
Atos de Deus: O Que Existe de Natural em Desastres?
Atos de Deus:
O Que Existe de Natural em Desastres?
Quando a Tempestade Chega—Parte 4
Introdução
A história começava com as seguintes palavras:
O barulho era ensurdecedor. Apesar de ninguém estar perto para ouvir, ele ecoou ao redor do mundo. Nenhum dos passageiros no dc-4 sequer soube o que havia acontecido... eles morreram instantaneamente. Foi no dia 15 de fevereiro de 1947. O voo da empresa Avianca indo para Quito, Equador, colidiu por falta de destreza contra o topo de uma montanha de 4 mil metros de altura que ficava próxima a Bogotá... Em seguida, ele despencou como uma bola de metal em chamas e caiu em um campo embaixo.
Um dos passageiros foi Glenn Chambers. Ele planejava dar início a um ministério chamado “Voz dos Andes,” o sonho de sua vida que de repente terminou; e para seus entes queridos, o sonho dele se tornou um pesadelo.
Antes de sair do aeroporto de Miami no dia anterior, Glenn escreveu às pressas um bilhete para sua mãe em um pedaço de papel que encontrara no chão do aeroporto. Era um pedaço de papel que antes servira como propaganda para alguma coisa. Em um lado estava sua mensagem; no outro estava apenas uma palavra escrita em letras maiúsculas: “Por Quê?”
No período entre a postagem e a entrega desse bilhete pelos correios à casa de sua mãe, Glenn morreu. Quando a carta chegou, ali, olhando fixamente para sua mãe, estava essa palavra terrível; aquela pergunta de lamento: “Por Quê?”
Talvez a pergunta mais comum na vida seja: “Por que isso aconteceu?” E a irmã gêmea dela é: “Onde estava Deus quando isso aconteceu?” Ou ainda: “Por que Deus permitiu que isso acontecesse?”
Se tivéssemos sido os vizinhos de Jó e de sua esposa na época em que os eventos de Jó capítulo 1 aconteceram, teríamos feito as mesmas perguntas. Na verdade, a maioria do restante do livro de Jó não passa de Jó e seus amigos tentando responder essas perguntas. Se não soubéssemos o resto da história, também estaríamos perguntando as mesmas coisas hoje.
Numa tarde, os sonhos de Jó se transformaram em pesadelos. Em nosso estudo anterior, vimos Jó reagindo aos quatro mensageiros:
- Nos versos 14 e 15, o primeiro mensageiro chega e diz a Jó que os sabeus levaram seu gado e jumentos e mataram os empregados de sua fazenda.
- No verso 16, o segundo mensageiro chega e interrompe o primeiro, dizendo a Jó que um fogo tinha caído do céu e consumido 7 mil ovelhas e matado os pastores.
- O segundo mensageiro é interrompido no verso 17 com a mensagem de que os caldeus tinham atacado os negócios de Jó, roubado todos os seus camelos e matado todos os seus empregados, exceto um.
- Nos versos 18 e 19, o quarto e último mensageiro chega e declara a pior de todas as notícias: um vento arremeteu contra a casa do filho mais velho de Jó e todos os seus dez filhos estão agora mortos. Apenas uma pessoa sobreviveu: este mensageiro que ali estava buscando fôlego e enxugando lágrimas dos olhos.
Jó caiu ao chão.
Eu li esse parágrafo novamente e contei quanto tempo levei para fazer isso. Para ler apenas as mensagens que vieram uma após outra—na verdade, o texto indica claramente que esses mensageiros chegaram praticamente ao mesmo tempo e um interrompia o outro com uma nova mensagem—precisei de apenas trinta e nove segundos. Trinta e nove segundos para esmiuçar o coração de Jó e seu mundo despencar ao seu redor.
Se precisamos de uma vida inteira para construir algo, por que muitas coisas são destruídas em questão de segundos?
O problema que Jó enfrentará nos próximos meses não terá nada a ver com os sabeus ou caldeus—eles eram bandidos e guerreiros cruéis. O problema de Jó terá a ver com outros dois eventos—o vento que pareceu ter como alvo a casa de seu filho mais velho e o fogo que desceu do céu.
Empresas de seguro chamariam esses eventos de “atos de Deus.” Mas será que foram? E essa resposta satisfaz?
- Será que Deus está envolvido em tragédias?
- Será que Deus se interessa realmente com o que acontece no planeta que ele criou?
- Será que Deus é poderoso o suficiente para controlar a natureza?
- Será que desastres naturais deveriam ser chamados de “atos de Deus?”
Milhões de pessoas dentro e fora da igreja se perguntam se Deus é indiferente, insensível ou desinteressado. Será que Deus se importa? Será que ele vê as notícias nos jornais?
Um repórter que comentava sobre o furacão Katrina falou por muitos céticos quando disse: “Se este mundo é produto de um design inteligente, então aquele que o projetou precisa dar uma explicação.”
Esse tipo de declaração audaciosa pode nos causar repugnância. Acho interessante que os agnósticos e ateus que não acreditam em Deus pressupõem a existência de Deus ao o insultarem por permitir que desastres ocorram.
O mundo oriental tem uma resposta que não envolve um Deus ativo e pessoal. Orientalistas afirmam que as pessoas afetadas estão vivendo segundo a lei do Karma. A lei do Karma do Hinduísmo afirma que todas as ações da vida hoje são resultados de ações de uma vida passada. Cegueira, pobreza, fome e todas as ações de outros contra nós são expressões de julgamento por obras perversas em uma existência pregressa. Tentar aliviar a dor e a miséria seria interferir com a justiça.
Esse é um dos principais motivos por que países guiados pelo Hinduísmo fazem pouco para ajudar os pobres em seu meio. Pobreza e desastre atingem níveis alarmantes. E por que não, se é culpa da pessoa?
Essa é uma explicação para o sofrimento entendida de forma clara, simples e direta.
A verdade é que, não importa no que cremos, geralmente buscamos explicar desastres naturais e o sofrimento em geral.
Em 2004, muitos muçulmanos criam que Alá havia castigado o sudeste da Ásia com um tsunami no período do Natal porque aqueles dias são repletos de imoralidade e álcool.
O furacão Katrina, que atingiu os Estados Unidos em 2005, foi o terceiro furacão mais forte a atingir o continente na história americana. Aproximadamente duas mil pessoas morreram na tempestade. Ele foi o desastre natural mais caro para o país, atingindo noventa e um bilhões de dólares.
Erwin Lutzer relatou em seu livro intitulado, Onde Estava Deus? que, depois do furacão, muitos muçulmanos disseram que Alá estava ajudando na vingança contra os Estados Unidos pela guerra no Iraque.
Muitos crentes disseram que o furacão foi um julgamento de Deus contra Nova Orleans e seu carnaval com seus desfiles abertos promovendo o homossexualismo.
Um repórter crente em Israel disse que os Estados Unidos sofreram com o desastre porque haviam concordado com a política israelense que expulsava judeus assentados na Faixa de Gaza.
Um líder evangélico nos Estados Unidos disse que o Primeiro Ministro de Israel sofreu um derrame como resultado do julgamento de Deus contra ele por haver dividido a terra de Deus e aberto mão da Faixa de Gaza.
Que teologia horrível! Dizer que Deus não foi capaz de impedir a divisão de sua terra, mas é capaz de causar um derrame cerebral no primeiro ministro como julgamento é ridículo.
Quando tragédias nos atingem, temos a tendência natural de interpretá-las à luz do que cremos que Deus está tentando dizer. Às vezes, somos péssimos porta-vozes de Deus.
O que, então, diríamos sobre esses atos de Deus?
E o que dizer de atos de crueldade do ser humano? Onde estava Deus no dia 11 de setembro de 2001, ou quando bombas explodiram em Madrid em 2004, ou ainda quando terroristas explodiram bombas em julho de 2005 em Londres?
Será que Deus esteve menos envolvido nesses atos do que na catástrofe do tsunami de 2004, o qual ceifou 240 mil vidas? Será que ele dormiu em sua sentinela?
John Piper e Justin Taylor, no livro A Soberania de Deus no Sofrimento, fizeram perguntas semelhantes relacionadas a atos de crueldade. Eles fizeram alusão ao caso de um homem chamado Dennis Rader, cujo lema de vida era “prender, torturar e matar.” John Piper perguntou: “Por que Deus permite que coisas desse tipo aconteçam? Apesar de implorarmos que Deus as impeça, por que ele ainda não as impede?”
Abra os jornais e leia sobre motoristas bêbados matando famílias inteiras. Em nossas igrejas, é comum termos irmãos que experimentaram a dor de um envolvimento direto ou indireto com alguém que foi maltratado, abusado, estuprado, roubado ou até assassinado.
O que dizemos a essas pessoas? O que você diria a Jó?
Abordagens a “Atos de Deus”
Eu agrupei pelo menos cinco abordagens diferentes a essas questões que geralmente rotulamos como “atos de Deus.”
- Existe a abordagem trivial.
Essa pessoa não se preocupa com a questão e diz: “Isso não é da conta da maioria das pessoas. Deus quer que sejamos felizes e acho que o diabo às vezes atrapalha.”
- Existe a abordagem hipócrita.
É claro que aqueles que usam essa abordagem fazem sem perceber!
Esses são crentes que dizem: “Deus não teve nada a ver com o furacão—tudo aquilo foi por causa das forças da natureza. Deus está no controle, mas ele permite que a natureza tome seu rumo.”
O motivo por que chamo isso de algo hipócrita é que a maioria desses crentes ora a Deus quando precisa de chuva e ora pedindo um dia de sol no dia do seu casamento. Eles agradecem a Deus pelo bom tempo, reconhecendo que Deus tem algo a ver com o clima.
Eu li que, depois de um terremoto balançar uma região na Califórnia, um grupo de pastores se reuniu para um café da manhã em oração. Enquanto conversavam sobre as estradas intransitáveis e prédios destruídos, eles concordaram que, no âmbito prático, Deus não teve nada a ver com o desastre. Quando um dos ministros encerrou a reunião com uma oração, ele agradeceu a Deus porque o terremoto acontecera às 5 da manhã quando havia menos carros nas ruas do que um horário mais tarde e havia também menos pessoas nas calçadas. Quando ele terminou a oração, seus colegas concordaram com um forte “Amém.”
Como podemos agradecer a Deus porque o terremoto aconteceu a certa hora se ele não passa de um mero espectador?
- Existe a abordagem impulsiva.
Ouvi um crente sendo questionado em uma reportagem: “Por que Deus não se mostrou presente durante esses desastres?” Esse crente respondeu: “Bom, temos mandado Deus sair de nossas salas de aulas, de nossas escolas e de nosso mundo político... agora, ele se foi; não podemos culpá-lo!”
Essa parece ser uma boa resposta, mas levanta questões complicadas sobre o caráter de Deus. Será que Deus está com birra e amuado por que foi expulso das escolas? Será que ele pegou seus brinquedos e foi para casa por que a sociedade o ignora? Será que Deus “pegou o seu banquinho e saiu de mansinho”?
A propósito, se isso fosse verdade e Deus estivesse cansado do planeta, o que isso diria sobre seu controle soberano e agir onipotente sobre os eventos deste mundo? O que isso significa em relação a essa era da graça e à longanimidade de Deus?
Numa tentativa de remover de Deus a responsabilidade ao dizer a outras pessoas que recebemos o que pedimos, nós acabamos nos tornando os soberanos e Deus dependente de nossas ações, mal humor, legislações e regulamentações.
- Existe a abordagem superficial.
Essa abordagem busca ignorar as questões mais profundas sobre a natureza e o caráter de Deus e foca nos problemas mais simples. A igreja faz uso dessa abordagem por causa de sua falta de conhecimento teológico profundo ou indisposição de crescer em entendimento.
John Piper ainda comentou mais adiante que “a igreja não tem investido energia para se aprofundar no inescrutável Deus da Bíblia. Contra a forte evidência e seriedade das Escrituras, a igreja, em nossos dias, tem escolhido se tornar mais leve e superficial, além de focada em entretenimento. Portanto, ela se tornou irrelevante [enquanto ao mesmo tempo afirma ser relevante. A verdade é que] o Deus popular de igrejas legais é, simplesmente, pequeno demais e sociável demais para segurar em suas mãos um furacão.”
- Finalmente, existe a abordagem da indisposição para responder.
Nós seguimos essa abordagem quando simplesmente não nos importamos em tentar responder, e somos culpados disso. Realmente temos dificuldades em condensar uma solução em uma resposta com três sentenças.
Princípios sobre Os “Atos de Deus”
Permita-me oferecer alguns princípios para considerar quando você estiver ponderando em uma resposta e reconhecendo a soberania de Deus no meio de desastres naturais.
- Primeiro princípio: o sofrimento na terra é mais comum do que geralmente reconhecemos.
Os jornais nos levam a alguma cidade ou vilarejo onde pessoas morreram em um deslizamento de terra, numa avalanche ou tornado. Parece que estamos cercados de desastres naturais e a mídia nos leva de uma crise a outra.
A verdade é que perguntar por que pessoas morrem quando desastres naturais ocorrem é semelhante a perguntar por que pessoas morrem.
Sabendo ou não disso, 6 mil pessoas morrem a cada hora em todo o planeta—a maioria delas como resultado de algum tipo de sofrimento. Quando eu tiver terminado esta sentença, 700 pessoas terão morrido. Muitas delas morrerão de doenças, crimes, acidentes, suicídio, fome e desastres naturais.
Na verdade, mais crianças morrerão no mundo por causa da fome do que a soma total de crianças e adultos morreram quando o furacão Katrina atingiu Nova Orleans em 2005. O único motivo por que desastres naturais chamam nossa atenção é que eles intensificam dramaticamente a ocorrência diária de morte e destruição.
A realidade é que existe sofrimento e morte na terra e eles são mais comuns do que podemos compreender.
- Segundo princípio: o mundo sofredor de hoje não é o mesmo mundo criado por Deus.
Paulo escreveu em Romanos 8.18–19, 22–23, 25:
Porque para mim tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória a ser revelada em nós. A ardente expectativa da criação aguarda a revelação dos filhos de Deus… Porque sabemos que toda a criação, a um só tempo, geme e suporta angústias até agora. E não somente ela, mas também nós, que temos as primícias do Espírito, igualmente gememos em nosso íntimo, aguardando a adoção de filhos, a redenção do nosso corpo… Mas, se esperamos o que não vemos, com paciência o aguardamos.
Nesse parágrafo, Paulo faz uma conexão direta entre a queda do homem no pecado e a maldição sobre a criação.
O mundo que Deus criou originalmente e o que agora explode com terremotos, deslizamentos e inundações são sistemas mundiais diferentes; o mundo de hoje está fora de ritmo. A ordem da criação aguarda a restauração que Deus efetuará.
Um autor disse que a natureza é amaldiçoada porque o homem foi amaldiçoado; o mal natural e a brutalidade (que existem no mundo animal e físico) é um reflexo do mal moral no sentido de que ambos são selvagens, cruéis e danosos. A natureza é um espelho no qual nos vemos a nós mesmos.
Isso pode facilmente conduzir ao desespero.
Isso fica evidente nas palavras de Voltaire, o cético francês, o qual escreveu: “Somos insetos vivendo por alguns poucos segundos em átomos de barro e não conseguimos compreender os projetos de um Criador infinito.”
A verdade é que, sem a palavra revelada de Deus, não teríamos resposta alguma para a dor e o sofrimento. William James estaria certo ao dizer que somos todos como cachorros dentro de uma biblioteca—vendo os livros mas incapazes de ler as palavras.
A humanidade é caída e a natureza junto com ela, mas nenhuma das duas caiu das mãos soberanas, do plano ou do propósito de Deus. Deus não abandonou o controle diário de sua criação. Apesar de ter estabelecido leis físicas pelas quais governa as forças da natureza, essas leis operam continuamente segundo a sua soberana vontade.
Jó ouvirá mais adiante essa verdade de forma clara e direta:
ele o solta por debaixo de todos os céus, e o seu relâmpago, até aos confins da terra… Porque ele diz à neve: Cai sobre a terra; e à chuva e ao aguaceiro: Sede fortes… Pelo sopro de Deus se dá a geada, e as largas águas se congelam. Também de umidade carrega as densas nuvens, nuvens que espargem os relâmpagos. Então, elas, segundo o rumo que ele dá, se espalham para uma e outra direção, para fazerem tudo o que lhes ordena sobre a redondeza da terra. E tudo isso faz ele vir para disciplina, se convém à terra, ou para exercer a sua misericórdia (Jó 37.3, 6, 10–13).
Um meteorologista crente concluiu que existem mais de 1400 referências e terminologias ao clima nas Escrituras. Muitas delas atribuem o clima ao controle direto e propósito de Deus.
Davi escreveu no Salmo 147.8, 16–18:
que cobre de nuvens os céus, prepara a chuva para a terra, faz brotar nos montes a erva… dá a neve como lã e espalha a geada como cinza. Ele arroja o seu gelo em migalhas; quem resiste ao seu frio? Manda a sua palavra e o derrete; faz soprar o vento, e as águas correm.
O profeta Amós incluiu o testemunho do próprio Deus em Amós 4.7:
Além disso, retive de vós a chuva, três meses ainda antes da ceifa; e fiz chover sobre uma cidade e sobre a outra, não; um campo teve chuva, mas o outro, que ficou sem chuva, se secou.
A verdade é que todas as expressões da natureza, todos os acontecimentos no clima, quer seja um tornado devastador ou uma chuva leve de primavera, todos esses são atos de Deus. Deus controla todas as forças da natureza, tanto as destrutivas como as produtivas, momento após momento e de forma contínua. Isso significa que o crente nunca é uma vítima dos poderes da natureza, do acaso ou do destino.
A causa indireta de nossa morte ou sofrimento pode ser a natureza ou a violência, mas por trás disso está o plano e o propósito de Deus.
Jesus Cristo, em seu Sermão do Monte, disse conforme registrado em Mateus 5.45:
para que vos torneis filhos do vosso Pai celeste, porque ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons e vir chuvas sobre justos e injustos.
Um teólogo escreveu:
Nada—absolutamente nada—nenhuma coisa má, pessoa má ou evento natural doloroso está fora da vontade ordenada de Deus. Nada surge, existe ou permanece independente da vontade de Deus. Então, quando até mesmo os piores males caem sobre nós, eles não procedem de outra coisa senão da mão de Deus.
O primeiro princípio é: o sofrimento na terra é mais comum do que geralmente reconhecemos. O segundo princípio é: o mundo sofredor de hoje não é o mesmo mundo criado por Deus.
- Terceiro princípio: o caráter e a obra de Deus na terra são diferentes do que imaginamos.
Meu amigo, se a revelação bíblica de Deus é a de que ele é absolutamente soberano, então, no fundo, Deus é o responsável.
Será que a Palavra de Deus apoia isso?
Quando vemos alguém catando coisas nos escombros de sua casa destruída por um desastre, qual das duas respostas transmite mais conforto a ela?
- “Bom, não sei por onde Deus estava andando, mas tenho certeza de que ele não queria que isso acontecesse.”
- Ou: “Esse acontecimento foi permissão de Deus, o qual é digno de sua confiança e esperança. Ele faz o que é certo e, um dia, esclarecerá seus propósitos.”
Naum nos apresenta a um Deus misterioso. Ele escreveu em Naum 1.3: o SENHOR tem o seu caminho na tormenta e na tempestade.
Davi escreve no Salmo 115.3 que Deus não presta contas a ninguém: No céu está o nosso Deus e tudo faz como lhe agrada.
O registro de Isaías concorda com essa verdade: Jurou o SENHOR dos Exércitos, dizendo: Como pensei, assim sucederá, e, como determinei, assim se efetuará.
Em Isaías 45.7, Deus diz algo ainda mais chocante ao declarar: Eu formo a luz e crio as trevas; faço a paz e crio o mal; eu, o SENHOR, faço todas estas coisas.
A igreja hoje faz de tudo para não culpar Deus enquanto Deus assume a responsabilidade. Parece que nós estamos mais preocupados com a reputação de Deus do que ele.
Este é o universo de Deus; aquela foi a sua tempestade, o seu raio, a sua enchente, o seu sol e a sua nevasca!
Você acha que Deus não está no controle de desastres naturais? Diga isso a Noé!
Davi escreveu no Salmo 19.1a que Os céus proclamam a glória de Deus.
Paulo escreveu que a criação de Deus e as obras da natureza revelam o atributo do poder de Deus (Romanos 1.20).
E por que Deus não mantém tudo como um mar de rosas e com céu limpo? Daqui a pouco vou dar a você seis razões para isso.
Antes, contudo, precisamos ser reapresentados a um Deus que nos causa desconforto; um Deus que, conforme Davi escreveu, é completamente diferente de nós (Salmo 50.21).
Vamos conhecer o Deus sobre o qual Salomão escreveu em Provérbios 25.2: A glória de Deus é encobrir as coisas. É sobre esse Deus que lemos em Isaías 45.15: Verdadeiramente, tu és Deus misterioso, ó Deus de Israel, ó Salvador. Esse é o Deus cuja palavra a nós pode ser simplesmente, Aquietai-vos e sabei que eu sou o Senhor (Salmo 46.10).
C. S. Lewis disse que Deus, na verdade, fala mais alto quando sofremos. Você já percebeu isso? Ele escreveu: “Deus cochicha em nossos ouvidos durante tempos de deleite, fala em nossa consciência, mas grita em nossa dor; a dor é o megafone para despertar um mundo surdo.”
Propósitos dos “Atos de Deus”
O que o relato da vida de Jó até agora, bem como a perspectiva das Escrituras ao Deus se revelar, nos diz acerca dos propósitos dos sofrimentos como atos de Deus?
- Primeiro, os atos de Deus são um lembrete dos valores na vida.
Agostinho escreveu certa vez: “Deus nos daria algo, mas não dá porque nossas mãos estão cheias.” Quando tudo o que temos é arrancado de nós e ficamos de mãos vazias, descobrimos novamente as coisas realmente importantes.
Acho interessante que, depois da destruição do furacão Katrina, a governadora do estado convocou todos os moradores a um dia de oração, dizendo: “Precisamos nos voltar para Deus em busca de força, esperança e conforto.”
Se ela tivesse dito isso alguns dias antes do desastre ter acontecido, teria sido vaiada pela imprensa e por seus colegas, teria provavelmente perdido sua credibilidade como líder do seu estado e talvez até perdido seu posto.
Atos de Deus nos lembram da verdade sobre a vida.
- Segundo, atos de Deus nos levam a abrir mão de certas expectativas para a vida.
Coisas que pensávamos que tínhamos o direito de possuir desaparecem. Falência financeira, doença e um acidente nos lembram de que nossa expectativa na vida deve estar em Deus e em Deus somente.
- Terceiro, atos de Deus fornecem uma perspectiva realista a respeito da brevidade da vida.
Poderia ter sido você naquela tempestade. Poderia ter sido você no jornal das 6.
Quando as coisas estão indo bem, ficamos na ilusão de que a vida é algo já certo. Daí, nosso peito começa a doer. Quando nos damos conta, estamos em um leito de hospital conectados a vários fios e alguns médicos ao lado dizendo: “Você chegou na hora exata.”
A verdade é que, estejamos nós cientes disso ou não, hoje poderia ser o nosso último dia na terra!
- Quarto, desastres nos alertam quanto ao julgamento eterno sobre todos os viventes.
“A natureza reflete os atributos graciosos de Deus, mas também seus atributos de ira e justiça (Jó 37.7, 10–13).”
Acidentes que tiram as vidas de outros são um lembrete de um julgamento vindouro do qual não haverá saída.
Em Lucas 13, o Senhor estava pregando logo após uma torre ter caído. Esse foi um desastre inesperado que resultou na morte de dezoito pessoas. O Senhor Jesus usou esse incidente em seu sermão como uma ilustração de que todos morrerão um dia. Ele disse, com efeito: “Vocês estão prontos para ser julgados? Já se arrependeram de seus pecados?”
O sofrimento de pessoas ao redor do mundo serve para ilustrar o fato de que a humanidade caída será, um dia, ou libertada do sofrimento em glória, ou condenada a sofrimento eternamente. A perda inesperada da vida nos relembra de que todos teremos uma entrevista com Deus.
David Miller escreveu: “Desastres naturais fornecem às pessoas uma evidência conclusiva de que a vida na Terra é breve e incerta.”
O próximo princípio é o seguinte:
- Quinto, desastres são um convite para se andar com Deus pela vida.
Deus não promete ausência de tempestades, mas ele promete estar conosco nas tempestades. Então, como Warren Wiersbe escreveu certa vez: “Não fique amargurado, cresça!”
Não seja como o homem sobre o qual li recentemente que reagiu de forma interessante a uma experiência dolorosa. Ele tinha sido mordido por um cachorro e o médico lhe disse que tinha contraído raiva. Ao ouvir isso, o paciente pegou um papel e uma caneta e começou a escrever. Pensando que o homem estava escrevendo seu testamento, o médico disse: “Ei, não se preocupe, existe cura para a raiva.” O homem respondeu: “Eu sei disso. Estou só fazendo uma lista de pessoas que quero morder.”
Desastres acontecem e eles são o megafone de Deus, dizendo: “Ande comigo.”
- Finalmente, desastres na vida são lembretes de que o sofrimento um dia será substituído, no caso dos crentes, por alegria eterna.
Paulo escreve: “Digo a vocês que o sofrimento do presente não pode ser comparado com a glória que será revelada em vocês” (Romanos 8.18).
Quando o Titanic afundou, mais de mil pessoas morreram nas águas geladas do Atlântico. As causas imediatas foram erro humano, um iceberg, falta de botes salva-vidas, águas congelantes... mas a causa final foi Deus, o qual determinou que seus dias na terra haviam se cumprido.
Após a notícias da tragédia do Titanic terem se espalhado pelo mundo, o desafio passou a ser como informar os parentes se os entes queridos estavam entre os mortos ou vivos. No escritório da empresa de viagem White Star Line em Liverpool, Inglaterra, foi colocado um mural grande. De um lado estava uma placa de papelão com a palavra “Salvos,” e do outro lado estava a placa dos “Perdidos.” Centenas de pessoas se aglomeraram para acompanhar as constantes atualizações dos nomes. Quando um mensageiro trazia novas informações, os que aguardavam seguravam o fôlego atônitos para descobrir em qual lado o nome seria escrito.
Apesar de os viajantes do Titanic terem sido divididos em primeira, segunda e terceira classe, depois que o navio afundou havia apenas duas categorias: os salvos e os perdidos.
Meu amigo, no final da história humana quando chegar o julgamento de Deus, o qual não se comparará em nada aos desastres na terra, haverá apenas duas categorias que realmente importarão: os que foram salvos e os que foram perdidos.
Para os salvos, o sofrimento começará a fazer sentido. Para os perdidos, o sofrimento estará apenas começando—para nunca acabar.
Você está preparado, não somente para os atos de Deus na terra, mas para o ato final do julgamento de Deus quando você estiver diante dele um dia?
Para os que creem, os que serão conduzidos à cidade celestial e à nova terra, todo sofrimento começará a fazer sentido—na verdade, provavelmente nada disso já importará, pois a tristeza terá sido trocada por alegria eterna.
Este manuscrito pertence a Stephen Davey, pregado no dia 28/01/2007
© Copyright 2007 Stephen Davey
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