
Fé em Meio a Crises... Fé Confiante
Fé em Meio a Crises... Fé Confiante
João 4.43–5.14
Introdução
No momento, estamos no Evangelho de João, capítulo 4. Gostaria de combinar o último incidente do capítulo 4 com o primeiro do capítulo 5. Ambos estão relacionados a cura física, ambos revelam o poder de Cristo e ambos abordam o assunto da fé. De agora em diante, os líderes judaicos procurarão matar Jesus porque ele reivindicou ser divino.
Abra em João 4, versos 43 a 47:
Passados dois dias, partiu dali para a Galiléia. Porque o mesmo Jesus testemunhou que um profeta não tem honras na sua própria terra. Assim, quando chegou à Galiléia, os galileus o receberam, porque viram todas as coisas que ele fizera em Jerusalém, por ocasião da festa, à qual eles também tinham comparecido. Dirigiu-se, de novo, a Caná da Galiléia, onde da água fizera vinho. Ora, havia um oficial do rei, cujo filho estava doente em Cafarnaum. Tendo ouvido dizer que Jesus viera da Judéia para a Galiléia, foi ter com ele e lhe rogou que descesse para curar seu filho, que estava à morte.
Gostaria de fazer algumas observações antes de continuarmos.
Vemos aqui um homem nobre da corte à procura de um carpinteiro. Esse homem que ocupava uma posição alta na sociedade vai a um homem considerado por muitos como um carpinteiro iludido. Apesar das fofocas, rumores e insultos, esse indivíduo proeminente suplica a um carpinteiro pobre. Por quê? Por que ele passava por uma crise. E quando passamos por crises, fazemos qualquer coisa possível para sair dela.
Existem alguns ateus em salas de emergência de hospitais. Contudo, ainda podemos ouvir o nome de Deus sendo mencionado em salas de U.T.I. Muitas pessoas só correm para Cristo em momentos de crise e existe uma falta de entendimento em relação ao que Cristo pode fazer. Assim como essas muitas pessoas que vão a Cristo em momentos de crise com pensamentos errados de que Cristo realizará qualquer coisa, esse homem também cometeu dois erros:
- Ele pensou que, se Jesus não viesse e o menino morresse, depois seria tarde demais para Jesus ajudar.
Apesar de Jesus não tratar do assunto, existe ainda um segundo erro que será corrigido:
- Ele pensou que Jesus precisaria estar fisicamente presente para poder curar seu filho.
Ele não sabe que Jesus é Dono do tempo e espaço; sua palavra dá ordens a coisas presentes e distantes; ele controla não somente seu domínio presente, como também sustenta o universo com sua palavra.
A coisa maravilhosa é que Jesus aceita pessoas que vão ignorantemente e com fé em momentos críticos. Se fôssemos Deus e víssemos pessoas vindo a nós apenas em momentos de extrema necessidade ou crise, sabendo que poderiam, a qualquer momento, nos abandonar quando o problema fosse resolvido, diríamos a elas: “Dá o fora daqui!” Mas Jesus não. Por outro lado, ele desafia os motivos do coração do homem, potencialmente desencorajando-o a pedir alguma coisa. Veja o verso 48:
Então, Jesus lhe disse: Se, porventura, não virdes sinais e prodígios, de modo nenhum crereis.
A palavra virdes está no plural. Todas as pessoas em volta de Jesus estavam entusiasmadas com as experiências sensacionais. Elas queriam ver o filho de um nobre, da corte de Herodes, sendo curado por um carpinteiro. Elas queriam ver outro milagre que frequentemente era realizado por Jesus. Essa foi, portanto, uma reprovação severa que Jesus fez a elas.
Agora, se aquele homem nobre tivesse ficado irritado e criado certa repulsa contra Jesus, tudo teria terminado ali mesmo. Contudo, o que vemos aqui é que sua fé, apesar de ter sido trazida à lume por causa de uma necessidade urgente, era uma fé genuína. Veja sua resposta no verso 49:
Rogou-lhe o oficial: Senhor, desce, antes que meu filho morra.
A palavra grega Senhor era um título de respeito e submissão. Portanto, esse oficial real está dizendo: “Eu sei que você é muito mais do que um carpinteiro. Você tem toda a autoridade!”
Veja também o coração desejoso desse homem. Anteriormente, foi-nos dito no texto que ele havia pedido que Jesus curasse seu filho. Mais uma vez aqui, no verso 49, ele pede a Jesus para curar seu filho. Então, Jesus respondeu no verso 50a: Vai, disse-lhe Jesus; teu filho vive.
Só isso?! Somente a palavra de Cristo: “Teu filho está curado; pode ir agora.” Mas note a questão que envolve a fé no verso 50b: O homem creu na palavra de Jesus e partiu.
Você acredita nisso? Você sabia que posteriormente Jesus se refere a esse indivíduo como um homem de grande fé? Por quê? Porque ele creu na palavra de Cristo sem ver resultados imediatos. E depois, em João 20, verso 29, para Tomé o incrédulo, lemos:
Disse-lhe Jesus: Porque me viste, creste? Bem-aventurados os que não viram e creram.
Imagine termos uma bênção especial porque nossa fé não é confirmada pelo que vemos! Imagine termos a grande bênção especial que nem os apóstolos tiveram porque cremos em Cristo, o quem nunca vimos!
Os Princípios do Viver pela Fé
Os princípios de viver pela fé são:
- Fé é crer sem ver.
- Fé é obedecer independente de emoção ou sentimento.
Fé é entrar numa sala vazia, sabendo que, no momento certo, Deus acenderá a luz.
Perto do final da Segunda Guerra Mundial, membros das Forças Aliadas eram frequentemente vistos fazendo varredura em fazendas e casas em busca de atiradores de elite. Numa das casas abandonadas e destruídas, esses membros encontraram um porão. Lá, numa parede caindo aos pedaços, uma vítima do Holocausto havia desenhado a Estrela de Davi. Embaixo dela estava escrito: “Eu creio no sol, mesmo quando ele não brilha; eu acredito em Deus, mesmo quando ele não fala.”
Veja agora o que acontece depois, nos versos 51 a 53:
Já ele descia, quando os seus servos lhe vieram ao encontro, anunciando-lhe que o seu filho vivia. Então, indagou deles a que hora o seu filho se sentira melhor. Informaram: Ontem, à hora sétima a febre o deixou. Com isto, reconheceu o pai ser aquela precisamente a hora em que Jesus lhe dissera: Teu filho vive; e creu ele e toda a sua casa.
A fé crítica desse homem se tornou agora uma fé confiante. Ele creu na palavra e ainda demorou na sua viagem de volta para casa porque confiava plenamente na palavra do Mestre. A caminho de sua casa, ele falou com seus servos e sua fé confiante foi transformada em fé confirmada. E, quando chegou em casa, sua fé confirmada se tornou uma fé contagiante e toda sua família creu.
Imagine ver toda a sua casa convertida a Cristo—a família de um homem nobre que servia com grande autoridade no palácio de Herodes. Ele servia debaixo de Herodes Antipas, filho de Herodes o Grande. Herodes o Grande era tão cruel que ordenou a execução das crianças de dois anos para baixo na cidade de Belém porque ele, e somente ele, poderia ter o título de “rei dos judeus.” Imagine a crueldade de um pai que ordenou que, quando morresse, seus servos deveriam executar 1200 judeus proeminentes a fim de garantir pranto na Palestina. Felizmente, sua ordem não foi obedecida. Seu filho, Herodes Antipas, era o rei sob o qual esse homem servia, e o rei que ordenou a execução de João Batista. Com certeza, a posição ocupada por esse oficial não era a melhor posição a ser ocupada por um cristão. Ele ocupava uma posição na qual era melhor ficar calado e não falar muito sobre Jesus o Nazareno. Todavia, ele espalha a notícia em toda a sua casa, o que, na época, também incluía todos os seus filhos adultos, genros e noras. Certamente, estavam rolando algumas conversas interessantes naquela casa.
Princípios Adicionais sobre O
Viver pela Fé
Existem ainda alguns princípios adicionais na vida pela fé. Fé não é somente crer sem ver e obedecer independente de sentimento ou emoção. Fé também é:
- Ousada sem nenhum tipo de impedimento.
- Contagiosa sem nenhum tipo de restrição.
O capítulo 5 continua com o mesmo ensino sobre o poder de Cristo e o exercício humano da fé. Desta vez, contudo, deixamos a família nobre e vamos para a periferia da cidade, onde existem pessoas desamparadas e abandonadas, esquecidas pela sociedade.
Primeiro, existe um homem com grande possibilidade de ter auxílio médico à sua disposição, mas ninguém consegue ajudá-lo. Existe também outro homem, o qual não possui nenhuma possibilidade de receber ajuda médica, completamente pobre e solitário. Entretanto, nas duas situações, esses homens se encontram desamparados.
Veja João capítulo 5, versos 1 a 4:
Passadas estas coisas, havia uma festa dos judeus, e Jesus subiu para Jerusalém. Ora, existe ali, junto à Porta das Ovelhas, um tanque, chamado em hebraico Betesda, o qual tem cinco pavilhões. Nestes, jazia uma multidão de enfermos, cegos, coxos, paralíticos esperando que se movesse a água. Porquanto um anjo descia em certo tempo, agitando-a; e o primeiro que entrava no tanque, uma vez agitada a água, sarava de qualquer doença que tivesse.
Houve um tempo em que os críticos argumentavam contra a validade das Escrituras por causa dessa passagem sobre o tanque de Betesda com cinco pavilhões. Contudo, arqueólogos escavaram esse mesmo tanque em questão e fizeram descobertas interessantes e bem detalhadas a respeito desse lugar. Perto da Porta das Ovelhas, havia, sim, um tanque dividido ao meio. Um grande telhado o cobria totalmente e outros dois telhados cobriam cada uma das seções independentes, formando uma espécie de pavilhão.
Nos dias de Jesus, as pessoas se juntavam nesse tanque, crendo que um anjo aparecia frequentemente, agitando as águas. Segundo a crença, o primeiro enfermo que entrasse na água após a aparição do anjo seria curado. Esse lugar se tornou, portanto, uma coleção de sofrimento humano—pessoas sem esperança de serem curadas por meios médicos.
Algumas Bíblias trazem o verso 4 como uma possível explicação adicionada depois que João escreveu o Evangelho. Ou seja, verso 4 foi adicionado depois para esclarecer o verso 7, onde o homem diz a Jesus: Não tenho ninguém que me ponha no tanque, quando a água é agitada. Grande parte dos exegetas que pesquisei concorda que o verso 4 foi uma adição posterior às Escrituras para explicar o verso 7. O que eu pessoalmente creio a respeito do verso 4 é que as pessoas nos tempos de Jesus realmente criam que o anjo descia para agitar as águas e assim, a partir do século quarto, foi permitido que essa passagem permanecesse no Evangelho.
Você notou que Jesus simplesmente ignora o comentário que esse homem faz a respeito do tanque? Mas o que de fato está acontecendo aqui nesse tanque? Graças aos arqueólogos pagãos (que geralmente escavam a verdade, mas recusam acreditar nela), hoje temos conhecimento exato do lugar onde esse tanque ficava. Seu nome apareceu nos Rolos do Mar Morto. Sua localização, hoje, é claramente demarcada. Sob esse tanque enorme havia uma corrente de água ou um lençol freático, o qual, em certas ocasiões, agitava e borbulhava a água do tanque. As pessoas, cegas em suas superstições, criam que era por causa de um anjo e que, o primeiro que entrasse na água, seria curado. Algo bastante comum nos tempos de Jesus era a crença de que a água era habitada por seres espirituais bons ou ruins.
Quando o rei persa Xerxes chegou ao rio Estrimon, seus magos ofereceram seus cavalos brancos como sacrifícios aos deuses do rio antes de o exército atravessar o rio. O general romano Luculus ofereceu um touro ao rio Eufrates antes de atravessá-lo. Até mesmo hoje, no sudeste da África, as tribos Bantu creem que os rios são habitados por espíritos maus e que precisam agradá-los com um punhado de milho. Na África Central, os povos não resgatam alguém que foi levado pelo rio porque acreditam que foi obra dos espíritos maus.
Então, nos tempos de Jesus, era bem comum a superstição de que o lençol subterrâneo que alimentava aquele tanque era habitado por um anjo que frequentemente agitava as águas.
O motivo porque estou levando certo tempo para falar sobre essa questão do verso 4, apesar de ninguém ter me perguntado, é que eu quero que você entenda que Jesus está caminhando num lugar grande—um tanque duplo com cinco telhados independentes repleto de pessoas, uma multidão de pessoas que depositam grande fé... na coisa errada.
Já vi fotos de milhares de indianos se lavando nas supostas águas sagradas, e também podres, do rio Ganges em Calcutá, embora, uns 3 quilômetros rio acima, esgoto é derramado dentro d’água.
Todo comentarista que pesquisei faz uma conexão espiritual com o ajuntamento das pessoas nesse tanque. Eles dizem que é uma figura da humanidade—humanidade perdida, fraca, cega, desamparada, depositando sua fé em inúmeras coisas, quer seja Nova Era com seus cristais emitindo energia espiritual, fé nas boas obras do homem, ou ainda fé nos esforços pessoais para se conseguir unidade com Deus. Grande fé? Sim! Mas, meu amigo, é possível se ter grande fé numa camada fina de gelo, cair dentro da água, e morrer afogado; mas também é possível ter uma fé pequena numa camada grossa de gelo, caminhar sobre ele com segurança e atravessar um lago inteiro.
- Isso nos leva ao próximo princípio da vida pela fé, que é: a questão da fé não é a sua quantidade, mas o seu objeto.
Então, o que Jesus faz? Veja o verso 5:
Estava ali um homem enfermo havia trinta e oito anos.
Imagine só: aos trinta e oito anos de idade, o problema desse homem já havia se tornado seu modo de vida. Nunca ninguém o havia ajudado. Na verdade, ele nunca conseguiu convencer alguém para ajudá-lo. Ele era um paralítico e sua esperança de cura estava além de seu alcance.
Fico pensando na lenda de Tântalo, que foi amaldiçoado pelos deuses a viver uma vida de perpétua fome e sede. Quando ele ia beber, a água fugia de sua frente. Quando tentava pegar uma fruta na árvore, o galho se balançava, fugindo de seu alcance. Tântalo viveu sua vida sem nunca satisfazer seus desejos mais profundos. Seu nome grego deu origem à nossa palavra em português “tantalizar,” que significa “ter desejos irrealizáveis” ou “provocar desejos irrealizáveis.” Salomão escreveu em Provérbios capítulo 13, verso 12:
A esperança que se adia faz adoecer o coração, mas o desejo cumprido é árvore de vida.
Dentre todas as pessoas que queriam ser curadas, Jesus encontrou um homem que não podia ajudar a si mesmo.
Agora, veja a conversa rápida que Jesus teve com esse homem no verso 14:
Mais tarde, Jesus o encontrou no templo e lhe disse: Olha que já estás curado; não peques mais, para que não te suceda coisa pior.
- Isso nos fornece mais um princípio de vida pela fé, que é: a fé autêntica desenvolverá e transformará sua vida.
Se você tem fé genuína em Cristo e sua Palavra, essa fé transformará a maneira como você fala, sua ambição no trabalho, sua motivação na maneira como se veste, etc. A fé genuína transformará todos os aspectos de sua vida. A fé funciona! A fé não é apenas algo adicionado à sua vida, mas se torna seu modo de vida. Como Habacuque nos diz, no capítulo 3, verso 4b: O justo viverá pela fé.
Este manuscrito pertence a Stephen Davey, pregado no dia 16/01/1994
© Copyright 1994 Stephen Davey
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