
Dona Jó: Lições de Um Sofrimento Passivo
Dona Jó: Lições de Um Sofrimento Passivo
Quando a Tempestade Chega—Parte 6
Jó 2.9–10
Introdução
Uma pessoa me enviou uma história humorada outro dia que quero ler para você.
Uma loja abriu no centro da cidade—uma loja em nada convencional. Ela vende maridos. Mulheres vão à loja e escolhem um marido. Contudo, existem certas regras. Logo na entrada da loja existe uma placa com as informações de como a loja funciona. A regra diz: “Você pode visitar a loja apenas uma vez.”
A loja tem seis andares e os atributos dos homens melhoram a cada andar. Existe, porém, mais uma regra: a cliente pode escolher qualquer homem do andar onde está ou subir em busca de outro homem, mas não pode voltar aos andares inferiores. Se for descer é para sair da loja.
Uma mulher finalmente decidiu fazer uma tentativa e saiu em busca de um maridão. Ela entrou no primeiro andar da loja e logo adiante havia uma placa que dizia: “Os homens deste primeiro andar têm emprego e amam o Senhor.” Ela pensou: “Ah... vou tentar o segundo andar.”
Assim que as portas do elevador se abriram, ela se deparou com a placa do segundo andar: “Estes possíveis maridos têm empregos, amam o Senhor e adoram crianças.” A mulher pensou: “Hum, isso é muito bom, mas vou subir mais um andar.”
No terceiro andar, a placa dizia: “Estes homens têm ótimos empregos, amam o Senhor, adoram crianças e são muito bonitos.” “Minha nossa!” exclamou a mulher. Mas ainda assim se sentiu compelida a continuar subindo.
Quando chegou ao quarto andar, ela leu a placa: “Estes homens têm excelentes empregos, amam o Senhor, adoram crianças, são muito bonitos e bastante românticos.” “Misericórdia!” ela pensou, “Será que devo escolher um daqui? Acho que vou esperar até o quinto andar.”
Ela subiu mais um andar e a placa dizia: “Estes homens têm ótimos empregos, amam o Senhor, adoram crianças, são muito bonitos, bastante românticos e gostam de cozinhar e limpar a casa.” “Gente! Isso é um sonho!” ela pensou, tentada a ficar no quinto andar e escolher um homem ali mesmo.
Contudo, ela continuou firme em sua busca, segurando seu fôlego e subindo ao último andar. Quando as portas do elevador se abriram, a placa à sua frente dizia: “Não existe homem algum neste andar. Este andar serve simplesmente para provar que é impossível agradar as mulheres.”
É, eu também não achei isso muito engraçado não, viu?! Mulheres, não fiquem com raiva de mim. Estou apenas contando a história.
Agora, e se você realmente pudesse escolher um cônjuge para o resto de sua vida conhecendo antecipadamente todos os seus atributos? Você poderia sair às compras em busca de uma barganha excelente.
E se de fato soubesse o que o futuro próximo traria, será que isso facilitaria sua decisão? Mas a verdade é que não podemos evitar os desafios na vida. A vida é, na verdade, mais complicada e perigosa do que esperamos.
Quando eu realizo a cerimônia de casamento de algum casal, sou tomado de emoção no momento da oração de dedicação porque sei que eles estão dedicando a Deus um lar e não sabem das alegrias e das dores que lhes esperam à frente. Essa é a grande importância de dedicar seu lar ao Senhor.
Em meus estudos, deparei-me com uma pesquisa recente. É muito provável que você tenha sido exposto a algo muito perigoso e nem sequer fazia ideia.
Até um milhão de jovens são afetados com uma variedade de doenças físicas por causa disso, incluindo infecções no sistema respiratório, asma e infecções de ouvido. Algumas crianças até perdem completamente a audição por causa disso.
Em adultos, esse problema é responsável por câncer e doenças de coração. Na verdade, 50 mil mortes ocorrem por causa dele todos os anos.
O que faz dessa coisa algo perturbador é que as vítimas não fizeram algo que trouxesse esses males às suas vidas—elas foram simplesmente expostas a isso. É por esse motivo que muitos países proibiram esse elemento em locais públicos. Ele não pode mais entrar em locais de trabalho ou restaurantes. Se você ainda não adivinhou, o vilão é o “fumo passivo.”
Na década de 1980, a empresa de cigarro Philip Morris realizou uma pesquisa provando que o fumo passivo era algo altamente tóxico. Contudo, a empresa escondeu os resultados pelos vinte anos seguintes.
Agora, a verdade já veio à tona. Órgãos de saúde declaram que exposição ao fumo passivo traz consigo muitos riscos.
Por volta do ano de 2005, pesquisas confirmaram que o fumo passivo é responsável por 200 mil casos anuais de infecções respiratórias em crianças de dois anos para baixo. O fumo passivo é responsável pela internação de 15 mil pessoas por ano; ele também é o culpado por meio milhão de casos de asma e 1,6 milhão de visitas a clínicas médicas todos os anos.
Essas são pessoas que sofrem não por que tocaram em um cigarro, charuto ou cachimbo—elas jamais tocaram em um; apenas moram com alguém que fuma, andaram de carro com um fumante ou fizeram uma refeição próximo de um fumante.
Estudos comprovam que até mesmo uma exposição rápida ao fumo passivo engrossa as plaquetas sanguíneas. Os vasos sanguíneos são prejudicados, o fluxo da coronária é reduzido e muitas outras coisas acontecem por causa de uma rápida exposição ao fumo passivo.
O propósito desta mensagem não é incentivar os fumantes a pararem com o vício—apesar de que se fizerem isso, ótimo! Contudo, esse seria apenas um propósito passivo ou secundário da minha mensagem.
Acho muito interessante que nos preocupamos muito com os efeitos do fumo passivo. A presença de germes, a busca para reduzir o nível de estresse no ambiente de trabalho, segurança no trabalho e muitas outras coisas recebem bastante atenção.
Entretanto, existe pouca evidência analisada ou esforço demonstrado para se entender algo muito mais devastador, destrutivo e que altera tanto a vida; algo que mais ameaça a vida, algo mais perigoso e debilitante do que o fumo passivo. E eu chamo isso de o “sofrimento passivo.”
Milhões e milhões de pessoas são afetadas negativamente por isso todo ano e ele é a causa de inúmeras dificuldades físicas. Esse elemento envia mais e mais pessoas para leitos de hospitais e milhões para consultórios de médicos, conselheiros e psicólogos todos os anos. Nenhum país aprovou leis para se livrar dele; nenhum estudo científico busca erradica-lo; nenhum remédio pode curar todos os seus efeitos.
O sofrimento passivo é o sofrimento trazido a vidas de pessoas que são expostas àqueles que estão passando por um sofrimento. A Bíblia fornece a única ajuda e a única esperança.
Revisão
Da última vez que observamos Jó, nós o deixamos sentado no lixão da cidade—sobre um montão de cinzas restantes da última queimada de lixo e esgoto. Ele permaneceu ali sentado em tremenda agonia, coçando-se com um pedaço de cerâmica na tentativa de aliviar um pouco sua coceira.
Quando se casaram, talvez trinta ou quarenta anos antes, Jó e sua esposa não fizeram ideia de que esses eventos fariam parte de suas vidas. Suas vidas foram colocadas de ponta-cabeça.
Jó agora sofre com uma lista longa de doenças e desconfortos físicos que incluem:
- úlceras (2.7);
- coceira constante (2.8);
- falta de apetite (3.24);
- às vezes, medo e pavor profundos (3.25);
- insônia (7.4);
- vermes em suas feridas (7.5);
- pele quebradiça que expele pus (7.5);
- dificuldade para respirar (9.18);
- sombras ao redor dos olhos (16.16);
- perda de peso (19.20; 33.21);
- febre alta constante e dores nas juntas (30.28);
- e dor contínua (30.16, 17).
Jó está vivendo um pesadelo físico. Ele se mudou de sua casa para o aterro sanitário da cidade onde outros mendigos e leprosos moram. Ele vive em tanta agonia a ponto de não querer estar com mais ninguém.
Além disso, seu nome se tornará alvo de zombaria; o assunto principal das conversas das pessoas é Jó. Esse era o homem que todos pensavam que vivia para Deus, mas evidentemente ele vivia uma vida secreta de pecado e Deus, agora, o julga severamente.
O que se perde em meio a tudo isso é o único outro membro da família que permaneceu vivo além de Jó. Ela já sofreu muito, mas sofrerá ainda mais de forma passiva ao contemplar o terrível sofrimento de seu marido.
Se Jó é a epítome do sofrimento, sua esposa então se torna a epítome do sofrimento passivo. Ambos são fatais à fé e confiança na soberana bondade de Deus. Nós a chamaremos de Dona Jó.
Dona Jó: Uma Sofredora Passiva
A tradição rabínica acredita que a Dona Jó foi Diná, a filha de Jacó. Existe forte evidência de que Jó viveu durante os dias dos Patriarcas, mas pouquíssima evidência de que sua esposa foi a filha de Jacó.
Outra tradição afirma que uma das filhas de Diná, filha de Jó e Diná, se mudou para o Egito e se tornou a esposa de José quando ele foi elevado à posição de primeiro ministro. Não sabemos disso ao certo. Tudo é meio misterioso porque existe pouca informação a se coletar sobre essa mulher que foi a esposa de Jó.
O que sabemos ao certo é que a Dona Jó aparece rapidamente no capítulo 2. Sua participação ocorre após Jó se mudar de casa para o lixão da cidade, onde, por algum tempo, ele já vem sofrendo doenças físicas. Veja Jó 2.9:
Então, sua mulher lhe disse: Ainda conservas a tua integridade? Amaldiçoa a Deus e morre.
Um tradutor traduz esse verso da seguinte forma: “Renuncie a Deus e morra.” Outro ainda diz: “Despeça-se de Deus e morra.” Ou seja, “Vire suas costas para Deus, acabe com seu testemunho de fé, que é a única coisa que o está mantendo vivo, e deixe Deus efetuar a sua morte.”
A Dona Jó está dizendo: “Está claro que Deus desistiu de você, então desista de Deus também!”
Alguns podem até retratá-la como uma serpente conspiradora. Calvino acreditava que o diabo a incitou a tentar seu marido. Agostinho cria que ela era cúmplice do diabo e que ficou com vida apenas para que o diabo a induzisse a tentar seu marido a amaldiçoar Deus.
Não somos informados dessas coisas. Contudo, após toda pesquisa e estudo linguístico que fiz, pessoalmente não creio que ela está tentando levar Jó a pecar; creio que ela está tentando acabar com o sofrimento de Jó.
A tradução grega do Antigo Testamento, chamada de Septuaginta, foi produzida nos séculos terceiro e segundo antes de Cristo. Apesar de a Septuaginta não ser Escritura inspirada, é interessante notar que o apóstolo Paulo e o próprio Senhor citaram a Septuaginta em seus ministérios. Na Septuaginta, a Dona Jó faz um discurso muito mais longo a Jó, o que talvez nos fornece mais entendimento do que a motivou a sugerir que ele terminasse sua vida renunciando a Deus. O texto da Septuaginta diz:
Após um longo tempo, [ela perguntou]: “Quanto tempo você suportará isso, dizendo: ‘Veja, esperarei mais um tempo em busca da esperança da minha salvação’? Veja, sua memória foi removida da terra, [nossos] filhos e filhas, o labor e dor de meu ventre, os quais com labuta criei inutilmente. E você, contudo, se senta na podridão dos vermes, passando as noites debaixo do céu, enquanto eu vagueio... de um lugar a outro e de uma casa a outra, esperando o anoitecer, para que eu descanse de minhas lutas e da dor que agora me agarra.”
Mais adiante, o texto diz que ela passa pela humilhação de cortar seu próprio cabelo e o vender a fim de poder comprar pão.
Em outras palavras, “Tudo está perdido; estamos terminados; não há mais volta; Deus nos abandonou... Ah, Jó, não suporto ver você sofrendo dessa maneira. Abandone Deus e seja libertado dessa miséria terrível.”
Não podemos defender ou justificar a atitude da Dona Jó, mas podemos entende-la.
Lições do Sofrimento Passivo
Passei um tempo mergulhado nesse texto. Fiz algumas observações sobre aqueles que passam por sofrimento passivo ou qualquer que seja o sofrimento. Permita-me compartilhar com você essas observações ou lições que aprendemos com sofrimento passivo.
- Sofrimento passivo pode ser tão doloroso quanto sofrimento ativo.
Apesar de diferente do sofrimento ativo, o sofrimento passivo pode ser tão agudo e afiado. O problema é que a dor secundária pode ser impossível de se expressar.
Enquanto alguém que sofre com dor física diz simplesmente: “Estou em dor,” o que assiste incapaz de ajudar ou aliviar a dor também está em sofrendo—apenas de forma diferente e, talvez, até mais profunda.
- Sofredores passivos podem atingir níveis de desespero mais rápido do que os que sofrem ativamente.
A Dona Jó é prova disso. Ela já decidiu que não vale a pena adorar ou se submeter a Deus; ela já decidiu que não vale a pena viver e agora aconselha seu marido a chegar à mesma conclusão.
Ela já atingiu o nível do desespero—e por que não? A Dona Jó perdeu dez filhos! E perdeu também, em certo sentido, seu marido e seu sustento de vida. Seu marido antes se sentava ao portão da cidade como um líder respeitado—o renomado homem do Oriente. A honra deles se foi e, até onde ela sabe, a esperança também se foi.
No texto hebraico, os verbos amaldiçoa e morre estão no imperativo. Ela dá um conselho urgente e, sem dúvida alguma, debaixo de soluços e lágrimas. Eu a imagino caída ao lado de Jó dizendo: “Jó, desista.”
Contudo, Jó não acata seu conselho—no capítulo 2. Ele não atinge esse nível de desespero—no capítulo 2. Ele se desesperará no capítulo 3 e amaldiçoará o dia do seu nascimento.
Sofrimento passivo pode ser mais tóxico à sua fé do que o sofrimento daqueles que são afetados diretamente pelas tribulações da vida.
- Sofredores passivos têm suas próprias tristezas a suportar e lições a aprender.
Uma placa na sala de uma turma de ensino médio tinha as seguintes palavras: “A experiência é o mestre mais difícil—ela primeiro aplica o teste para depois ensinar.”
Você alguma vez já se sentiu assim? Você ainda está tentando aprender a lição, mas os testes continuam vindo.
Para o sofredor passivo, existem geralmente dois testes, não somente um. Existe o teste de tudo o que está acontecendo à pessoa em sua vida que está sofrendo, e existe o teste do que Deus quer que você aprenda ao sofrer junto com ela.
Uma senhora de nossa igreja escreveu seus pensamentos enquanto observava seu marido buscando um emprego—um processo que incluiu altos e baixos e que durou mais de dois anos. Depois de um tempo de seu marido ter sido despedido enquanto a pressão sobre seus ombros aumentava, juntamente com as contas, ela escreveu um dos devocionais mais profundos. Ela escreveu em um parágrafo intitulado, “Quem me confortará?”:
Ambos foram impactados dramaticamente por essa demissão. Ambos têm grandes necessidades. Ele perdeu seu emprego; você perdeu sua segurança. Ele pensa que perdeu sua identidade porque perdeu o emprego; você pensa que perdeu sua identidade porque sente que o está perdendo. Ele desesperadamente precisa de um emprego e você deseja desesperadamente que ele consiga um emprego.
Em parte, esse foi o testemunho da Dona Jó. Ela dependia de Jó para tudo—para sua existência econômica, sua posição social e para sua posição moral na comunidade. Mas, agora, em questão de minutos, ela também perdeu tudo. Sua renda sumiu, agora que o gado e os servos foram destruídos; sua posição como matriarca e esposa de um príncipe se perdeu.
Sem culpa alguma de sua parte, a vida de Dona Jó foi virada de cabeça para baixo. Ela agora vive de esmolas, suportando a pena e os olhares de suas antigas amigas que a invejavam por sua fortuna, enquanto seu marido—pior de tudo—se senta no lixão da cidade com sua honra destruída, sem sua dignidade, tremendo em dor e febre, sem poder comer, coberto de feridas. Ela agora acredita que a morte repentina será melhor do que a dor constante.
Dona Jó tem suas próprias lições a aprender, perguntas a fazer e lágrimas a derramar. Esse é o seu Getsêmani.
Spurgeon disse certa vez sobre essa cena:
Ah, querido amigo, quando sua tristeza apertá-lo contra o pó, adore ali. Se aquele lugar passou a ser o seu Getsêmani, então apresente ali seu clamor e lágrimas a Deus. Lembre-se das palavras de Davi: “Ó, povo, derramai o vosso coração”—mas não pule o mais importante, complete o verso—“Ó, povo, derramai perante ele o vosso coração.” Vire o barco de ponta-cabeça; é bom esvaziá-lo, pois essa dor pode fermentar e se transformar em algo amargo; vire o barco de ponta-cabeça, e deixe todas as gotas pingarem; deixe tudo pingar diante do Senhor.
- Sofredores passivos podem chegar a conclusões erradas e precisam de ajuda para equilibrar sua perspectiva bíblica e posição piedosa.
Em outras palavras, o sofredor passivo pode precisar que o sofredor ativo o ajude a crescer mais do que o sofredor ativo precisa do sofredor passivo para ajuda-lo a se erguer.
Você alguma vez já visitou alguém que passava por um sofrimento—quer no hospital ou em sua casa—e, quando saiu de lá, saiu com a convicção de que não o ajudou em nada, mas que o sofredor havia fortalecido sua alma? Você se perguntou como ele conseguiria passar por aquilo e ele acabou dizendo como estava saindo daquilo. Você não ajudou em nada; ele o ajudou profundamente.
É exatamente isso o que acontece com a Dona Jó. Ela perdeu seu equilíbrio. Ela vê seu marido no lixão e diz: “Jó, é hora de enterrar seu testemunho de fé, abandonar Deus e morrer.”
Lições do Sofrimento Ativo
Daí, “Jó o Sofredor” se transforma em “Jó o Professor.” Quero compartilhar agora algumas lições a partir da resposta de Jó à sua esposa.
- Sofrimento jamais é uma desculpa para atacar outros.
Veja Jó 2.10a: Mas ele lhe respondeu: Falas como qualquer doida.
Isso soa meio duro a princípio, mas é, na realidade, uma repreensão bondosa. Veja que Jó não chama sua esposa de doida, mas diz: “Você está falando como uma mulher doida fala.”
Ou seja: “Eu sei que você não é assim, apesar de estar falando dessa maneira. Sei que essa não é você de fato.”
Jó não ataca sua esposa, nem a chama de doida, que é o termo hebraico nabal. Essa palavra é usada no Antigo Testamento para se referir a alguém que é ímpio ou que carece de discernimento.
Jó lhe diz, com efeito: “Você está muito acima dessas palavras. Você conhece Deus melhor do que isso. Sei que está desiludida porque tantas coisas têm causado tristeza, mas essa ideia de amaldiçoar Deus é conversa de mulheres que não conhecem a Deus como você conhece.”
Na verdade, essa é uma maneira bondosa de lembrar à sua esposa de algo que ela já sabe.
- O sofrimento é, com bastante frequência, a plataforma sobre a qual verdades profundas são ensinadas.
Jó continua a ensinar em Jó 2.10b: temos recebido o bem de Deus e não receberíamos também o mal?
O verbo hebraico traduzido como recebido, qabal, descreve uma participação ativa e positiva naquilo que Deus concede, não um recebimento meramente passivo.
A Dona Jó tinha desistido; Jó tinha recebido. Ela pensava em resignação e desespero; ele em recebimento e esperança.
Outra mulher que sofreu profundamente escreveu as seguintes palavras:
Resignação e aceitação são duas coisas diferentes. Resignação é submeter-se ao destino; aceitação é submeter-se a Deus. Resignação deita-se quietamente em um universo vão; aceitação ergue-se para se encontrar com o Deus que enche o universo com propósito e destino. A resignação diz: “Não consigo,” enquanto a aceitação diz: “Consigo.” A resignação diz: “Acabou;” a aceitação pergunta: “Agora que estou aqui, o que mais?” A resignação diz: “Que desperdício;” a aceitação pergunta: “Senhor, de que forma podes usar essa confusão em teu plano redentor?”
Foi isso o que escreveu Elizabeth Elliot, a esposa do missionário assassinado por membros de uma tribo indígena no Equador. E essa mulher depois voltou para a mesma tribo, juntamente com Marge Saint e seus filhos, traduziu a Bíblia e testemunhou quase a tribo inteira vindo à fé em Jesus Cristo. Agora, quarenta anos depois, um dos filhos, Steve Saint, veio à nossa igreja alguns meses atrás e anunciou a obra fiel de Deus e as maravilhas de seu plano soberano.
- O sofrimento é o local onde nossa satisfação com a vontade de Deus é provada.
O profeta do Antigo Testamento Habacuque escreveu o seguinte em 3.17–18:
Ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; o produto da oliveira minta, e os campos não produzam mantimento; as ovelhas sejam arrebatadas do aprisco, e nos currais não haja gado, todavia, eu me alegro no SENHOR, exulto no Deus da minha salvação.
E a propósito, sou muito encorajado ao ver que Dona Jó não retrucou. Ela não falou nada em irritação contra a repreensão bondosa e a lição gentil sobre o direito de Deus de conceder alegria e tristeza. Isso sugere que ela concordou e ficou até convicta de seu pecado. Não sabemos, mas pode até ter acontecido um reavivamento em seu próprio espírito naquele dia no lixão da cidade, no montão de cinzas próximo de seu marido sofredor.
Conclusão
A primeira parte do livro de Jó poderia ser intitulada: “Quando a Tempestade Chega.” Ela, de fato, chegou na vida e na propriedade de Jó—sua família, sua riqueza, seus sonhos, seu conforto e seus planos subiram junto com a fumaça.
A última cena da primeira parte revela Jó e sua esposa, talvez juntos ali no chão. Ela não pode reclinar sua cabeça contra o ombro do marido, mas provavelmente se senta ao lado dele. Como ele gostaria de poder abraça-la e confortá-la, mas a única coisa que ele pode fazer é lhe lembrar de que deve confiar na fidelidade de Deus.
Permita-me concluir nosso estudo com um verso de 1 Pedro. Pedro escreveu no capítulo 4.19:
Por isso, também os que sofrem segundo a vontade de Deus encomendem a sua alma ao fiel Criador, na prática do bem.
Veja que Pedro está falando sobre os que sofrem segundo a vontade de Deus.
Jó e Dona Jó não foram os primeiros, nem serão os últimos. Talvez você esteja sofrendo segundo a vontade de Deus, ou experimentando sofrimento passivo ou até ativo.
O que Pedro diz a você? Encomende sua alma ao fiel Criador.
Que conselho maravilho é esse! O verbo grego encomendem, ou paratithemi, é um termo bancário que significa “depositar.” Ele carrega a ideia de depositar um tesouro em um cofre ou em mãos de confiança.
E o nosso Criador não colocou limites em quanto podemos depositar. O que você depositar sob seus cuidados estará seguro. Essa é uma certeza bendita.
Deus jamais dirá ao sofredor: “Desculpe-me, mas isso é mais do que posso suportar. Você atingiu o limite; não posso garantir mais nada.”
Não. Pedro diz: “Quando sofrer, você pode descansar certo de que sua alma e cada detalhe de sua vida estão na poderosa mão de seu Criador. E você pode descansar em sua compaixão e cuidado no meio do seu montão de cinzas, até mesmo quando a fumaça tóxica do sofrimento passivo enche seu coração e mente de medo e dúvida.”
Deus é fiel e poderoso.
A propósito, a mesma palavra grega para encomendem que Pedro usou também foi usada anos antes pelo nosso Senhor quando ele, pendurado na cruz, pronunciou suas palavras finais: Pai, na tua mão entrego [encomendo, deposito] meu espírito (Lucas 23.46).
Se naquela hora de seu sofrimento intenso Jesus pôde confiar sua vida nas mãos e na vontade de seu Pai, então nós também podemos. E quando assim fazemos, nós nos tornamos mais parecidos com Jó e Dona Jó, e ainda mais parecidos com o nosso Senhor e Salvador, Jesus Cristo.
Este manuscrito pertence a Stephen Davey, pregado no dia 18/02/2007
© Copyright 2007 Stephen Davey
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