
Santos nas Mãos de Conselheiros Irados
Santos nas Mãos de Conselheiros Irados
O Silêncio do Céu—Parte 11
Jó 22–24
Introdução
Como você reage a palavras cheias de ódio direcionadas a você? Como você responde a críticas? Não estou me referindo a críticas boas e construtivas, mas a palavras depreciativas, a injúrias e difamações, a fofocas que denigrem sua imagem. Suas palavras ou caráter foram distorcidos, e suas atitudes interpretadas da pior maneira possível.
Como você reage quando a intenção do crítico é ferir ao invés de ajudar—e, antes mesmo que você perceba, o dano já está feito?
Ao estudarmos a terceira e última rodada de discursos dos conselheiros de Jó, é exatamente nessa posição que Jó se encontra.
Já faz algum tempo que Jó tem suportado o silêncio do céu. Os céus permanecem calados; Deus não tem falado com Jó, mas os conselheiros têm. E, sinceramente, a coisa está ficando cada vez mais feia e maliciosa.
Ao chegarmos ao capítulo 22 de Jó, descobrimos que os seus conselheiros desejam mais condená-lo do que ajuda-lo. Deste ponto em diante, Jó se transformará no santo nas mãos de conselheiros irados.
Entenda que uma das coisas mais importantes sobre esse próximo encontro com Elifaz, o conselheiro sábio do oriente que errou feio, é a maneira como Jó responde à sua crítica e condenação injusta, falsa e perversa.
É possível que você se encontre nessa posição agora. Talvez suas atitudes foram interpretadas errado, suas palavras distorcidas ou suas intenções mal-entendidas. Algum crítico está se divertindo às suas custas no seu trabalho, família ou até mesmo igreja, e você se pergunta o que fazer.
Este capítulo em Jó é especialmente dirigido a você.
Em seu comentário no livro de Jó, Charles Swindoll intitula os capítulos 22 a 24 da seguinte forma: “Como Lidar com as Críticas com Classe.”
Como esse título é verdade.
Ele começa o capítulo com uma ilustração. Permita-me repetir suas palavras:
O 16º presidente dos Estados Unidos foi um exemplo bom de como lidar como ataques pessoais contra seu caráter. Críticas públicas contra ele se intensificaram. Um dos seus biógrafos escreveu que Abraão Lincoln foi caluniado, difamado e odiado talvez mais intensamente do que qualquer outro homem que concorreu ao ofício mais alto da nação. Ele foi publicamente xingado pela imprensa da época de basicamente todos os palavrões imagináveis, incluindo de babuíno, advogado de terceira categoria, palhaço profano, ditador, macaco, fanfarrão, etc. Críticas severas e injustas não diminuíram... à medida que seus inimigos aumentavam, aumentavam também as críticas. Mas Lincoln, conforme escreveu seu biógrafo, lidou com tudo isso com paciência, perseverança e determinação incomuns à maioria dos homens.
Lincoln sobreviveu e a história o provou como um dos melhores presidentes na história americana. Ele agiu com graça sob pressão.
É nos próximos capítulos da biografia de Jó que testemunhamos provavelmente a maior expressão de graça sob pressão em toda a sua história. Veremos não somente como reagir a críticas injustas e perversas, mas também extrairemos outra lição sobre como ser um péssimo conselheiro.
Elifaz: Um Conselheiro Irado
Elifaz cometerá, na verdade, cinco erros que nós podemos cometer quando tentamos aconselhar outros. Usarei esses cinco erros como esboço enquanto observamos o discurso irado de Elifaz a Jó. Abra em Jó 22.
Acho irônico o fato de ser esta a última vez que Elifaz falará antes de ser finalmente disciplinado por Deus, e de ser mandado pedir que Jó interceda por ele para que seja perdoado.
Dentro de poucos capítulos, o próprio Deus defenderá o caráter de Jó.
Vamos observar a maneira errada de se aconselhar.
- Primeiro: condene a pessoa antes de entender o contexto.
Veja Jó 22.1–3:
Então, respondeu Elifaz, o temanita: Porventura, será o homem de algum proveito a Deus? Antes, o sábio é só útil a si mesmo. Ou tem o Todo-Poderoso interesse em que sejas justo ou algum lucro em que faças perfeitos os teus caminhos?
Essas palavras estão encharcadas de arrogância e sarcasmo. Em outras palavras, “Jó, você acha que é útil a Deus? Você acha que Deus se preocupa com o fato de você pensar ser justo? Olhe sua volta—onde está a confirmação de Deus?”
O que Elifaz não sabe é que Jó está sob o cuidado de Deus de maneiras que ele nem imagina. Deus e Satanás, e sem dúvidas os exércitos dos céus, estavam com a atenção voltada ao que transparecia. Na verdade, Deus está prestes a intervir com certeza incrível a favor de Jó.
Elifaz não conhecia o contexto da origem do sofrimento de Jó. E nem Jó sabia.
Algo necessário a um conselheiro é admitir que ele não conhece todas as circunstâncias em torno do problema. Ele pode acabar se precipitando em suas palavras, proferindo um veredito cedo demais.
A maioria dos problemas surge do fato de Elifaz estar convencido de que Jó esconde pecado e de que pecadores recebem castigo de Deus como evidência de que Ele sabe de tudo. Novamente, isso revela a completa insensibilidade de Elifaz à condição desse homem em aflição que praticamente perdeu tudo o que tinha.
A verdade é que Elifaz não se preocupa mais com Jó; Jó não importa mais.
O mais importante é que o conselheiro de Jó esteja certo. O fato de Jó não admitir que Elifaz está certo fez Elifaz ferver de ódio e ressentimento.
E isso me conduz ao segundo erro que Elifaz cometerá.
- Segundo: aconselhe a pessoa com base unicamente em aparências externas.
Veja Jó 22.5: Porventura, não é grande a tua malícia, e sem termo, as tuas iniqüidades?
Ou seja, “Jó, a lista dos seus pecados não tem fim. Como sei disso? Porque o julgamento de Deus não tem fim. Olhe para si mesmo! Seus pecados secretos são grandes porque o julgamento de Deus é grande. Com base em suas doenças e perdas, você não é o sábio do oriente, mas o pecador do oriente.”
As pessoas geralmente enxergam nossas doenças e perdas como provas da disciplina de Deus. Contudo, sabemos o que nem Elifaz, nem Jó sabia. Em Jó 1, Deus disse a Satanás, “Você deseja provar um homem íntegro e justo que me teme e se recusa fazer o mal? Então prove Meu servo Jó.”
As tribulações de Jó não lhe sobrevieram porque ele era pecador, mas porque ele não era. Ele não era perfeito, mas fervorosamente odiava o pecado e amava Deus. Jó temia a Deus e se desviava do mal (Jó 1.1).
As tribulações não eram prova de um problema com Deus, mas de que ele confiava em Deus.
Elifaz baseia sua ira e condenação em evidências externas daquilo que parecia ser o desprazer de Deus, quando na verdade as aparências externas eram evidências do prazer de Deus na vida de Jó.
Deus escolheu Jó para ser um testemunho vivo a Satanás, aos exércitos do céu e do inferno, e a toda humanidade que lê essas palavras de que é possível, em meio ao sofrimento, não somente louvar a Deus, mas ser um objeto que cumpre os propósitos de Deus.
Pessoas que observam apenas as aparências jamais compreenderão essa verdade mais profunda. Sua perspectiva de Deus depende do clima, das ações da bolsa de valores, de uma promoção no emprego, de sua saúde, etc.
Esse é Elifaz, o temanita. Ele parece ser sábio, mas, no fim, é superficial.
E Elifaz não para de cometer erros. Na verdade, ele já fez essas mesmas coisas antes. A essa altura, Elifaz está indo mais fundo em seu erro. Vamos observar o terceiro erro de Elifaz, o qual cometem aqueles que aconselham segundo a carne.
- Terceiro: assuma a posição do Deus onisciente; ou seja, na linguagem do dia-a-dia, faça o papel do Espírito Santo.
Elifaz começará, simplesmente, a inventar pecados e a acusar Jó de coisas que ele nunca fez. Ele está tão convencido de que Jó é culpado de esconder pecados, e outras coisas que não vieram à tona pela boca de testemunhas ou por relatórios, que ele começa a sugerir algumas coisas.
Elifaz está tão irado que não consegue mais se segurar. Ele irá provar que Jó é um pecador impenitente, mesmo que, como acabamos de lembrar, Jó 1 nos informa que a reputação de Jó era impecável e íntegra na sua comunidade.
- Elifaz acusa Jó de avareza descontrolada.
Veja Jó 22.6: Porque sem causa tomaste penhores a teu irmão e aos seminus despojaste das suas roupas.
Essa era uma acusação séria. Nos dias de Jó, o decoro da cultura ditava que se um homem fosse forçado a abrir mão de seu manto como garantia de que pagaria sua dívida, o credor geralmente lhe devolvia o manto para se proteger da friagem da noite, já que o manto também servia de cobertor.
Elifaz diz a Jó, com efeito, “Você não somente não devolve o manto, mas também toma as demais roupas do homem a ponto de ele ficar nu e exposto ao clima, sem proteção do frio ou calor.”
Em outras palavras, “Jó, você é um homem sem piedade, grosso e avarento—esse é o seu problema.”
Jó se levanta e diz no verso 7, “Você está mentindo—eu nunca fiz isso!”
Ah, não, esse verso não existe. Jó não o interrompe.
- Elifaz condena Jó por falta de preocupação com os necessitados.
Veja Jó 22.7: Não deste água a beber ao cansado e ao faminto retiveste o pão.
Em outras palavras, “Jó, você deixou pessoas morrerem de fome e sede quando poderia ter ajudado.”
Elifaz diz o seguinte, conforme vemos no verso 8, “Apesar de a terra inteira pertencer a você—você que, supostamente, é um homem digno—você é um insensível e egoísta, desprovido de qualquer preocupação para com as demais pessoas.”
E novamente no verso 9, Jó diz, “Isso não é verdade—muitas pessoas podem testificar da minha generosidade.”
Ah, não. Nenhuma palavra sai da boca desse santo que está nas mãos de um conselheiro irado, acusador, perverso, condenador e autocentrado.
- Elifaz acusa Jó de ter cometido o pior de todos os crimes, a epítome da falsa religião: recusar ajudar o órfão e a viúva.
Veja Jó 22.9: As viúvas despediste de mãos vazias, e os braços dos órfãos foram quebrados.
Nada estava mais longe da verdade—Jó demonstrou preocupação sua vida inteira com as pessoas ao seu redor. No capítulo 1, até Deus caracterizou Jó como um homem que era o maior exemplo de vida piedosa na terra.
De onde Elifaz tirou todas essas coisas? Será que ele tinha ouvido de outras pessoas? Será que inimigos de Jó estavam repassando rumores de pessoas que invejavam Jó, ressentiam sua pureza ou se sentiam culpadas diante do andar íntimo desse homem com Deus?
Elifaz parece ter se convencido dessas coisas e diz, “Jó, você não precisa mais se esconder. Assuma logo!”
Agora, Elifaz comete mais um erro de aconselhamento, o qual permanece sendo uma tentação a todos que aconselham outras pessoas.
- Quarto: tente arrancar uma confissão da boca da pessoa sendo aconselhada.
Essas acusações contra Jó são todas falsas, são invenções. Elifaz trabalha, na verdade, para o inimigo, não para Deus. Apocalipse 12.10 diz que Satanás é o acusador dos irmãos.
Satanás se deleita em colocar o crente sob a nuvem da culpa e do sentimento de desprazer de Deus. Ele quer que joguemos a toalha.
Steve Lawson escreveu palavras precisas sobre essa cena entre Jó e Elifaz. Preste atenção:
Precisamos discernir cuidadosamente a convicção do Espírito e a acusação de Satanás. Existe uma diferença. O Espírito Santo nos convence de pecado específico. Ele fará isso até que o confessemos. Depois, Ele não irá mais nos convencer daquele pecado específico porque está perdoado.
Por outro lado, Satanás é um cavador de túmulos. Ele revira todo tipo de terra do nosso passado e nos bombardeia com pecados. Pecados que cometemos, mas não confessamos; pecados que cometemos, mas já confessamos. Até mesmo pecados que não cometemos. Qualquer coisa para colocar culpa em nossa cabeça. Ele destaca pecados que não precisam de nossa atenção. Depois que confessamos o nosso pecado, Satanás ainda nos assombra com culpa. Ele é como um mecânico desonesto. Mesmo que não consiga encontrar algo que precisa de conserto, ele nos dirá que algo precisa de reparo. Então acabamos pagando para que coisas sejam consertadas em nossas vidas que nem sequer estavam com defeito.
Aprenda isto: a diferença entre a convicção dada pelo Espírito e a acusação vinda de Satanás é a seguinte—o Espírito tem como alvo áreas que precisam de confissão; Ele age de forma clara, específica e verdadeira. Satanás, por outro lado, ataca tudo que vê pela frente, usando uma abordagem vaga, genérica e falsa.
Esse é um bom conselho.
A verdade é que todo nós temos um Elifaz em nossas vidas—quer seja um inimigo invisível ou alguém visível que nos lembra de tudo o que não somos mas que deveríamos ser, amontoando mais culpa sobre nós e nos enterrando debaixo da lei.
Nós podemos fazer essa função como cônjuges. Como pais podemos nos recusar temperar nossa liderança com graça. Como professores e colegas, parceiros nos negócios ou em uma sala de aula, podemos nos recusar oferecer aprovação e louvor.
Assim como Elifaz, podemos nos preocupar mais em estar certos do que em suprir esperança.
Estes são os erros de Elifaz:
- Condenar sem identificar o contexto do sofrimento;
- Basear seu conselho em evidências externas;
- Fazer o papel do Espírito Santo, agindo como se fosse onisciente;
- Tentar arrancar uma confissão de Jó.
O quinto erro de Elifaz é visto no resto de Jó 22, especialmente do verso 23 ao fim do capítulo.
- Quinto: Prometa soluções rápidas ao problema e ignore as questões mais profundas relacionadas ao problema.
Pensamos que o comportamento de Elifaz de repente muda. Agora ele age com bondade, apesar de sua ternura transbordar com arrogância.
Ele diz em Jó 22.23: Se te converteres ao Todo-Poderoso, serás restabelecido; se afastares a injustiça da tua tenda.
Ele continua em Jó 22.24, “Jó, livre-se de qualquer ouro que você estiver escondendo.” E ele sugere no final: “Seu avarento.” Em Jó 22.25–26 Elifaz diz, “Adivinha o que, Jó:”
então, o Todo-Poderoso será o teu ouro e a tua prata escolhida. Deleitar-te-ás, pois, no Todo-Poderoso e levantarás o rosto para Deus.
Em outras palavras, “Jó, simplesmente faça o que eu estou dizendo e todos os seus problemas desaparecerão.”
Veja Jó 22.28: Se projetas alguma coisa, ela te sairá bem, e a luz brilhará em teus caminhos.
“Você pode conseguir o que quiser—apenas determine.”
Isso soa familiar para você?
“Ei Jó, essa luz maravilhosa vai iluminar seu caminho daqui por diante; você nunca mais estará no escuro.”
Nem se preocupe com aqueles dez túmulos; isso para não mencionar as dores físicas que Jó carregará até a morte, nem ter que começar um lar e um negócio do zero. Não se preocupe com as suas lembranças, nem com as perguntas, nem com as lágrimas.
“Apenas siga o meu conselho, Jó, e você terá uma vida novinha em folha.”
Jó não queria uma vida nova—ele queria sua velha vida de volta. Aquela já era suficiente, mas ele não poderia tê-la de volta. Ele não tinha como voltar ao ontem; a única realidade era o amanhã desanimador, solitário e confuso. Conselho tolo é repleto de promessas superficiais. Ele não fornece a verdade sólida na qual podemos nos agarrar; ele não nos fornece a força do Espírito de Deus que precisaremos para nos recolocar de pé, começar de novo e andar de cabeça erguida pelos desafios do amanhã.
Quanta dor nessas acusações infundadas e agora a banalização de sua dor com promessas irracionais.
Jó: A Resposta de Um Santo
Contudo, Jó não interrompeu sequer uma vez Elifaz com suas palavras de ira e condenação. Nem mesmo uma vez Jó diz, “Quem você pensa que é?” Na verdade, Jó nem busca corrigir o que Elifaz diz, justificar seu caráter, ou mesmo se defender contra acusações novas e sensacionalistas. Jó também não revida as palavras de seu acusador irado. Essa é uma lição para todos nós.
Um escritor escocês respeitado e autor de vários comentários morreu em meados do século passado. Em sua autobiografia, ele conta a tragédia de quando sua filha de vinte e um anos morreu junto com o noivo afogados em um acidente de barco. Essa tragédia ficou conhecida ao redor do mundo civilizado. Ele recebeu uma carta anônima algumas semanas depois do acidente que dizia, “Eu sei por que Deus matou sua filha—foi para protege-la da corrupção de suas heresias.”
Esse é o conselho de Elifaz.
O escritor escocês continua escrevendo, “Deus não impediu aquela tragédia no mar, mas Ele acalmou, sim, a tempestade em meu próprio coração para que, de alguma maneira, minha esposa e eu passássemos por aquele tempo terrível ainda de pé.”
Sempre admirei homens como o apóstolo Paulo que permaneceram firmes, apesar de, no fim de seu ministério, seus acusadores terem saído vencedores e Paulo ter ficado sozinho. Eles o acusaram de motivações falsas, ministério ineficaz, falta de capacitação, de mentir sobre seu apostolado, de ser ocioso e de viver das esmolas dos outros—tudo mentira.
Antes, eu teria dito que Paulo era o maior exemplo de perseverança em face ao ridículo, acusações, insinuações e rumores, e Neemias viria em segundo lugar. Isso até alguns dias atrás quando estudei essa passagem de Jó.
Jó tem perseverado em meio a horrível sofrimento e aflição. Agora ele se encontra praticamente abandonado; ele não sabe mais qual é seu propósito; seus amigos se viraram contra ele e, agora, nesse encontro, ele é acusado de falta de integridade, caráter, pureza, coisas essas que ele viveu sua vida toda buscando. Contudo, Jó perseverou em sua fé, como veremos em breve.
Se você já leu a biografia de Abraão Lincoln, sua conclusão foi provavelmente a de que, acima de tudo, foi sua recusa em retaliar e sua disposição para suportar as pressões de seu ofício que levaram a história a reescrever a opinião sobre ele com respeito e admiração.
Seus biógrafos contam que Lincoln desenvolveu quatro maneiras de lidar com as críticas de seus inimigos. Ele:
- Acima de tudo, simplesmente ignorava as críticas e considerava a maioria delas como indignas de resposta;
- Segundo, respondia de volta somente quando fosse fazer alguma diferença;
- Terceiro, criou o hábito de se sentar e escrever longas cartas defendendo sua integridade e reputação, expressando sua ira e emoções, mas, depois, rasgava suas cartas e nunca as enviava;
- E quarto, escolheu se concentrar no lado bom da vida e nutrir um bom senso de humor—revelando, de fato, graça sob pressão.
Uma das coisas que mais me chama a atenção sobre Jó em sua biografia é a maneira como ele reage aos seus conselheiros. Nesse texto, nas mãos de um conselheiro irado, o santo de Deus suportou acusações que nem podemos imaginar, e tudo próximo a dez túmulos. O mais admirável não é que ele tenha sido caluniado, mas que ele se recusou retaliar.
Nos próximos dois capítulos, Jó responde a Elifaz, o temanita.
O que é mais digno de notarmos no texto é que Jó não responde a Elifaz, pelo menos não diretamente. Ele ignora seus insultos e insinuações. Evidentemente, ele nem os considerou dignos de suas palavras.
O que ele faz é começar, na verdade, com uma oração. Não temos tempo para lê-la por completo, mas permita-me resumi-la com duas declarações.
- Primeiro, Jó diz, “Os céus estão em silêncio, mas confiarei no coração de Deus.”
Jó lamenta em Jó 23.3–4:
Ah! Se eu soubesse onde o poderia achar! Então, me chegaria ao seu tribunal. Exporia ante ele a minha causa, encheria a minha boca de argumentos.
Jó usa jargão legal.
Pule para os versos 23.8–9:
Eis que, se me adianto, ali não está; se torno para trás, não o percebo. Se opera à esquerda, não o vejo; esconde-se à direita, e não o diviso.
Você já se sentiu assim antes? Quando a pressão é grande e as tribulações surgem de todos os lados, você gostaria muito de receber algum sinal ou mensagem do céu—alguma prova de que Deus sabe o que está acontecendo com você e se preocupa.
É exatamente isso o que Jó diz aqui. Os céus estão em silêncio!
Mas veja a declaração profunda de confiança em Jó 23.10: Mas ele sabe o meu caminho; se ele me provasse, sairia eu como o ouro.
Em outras palavras, “Não sei para onde me virar, para onde ir e nem sei para onde Deus está indo, mas eu sei que Ele sabe para onde estou indo.”
Não podemos ignorar a ironia entre a declaração de Jó e a promessa banal de Elifaz. Elifaz prometeu, “Jó, submeta-se a Deus e Ele será como ouro para você.”
Jó diz, “Ah, não. Pelo fato de eu me submeter a Deus, quando Ele tiver terminado comigo, eu serei para Ele como ouro.”
Jó está dizendo, “Ele está me purificando para o Seu próprio prazer e propósito.”
Existe, ainda, o pensamento implícito de que, apesar de Jó ter perdido todas as suas posses—seu ouro—ele declara sua fé ao dizer, “Deus não me dará necessariamente mais ouro, mas está me refinando como o ouro.”
Jó está sendo refinado pela fornalha, purificado pelo calor. E ele apresenta sua declaração de fé:
- Deus sabe o que está acontecendo comigo! Mas ele sabe o meu caminho.
- Deus planejou isso que está me acontecendo! Se ele me provasse.
- Deus tem um propósito com o que está acontecendo! Sairia eu como o ouro.
A primeira declaração de Jó é, “Os céus estão em silêncio, mas confiarei no coração de Deus.”
Vamos observar a segunda declaração de Jó.
- Segundo, Jó diz, “O mal me cerca, mas confiarei nas mãos de Deus.”
Isso é o mesmo que dizer que Deus é soberano, não importa o que.
O capítulo 24 é uma catalogação dos pecados e males que afligem a humanidade. Numa cultura que parece não punir essas coisas, vemos:
- v. 2—ganância e roubo;
- v.3 –opressão;
- v. 14—assassinato;
- v. 15—adultério;
- e muito mais.
Essa é, na verdade, uma resposta a Elifaz, o qual disse que Jó era obviamente culpado de grande pecado porque estava sendo punido. Jó diz, com efeito, “Se Deus sempre pune pessoas por causa de algum pecado grave, então, como muitos pecadores não estão sendo julgados?”
Apesar de parecer que Deus não está no controle, Ele ainda está. O pecado será julgado.
O pecador que recusa se arrepender se confia na ideia de que Deus não está presente—mas Ele está.
Não importa o que acontecer, quão difícil sejam as coisas, Deus não abandonou Sua posição de soberano. Deus não abandonou você.
William Frey foi um aluno universitário em 1951 na Universidade de Colorado, Estados Unidos. Ele passava algumas horas toda semana lendo para um colega de curso chamado John. John era cego. William escreve:
Um dia, perguntei-lhe como havia ficado cego. Ele me contou um acidente que aconteceu quando ainda era adolescente e como, a partir daquele momento, simplesmente desistiu da vida.
“Quando o acidente aconteceu e percebi que jamais poderia enxergar novamente, senti que, até onde eu sabia, a vida tinha terminado. Fiquei amargurado e furioso com Deus por haver permitido que aquilo acontecesse, e despejava essa ira nas pessoas ao me redor. Meu sentimento era o de que, já que não teria mais um futuro, também não faria nada a meu próprio favor. Que os outros esperassem por mim. Eu fechava a porta do meu quarto e me recusava sair, a não ser para as refeições.”
William escreve:
O [jovem] que eu conhecia era um excelente aluno, então tive que perguntar o que havia mudado sua atitude. E ele me contou esta história:
Um dia, meu pai entrou no meu quarto e começou a me dar uma bronca. Ele disse que estava cansado de me ver agindo com autocomiseração. Ele disse que o inverno estava chegando e que, como reforçar as janelas era minha responsabilidade, era melhor eu fazer logo aquilo até a hora do jantar. Caso contrário, iria apanhar! Quando saiu, bateu a porta do meu quarto.
“Bom,” disse John, “isso me deixou com tanta raiva que resolvi fazer aquilo. Murmurando em voz baixa, consegui chegar à garagem, encontrei as janelas, uma escada, todas as ferramentas necessárias e fui ao trabalho. ‘Eles irão se arrepender depois que eu cair da escada e quebrar meu pescoço,’ pensei; mas, aos poucos, caminhando pela casa com dificuldade, terminei o serviço.”
Neste ponto, John parou, seus olhos cegos se encheram de lágrimas e ele disse, “Depois eu descobri que, durante a tarde inteira, meu pai não havia se afastado mais de 1 metro e meio de mim. Soube disso somente depois, mas o tempo inteiro enquanto subia e descia a escada, eu murmurava... todo desajeitado com as ferramentas e suando para conseguir terminar aquele serviço terrível—no escuro—meu pai esteve ao meu lado o tempo todo.”
Esse mesmo John acabou se tornando o autor de vários hinos que entoamos até hoje.
Lembre-se:
- Mesmo quando os céus estão em silêncio, podemos confiar no coração de Deus.
- Mesmo quando a terra está repleta de maldade, podemos confiar nas mãos de Deus.
Mesmo quando estamos no escuro, mesmo quando não sabemos para onde ir, mesmo quando estamos nas mãos de um conselheiro irado, ainda estamos nas mãos do Deus eternamente sábio, presente e gracioso.
Este manuscrito pertence a Stephen Davey, pregado no dia 16/09/2007
© Copyright 2007 Stephen Davey
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