
A Última Defesa de Um Homem Desesperado
A Última Defesa de Um Homem Desesperado
O Silêncio do Céu—Parte 12
Jó 25–31
Introdução
Eventos heroicos realizados por homens—especialmente em campos de batalha—sempre fascinam o espírito humano. Existem centenas de filmes sobre a Primeira e a Segunda Guerra Mundial, a Guerra do Vietnã, guerras no Iraque e muitas outras. Isso me leva a crer que, se Alexandre o Grande tivesse uma câmera, ele teria filmado muitos atos de heroísmo e bravura para eu fossem tocados por gerações.
Um dos eventos de guerra favorito da antiguidade é a resistência dos espartanos em 480 a.C. A coragem desses guerreiros originou uma lenda que ainda é assunto de conversas hoje.
Quando Xerxes liderou cem mil persas a Termópilas na primavera de 480 a.C., eles foram confrontados por cinco mil gregos que simplesmente não desistiam. Um dos guerreiros gregos que fazia reconhecimento relatou que “O número de persas era tão vasto que, quando atiraram flechas, a luz do sol escureceu-se pela sua multidão.”
Um soldado chamado Dieneces respondeu a todos os soldados ao seu redor dizendo, “Nosso companheiro nos traz boas-novas. Se os persas escurecem o sol com suas flechas, poderemos lutar na sombra.”
Que atitude tremenda ao se batalhar cem mil soldados—o que fizeram, e acabaram todos morrendo. Esse evento se tornou a resistência militar mais famosa da história.
No estado do Texas, Estados Unidos, onde morei enquanto estava no seminário, existem muitos objetos de recordação da batalha do Álamo. Em 1836, os texanos lutaram pela independência da República do Texas do poder do México. O exército mexicano, com seis mil soldados, marchou para pôr fim à rebelião. Prontos para se defenderem e atrapalhando o caminho, havia um grupo de 188 soldados escondidos dentro de um prédio da Missão Espanhola conhecido como Álamo. Quando o exército mexicano deu-lhes a oportunidade de se render, os americanos responderam, “Nossa bandeira balança sobre estas paredes. Jamais nos renderemos, nem bateremos retirada.”
Esses 188 homens resistiram aos mexicanos por doze dias, até que foram capturados e mortos.
Por mais corajoso que pareça ser resistir diante de um exército muito superior, ou batalhar contra guerreiros debaixo de um sol escurecido pelo imenso número de flechas, ou atirar de dentro de quartos de uma Missão Espanhola, nada se compara à coragem de defender sozinho a santidade e verdade do Evangelho.
Eu já entrei na igreja de John Knox e fiquei olhando o seu púlpito elevado, preso à uma coluna enorme. Daquele púlpito, ele era a única voz que pregava contra as atrocidades sanguinárias da rainha Maria. Não havia soldado algum para encorajá-lo.
Também entrei na capela de John Wesley e fiquei imaginando como de ter sido pregar com grande coragem, ser uma das vozes solitárias contra a escravidão, e ver a congregação reagindo com motins despedaçando todos os bancos. Que coragem!
Nunca preguei uma mensagem durante a qual pessoas começaram a jogar cadeiras para o ar e ameaçar minha vida.
Gostaria muito de poder visitar o tribunal de Worms, onde Martinho Lutero, em 1521, foi levado a julgamento por heresia. Ali, diante dos mais poderosos líderes políticos e religiosos da época, ele se pôs de pé sozinho e disse, “Minha consciência está cativa à Palavra de Deus. Não posso, nem irei me retratar. Aqui permaneço eu. Não posso fazer outra coisa.”
Uma coisa é encarar dificuldades, angústias e até mesmo a morte cercado de amigos e admiradores. Outra coisa é encarar tudo isso sozinho.
É como João Batista que apontou o dedo para Herodes e lhe disse que era um adúltero por se casar com a esposa de seu irmão.
É como o profeta Jeremias também, o qual proclamou verdades perturbadoras à sua nação e, como resultado, foi lançado dentro de um poço abandonado onde afundou na lama até ser resgatado um tempo depois da morte certa.
O principal exemplo é o nosso Senhor, o qual suportou a mais cruel de todas as mortes, experimentando o ódio do povo que Ele tinha vindo salvar. Ele até passou pelo abandono do Pai quando os céus se escureceram com julgamento divino, enquanto também era abandonado por todos os que O seguiam. Ninguém jamais ficou tão sozinho como Ele ficou.
Existe algo especialmente corajoso, admirável e raro na pessoa que resiste sozinha em defesa da honra e verdade de Deus.
Talvez até mesmo agora, você se encontra nessa posição no dormitório, no escritório do trabalho ou em sua família onde Cristo é rejeitado, mas, para você, Ele é o Salvador. Você sabe muito bem o sentimento de estar sozinho.
Estamos prestes a ver a defesa final de Jó. A última onda de flechas virá escurecendo o céu contra o servo de Deus sofredor. Jó recusará render sua integridade, e ele ficará praticamente sozinho. Ele apresentará seu último e mais longo discurso, seguindo a acusação curta de Bildade.
Depois disso, Eliú condenará Jó, sendo seguido imediatamente por Deus. O silêncio do céu está prestes a ser quebrado.
Se havia dúvidas de que Jó estava se agarrando à sua integridade, caráter e confiança em Deus, apesar de confuso, em dores e sendo desafiado, esses capítulos esclarecerão as coisas de uma vez por todas.
Satanás perderá sua batalha; Jó não dará as costas para Deus.
A Denúncia Final de Bildade
Vamos olhar Jó 25 e observar a última denúncia de Bildade contra Jó. Tudo o que ele diz está certo, mas ele chega à conclusão errada.
- Bildade fala sobre o poder de Deus em Jó 25.2–3:
A Deus pertence o domínio e o poder; ele faz reinar a paz nas alturas celestes. Acaso, têm número os seus exércitos? E sobre quem não se levanta a sua luz?
- Bildade insinua a perfeição de Deus ao falar em Jó 25.4:
Como, pois, seria justo o homem perante Deus, e como seria puro aquele que nasce de mulher?
Em outras palavras, “Jó, como você ou qualquer outra pessoa pode se colocar diante de Deus, o qual tem perfeição santa?”
Jó já respondeu a isso em Jó 19.25, quando declarou sua fé: Porque sei que o meu Redentor vive, e por fim se levantará sobre a terra.
Agora, essa é a última defesa pela qual esperamos.
- Bildade conclui falando sobre a pureza de Deus em Jó 25.5–6:
Eis que até a lua não tem brilho, e as estrelas não são puras aos olhos dele. Quanto menos o homem, que é gusano, e o filho do homem, que é verme!
Isso é algo encorajador! Bildade diz, “Jó, você é uma larva e um verme.”
É de se esperar que Jó responderia em Jó 26.2–3, dizendo:
Como sabes ajudar ao que não tem força… Como sabes… revelar plenitude de verdadeiro conhecimento!
O discurso de Bildade foi reverente, mas irrelevante. Ele revelou a depravação do homem, mas não ofereceu a libertação da salvação.
A mensagem primária da Bíblia não é a depravação humana, mas a redenção justificadora por meio da obra da cruz de Cristo Jesus. O fato maravilhoso é que Cristo morreu por vermes como nós. A graça de Deus resgatou uma larva como eu.
Você pode dizer, “Essa é uma autoimagem terrível.”
Não, não é—ela é a verdade. Paulo disse em Romanos 7.24–25:
Desventurado homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte? Graças a Deus por Jesus Cristo.
Essa é a graça maravilhosa do Evangelho de Cristo que salva um depravado como eu.
Parte do problema da igreja hoje é que saímos por aí tentando fazer com que todos nos tratem como se fôssemos algum tipo raro de borboleta, quando na verdade somos uma larva.
Estamos na companhia de larvas que um dia sairão no esplendor de corpos glorificados e espíritos purificados. Mas, até lá, o melhor que fazemos é nos lembrar do pior que somos.
O problema não é que Bildade tenha dito algo errado; o problema é que ele deixa Jó sem esperança. Ele diz, “Jó, você não passa de uma larva e de um verme.”
Isso é verdade, mas e a graça de Deus?
“Você é um verme, Jó”—e Jó poderia ter baixado a cabeça, olhado para os seus braços e, como a maioria de nós, ter caído em prantos e dito, “Você está certo—não vale a pena seguir a Deus.”
A Resposta de Jó
Ao invés de começar uma diatribe contra a indignidade de Deus, contudo, Jó começa a descrever a grandeza de Deus.
Na longa resposta de Jó a Bildade e aos outros homens, Jó ecoa cinco perguntas sobre as quais a humanidade ainda se pergunta. Ele fornecerá resposta para algumas delas, enquanto outras apenas acompanharão as palavras de sua agonia.
- Primeira pergunta: Quem pode compreender a grandeza de Deus?
Em Jó 26.5–14, Jó convida Bildade a viajar às profundezas do submundo—o lugar do túmulo; a descer o máximo possível na terra; depois, viajar em direção ao norte, direto para além da atmosfera terrestre até chegar no nosso universo. Daí, ele aponta para Deus, o soberano sobre tudo. Desde o ponto mais inferior que se possa imaginar, até o ponto mais elevado, Deus está sobre tudo. Jó diz em Jó 26.14, “Adivinha o que, Bildade?” Isto são apenas as orlas dos seus caminhos!
Que pensamento profundo. Não importa quão fundo desçamos, ou quão alto subamos, atingimos apenas as suas orlas, as orlas dos caminhos de Deus. Nem chegamos perto do centro de Sua glória e poder escondidos. Podemos apenas ver as orlas e ouvir os sussurros de Sua grandeza.
Jó diz, “Bildade, você pensa que já entendeu as coisas e que já entendeu Deus. Você nem passou das orlas de Sua grandeza. Quem pode compreendê-lO? Bildade, sua adoração a Deus é limitada demais porque sua visão de Deus é pequena demais!”
A. W. Tozer nos fornece uma advertência poderosa em seu livreto intitulado, O Conhecimento do Santo. Ele escreve:
Um conceito elevado de Deus é tão importante à igreja que, quando esse conceito cai em certa medida, a igreja cai junto com ele em sua adoração e padrões de moralidade. O primeiro passo de declínio para qualquer igreja ocorre quando ela abre mão de sua perspectiva sublime de Deus. O maior serviço que prestamos à próxima geração de crentes é repassar a eles, sem qualquer obscurecimento e redução, esse nobre conceito de Deus.
O alívio para nós surge ao confiarmos, seguirmos e obedecermos um Senhor grande, soberano, inexplicável, majestoso e misterioso.
Um autor escreveu:
Quando existem feridas em seu corpo escorrendo com pus e sua febre não baixa, você precisa adquirir a perspectiva de Jó. “Não entendo... mas tenho um Deus soberano sobre o universo que entende. E todas as coisas que Ele faz são certas. Ele está em controle. Eu sou o barro, Ele é o Oleiro. Eu sou o discípulo, Ele é o Senhor. Eu sou a ovelha, Ele é o Pastor. Eu sou o servo, Ele é o mestre.”
Permita que o sofrimento o leve de volta a um conceito elevado desse Deus majestoso e misterioso que opera sem explicação e age muito além do nosso entendimento. Tudo o que conseguimos compreender desse Senhor majestoso são as orlas de Sua ação.
É por isso que Jó diz em Jó 27.3–4:
enquanto em mim estiver a minha vida, e o sopro de Deus nos meus narizes, nunca os meus lábios falarão injustiça, nem a minha língua pronunciará engano.
Essa é a defesa definitiva de um homem desesperado. Jó diz, “Não me deixarei ser abalado.” Em outras palavras, “Não entendo, mas não abandonarei meu caráter ou confiança em Deus.”
O que se segue no capítulo 27 é uma pergunta lógica de Jó.
- Segunda pergunta: Tendo em vista esse Deus grandioso e poderoso, por que a humanidade ignora o julgamento vindouro de Deus?
Como a humanidade é tola em ignorar Deus! Veja Jó 27.8:
Porque qual será a esperança do ímpio, quando lhe for cortada a vida, quando Deus lhe arrancar a alma?
Então por que a humanidade ignora sua consciência e foge de Deus? Porque pensam que irão escapar ilesos dos seus pecados. Veja Jó 27.21–22:
O vento oriental o leva, e ele se vai; varre-o com ímpeto do seu lugar. Deus lança isto sobre ele e não o poupa, a ele que procura fugir precipitadamente da sua mão;
“Ah, eu consigo escapar disso—Deus não me julgará!”
Que maneira tola de se viver.
Enquanto Jó resiste de forma definitiva, ele se pergunta, assim como os demais sofredores, onde ele encontrará sabedoria para lidar com a vida.
Tiago 1.5 diz que, quando o crente estiver cercado por várias tribulações, ele deve pedir sabedoria a Deus e ele lhe dará. Tiago poderia ter adicionado, “um pouco de cada vez, na hora certa!”
- Terceira pergunta: Onde podemos encontrar verdadeira sabedoria?
Agora, em Jó 28, Jó faz uma terceira pergunta—e ele fornecerá uma resposta bem mais longa do que a resposta de Tiago.
A primeira coisa que Jó diz é que não podemos garimpar sabedoria do fundo da terra. Veja Jó 28.13–14:
O homem não conhece o valor dela, nem se acha ela na terra dos viventes. O abismo diz: Ela não está em mim; e o mar diz: Não está comigo.
Nós não somente não podemos garimpar sabedoria da terra, mas, segundo, não podemos comprar sabedoria das mãos de outras pessoas. Veja Jó 28.15: Não se dá por ela ouro fino, nem se pesa prata em câmbio dela.
Não existe nenhuma promoção de sabedoria; o Wal-Mart não a vende, nem o Carrefour. Nem mesmo os maiores depósitos a estocam.
Então, onde podemos conseguir sabedoria? Jó e Tiago respondem. Veja Jó 28.23: Deus lhe entende o caminho, e ele é quem sabe o seu lugar.
Pule para o verso 28: E disse ao homem: Eis que o temor do Senhor é a sabedoria, e o apartar-se do mal é o entendimento.
O segredo foi revelado. Sabedoria é resultado de alguma coisa. Conseguimos sabedoria ao fazermos duas coisas—não depois de fazê-las, mas enquanto praticamos estas duas coisas:
- Primeiro, conseguimos sabedoria quando adoramos a Deus com total reverência.
É isso o que Jó quer dizer com temor do Senhor. Significa que encaramos Deus com seriedade.
- Segundo, conseguimos sabedoria não somente quando adoramos a Deus com total reverência, mas quando andamos com Deus em obediência sincera.
Encaramos a vida com seriedade; ela deve ser vivida para a glória de Deus.
Sabedoria vem àqueles que adoram a Deus e andam com Deus. Quando há submissão e sujeição a Deus, sabedoria se torna a nossa companheira.
Agora, Jó fará uma pergunta e a responderá com outra pergunta perceptiva no capítulo 29. Contudo, a maioria dos estudiosos crê que Jó faz uma pausa no final do capítulo 28, como que esperando Zofar falar alguma coisa.
Zofar ainda não proferiu seu último discurso—e ele não fala. Ou ele foi embora, ou, mais provavelmente, reconheceu que não tem mais nada a dizer.
Mas Jó tem! Ele começa em Jó 29.1.
- Quarta pergunta: Como definimos felicidade verdadeira?
Acho fascinante que Jó meio que se escora em seu cotovelo e começa a conversar sobre os velhos tempos felizes. Essa não é uma atitude estranha às pessoas que sofrem. Às vezes, elas são encorajadas ao refletirem sobre dias mais fáceis e momentos sem preocupações. Elas dão uma volta na “Praça da Nostalgia.”
Porém, quando caminhamos atrás de Jó por essa praça, vemos que ele define a felicidade verdadeira. De suas palavras, podemos retirar cinco ingredientes de uma vida contente e feliz.
- O primeiro ingrediente da felicidade verdadeira é uma consciência da presença e cuidado de Deus.
Observe Jó 29.2–3:
Ah! Quem me dera ser como fui nos meses passados, como nos dias em que Deus me guardava! Quando fazia resplandecer a sua lâmpada sobre a minha cabeça, quando eu, guiado por sua luz, caminhava pelas trevas;
Existem várias passagens que nos informam que Jó cria que Deus estava ciente de suas necessidades, mas isso havia sido mais óbvio nos dias mais felizes do passado. Na verdade, o que fazia dos velhos dias tempos tão bons era o sentimento de que Deus estava perto.
Veja Jó 29.4: como fui nos dias do meu vigor, quando a amizade de Deus estava sobre a minha tenda
- O segundo ingrediente da felicidade é uma apreciação pelo que Deus lhe havia concedido.
Jó diz em Jó 29.5–6:
quando o Todo-Poderoso ainda estava comigo, e os meus filhos, em redor de mim; quando eu lavava os pés em leite, e da rocha me corriam ribeiros de azeite.
Em outras palavras, “Cara, a vida era boa demais. Lavava meus pés em leite; estava cercado por manjares deliciosos.”
Isso se assemelha a entrar numa recepção de casamento e descobrir que existe uma mesa coberta de morangos enormes e fontes de chocolate por todo lado. Você pode ficar ali pelo resto da vida! Além disso, existem pedaços e banana e abacaxi. Você pode ficar ali até perder sua reputação—ou até que sua esposa diga, “Amor, tem uma fila enorme de pessoas iradas atrás de você.”
Esse casamento foi bom demais!
Jó pega o cardápio de sua época e o exagera a fim de mostrar como a vida era boa—“eu lavava meus pés em leite.”
Contudo, Jó vai mais fundo do que somente comida.
- Terceiro, felicidade para Jó significava ter a oportunidade de influenciar outras pessoas.
Em Jó 29.7–11, ele fala sobre ir ao portão da cidade e tomar seu assento.
- O quarto ingrediente da verdadeira felicidade inclui a oportunidade de ser generoso e compassivo para com os necessitados.
Jó fala disso em Jó 29.12–20.
- Finalmente, para Jó, a verdadeira felicidade era encontrada em um lugar de respeito conquistado por meio de conselho piedoso.
Encontramos isso em Jó 29.21–25.
Esse capítulo é singular quando comparado a tudo o que Jó já disse no livro. Creio que esse capítulo está preparando o palco para a terrível aflição de Jó quando ele passa a relatar no próximo capítulo as maneiras como circunstâncias alegres se transformaram em uma vida azeda e amarga.
Na verdade, Jó 30 é uma catalogação de mudanças catastróficas na vida de Jó. O objetivo é nos mostrar que tudo o que ele tinha no capítulo 29 foi invertido no capítulo 30.
Ele conclui essa catalogação de sua dor ao escrever em Jó 30.27–31:
O meu íntimo se agita sem cessar; e dias de aflição me sobrevêm. Ando de luto, sem a luz do sol; levanto-me na congregação e clamo por socorro. Sou irmão dos chacais e companheiro de avestruzes.
Em outras palavras, “Somente animais selvagens querem ter alguma coisa a ver comigo.”
Enegrecida se me cai a pele, e os meus ossos queimam em febre. Por isso, a minha harpa se me tornou em prantos de luto, e a minha flauta, em voz dos que choram.
É neste ponto que esperaríamos que Jó fosse desistir.
Talvez você já tenha chegado a esse ponto também—ou talvez esteja nele neste exato momento.
Você se lembra dos bons tempos quando o leite era abundante, quando seus filhos estavam próximo de você, quando Deus parecia estar mais perto. Aqueles foram bons tempos.
Agora, tudo parece estar perdido. Existem dias de aflição, dor, sofrimento, perda, doença, dívida, abandono—uma harpa que agora só toca lamento e uma flauta que toca pranto.
Chegou a hora de você não abrir mão de sua convicção, mas de resistir em sua fé corajosa e definitivamente.
Para mim, nesse momento, Jó se torna um sofredor incrível. Em face ao sofrimento, ele finca seus pés no chão e faz novos compromissos com Deus. Ele diz basicamente, “Não abrirei mão da minha integridade; não lançarei fora meu caráter. Irei resistir em minha defesa.”
E isso é algo impressionante.
Agora, em Jó 31, Jó define para nós a resposta à quinta e última pergunta. Até agora, Jó levantou questionamentos perceptivos, tais como:
- Quem pode compreender a grandeza de Deus?
- Por que a humanidade ignora o julgamento vindouro de Deus?
- Onde podemos encontrar verdadeira sabedoria?
- Como podemos definir a felicidade verdadeira?
- Quinta pergunta: Como podemos desenvolver uma vida de integridade?
Na última parte da resposta de Jó, existem pelo menos dez resoluções que formam o alicerce para uma vida de integridade.
- Primeiro, estabeleça limite de pureza, Jó 31.1–2.
Jó afirma em Jó 31.1: Fiz aliança com meus olhos; como, pois, os fixaria eu numa donzela?
Em outras palavras, integridade é desenvolvida quando se estabelece de antemão o que olharemos e o que não olharemos.
Para nós hoje, a batalha da integridade se torna uma batalha contra a mídia, internet e televisão.
Logo no início dessas dez maneiras de se desenvolver a integridade, aprenda isto: integridade não acontece por acidente.
Você está pronto para assumir sua posição?
Integridade á algo a ser buscado, desenvolvido e aspirado.
- Segundo, desenvolva a honestidade, Jó 31.5–6.
Jó escreve em Jó 31.5–6:
Se andei com falsidade, e se o meu pé se apressou para o engano (pese-me Deus em balanças fiéis e conhecerá a minha integridade);
Ou seja, integridade e falar a verdade são sinônimos.
Diga a verdade.
- Terceiro, não comprometa a moral, Jó 31.9–11.
Jó fala sinceramente sobre resistir a sedução de uma mulher em Jó 31.9 e frequentar a casa do vizinho por motivos errados. No verso 1, Jó trata da questão de não buscar ou cobiçar uma moça solteira; nos versos 9 a 11, ele se recusa ser seduzido por uma mulher casada.
Jó não comprometeu sua moralidade ao espreitar a porta dessa mulher. Isso é o mesmo que dar a uma mulher o seu cartão de contato, número de telefone, e-mail e outras coisas que abrem a oportunidade para o pecado.
Jó estabeleceu que ficaria longe disso!
Meu amigo, reconheça, especialmente à luz de nossa cultura na qual homens e mulheres trabalham juntos todos os dias, não existe algo chamado “paquera inocente;” não há espaço para comprometimentos de qualquer tipo com desculpas como, “Ah, não é nada...” Pode não ser nada agora, mas o nada pode se tornar alguma coisa.
Já pastoreei tempo o suficiente para ver casamentos sendo destruídos por casais envolvidos no mesmo estudo bíblico, por casais que se aconselhavam e um cônjuge de cada lado deixou o casamento para se juntar ao cônjuge do outro.
Não permita comprometimento moral; proteja seu portão, proteja seu coração!
- Quarto, defenda os que estão em condição desfavorável, Jó 31.13–15.
Nos versos 13 a 15, as palavras de Jó podem ser vistas como uma definição positiva de integridade quando alguém não tira vantagem de seu poder ou posição para maltratar um empregado. Ao contrário, ele cuida para que as reclamações contra ele sejam tratadas com bondade e justiça.
- Quinto, distribua ao necessitado, Jó 31.16–23.
Nos próximos versos, Jó descreve um homem de integridade como aquele que distribui para os necessitados.
Elifaz acusou Jó de não se preocupar com o órfão e a viúva em Jó 22.9. Agora, Jó diz em Jó 31.21–22:
se eu levantei a mão contra o órfão, por me ver apoiado pelos juízes da porta, então, caia a omoplata do meu ombro, e seja arrancado o meu braço da articulação.
Ou seja, “Se eu maltratei o órfão e a viúva, que eu fique deficiente.”
- Sexto, lamente o materialismo, Jó 31.24–25.
Jó diz nos versos 24 e 25 que um homem ou mulher de integridade não confia em ouro.
- Sétimo, condene comprometimentos espirituais, Jó 31.26–28.
Nesses versos, Jó se refere àqueles que mandam beijo para falsos deuses. Na época, o costume dos antigos era mandar beijo em direção a templos e santuários pagãos dos deuses de sua afeição.
Jó diz, “Nunca venerei os deuses falsos da minha geração.”
A fim de desenvolver integridade, é preciso condenar comprometimentos espirituais.
- Oitavo, demonstre compaixão para com o próximo, Jó 31.29–32.
- Nono, não aja em hipocrisia, Jó 31.33–37.
Jó escreve em Jó 31.33: Se, como Adão, encobri as minhas transgressões, ocultando o meu delito no meu seio;
Ou seja, “Eu sei muito bem o que aconteceu com Adão! Ele encobriu suas transgressões com folhas.”
Uma pessoa íntegra não age em hipocrisia. Ela é sincera e honesta.
- Décimo, não justifique a avareza, Jó 31.38–40.
Finalmente, Jó diz nesses versos que a integridade exige que não justifiquemos a avareza.
Ao dizer essas coisas, Jó alicerça seu veredito diante dos homens e de Deus sobre sua integridade. Jó diz, com efeito:
- Eu estabeleci limites de pureza;
- Eu desenvolvi a honestidade;
- Eu não dou espaço para comprometimento moral;
- Eu defendo aqueles em posição desfavorável;
- Eu distribuo aos necessitados;
- Eu lamento o materialismo e nunca confio no dinheiro;
- Eu condeno o comprometimento espiritual;
- Eu demonstro compaixão para com outros;
- Eu não ajo em hipocrisia;
- E eu não justifico a avareza.
Se você não percebeu isso, Jó tratou de todas as áreas da vida.
Steve Lawson destacou que a integridade de Jó afetou:
- Seus pensamentos;
- Sua ética;
- Seu lar;
- Seu trabalho;
- Sua comunidade;
- Suas finanças;
- Sua espiritualidade;
- Sua vida social;
- E sua fidelidade como despenseiro.
Em nosso mundo corrompido, somos ensinados desde criança que podemos ser íntegros na vida pública, mas desonestos ou imorais na vida privada. A verdade é que a falta de integridade em qualquer área é falta de integridade.
Jó diz, “Observe bem qualquer área de minha vida. Veja meus documentos, os sites que visito na internet, as entrevistas com meus empregados, minhas despesas, meus relatórios do banco, meu registro de ofertas e outras obras de caridade; converse com minha esposa, com meus vizinhos, com meus colegas nos negócios e com meus amigos mais chegados. Depois de tudo isso, você verá que a intenção, propósito e decisão do meu coração é ser uma pessoa íntegra. Isso não é algo que eu gostaria de ser, mas o que devo ser.”
Jó tomou sua decisão. A pergunta é, “Você também tomará?”
A integridade é para aqueles dispostos a resistir em tempos de desespero e dias difíceis. É para aqueles como John Wesley, um dos líderes do Grande Avivamento, que orou no final dos anos de 1700:
Não pertenço mais a mim mesmo, mas a Ti.
Coloque-me no que quiseres,
Junto com quem bem desejares.
Coloque-me em alguma obra, coloque-me no sofrimento.
Que eu seja usado para Ti,
Ou deixado de lado para Ti,
Exaltado para Ti, humilhado para Ti.
Que eu seja cheio, ou vazio.
Que eu tenha todas as coisas, e que eu não tenha nada.
Eu sincera e livremente renuncio todas as coisas para o Teu prazer e disposição.
E agora, ó Deus bendito e glorioso,
Pai, Filho e Espírito Santo,
Tu és meu, e eu sou Teu.
Amém.
Este manuscrito pertence a Stephen Davey, pregado no dia 23/09/2007
© Copyright 2007 Stephen Davey
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