foi possível? Como Judas acabou se tornando um traidor? Como poderia se voltar contra Jesus? Creio que existem três razões para isso.

  • A primeira razão é a sua atração pelo dinheiro.

Volte para o capítulo 12, versos 4 a 6:

Mas Judas Iscariotes, um dos seus discípulos, o que estava para traí-lo, disse: Por que não se vendeu este perfume por trezentos denários e não se deu aos pobres? Isto disse ele, não porque tivesse cuidado dos pobres; mas porque era ladrão e, tendo a bolsa, tirava o que nela se lançava.

A palavra grega utilizada por João é kleptes, a qual origina nosso termo “cleptomaníaco.” Judas vinha secretamente roubando dinheiro da bolsa dos discípulos por três anos. Seu interesse no Cristianismo era somente como poderia se beneficiar financeiramente desse novo movimento. Será que isso soa familiar para você?

  • Mas havia mais do que o dinheiro. Deixe-me sugerir que também havia sua afeição pela cidade de Jerusalém.

Está óbvio que Judas, assim como qualquer outro judeu patriota, desejava o reino de Deus. A toda momento estavam à procura do Messias. Agora, aqui está Jesus revelando poder divino e dizendo ser o Deus encarnado. Então, Judas deve estar pensando: “Vou apostar nele para ver se instaura o reino!” Mas algo estranho acontece. Ao invés de se apressar para tomar o trono romano, Jesus, bem no auge da sua popularidade—quando milhares de pessoas gritavam “Hosana!”—, começa a falar que vai morrer. “Morrer?!”

Judas entendeu que Jesus não seria o Messias que ele queria. Portanto, já que ele era um oportunista buscando sua própria projeção, viu que deveria começar a reatar seu relacionamento com os líderes de Jerusalém. Dessa maneira, quando Jesus morresse, Judas não morreria com ele. Em vez disso, pensou: “Vou deixar esses onze bestas morrerem com ele!”

  • Além de seu amor pelo dinheiro e de sua afeição por Jerusalém, a terceira razão que levou Judas a se tornar um traidor foi seu ódio por Roma.

Existe um pensamento interessante sobre Judas. No capítulo 12, verso 4, ele é chamado de Judas Iscariotes. A palavra “Iscariotes” pode ser uma forma grega para o hebraico ish kerioth, que significa “homem que Queriote.” Se Judas era de Queriote, ele foi, então, o único discípulo de fora da Galileia. Todavia, a palavra “Iscariote” também pode ser uma designação que reflete uma associação passada desse indivíduo.

É possível que “Iscariote” esteja relacionado ao termo latino sicarius, usado como designação para os membros de um grupo radical de zelotes. Os membros dessa seita resistiam ao governo romano com violência. Eram chamados “sicários” em honra a sica, um punhal que escondiam debaixo dos seus mantos. Esse grupo aparece em Atos 21.38, onde são chamados de “sicários.”

O historiador judeu Flávio Josefo, que viveu no tempo em que Paulo se defendeu diante do Império Romano, escreveu o seguinte sobre os sicários:

Surgiu em Jerusalém uma gangue de ladrões chamados sicários, que matavam homens à plena luz do dia, misturando-se com a multidão durante os festivais. Eles escondiam pequenos punhais em seus mantos, golpeando os inimigos em oculto. Eles eram implacáveis em seu ódio contra Roma e contra judeus suspeitos de apoiar Roma. 

Judas se encaixa nesse perfil. Ele era um ladrão que cortaria a garganta de um gentio, de um romano ou um judeu por causa de seu ardente desejo de derrubar Roma. E, junto ao seu nome e o nome de seu pai, Simão, estava esse crachá de honra: “Judas Sicário,” ou “Judas do Punhal.” Sua atração por dinheiro, sua afeição por algo e sentimentos odiosos—estas coisas transformaram muitas pessoas em traidores.

Volte agora ao verso 21:

Ditas estas coisas, angustiou-se Jesus em espírito e afirmou: Em verdade, em verdade vos digo que um dentre vós me trairá.

Pule até os versos 23 a 25:

Ora, ali estava conchegado a Jesus um dos seus discípulos, aquele a quem ele amava (esse é o autor João). A esse fez Simão Pedro sinal, dizendo-lhe: Pergunta a quem ele se refere. Então, aquele discípulo, reclinando-se sobre o peito de Jesus, perguntou-lhe: Senhor, quem é?

Naquela cultura, eles comiam no chão escorados com o cotovelo em um braço enquanto comiam com o outro braço. João, obviamente, está do lado direito de Jesus e Judas do lado esquerdo. Pedro não consegue suportar aquele suspense. E, além disso, seu sangue está fervendo com a ideia de um traidor naquela sala! “João, descobre quem é!” Creio que, se Jesus tivesse dito claramente, Judas não teria saído daquela sala vivo. Sabemos que Pedro precisava treinar na espada.

Continue até o verso 26:

Respondeu Jesus: É aquele a quem eu der o pedaço de pão molhado. Tomou, pois, um pedaço de pão e, tendo-o molhado, deu-o a Judas, filho de Simão Iscariotes.

Precisamos entender que essa resposta de Jesus foi dada a João somente. E João, na verdade, não ligou os fatos.

Agora, congele a imagem na sua mente só por um instante. O anfitrião da Ceia de Páscoa dava um pão de ervas a ser oferecido, primeiro, ao convidado de honra. Quem era o convidado de honra de Jesus? Judas. Creio que esse foi mais um convite de Jesus para Judas se arrepender e confessar.

Fico imaginando o pulso de Judas; seu coração devia estar pulando com sua consciência lhe acusando. De acordo com o Evangelho de Lucas, Judas já havia se encontrado com os líderes religiosos e estabelecido o preço da traição, mas ainda precisava fazer os arranjos finais. Ainda há tempo para desistir antes de selar sua destruição. Mas Judas tomou o pão, ou o bocado, e seu coração se endureceu contra aquele convite amoroso de Jesus. Fico pensando se ele conseguia sequer olhar nos olhos de Jesus.

Agora que Judas já fez sua escolha, os versos 27 a 30 nos dizem o que aconteceu depois:

E, após o bocado, imediatamente, entrou nele Satanás. Então, disse Jesus: O que pretendes fazer, faze-o depressa. Nenhum, porém, dos que estavam à mesa percebeu a que fim lhe dissera isto. Pois, como Judas era quem trazia a bolsa, pensaram alguns que Jesus lhe dissera: Compra o que precisamos para a festa ou lhe ordenara que desse alguma coisa aos pobres. Ele, tendo recebido o bocado, saiu logo. E era noite.

Para Judas, o sol nunca nasceu.

Aplicação

Em nossa aplicação, quero dizer a mesma coisa de três formas diferentes.

  • Primeiro, é possível estar perto da verdade sem aceitar a verdade.
  • Segundo, é possível se associar a Cristo sem aceitar Cristo.

Para aqueles que vão à igreja pelos motivos errados, isto é, para receber respeito da família, fazer contatos para os negócios ou achar uma posição de poder, é possível se associar a uma igreja sem ser filho de Deus.

  • E terceiro, é possível ouvir pessoalmente a verdade sem nunca aplicar pessoalmente a verdade.

Que privilégio tive outro dia de me sentar com um médico e sua esposa e compartilhar com eles o Evangelho. Depois de mais ou menos uma hora, ele disse algo do tipo: “Agora eu entendo o que você quis dizer quando falou sobre Jesus como Salvador pessoal. Sempre cri que Jesus é o Salvador do mundo, mas nunca tinha pedido para ele ser o meu Salvador.” Que alegria podermos, de mãos dadas, ouvi-los orar e receber, pessoalmente, Jesus Cristo como Salvador e Senhor de suas vidas.

Advertência para o Crente

Também existe uma advertência para o crente nessa passagem: é possível nos rebelar contra os planos de Deus quando eles violam os nossos planos.

Agora, Judas nunca foi um crente. Assim que percebeu que Jesus não cumpriria suas ambições tão desejadas, ele traiu Jesus. Mas e o que dizer de Pedro, Mateus, André e todos os demais apóstolos? Todos estavam comprometidos em seguir a Cristo, mas não a ponto de morrer; pelo menos agora não. Eles estavam decepcionados com Deus! Você ouviu isso? Jesus os decepcionou! E todos eles, exceto João, se espalharam pela montanha, desiludidos e cheios de medo, pensando: “Mas Deus, o que o Senhor está fazendo?”

Penso num homem chamado R. T. Kendall, pastor na Inglaterra que usou a frase “A barreira da traição.” Em sua opinião, cem por cento dos crentes passam por um momento na vida em que pensam que Deus os abandonou. Pode ser que aconteça logo após a pessoa ter se convertido a Cristo—o novo convertido perde seu emprego, sua criança adoece ou os negócios enfraquecem. Ou talvez aconteça depois de servirmos fielmente a Deus por muitos anos—de repente, a vida começa a se desfazer. Não faz sentido. Tudo parece ser tão injusto.

Em seu livro Decepcionado com Deus, Phillip Yancey conta a história de uns amigos da família chamados Woodsons. Eles tinham dois filhos, Peggie e Joey, ambos nascidos com fibrose cística. Peggie e Joey viviam sempre magros, independente da quantidade de comida que comessem. Além disso, tossiam constantemente e tinham dificuldades para respirar. Duas vezes ao dia, a mãe tinha que bater em seus peitos para eliminar o muco. Passavam várias semanas no hospital, todo ano, e ambos cresceram sabendo que provavelmente morreriam antes que chegassem à idade adulta. Joey, um garoto animado, feliz e inteligente, morreu aos doze anos. Peggie contrariou os médicos e viveu bem mais.

Phillip Yancey diz que se juntou à mãe das crianças várias vezes para orar por Peggie. Peggie sobreviveu várias crises de saúde durante o ensino médio e conseguiu chegar à universidade. Parecia estar crescendo e se fortalecendo, não enfraquecendo, e a esperança surgiu de que ela, finalmente, ficaria curada do problema. Mas não houve nenhum milagre; Peggie morreu aos vinte e três anos.

Algum tempo depois, numa noite, Phillip Yancey se deparou com uma carta que a mãe das crianças havia escrito para ele após a morte de Peggie. Ouça o que ela escreveu na carta:

Desejo contar a você como Peggie morreu. Não sei por que, mas preciso contar para alguém e não sei para quem mais dizer. 

 Da última vez que Peggie foi para o hospital e as coisas não estavam bem, ela olhou ao seu redor e viu toda aquela parafernália de equipamentos aos quais ela estava presa e disse: “Ei, mãe, lembra daquela citação?” Era uma citação de William Barclay que o seu pastor havia utilizado: “Perseverança não é somente a habilidade de suportar coisas difíceis, mas de transformá-las em glória.”

 O compromisso de Peggie com Cristo ficou evidente até mesmo no fim. Um dia, o presidente da sua faculdade lhe perguntou se tinha algo específico sobre o que ele poderia orar. Ela estava muito fraca e já não conseguia falar; Peggie apenas balançou a cabeça para mim para eu explicar a citação de William Barclay e pedir para ele orar para que suas dificuldades pudessem ser transformadas em glória.

Eu estava sentada ao lado dela na cama uns dias antes de sua morte quando, de repente, ela começou a gritar. Nunca me esquecerei aqueles gritos estridentes. Enfermeiras vieram correndo de todos os lados para o quarto e cuidaram dela com amor. Aos poucos, com seu cuidado e amor, eles a acalmaram (mas os gritos continuaram com o tempo e as enfermeiras não conseguiam mais confortá-la). As enfermeiras podiam ficar naquele andar somente por um tempo. Nada mais podia ser feito para ajudá-la porque Deus, que poderia ter ajudado, olhou para aquela moça devotada a ele, disposta a morrer por ele e glorificá-lo, e se sentou de braços cruzados, deixando que a morte dela atingisse um nível de horror extremo.

Se estou dizendo tudo isso num enorme esforço para entender o problema de Peggie e a minha dor, talvez eu me depare, mais uma vez, com a única coisa que me ajuda a experimentar o amor de Deus: suas palavras me dizendo: “Eu estou aqui.” Mas de novo me pergunto: como ele poderia estar naquela situação e aparentemente não fazer nada? 

Penso nisso, mas nunca contei para ninguém com medo de ser um tropeço para a fé de alguém. Obrigado por me ouvir. A maioria das pessoas não sabe o quanto isso ajuda.

Uma das maiores frustrações é saber que Deus criou todo o universo, trazendo à existência tudo por meio de sua palavra e detém todo o poder e entendimento. Ele poderia resgatar; poderia restaurar; poderia curar; poderia nos ajudar a conceber um bebê; poderia abrir aquela porta de emprego; e poderia fazer tudo isso com um simples toque de seu dedo. Então por que não age? Será que Deus está como essa mãe disse: “De braços cruzados”?

Nesse momento, amigo, você tem duas opções. Uma opção é ouvir a voz do acusador e aquela pequena parte dentro de nós que nos relembra daquele Judas autocêntrico: “Deus, o Senhor traiu as minhas expectativas; o Senhor trouxe desconforto para minha vida; o Senhor não atendeu as minhas exigências; então, resolverei isso com minhas próprias mãos. Deus, muito obrigado por nada.”

Ou você pode dizer: “Deus, não compreendo o que o Senhor está fazendo em minha vida, mas estou disposto a aceitar o que quer que seja, mesmo que o Senhor escolha nunca me explicar o porquê.”

Todos nós temos um pouquinho de Tomé, um pouquinho de Pedro e um pouquinho de Judas dentro de nós. Todos nós podemos brincar de manto e punhal, mas, pela graça de Deus, não brincaremos com ele, mesmo que não entendamos.

A propósito, a coisa mais incrível nessa passagem não é o ódio de Judas por Roma ou sua dureza de coração, nem a falta de discernimento dos discípulos; o mais incrível é a compaixão e o amor de Jesus. Talvez você seja a pessoa traída. Talvez você tenha chegado à conclusão de que precisa de uma vingança, um pouco de amargura. Bom, Jesus sabia o que Judas faria e, mesmo assim, o chamou de amigo, lavou seus pés e o honrou com a possibilidade de sua amizade. 

Faça como diz Filipenses 2, versos 5 a 8:

Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus... a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz.  

Ore: “Senhor, ajude-me a morrer para as minhas próprias expectativas; ajude-me a matar esse desejo de sempre ser o primeiro.”

Meu amigo, o Senhor está dando a você outra oportunidade agora de dizer: “Senhor, estou enganando todos com minha hipocrisia espiritual—minha esposa, meus filhos, meus pais e amigos. Perdoe-me. Deixo de lado meu egoísmo e minha manipulação e reconheço diante de ti, pela primeira vez, que sou um pecador que precisa de salvação. Quero aceitar a verdade!”

Este manuscrito pertence a Stephen Davey, pregado no dia 07/08/1994 

© Copyright 1994 Stephen Davey

Todos os direitos reservados

Add a Comment


Our financial partners make it possible for us to produce these lessons. Your support makes a difference.
CLICK HERE to give today.

Never miss a lesson. You can receive this broadcast in your email inbox each weekday.
SIGN UP and select your options.