
O Ministério da Presença
O Ministério da Presença
O Silêncio do Céu—Parte 1
Jó 2.11–13
Introdução
Erma Bombeck foi uma colunista de jornais da década de 1950 até a década de 1990. Suas colunas geralmente discutiam questões comuns da vida, focando mais na vida de mãe e dona de casa. Ela usava seu senso de humor e realismo para encorajar mulheres nos anos de 1950, uma época na qual as mulheres não deveriam falar o que pensavam.
Erma Bombeck morreu em 1996 de câncer. Quando descobriu que estava morrendo, ela escreveu uma coluna intitulada: “Se Eu Tivesse que Viver Minha Vida Novamente.” Ela escreveu:
- Eu ouviria mais e falaria menos.
- Investiria tempo para ouvir meu avô falando sobre sua juventude.
- Compartilharia mais da responsabilidade carregada pelo meu marido.
- Eu não insistiria em subir as janelas do carro em pleno verão para não assanhar meu cabelo.
- Eu me sentaria no quintal com meus filhos sem me preocupar com sujar a roupa.
- Quando meus filhos me beijassem impetuosamente, eu jamais diria: “Depois. Agora vai lavar as mãos para almoçar.”
- Diria com mais frequência: “Eu te amo.” Haveria mais “Desculpe-me, perdoe-me,” mas, principalmente, se tivesse outra chance, aproveitaria cada minuto—[temos apenas uma chance e daí ela termina].
- Passaria mais tempo pensando no que Deus tinha me dado ao invés do que naquilo que eu não tinha.
Não é interessante que algumas das melhores lições sobre a vida são aprendidas em face à morte?
Em nossos estudos anteriores, mencionei que a vida de Jó foi transformada em somente 39 segundos. Um mensageiro após outro chegou contando-lhe que havia perdido todas as coisas e quase todo mundo.
Vou pedir um negócio para você: envie-me sua história de 39 segundos, bem como algumas das lições que aprendeu em meio às suas próprias tragédias ou às tragédias na vida de outra pessoa.
Um jovem de nossa igreja aprendeu lições profundas ao fazer perguntas profundas.
Ele e um amigo foram caçar no Alasca. Ambos eram caçadores experientes e tinham consigo todo o equipamento necessário para a caçada, incluindo telefone via satélite, o qual decidiram alugar e levar no último minuto. No último dia de caça, esse jovem viu um alce enorme e atirou nele. Ao invés de cair morto ou ferido no chão, o alce começou a correr na direção deles. Ele recarregou sua arma, atirou e daí sentiu uma forte dor. Ele olhou para baixo e percebeu que a espingarda tinha quebrado ao meio—uma parte tinha voltado e batido contra sua cabeça, ferindo seriamente seu rosto e esmagando um de seus olhos; ele ainda não consegue enxergar com esse olho.
Após o acidente, um resgate até incrível envolvendo soldados e helicóptero—graças ao telefone via satélite—e enquanto se recuperava de uma cirurgia complicada e se perguntava se voltaria a enxergar com aquele olho, esse rapaz fez uma lista de perguntas e me enviou uma cópia dela. São perguntas que fornecem lições para a vida inteira em face ao sofrimento e à morte:
- O que tenho feito?
- Para onde estou indo?
- O que Deus deseja que eu faça?
- O que Deus tem reservado para mim?
- O que deveria fazer com as bênçãos de Deus?
- O que deveria fazer com as tribulações de Deus?
- Será que ficarei com ressentimento?
Esse jovem adicionou no final: “Minha única esperança é a justiça de Jesus Cristo. Eu tenho pouca força. Senhor, ajude-me, por favor.”
Eu faria as seguintes perguntas:
- Como respondemos a alguém que faz perguntas tão profundas?
- Como começamos a fazer parte da solução de Deus na vida de alguém cercado de tristeza?
- Como ministrar a alguém que recentemente foi diagnosticado com uma doença terminal e gostaria de ter outra chance na vida?
Logo no início de nosso estudo, gostaria de encorajá-lo com o seguinte: todos no corpo de Cristo se qualificam como especialistas em ajudar o que sofre. Você não precisa ser um gênio com argumentos convincentes, bem articulado ou experiente. Você pode se envolver no que chamo de “O Ministério da Presença.”
Através do ministério da presença, você pode realizar um ministério tremendo aos feridos sem nem mesmo ser ordenado ao ministério pastoral. Você não precisa ser uma ferramenta extraordinária na mão de Deus; precisa apenas estar disposto.
Isso me lembra do que meus pais colocaram na minha cabeça e na cabeça dos meus irmãos quando crescíamos: “A melhor habilidade é a disponibilidade.”
Vamos observar exatamente isso acontecendo na vida de Jó enquanto estava cercado por tristeza. Os últimos versos de Jó 2 nos mostram como os conselheiros de Jó acertaram.
Os Conselheiros de Jó
Primeiro, vamos ver quem eram os conselheiros de Jó. Veja Jó 2.11:
Ouvindo, pois, três amigos de Jó todo este mal que lhe sobreviera, chegaram, cada um do seu lugar: Elifaz, o temanita, Bildade, o suíta, e Zofar, o naamatita; e combinaram ir juntamente condoer-se dele e consolá-lo.
Isso, por si só, já não é um ótimo exemplo? Esses amigos deixaram tudo de lado, entraram em contato entre si e disseram: “Vamos ver nosso amigo em necessidade e confortá-lo.”
Elifaz
O primeiro amigo mencionado no texto é Elifaz. Ele é mencionado primeiro mais provavelmente porque era o mais velho.
Em cada um dos discursos feitos por esses três homens, e posteriormente por um quarto que se une a eles, Elifaz é quem fala primeiro.
Ele faz uma alusão a si mesmo em Jó 15 como sendo um homem idoso de cabelo grisalho, bem mais velho do que o pai de Jó. Se Jó tivesse uns cinquenta anos de idade com dez filhos adultos, Elifaz pode muito bem ter tido em torno de setenta ou oitenta anos de idade.
Adicione a isso o fato de Elifaz ser um temanita. Temã era famosa por seus homens sábios e provérbios profundos do oriente. O profeta Jeremias escreveu em 49.7:
…Acaso, já não há sabedoria em Temã? Já pereceu o conselho dos sábios? Desvaneceu-se-lhe a sabedoria?
Obadias 1.8 também se refere aos homens sábios de Temã.
O nome “Elifaz” significa, “Deus é ouro,” e é possível que ele tenha sido o cabeça de alguma região da Arábia. Rico o suficiente para poder viajar e um homem muito respeitado, Elifaz é um dos amigos de Jó.
De todos os amigos, Elifaz não somente é o primeiro a falar, mas seus discursos são mais longos. Mais adiante, em Jó 42, Deus se referirá a ele como o representante dos outros conselheiros.
A partir do texto, podemos imaginar Elifaz de cabelo grisalho, um homem experimentado na vida, rico e com dignidade, chegando no cenário do desespero de seu amigo.
Bildade
O próximo amigo é Bildade. Jó 2.11 nos diz que ele era suíta.
Bildade não aparece em nenhum outro lugar na Bíblia, apesar de outros documentes mencionarem Su, que ficava localizada próximo ao rio Eufrates. A região provavelmente recebeu esse nome por causa do filho mais novo de Abraão, Suá. É provável que Bildade e Suá se conheciam e, se esse foi o caso, Bildade pode ter aprendido lições incríveis sobre o Deus de Abraão da boca do filho de Abraão.
O que sabemos, de fato, é que Bildade era amigo de Jó e isso somente já nos diz um pouco sobre seu caráter.
Zofar
O terceiro e último amigo mencionado em Jó 2.11 é Zofar. O nome “Zofar” significa “pássaro novo,” e ele provavelmente era o membro mais novo do trio de amigos.
Zofar veio de Naamá, local que possivelmente recebeu o nome de um dos descendentes de Caim. Muitos acreditam que a casa de Zofar ficava entre as atuais Beirute e Damasco.
Lembre-se de que Jó viveu nos dias dos patriarcas e muitos deles foram contemporâneos entre si. É possível que Jó era conhecido e respeitado por todos os que seguiam o Deus dos patriarcas Abraão, Isaque e Jacó.
Os três amigos de Jó ouviram a notícia—a qual demorou um pouco para chegar até eles—, entraram em contato uns com os outros—o que demorou ainda mais tempo em correspondência entre si—e concordaram em se juntar para encorajar o amigo Jó.
Um autor disse que, se você tivesse um amigo disposto a deixar tudo de lado e ir correndo para ajuda-lo, isso já seria algo maravilhoso. Mas ter três amigos assim é algo inacreditável.
A Reação dos Conselheiros de Jó
Não fazemos ideia de quanto tempo demorou até que os três amigos de Jó o encontraram. Talvez eles foram primeiro para sua casa em busca dele. Talvez um dos servos que trabalha na propriedade desolada varrida pela tempestade aponta em direção ao lixão da cidade.
Jó 2.12 sugere que alguém forneceu aos amigos de Jó informações quanto à direção onde ele se encontrava. O verso diz:
Levantando eles de longe os olhos e não o reconhecendo, ergueram a voz e choraram; e cada um, rasgando o seu manto, lançava pó ao ar sobre a cabeça.
Talvez foi a esposa de Jó que os conduziu até onde ele estava, sentado sobre as cinzas do aterro sanitário da cidade.
O texto indica que alguém teve que lhes mostrar Jó porque ele estava irreconhecível: “Veja, lá está ele—aquele homem sentado lá.”
“Não, não pode ser! Isso é impossível!”
O verbo hebraico (no perfeito do hiphil) sugere não necessariamente que esses homens duvidaram de que era Jó, mas que o homem sentado no montão de cinzas não se parecia em nada com Jó: “Como este homem pode ser o mesmo homem que vimos da última vez?”
“É verdade,” o guia deve ter lhes dito ao apontar à distância, “aquele homem lá com pele aberta e escorrendo pus; aquele homem lá se coçando; aquele homem gemendo em dor inexprimível, sofrendo com febre e náusea, cuja barba está toda embolada e embaraçada, com olhos fundos e manchas escuras ao redor; aquele homem lá, com roupas furadas e endurecidas com sangue e lama—aquele é Jó, seu amigo.”
Os amigos de Jó reagiram de cinco formas. Vamos observá-las rapidamente.
- Primeiro, eles lamentaram em tristeza e choque.
Veja Jó 2.12b: ergueram a voz e choraram.
- Segundo, eles rasgaram suas roupas.
Veja ainda Jó 2.12b: e cada um, rasgando seu manto. A mesma coisa que Jó fizera antes para expressar seu coração destruído, esses amigos agora rasgam seus mantos segundo o costume da época, desde o pescoço até a altura do coração, dizendo que seus corações também estão em pedaços.
- Terceiro, eles se sujaram de terra.
Veja Jó 2.12d: lançava pó ao ar sobre a cabeça.
Esse costume era uma forma de se identificar com Jó em sua grande tristeza. Ele não tinha como tomar banho e, portanto, estava podre. Então, seus amigos se uniram a ele ao sujar seus cabelos e roupas.
- Quarto, eles se sentaram com ele.
Veja Jó 2.13a: Sentaram-se com ele na terra, sete dias e sete noites. Esse era o período habitual para lamentação por um morto. Eles estão lamentando não somente a situação de Jó, mas também a morte de seus filhos.
Vemos esse período de lamentação em outras passagens:
-
Os homens de Jabes-Gileade lamentaram a morte do rei Saul durante sete dias
(1 Samuel 31.13). - José lamentou a morte de seu pai Jacó durante sete dias depois que Jacó morreu no Egito (Gênesis 50.10).
Apesar de os sete dias de lamentação pela perda da família de Jó e de seus servos já terem acontecido há muitos dias, esses amigos, em grande respeito por este homem, realizam, em certo sentido, outro funeral em reverência à sua profunda tristeza.
- A quinta reação deles é interessante—eles permanecem em silêncio.
Veja Jó 2.13b: e nenhum lhe dizia palavra alguma, pois viam que a dor era muito grande.
Quando Os Conselheiros de Jó Acertaram
Permita-me listar para você as maneiras como os conselheiros de Jó acertaram em sua atitude.
- Primeiro, eles se identificaram com sua tristeza.
Os amigos de Jó pensaram: “Se o cabelo e a roupa de Jó estão sujos, nós também ficaremos sujos. Se ele está sentado num monte de lixo, sentaremos ali com ele. Não nos preocuparemos com os olhares ou com aqueles que vierem nos espiar.”
- Segundo, eles se uniram a ele em sua dor.
- Antes, em Jó 2.11, fomos informados de que seus amigos vieram condoer-se dele.
O verbo hebraico sugere muito mais do que um rápido abraço. Condoer-se nesse contexto significa, “balançar a cabeça ou o corpo para frente e para trás como um sinal de dor compartilhada.”
Você pode fazer isso hoje ao ouvir a notícia dos 39 segundos de dor de outra pessoa. Tudo o que faz é levar a mão à boca, talvez balançar levemente sua cabeça para os lados e ficar embasbacado em silêncio.
É isso o que esses amigos fazem. Jó não estava mais chorando sozinho; agora eram quatro homens chorando juntos no lixão da cidade.
- Outra palavra-chave em Jó 2.11 é consolar, que foi o outro motivo por que eles foram ver Jó.
Uma pessoa que conforta a outra busca compartilhar de sua dor e auxiliar o sofredor.
Isaías usou esse termo para se referir a uma mãe atendendo às necessidades de seu filho e, assim, acalentando-o (Isaías 66.13).
A palavra também é usada para descrever o trabalho de alguém que cuida amorosamente das necessidades do que sofre. Quer seja atendendo às suas feridas físicas ou preparando uma refeição, limpando uma casa, cuidando de outra criança, cortando a grama, pagando o aluguel—isso é conforto verdadeiro.
Fico muito feliz ao ouvir, quase toda semana, sobre alguém em nossa igreja que ajudou outra pessoa de forma tangível—quer seja por atos voluntários de bondade ou adolescentes envolvidos em um projeto especial, centenas de carpinteiros e construtores de nossa igreja dedicados a construir e consertar casas de crentes em necessidade, quer por meio do fundo diaconal que auxilia irmãos e irmãs em Cristo. Como eu queria que você ouvisse todas as histórias de gratidão que eu ouço!
Isso é a verdadeira religião. A falsa religião diz: “Aquecei-vos e fartai-vos.” O verdadeiro conforto no sentido bíblico veste um avental, segura um martelo, escreve um cheque, prepara uma comida.
Nesse texto, o verdadeiro conforto é visto quando os três amigos se sentam no lixão, sobre as cinzas, cercados de lixo podre, com Jó!
Você já esteve no lixão? Você já esteve em um aterro sanitário? Vai lá e sente o cheiro. Já estive em um. O fedor de lixo podre nos expulsa de lá dentro de sete minutos. Não sei como alguém ficaria lá por sete horas, e não consigo imaginar como alguém ficaria lá por sete dias. Além disso, eu nunca tentei me deitar e dormir no lixão—isso é muito além do que consigo contemplar. Os amigos de Jó fizeram isso—sete dias e sete noites.
Esses amigos se identificaram com a tristeza de Jó e se uniram à sua dor.
- Terceiro, eles mostraram respeito por sua dor.
Os amigos de Jó lamentam com Jó a morte de seus filhos. Que grande marca de amizade. Eles apareceram e mostraram respeito por sua dor.
Aqueles que exercem o ministério da presença fazem isso. Você já percebeu que ninguém é convidado para um funeral? Ninguém envia convites para um funeral.
Amigos fazem todo o possível para simplesmente aparecer—e se eles não podem vir, enviam flores, cartões e se comunicam com a pessoa de luto, “Ei, conte comigo para o que precisar. Quero mostrar meu respeito e consciência de sua dor.”
- Quarto, eles deixaram Jó falar primeiro.
Não ignore isto e destaque em sua mente—Jó é o primeiro a falar.
Warren Wiersbe fez a seguinte aplicação dessa passagem: “A melhor maneira de ajudar pessoas feridas é apenas aparecer. Diga pouco ou nada. Não tente explicar tudo. Explicações nunca restauram um coração quebrado.”
Ao fazer todas essas coisas, os amigos de Jó chegam ao quinto acerto.
- Quinto, eles conquistaram o direito de falar.
Para exercer o ministério da presença, você não precisa ter algo já preparado de antemão. Você pode inspirar positivamente com seu silêncio, mas pode errar ao falar.
Talvez você já tenha ouvido a frase anônima: “Arrependo-me com frequência de minhas palavras, mas nunca de meu silêncio.”
Aplicação
Antes de deixarmos essa cena forte com três homens importantes, respeitados, ricos e reverenciados sentados na poeira com Jó, seu amigo cansado, abatido e sofredor, vamos tentar aprender algumas lições práticas sobre o ministério da presença. Esse é o ministério sem palavras. Um autor chamou esse ministério de o “santo silêncio.”
- Primeiro, rejeite a ideia de que citar versos da Bíblia elimina a dor.
Esse é o pensamento de que a verdade não é dita se a Bíblia não é citada.
Não me entenda errado. A Bíblia é, sim, suficiente para as nossas necessidades, mas Provérbios também fala sobre o seu uso em momento oportuno. Salomão escreveu em Provérbios 25.11: Como maçãs de ouro em salvas de prata, assim é a palavra dita a seu tempo.
E também em Provérbios 15.23: O homem se alegra em dar resposta adequada, e a palavra, a seu tempo, quão boa é!
Não vamos a uma pessoa que sofre como Jó e lhe dizemos: “Ei, adivinha o que eu li hoje de manhã na Bíblia? Esse verso é perfeito para você. Ah, também comprei essa caneca para você com um verso de um lado e a cruz do outro.”
A Bíblia não é um Band-Aid. Não saia por aí colocando seu verso preferido nas pessoas que sofrem achando que ele, de alguma maneira, acabará com a dor. A Bíblia não é uma aspirina para seus amigos em sofrimento.
Problemas físicos levam tempo para melhorar; assim também os problemas internos do coração. Eles precisam de tempo para ser restaurados.
O que o sofredor precisa é da verdade da Escritura revelada na sua vida e através de sua vida ao ministra-lo com sua presença.
- Segundo, controle a tentação de dizer algo profundo.
Você pode pensar que precisa sair com uma pérola de sabedoria a fim de poder ajudar. Pode pensar que precisa resumir a obra de Deus em uma ou duas sentenças.
A verdade é que o sofrimento geralmente nos expõe ao mistério de Deus, não às explicações de Deus. Romanos 11.33b nos diz: Quão insondáveis seus juízos e quão inescrutáveis seus caminhos! 1 Coríntios 2.16a diz: Pois quem conheceu a mente do Senhor, que o possa instruir? Provérbios 25.2a diz: A glória de Deus é encobrir as coisas.
Nós saímos correndo por aí tentando glorificar Deus ao explicar a questão enquanto Deus deseja ser glorificado ao esconder a questão. Precisamos aprender a dizer: “Não sei o que está acontecendo.”
Deixe-me dizer o seguinte: aplicar isso como pastor é algo desafiador. Suponha que alguém me liga e começa a compartilhar sua história de sofrimento e depois me pede uma explicação. Como será a conversa se eu disser: “Olha, não faço ideia. Estou completamente chocado!”?
Você provavelmente já conhece o final do livro de Jó, mas deixe-me lhe lembrar de que enquanto:
- Jó exigia uma resposta, Deus respondeu com seus atributos.
- Jó queria uma explicação, Deus revelou sua reputação.
- Jó queria uma premissa por trás das ações de Deus, Deus declarou seu poder por trás das ações.
Rejeite a ideia de que citar a Bíblia acabará com a tristeza e controle a tentação de dizer algo profundo. Deixe-me adicionar a esse pensamento dizendo o seguinte:
- Terceiro, recuse a expectativa de eliminar a dor com sua sabedoria e discernimento.
Se você ainda não aprendeu a essa altura, então aprenda com essa cena: não podemos eliminar a tristeza, mas devemos compartilhar da tristeza. Ao compartilhar dela, aliviamos o fardo do sofredor.
Livre-se da noção de que crentes maduros nunca ficam tristes, de que crentes espirituais não choram. Se esse fosse o caso, então Jesus Cristo foi um homem superficial, pois, conforme vemos em João 11.35, Jesus chorou diante do túmulo de Lázaro.
- Quarto, recuse a ideia de que você precisa falar a fim de poder demonstrar amor.
Quando o Senhor finalmente apareceu no túmulo de Lázaro, ele poderia ter pregado um sermão sobre seu amor por Lázaro; poderia ter deixado bem claro o quanto se importava com seu amigo. Contudo, quando a única coisa que fez foi chorar, os judeus viram e, sem ouvirem sequer uma palavra de Jesus, eles disseram: Vede quanto o amava (João 11.36).
Você não precisa ter algo para dizer. Já viajou duas horas ou mais apenas para exercer o ministério da presença.
Em seu comentário de Jó, Charles Swindoll cita um livro intitulado A Última Coisa sobre A Qual Falamos. O autor desse livro perdeu seus três filhos: o primeiro filho após uma cirurgia quando ele tinha apenas dezoito dias de vida; o segundo morreu de leucemia com a idade de cinco anos; e o terceiro morreu aos dezoito anos em um acidente. Ele escreve:
Eu estava sentado, despedaçado em tristeza. Alguém veio e conversou comigo sobre o agir de Deus, por que aquilo tinha acontecido e sobre esperança além do túmulo. Esse homem falou constantemente; ele disse coisas que eu [já] sabia que eram verdade. Não fui sensibilizado; desejei apenas que ele fosse embora. Ele finalmente foi.
Outro depois veio e se sentou ao meu lado por uma hora ou mais; me ouviu quando eu disse algo, respondeu com poucas palavras, orou rapidamente e foi embora. Aquilo, sim, mexeu comigo. Fui confortado. Não gostei quando ele foi embora.
Essa pessoa revelou o poder da presença.
Não precisamos ser gênios, bem articulados ou eruditos bíblicos. É verdade—a maior habilidade de um amigo é sua disponibilidade. Apenas apareça; assim, você estará exercendo o ministério da presença.
Este manuscrito pertence a Stephen Davey, pregado no dia 25/02/2007
© Copyright 2007 Stephen Davey
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