Confissões Verdadeiras

Confissões Verdadeiras

by Stephen Davey

Confissões Verdadeiras

Esdras 9–10

Introdução

Enquanto estava na fila de um supermercado recentemente, fiquei cercado por revistas de fofocas e tabloides. Percebi que vários desses materiais incluíam a palavra “confissão.” Diziam coisas do tipo: “Fulano confessa um amor secreto... sicrana confessa ter sido vítima de abuso... beltrano confessa sua fantasia”, etc. Essas pessoas, e muitas outras como elas, que contratam escritores para nos informar acerca de suas imoralidades e infidelidades não estão interessadas em confissão, mas em royalties, ou seja, dinheiro. Além do mais, quando um indivíduo confessa a um conselheiro ou psicólogo, ele não busca perdão, necessariamente, mas quer apenas se sentir melhor.

Acontecemos de viver numa sociedade tomada de culpa que carece desesperadamente de perdão. Todavia, ela é incapaz de experimentá-lo porque não sabe como confessar algo genuinamente.

Achei interessante ler sobre duas empresas que estão lucrando com o negócio da culpa. Uma delas, por exemplo, com o pagamento de uma taxa modesta, disponibiliza alguém da empresa com quem podemos conversar e confessar o que desejarmos confessar. Já outra empresa, na verdade, confessa e até pede perdão em seu lugar para qualquer pessoa que você deseja. Eles fazem isso por você. Li também sobre um padre que está criando uma página na internet para que os religiosos de sua paróquia confessem online mesmo.

A verdade é que confissão nada tem a ver com internet, não pode ser feita por outra pessoa, nem pelo telefone a uma pessoa que você nem conhece. Então, o que é confissão bíblica verdadeira? Como ela funciona, o que diz, como se sente e quais mudanças efetua? E por que devemos confessar, se Deus já sabe o que fizemos?

Quero começar lendo a seguinte definição de “confissão”. Nessa definição, tentei incluir cada faceta da confissão bíblica, conduzindo o crente do primeiro passo ao último. A definição é a seguinte:

Confissão: é simplesmente admitir infidelidade a Deus em seus pensamentos e atos específicos; é concordar totalmente com a perspectiva de Deus de que seus pensamentos e atos são injustificáveis; aceitar humildemente qualquer consequência desses pensamentos e atos; e agir diligentemente em fidelidade renovada para com seu Deus gracioso e perdoador.

Isso, meu amigo, é confissão verdadeira. Como sei disso? Porque ela provém diretamente do texto que estudaremos hoje—da vida e dos dias de um crente do Antigo Testamento chamado Esdras. Esdras é exemplo de confissão, não somente para sua própria geração, mas para cada geração de crentes após ele.

Vamos começar lendo Esdras 9.1–2:

Acabadas, pois, estas coisas, vieram ter comigo os príncipes, dizendo: O povo de Israel, e os sacerdotes, e os levitas não se separaram dos povos de outras terras com as suas abominações, isto é, dos cananeus, dos heteus, dos ferezeus, dos jebuseus, dos amonitas, dos moabitas, dos egípcios e dos amorreus, pois tomaram das suas filhas para si e para seus filhos, e, assim, se misturou a linhagem santa com os povos dessas terras, e até os príncipes e magistrados foram os primeiros nesta transgressão. 

O pecado é o do casamento misto: o povo começou a casar com pessoas das nações pagãs da vizinhança. Trata-se de um problema maior do que se casar com um descrente; essa representa uma ameaça ao cerne daquilo que faz dos israelitas uma nação santa e uma ameaça ao propósito que Deus tem para essa nação.

O pregador Wiersbe me lembrou que os israelitas não foram chamados de “nação santa” porque eram inerentemente santos, mas porque foram escolhidos por Deus e separados para fazer sua vontade. Seria por meio de Israel, conforme Deus disse em Gênesis 12.3, que todas as famílias da terra seriam abençoadas. Será que isso aconteceu? Sim! Através dos israelitas, o mundo recebeu três presentes maravilhosos: a) o conhecimento do Deus vivo e verdadeiro; b) as Escrituras—temos a Bíblia, e revelação inspirada de Deus por meio dos israelitas; e c) mais significante, da tribo de Judá, um menino nasceu da linhagem direta do rei Davi, cujo nome é Jesus Cristo. Os israelitas nos deram o Salvador.

Esse casamento misto, portanto, viola e ameaça os planos de Deus. E ele ameaça também o bem-estar imediato do povo que agora está exposto e vulnerável à idolatria. O profeta Malaquias nos informa que muitos desses homens judeus se divorciaram de suas esposas israelitas para se casarem com mulheres pagãs. Assim como o rei Salomão  antes deles, eles se encontram, agora, numa descida íngreme que os conduz a comprometimento e idolatria.

Se você prestar atenção ao final do verso 2, verá o potencial de influência ímpia. Lemos que os príncipes e magistrados foram os primeiros nesta transgressão. Os líderes mais poderosos da nação se corromperam e sua influência maligna abriu as portas para a imoralidade e idolatria. Existe grande pecado em Jerusalém.

Ingredientes da Verdadeira Confissão

É nesse momento que eu e você temos um vislumbre de confissão verdadeira. Quando Deus deseja ensinar alguma verdade profunda, ele geralmente ilustra tal verdade ao invés de simplesmente ordená-la. Esdras nos fornece por meio da ilustração de sua vida pessoal cinco ingrediente da confissão verdadeira.

  • O primeiro ingrediente que desejo destacar é o do reconhecimento.

Veja os versos 3 e 4:

Ouvindo eu tal coisa, rasguei as minhas vestes e o meu manto, e arranquei os cabelos da cabeça e da barba, e me assentei atônito. Então, se ajuntaram a mim todos os que tremiam das palavras do Deus de Israel, por causa da transgressão dos do cativeiro; porém eu permaneci assentado atônito até ao sacrifício da tarde.

Observe mais adiante na última parte do verso 6 para ver a forma como Esdras se refere a esse pecado: porque as nossas iniquidades se multiplicaram sobre a nossa cabeça, e a nossa culpa cresceu até aos céus.

A marca da confissão falsa é minimizar o pecado: “Senhor, sei que fiz isso e aquilo, mas todo mundo faz. Senhor, tu sabes a mentira branca que contei. Me desculpe. Senhor, me perdoe por ter pisado na bola ultimamente.” Essa confissão é falsa.

Esdras diz: “Senhor, nossa culpa se acumula e chega aos céus. É pecado sobre pecado, crime sobre crime, abominação sobre abominação, perversidade sobre perversidade. Somos culpados dessa enorme montanha de pecados.” Ele enxerga o pecado da forma como Deus o enxerga. Confissão verdadeira admite o pecado, expõe de forma transparente diante de Deus atos pecaminosos e até o coração pecaminoso. A confissão revela os motivos secretos ao invés de escondê-los.

Continue no verso 7:

Desde os dias de nossos pais até hoje, estamos em grande culpa e, por causa das nossas iniquidades, fomos entregues, nós, os nossos reis e os nossos sacerdotes, nas mãos dos reis de outras terras e sujeitos à espada, ao cativeiro, ao roubo e à ignomínia, como hoje se vê.

Existem três palavras nesse verso que nos ajudam a descobrir o que significa realmente admitir pecado: ignomínia, iniquidades e culpa.

Quando assistimos a algum julgamento e acompanhamos o processo até o fim, ficamos esperando a decisão do juiz. Em muitos casos, ele bate o martelo e pronuncia o réu “culpado.” A verdadeira confissão diz: “Senhor, sou culpado.” Mas quando foi a última vez que você ouviu alguém dizer que era culpado? A verdade é que aprendemos, desde uma idade tenra, a nos esquivar de nossa culpa, não é?

Como uma garotinha de 6 anos de idade que frequentemente mentia. Num belo dia, seus pais lhe deram um cachorro da raça São Bernardo como presente de aniversário. Não demorou muito para ela começar a dizer aos amiguinhos da vizinhança que tinha ganhado um leão. Sua mãe lhe chamou de lado e disse: “Já falei que não é para você mentir. Quero que você vá para seu quarto, peça a Deus perdão porque mentiu e prometa que não mentirá novamente.” A menina entrou no quarto, fez suas orações e depois voltou. A mãe perguntou: “Você disse a Deus o que fez?” A menina replicou: “Sim, mamãe. E Deus disse que às vezes nem ele consegue distinguir também meu cachorro de um leão.”

Confissão verdadeira não racionaliza o pecado, não o nega, não o minimiza e não o justifica. Aquele que confessa pecado segundo o padrão bíblico, fala conforme escreveu C. S. Lewis: “Descobri dentro de mim mesmo um zoológico de lascívia, uma balbúrdia de ambições, um viveiro de medos e um harém de ódios queridos.”

Confissão verdadeira reconhece o pecado.

  • O primeiro ingrediente é o reconhecimento do pecado. O segundo é a aversão ao pecado.

Observe a reação de Esdras novamente no verso 3 e na última parte do verso 4:

Ouvindo eu tal coisa, rasguei as minhas vestes e o meu manto, e arranquei os cabelos da cabeça e da barba, e me assentei atônito... permaneci assentado atônito até ao sacrifício da tarde.

Estar “atônito” significa “horrorizado, chocado e abismado” com o pecado. Todas as demais pessoas o aceitaram; ninguém mais estava rasgando as vestes ou puxando os cabelos da barba. Claro, havia, sim, outras pessoas incomodadas com o pecado, mas Esdras ficou horrorizado. Por que? Porque o povo em geral, no decorrer de uma geração, tinha acomodado o pecado. Seus filhos e filhas tinham se casado com heteus e ferezeus da região que diziam ser boas pessoas; a única coisa que precisava ser relevada era sua idolatria. Quando os israelitas se casaram com eles, esses pagãos levaram seus ídolos para dentro de suas casas e apartamentos, dizendo: “Não é nada demais... relaxe!” Quando Esdras chegou, o remanescente estava prestes a ser arrastado pela correnteza sem nem perceber.

Meu amigo, o primeiro passo para não ficarmos mais horrorizados com o pecado em nossa própria vida ocorre quando deixamos de ficar atônitos diante do pecado na vida de outra pessoa.

A quantidade de violência na sociedade tem levado a uma avaliação da violência em filmes e vídeo games. Especialistas têm identificado que assassinato na vida real decorre da exposição a assassinato em jogos de vídeo games. A conclusão foi que observar ou assistir a violência prepara o palco para atos de violência.

Muitas pessoas dizem: “É... esses adolescentes passam o dia vidrados diante da televisão imersos em violência, assistindo a filmes, jogando vídeo game e ouvindo músicas que fazem apologia a violência. É de se esperar que alguns começariam a praticá-la.” Minha pergunta é: por que o mundo adulto não aplica o mesmo princípio aos seus próprios filmes, programas e músicas? Não ficamos mais chocados com o pecado, mas o aceitamos encenado diante de nossos olhos. O que ensinamos à nossa geração? No mundo adulto, damos Oscars a adúlteros.

Setenta anos atrás, havia um programa de televisão chamado “Eu Amo Lucy” que retratava um casal casado. O programa era produzido pelo mundo e o mundo não colocava o casal na mesma cama ao mesmo tempo. Cada um tinha sua própria cama. Ah, mas hoje não somos mais sofisticados e modernos? Não, não somos mais sofisticados; somos menos sensíveis ao pecado.

Ouça o que Jeremias escreveu em Jeremias 8.12:

Serão envergonhados, porque cometem abominação sem sentir por isso vergonha; nem sabem que coisa é envergonhar-se. Portanto, cairão com os que caem; quando eu os castigar, tropeçarão, diz o Senhor.

E ouça os versos 5–6 de Esdras 9:

Na hora do sacrifício da tarde, levantei-me da minha humilhação, com as vestes e o manto já rasgados, me pus de joelhos, estendi as mãos para o Senhor, meu Deus, e disse: Meu Deus! Estou confuso e envergonhado, para levantar a ti a face, meu Deus...

Você quer começar algo revolucionário por um mês e ver o que acontece? Desligue qualquer programa de televisão ou filme que mostra relações sexuais entre pessoas solteiras ou entre um casado com outra pessoa que não é seu cônjuge. A Bíblia define essas coisas como fornicação e adultério. Aplique isso também a livros e músicas. Nem olhe para eles; não se envolva emocionalmente em seus enredos. Por quê? Porque assim como violência em filmes prepara o palco para atos de violência, imoralidade na televisão prepara o palco, aguça o apetite e arruma a mesa para imoralidade na vida real. E a prova que você se encontra em perigo é que não fica mais horrorizado com essas coisas; você perdeu seu sentimento de vergonha.

  • Confissão verdadeira envolve reconhecimento, inclui aversão e, terceiro, estimula consciência da graça de Deus.

Nessa grande oração de confissão, Esdras rememora e expressa verbalmente cinco retratos da graça.

  • O primeiro retrato da graça é do remanescente.

Lemos em Esdras 9.8:

Agora, por breve momento, se nos manifestou a graça da parte do Senhor, nosso Deus, para nos deixar alguns que escapem.

Em outras palavras, apesar de termos agido tão pecaminosamente, Deus ainda permitiu alguns de nós viverem em Jerusalém.

  • O segundo retrato da graça é o de uma estaca.

Ainda no verso 8 lemos: e para dar-nos estabilidade no seu santo lugar. A imagem no idioma hebraico para expressar estabilidade é a de uma estaca fincada no chão. Ela fala de segurança e estabilidade. Eles estão na terra, fincados pela graça de Deus.

  • O terceiro retrato é o de iluminação—luz para os olhos.

Lemos nos verso 8: para nos alumiar os olhos, ó Deus nosso. O povo não foi deixado nas trevas do cativeiro; eles receberam o presente de um novo dia com luz suficiente para caminharem.

  • Mais adiante no verso 8, aparece o retrato da regeneração: e para nos dar um pouco de vida na nossa servidão. Essa é a imagem de alguém sendo trazido de volta à vida.
  • Finalmente, o quinto retrato é o da proteção.

Lemos no verso 9: para que nos desse um muro de segurança em Judá e em Jerusalém. Essa é a proteção que eles receberam de um Deus gracioso.

Isso significa que confissão verdadeira aumenta a vileza do nosso pecado e, ao mesmo tempo, aumenta a nobreza da graça de nosso Deus. O indivíduo que não confessa genuinamente não se opõe às realidades do pecado e da graça; ele simplesmente minimiza o pecado e sua necessidade da graça de Deus—“Não é tão sério assim!”

Permita-me ir um pouco mais adiante e dizer que uma das bênçãos da confissão verdadeira é que ela nos dá uma perspectiva renovada não somente de nossa pecaminosidade, mas também de nosso Salvador.

Confissão verdadeira envolve reconhecimento, mas reconhecimento apenas não é suficiente. Ela inclui aversão, mas não pode parar por aí. Confissão produz uma consciência da graça, mas isso também não é suficiente. Existem mais dois ingredientes. Os três primeiro estão relacionados à natureza particular da confissão; os dois últimos relacionam-se à natureza pública da confissão. E deixe-me destacar o seguinte: embora toda confissão seja pública, é muito fácil dizer que se faz confissão privada sem, na realidade, fazê-la. É fácil dizer que ficamos chocados e horrorizados com o pecado na sociedade, mas são os próximos dois ingredientes que revelarão a sinceridade de nossa confissão.

  • O quarto ingrediente da confissão verdadeira está ligado à palavra “ação.”

Veja Esdras 10.1–2:

Enquanto Esdras orava e fazia confissão, chorando prostrado diante da Casa de Deus, ajuntou-se a ele de Israel mui grande congregação de homens, de mulheres e de crianças; pois o povo chorava com grande choro. Então, Secanias, filho de Jeiel, um dos filhos de Elão, tomou a palavra e disse a Esdras: Nós temos transgredido contra o nosso Deus, casando com mulheres estrangeiras, dos povos de outras terras, mas, no tocante a isto, ainda há esperança para Israel.

Você percebeu aqui os ingredientes da confissão verdadeira? Existe: a) reconhecimento (temos transgredido contra o nosso Deus); aversão (casando com mulheres estrangeiras, dos povos de outras terras); e consciência da graça de Deus (mas, no tocante a isto, ainda há esperança para Israel). Em seguida, existe uma chamado a ação nos versos 3–4:

Agora, pois, façamos aliança com o nosso Deus, de que despediremos todas as mulheres e os seus filhos, segundo o conselho do Senhor e o dos que tremem ao mandado do nosso Deus; e faça-se segundo a Lei. Levanta-te, pois esta coisa é de tua incumbência, e nós seremos contigo; sê forte e age.

Quero dizer algo em especial em nome de todo pastor, presbítero, professor de Escola Dominical e família envolvida no ministério em tempo integral: não há nada mais encorajador do que ouvir alguém dizer como Secanias: “Olha, sei que você lidera esse grupo—nosso estudo bíblico, sala de aula e igreja—e tem muitas responsabilidades. Quero que você saiba que tem todo meu apoio. Então, seja corajoso quando for ensinar e tomar decisões. Estou aqui. Você não está sozinho nessa obra.” Que a tribo de Secanias cresça—a tribo de pessoas que dizem a seus líderes: “Não desanime! Tenha bom ânimo!”

Preste atenção no que acontece em seguida nos versos 9–12:

Então, todos os homens de Judá e Benjamim, em três dias, se ajuntaram em Jerusalém; no dia vinte do mês nono, todo o povo se assentou na praça da Casa de Deus, tremendo por causa desta coisa e por causa das grandes chuvas. Então, se levantou Esdras, o sacerdote, e lhes disse: Vós transgredistes casando-vos com mulheres estrangeiras, aumentando a culpa de Israel. Agora, pois, fazei confissão ao Senhor, Deus de vossos pais, e fazei o que é do seu agrado; separai-vos dos povos de outras terras e das mulheres estrangeiras. Respondeu toda a congregação e disse em altas vozes: Assim seja; segundo as tuas palavras, assim nos convém fazer.

Não é surpresa que Esdras, e Neemias depois dele, terão sucesso. Você consegue imaginar essa cena? Esdras se levanta e corajosamente declara a vontade de Deus. O povo exclama: “Certo!” e assume a vontade de Deus como responsabilidade pessoal.

Qualquer igreja, agência missionária ou projeto para a causa de Cristo é abençoado incrivelmente quando possui líderes que proclamam a vontade de Deus e o povo da organização reage, dizendo: “É isso mesmo! Esdras, precisamos lidar com o pecado e obedecermos à Palavra de Deus. Esse será nosso dever sagrado.”

Agora, esse texto levanta o questionamento do divórcio, uma vez que os homens israelitas se divorciam de suas esposas pagãs. O divórcio era correto ou errado?

O divórcio tinha se tornado comum na comunidade de Judá e em Jerusalém no período pós-exílio. Muitos homens judeus tinham se divorciado de suas esposas a fim de se casar com mulheres pagãs ricas. A tradição rabínica comenta que esses divórcios aconteceram porque as mulheres judias tinham perdido sua beleza ao trabalharem debaixo do sol para reedificar seus lares e plantações. A mentalidade de se ter uma mulher bela para expor como troféu não é nada recente. Um autor escreveu:

Apesar de o divórcio jamais ser o ideal de Deus, no livro de Esdras ele foi o menor de dois males. Adoração de ídolos era muito pior do que se divorciar de mulheres idólatras que, no fim, diluiriam ou mesmo destruiriam a comunidade restaurada de Judá e o plano especial de Deus para a nação.

Outro autor ainda explica:

Uma situação desesperadora exige medidas drásticas. Um mal fora realizado que ameaçava a própria existência do povo de Deus e do único meio por meio do qual reconduzir o povo aos propósitos de Deus.

O que desejo deixar com você é o seguinte: confissão verdadeira está disposta a fazer o que for necessário para levar o indivíduo de volta à comunhão com Deus e à vontade de Deus. Muitos afirmam confessar, mas não estão dispostos a agir.

Confissão genuína leva o indivíduo a se levantar de seus joelhos e acertar as coisas; o pródigo volta para casa; o ladrão faz restituição; o adúltero reata a união; o que colou faz a prova de novo; o fofoqueiro repara os danos; o mentiroso diz a verdade. Confissão verdadeira é revelada por meio da ação.

  • O quinto e último ingrediente da confissão verdadeira é prestação de contas.

Um total de 113 homens judeus se envolveram com o pecado do casamento misto. 17 deles eram sacerdotes; 10 eram levitas, o que incluía cantores e porteiros; e 86 eram homens das tribos. E eles começaram a prestar contas uns aos outros depois que se reuniram com Esdras nos versos restantes do capítulo 10.

No fundo, todavia, eles eram responsáveis diante de Deus e isso foi revelado de forma poderosa. Note que a última parte do livro de Esdras (10.18–44) não passa de uma lista de nomes—uma lista de 113 homens que pecaram contra Deus e sua nação. Você consegue imaginar estar incluído nessa lista? Imagina ter seu pecado registrado por Deus na Bíblia!

Outras passagens bíblicas ensinam que Deus se esquece de nosso pecado e iniquidades, mas outras dizem que cada palavra inútil fica registrada, cada obra infrutífera é listada. E virá o dia quando compareceremos diante de Deus. Um desses julgamentos envolverá os crentes, os quais prestarão contas pela forma como viveram, usaram seus dons e aproveitaram oportunidades. Esse julgamento, chamado Bema de Cristo, aparece em 2 Coríntios 5. Outro julgamento incluirá somente descrentes; esse é o Grande Trono Branco, revelado com detalhes assustadores em Apocalipse 20. Toda a humanidade descrente será julgada segundo cada obra que realizou; cada pensamento foi registrado por Deus.

A diferença entre o crente—que é julgado e depois recompensado—e o descrente—que é julgado e depois condenado—é a palavra “confissão.” A diferença é se o indivíduo confessou Cristo ou não, se confessou seus pecados a Deus ou não. De forma simples, os que experimentam confissão verdadeira são salvos eternamente da condenação de pecado; os que recusaram confessar sofrerão a penalidade eterna por seus pecados. Meu amigo, nunca é cedo demais para se confessar, mas um dia será tarde demais.

Aplicação

Quero destacar três pensamentos que nos ajudam a reajustar nossa perspectiva a respeito da confissão.

  • Primeiro: confissão é uma oportunidade para nos lembrar de que nossas escolhas não trazem satisfação verdadeira.
  • Segundo: confissão é um lembrete de que, na verdade, não ficamos satisfeitos em nos deleitar em Cristo.

Ou seja, confissão não é dizer: “Senhor, ajude-me a vencer o materialismo,” mas: “Senhor, ajude-me a me deleitar em ti mais do que em minhas posses.” Confissão não é dizer: “Senhor, tire de mim esse desejo por pecado,” mas: “Senhor, dá-me mais desejo por ti.” No final, confissão não passa de um lembrete de que nós não ficamos totalmente satisfeitos com Deus.

  • Terceiro: confissão é uma necessidade, não porque violamos um mandamento de Deus, mas porque ofendemos o coração de Deus.

Conclusão

Permita-me concluir com três afirmações sobre a confissão verdadeira.

  • Primeiro: confissão verdadeira revela a sinceridade do coração.

Em um de seus livros, Max Lucado escreveu:

“Se confessarmos os nossos pecados...” A palavra mais poderosa da Bíblia pode até ser esta palavrinha de apenas duas letras: “se.” Isso porque confessar pecados—admitir o fracasso—é exatamente o que escravos do orgulho recusam fazer. “Bom, posso não ser perfeito, mas sou melhor do que Hitler!” “Eu, um pecador?! Certo, perco a cabeça de vez em quando, mas sou até bonzinho.” “Olha, sou tão bom quanto meu vizinho. Pago os impostos, faço doações para a Cruz Vermelha, etc. Deus deve ter orgulho de me ter em sua equipe.”

Justificação, racionalização, comparação—essas são as ferramentas de um condenado à prisão. Elas soam bem, soam familiar; mas no reino, serão vazias.

Muito bem colocado. Falsa confissão revela orgulho e autossuficiência do coração. Confissão verdadeira revela a sinceridade do coração.

  • Segundo: confissão verdadeira exige submissão por parte do crente.

Essa é outra maneira de dizer que você realmente mostra estar interessado em confissão verdadeira quando sua confissão produz ação.

Deixe-me ler para você sobre um reavivamento que varreu o País de Gales no início dos anos de 1900, motivado por confissão genuína. Mais de 100 mil pessoas responderam ao evangelho, vieram à fé e começaram as devoluções, o que causou problemas inesperados para os portos ao longo da costa do país. No decorrer dos anos, trabalhadores haviam roubado de tudo. Desde carrinhos-de-mão até martelos. Contudo, quando o povo buscou acertar as contas com Deus, eles começaram a devolver o que haviam roubado, o que resultou na aglomeração de pertences devolvidos nos estaleiros do País de Gales. Havia tanta ferramenta e maquinário sendo devolvidos que os estaleiros tiveram que colocar uma placa mandando que eles parassem. Uma placa dizia: “Se Deus conduziu você a restituir o que roubou, por favor, saiba que a administração da empresa o perdoou e deseja que você fique com o objeto roubado.”

  • E terceiro: confissão verdadeira reaviva fervor espiritual por Deus.

Em sua oração de confissão no Salmo 51, Davi implorou que Deus restaurasse a alegria de sua salvação.

Talvez o que você precisa para restaurar seu relacionamento inconsistente, apático e hesitante com Jesus Cristo não seja, necessariamente, mais um estudo bíblico, uma igreja nova, uma rotina diferente ou atitude positiva, mas nova consciência de seu pecado, uma confissão transparente de seu pecado, nova aversão ao pecado, seguidos de ação e prestação de contas. Em seguida, virá uma nova perspectiva da graça de Deus e um relacionamento íntimo e honesto com seu Pai Celestial, o qual, por causa de sua confissão, restaura a alegria da sua salvação.

 

Este manuscrito pertence a Stephen Davey, pregado no dia 18/07/1999

©Copyright 1999 Stephen Davey

Todos os direitos reservados

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