
Era Uma Vez Uma Noite de Insônia
Era Uma Vez Uma Noite de Insônia
Uma Sombra de Soberania – Parte 6
Ester 5.1–6.14
Introdução
O pastor puritano do século dezessete, Thomas Watson, escreveu o seguinte sobre a providência de Deus:
Destino cego não existe; o que existe é uma providência que guia e governa o mundo. Providência é o ato de Deus ordenar os detalhes de cada coisa segundo o conselho de sua vontade e para a sua glória. As engrenagens de um relógio parecem mover-se contrárias umas às outras, mas elas trabalham juntas para o progresso da hora marcada no relógio.
Outro puritano do século dezessete, Henry Law, escreveu:
Nem um pardal ou folha seca cai que não seja de acordo com a ordem determinada por Deus. Destino é uma imaginação de um travesseiro sonhador. Portanto, para o filho de Deus, não existe nenhum evento trivial ou sem importância. Questões significativas frequentemente dependem de palavras rápidas, olhares repentinos, passos inusitados.
Além do que estamos prestes a descobrir, ainda adiciono que questões significativas da vida frequentemente dependem de convites inesperados e de noite de insônia no palácio real. E tudo isso é nada menos do que o trabalho de Deus que prefere permanecer no anonimato, nas sombras, trabalhando através dos acontecimentos, decisões e planos, a fim de realizar seu plano e propósito últimos.
A hora da verdade chegou. A tinta naquele edito mal secou. Ester prometeu a Mordecai e ao povo judeu todo que arriscaria sua vida e confrontaria o rei a respeito do genocídio que ele e Hamã haviam determinado. Ela já convocou o povo todo a jejuar, o que significa oração. Os três dias de jejum agora se completaram. É hora de agir.
Vamos voltar nossa atenção para esse drama e fazer o nosso melhor para tentar acompanhar as mudanças surpreendentes nesses eventos.
A Hora da Verdade
Ester 5.1 diz:
Ao terceiro dia, Ester se aprontou com seus trajes reais e se pôs no pátio interior da casa do rei, defronte da residência do rei; o rei estava assentado no seu trono real fronteiro à porta da residência. Quando o rei viu a rainha Ester parada no pátio, alcançou ela favor perante ele…
Agora, isso foi fácil demais! Por vários séculos, estudiosos da Bíblia têm ficado perplexos diante desse favor imediato do rei. De maneira alguma o rei Assuero teria interrompido seus negócios na corte, violado o protocolo persa e dito simplesmente: “Entre aí, Ester. Está tudo bem com você?” Simplesmente, esse tipo de coisa não acontecia. E é por isso que Ester havia terminado seu discurso três dias antes, dizendo: “Se perecer, pereci.” Isso era o mais provável que aconteceria. Ninguém entrava na presença do rei e dizia que o seu tempo era mais importante do que dele!
Cerca de 100 anos antes do nascimento de Cristo, estudiosos judeus inseriram no meio desses versos um material a fim de tornar a história um pouco mais “acreditável.” A tradução grega do Antigo Testamento contém esse material adicional e ele diz o seguinte:
O coração de Ester saltava de tanto medo. Ao passar pelas portas, ela se pôs diante do rei. Levantando seu rosto avermelhado, ele olhou para ela enfurecido. A rainha tropeçou, ficou pálida e desmaiou. Alarmado, o rei saltou do seu trono e a tomou em seus braços, até que ela voltou à consciência. Em seguida, ele a confortou com palavras motivadoras.
Isso soa o mais parecido com A Bela Adormecida, não é?
Quando Esdras, sob inspiração divina, escreveu essas palavras, ele não usou uma linguagem tão colorida. Tudo o que temos um pouco mais adiante nos versos 2 e 3 é:
…estendeu o rei para Ester o cetro de ouro que tinha na mão; Ester se chegou e tocou a ponta do cetro. Então, lhe disse o rei: Que é o que tens, rainha Ester, ou qual é a tua petição? Até metade do reino se te dará.
Estender o cetro diante de Ester foi um protocolo real que significou aceitação diante do rei. Então, ao invés de morrer, Ester poderá continuar vivendo. Ao invés de repreendê-la ou despachá-la com certa irritação, o rei lhe concede toda sua atenção e os negócios da corte são interrompidos.
Lembro-me de certa vez ter ido ao Fórum no centro da cidade. Eu tenho um amigo que é juiz e ele me disse que, quando fosse até ao Fórum, deveria visitá-lo. Então, depois de resolver minhas coisas, entrei quietamente na sua sala de tribunal que estava em sessão e me sentei no fundo. No banco da frente estavam seis homens vestidos com macacão de cor laranja. Seus braços e tornozelos estavam acorrentados – todos os 6 presos uns aos outros. Evidentemente, o caso ouvido pelo meu amigo estava relacionado a esses 6 homens. Depois de pouco tempo, levantei-me para ir embora. Mas meu amigo juiz me viu e gesticulou pedindo que eu fosse até a frente. Eu não queria caminhar até a frente daquela sala diante do tribunal. Lá estava eu balançando minha cabeça e meu amigo gesticulando ainda mais pedindo que fosse até ele – ele era o juiz. Então eu fui, desci o corredor – todos pararam o que faziam – entrei pela portinha, passando por aqueles 6 homens que ficaram olhando para mim. O que eu deveria dizer para eles? “E aí, tudo bem?” Nunca passei por uma situação na qual minha presença ficou tão evidente como daquela vez. O tribunal inteiro parou porque eu entrei. Multiplique isso agora por 1000; nesse capítulo o juiz não tinha convidado Ester para entrar e dizer “oi.”
Estudos arqueológicos confirmam que, diante da presença desse monarca persa, ficava um homem em pé com um machado nas mãos.
Ouça bem, se não fosse a providência de Deus, Ester teria perdido sua cabeça naquela tarde. Mas, ao invés disso, e para a surpresa de todos, o rei diz no verso 3:
Que é o que tens, rainha Ester, ou qual é a tua petição? Até metade do reino se te dará.
Essa expressão significa que o rei estava disposto a fazer qualquer coisa em seu poder para satisfazer o pedido de Ester. Basicamente, ele diz: “Estou de bom humor hoje e vou fazer o que puder para você – é só dizer.”
Ester diz no verso 4:
…Se bem te parecer, venha o rei e Hamã, hoje, ao banquete que eu preparei ao rei.
Em outras palavras, “Quero que você venha até os meus aposentos depois do seu trabalho para jantar comigo. Eu preparei sua refeição predileta do jeito que gosta. Ah, traga também o primeiro-ministro quando você vier.”
E a propósito, essa foi uma atitude de gênio. Ao convidar Hamã, ela cria a oportunidade para que o ego dele obscureça seus sentidos – qualquer suspeita que ele porventura tivesse teria sido completamente neutralizada. Ele deveria ter pensado: “Por que a rainha arriscaria sua vida para convidar o rei para o jantar? Essa rainha está armando alguma coisa e é melhor eu descobrir o que é.”
Ao invés disso, ele fica encantado com o convite para se juntar ao rei e à rainha em um jantar que ele nem sequer tinha pedido para participar. Hamã foi correndo para o seu guarda-roupas para escolher o seu melhor terno.
Ah, e no caso de você não ter notado isso, esse não foi o plano que Ester originalmente havia feito. Ela havia dito a Mordecai antes que, depois de três dias de jejum, entraria na presença do rei e, se ela perecesse, teria perecido. O plano era pedir ao rei lá mesmo. Mas durante os três dias de jejum, a sabedoria de Deus obviamente trabalhou em sua mente e coração. Ester formulou um plano para colocar o rei e o outro conspirador, Hamã, sozinhos com ela, distantes da corte, longe da imprensa, distante da vergonha pública óbvia que viria sobre o rei quando ele descobrisse que sua própria mão assinara a sentença de morte de sua querida esposa, a rainha. Essa seria a segunda rainha a perder consecutivamente por causa de suas decisões tolas e precipitadas.
Então o rei e Hamã chegam para o jantar. Depois que o jantar termina e o rei e Hamã estão bebendo vinho, ele diz a Ester no verso 6:
…Qual é a tua petição? E se te dará. Que desejas? Cumprir-se-á, ainda que seja metade do reino.
Em outras palavras, o que é tão importante para você a ponto de querer arriscar sua vinda para fazer seu pedido? Então, Ester responde nos versos 7 e 8:
Minha petição e desejo são o seguinte: se achei favor perante o rei, e se bem parecer ao rei conceder-me a petição e cumprir o meu desejo, venha o rei com Hamã ao banquete que lhes hei de preparar amanhã, e, então, farei segundo o rei me concede.
De onde ela tirou essa ideia? Minha petição e desejo são: “Bom, quero que você venha ao meu jantar amanhã à noite e direi a você.”
Alguns comentaristas acreditam que Ester se acovardou. Ela simplesmente não conseguiu colocar para fora. Sinceramente, podemos entender, não é? Do outro lado da mesa com o rei estava seu companheiro, inspirado pelo demônio, terrivelmente intimidante, o inimigo de sangue frio do povo judeu. Com certeza, ela passou a refeição inteira aterrorizada e teve dificuldades em parecer como se tudo estivesse feliz e normal.
Outros acreditam que Ester estava, com bastante inteligência, conduzindo seu marido a querer fazer o que ela pedisse, independente de qual fosse o pedido. O problema com essa interpretação de Ester estar manipulando o rei a fazer o que ela desejar é que o rei já havia dito no verso 6 que concederia seu pedido até mesmo antes de saber qual era o pedido. Ester não precisava de uma garantia dupla do rei. Na verdade, ela correu o risco de irritá-lo com mais uma demora.
O que eu creio que está acontecendo aqui é que a providência de Deus está movendo o coração de Ester a retardar o seu pedido. Da perspectiva de Ester, ela deve com certeza ter ficado com bastante medo, perdido até mesmo sua coragem. Mas da perspectiva de Deus, era plano divino que ela não fizesse o pedido até à noite seguinte. Havia várias coisas que Deus estava para iniciar e controlar no decorrer daquela noite de insônia. Sem o conhecimento de Ester, Hamã planejará matar Mordecai na manhã seguinte antes de comparecer ao segundo banquete. Em outras palavras, o plano de Ester de rogar ao rei pela vida de seu povo na noite seguinte teria fracassado e ela não teria conseguido salvar a vida do homem que ela mais desejava salvar: Mordecai, seu pai adotivo.
Lembre-se: o livro de Ester não é uma revelação de quão inteligente as pessoas são, mas uma demonstração viva e dramática de como Deus é inteligente, quão sábio e soberano ele é em sua providência. A não ser que Deus faça algo naquela noite para mudar o curso dos acontecimentos, Mordecai está a apenas 24 horas de seu enforcamento. Algo deve acontecer que colocará Mordecai numa posição bastante favorável diante do rei, algo que Ester jamais teria sequer imaginado. Mordecai estará em perigo mortal antes mesmo de os servos de Ester terminarem de lavar a louça daquele primeiro jantar na primeira noite. E o verso 9 revela o porquê de seu perigo de morte iminente:
Então, saiu Hamã, naquele dia, alegre e de bom ânimo; quando viu, porém, Mordecai à porta do rei e que não se levantara, nem se movera diante dele, então, se encheu de furor contra Mordecai.
Evidentemente, Mordecai sabia que Ester havia sido recebida pelo rei. Mordecai não está mais do lado de fora do prédio administrativo vestido de pano de saco. Agora, ele está lá dentro, sentado em seu escritório.
E quando Hamã caminha pelas dependências do centro administrativo do império aquela noite a caminho de sua casa, nem todas as pessoas se curvam diante dele. Mordecai nem mesmo se levanta de seu assento; diante de todos os demais funcionários, Mordecai descaradamente insulta o primeiro-ministro. Esse é o último insulto contra o egomaníaco diante do qual todos deveriam se rastejar.
Mas o verso 10 nos diz que Hamã, porém, se conteve e foi para casa. Em outras palavras, ninguém estragará sua festa – ele acabou de ser convidado novamente para jantar com o rei e a rainha da Pérsia; depois ele resolverá suas diferenças com Mordecai. Então, o verso 10 continua dizendo: e mandou vir os seus amigos e a Zeres, sua mulher.
“Espere até todos ouvirem o que aconteceu comigo hoje à noite. Esse foi o melhor dia da minha vida; e amanhã ainda será melhor!”
Outro Narciso
Veja como Hamã continua falando e falando; o verso 11 diz:
Contou-lhes Hamã a glória das suas riquezas e a multidão de seus filhos, e tudo em que o rei o tinha engrandecido, e como o tinha exaltado sobre os príncipes e servos do rei. Blá, blá, blá, blá, blá... é o que diz o texto hebraico.
Assim como Narciso da lenda grega, seu maior amor era o seu próprio reflexo. Ele estava tão cativado por si mesmo que se tornou seu objeto favorito de devoção. Você trabalha com alguém assim?
- Eles são convidados para algum lugar e você tem que ouvir sobre tudo aquilo e por que;
- Eles são promovidos pelo chefe e você tem que ouvir todos os motivos por que mereciam a promoção;
- Eles compram algo novo e você tem que ver;
- Eles voltam de uma viagem e todos no trabalho têm que ouvir sobre cada cena da viagem; e todas as foto também: “Olha, aqui sou eu; eu aqui de novo; eu em pé ali...”.
Quando eu era criança, aprendi uma cantiga interessante em um acampamento. A letra dizia:
Ah, como é difícil ser humilde
Quando se é perfeito em todas as áreas;
Não consigo tirar meus olhos do espelho
Porque fico melhor a cada dia.
Os acampamentos eram experiências bastante espirituais para mim!
Acontece que essa era a cantiga predileta de Hamã. Ele a cantava em todo momento quando tinha oportunidade e para qualquer pessoa que ele conseguisse fazer ouvir. Lá estava Zeres, sua esposa, e todos os familiares e vizinhos de Hamã; todos já ouviram essa cantiga antes: seus filhos, seu emprego, seu dinheiro, a admiração que o rei tem por ele, como a Pérsia não seria a mesma sem ele, etc. A cabeça de Hamã era um balão de ar gigante: ele era presunçoso, exaltava e louvava a si mesmo, era consumido de si mesmo.
Mas você notou que, até mesmo quando ele está falando sobre sua vida maravilhosa e sobre como é maravilhoso, no fundo de seu ser, ele ainda é infeliz? Note o verso 13:
Porém tudo isto não me satisfaz, enquanto vir o judeu Mordecai assentado à porta do rei.
Esse é um clássico exemplo da natureza humana! Eu tenho 99 coisas, mas quero 100! A única coisa que não tenho me priva de ficar feliz por todas as outras que tenho.
Assim como o rei Acabe que entrou emburrado em seu quarto e sua mulher Jezabel lhe perguntou: “Qual é o problema?” E Acabe respondeu: “Eu quero a vinha de Nabote, mas ele não quer me vendê-la. É por isso que estou emburrado!” Mas ele já tinha vinhas e plantação de orquídeas e campos e servos e muitas propriedades... ele era o rei. Mas ele queria mais uma coisa e aquela coisa tomou conta de seus olhos, de sua visão.
Será que existe algo em sua vida bloqueando sua visão? Será que existe algo que você não possui e que trouxe para junto de seu coração a ponto de não conseguir enxergar mais nada além disso?
A verdade é que somos mais parecidos com Hamã do que gostaríamos de admitir. A pessoa favorita que gostamos de agradar é nós mesmos; o tópico predileto de nossas conversas é quem somos e como sentimos e o que queremos; a pessoa que mais merece ser tratada corretamente e bondosamente é nós mesmos. O que mais atrapalha o meu crescimento como crente sou eu mesmo, não é verdade?
Ah, que nosso anelo esteja em Deus para removermos dos nossos olhos aquilo que obscurece nossa visão. Daí poderemos ver o próximo e Cristo. Então, consideraremos os outros superiores a nós mesmos, conforme Filipenses 2.3, e o Senhor será o objeto de nossa maior devoção (Salmo 73.25).
O desejo de Hamã por mais uma coisa levará à sua própria destruição. Sua esposa e amigos lhe dão bons conselhos. Veja o verso 14. Eles dizem:
Faça-se uma forca de cinqüenta côvados de altura, e, pela manhã, dize ao rei que nela enforquem Mordecai; então, entra alegre com o rei ao banquete. A sugestão foi bem aceita por Hamã, que mandou levantar a forca.
Ester não sabe nada sobre isso; seu banquete na noite seguinte será tarde demais. Mordecai também ainda não sabe – ele será preso na manhã seguinte e enforcado.
Na verdade, para os persas, esse termo se referia à estaca na qual a vítima era empalada ou espetada e exposta ao público. A estaca era colocada sobre uma plataforma ou algum monte. Zeres, a mulher de Hamã, diz que ele deve se certificar de que essa estaca esteja a pelo menos 20 metros de altura – ela não quer que ninguém perca essa demonstração pública do poder de seu marido sobre a vida e a morte. A essa altura na história, as coisas nunca estiveram piores. Mordecai já é um homem morto, a não ser que Deus faça algo no decorrer da noite. E como Deus sempre age! E, novamente, controlando corações, mentes e circunstâncias, a fim de cumprir seu plano perfeito.
Uma Insônia Inspirada
A cena seguinte se abre com um caso complicado de insônia divinamente ordenada. O capítulo 6 começa da seguinte forma:
Naquela noite, o rei não pôde dormir; então, mandou trazer o Livro dos Feitos Memoráveis, e nele se leu diante do rei.
Gosto muito dessa passagem. Aqui está o rei em sua câmara particular, mas ele não consegue dormir. Os servos leem um jornal para ele, ele conta os carneirinhos e pega uma revista. Contudo, nada funciona. Então ele ordena que um servo entre e leia literalmente “as palavras dos dias.” De todos os materiais possíveis oficialmente registrados todos os anos – e os persas eram conhecidos no mundo inteiro pelo cuidado administrativo e registros – dentre todos os materiais que o servo tinha a liberdade de escolher, ele volta ao rei e começa a ler os eventos de uma conspiração contra o rei, aquela conspiração que Mordecai descobrira e informara a Ester e ela, por sua vez, informara ao rei.
A leitura desse evento que tinha ocorrido cerca de cinco anos antes realizou várias coisas, dentre elas relembrou o rei a respeito da lealdade de sua esposa Ester e da lealdade de um membro de seu escritório chamado Mordecai. E também revelou algo vergonhoso. O rei pergunta ao servo vou no verso 3: Que honras e distinções se deram a Mordecai por isso?
Em outras palavras: “Conforme consta nos registros, como eu retribuí esse homem que salvou minha vida cinco anos atrás?” E o servo continuou lendo os parágrafos seguintes e respondeu: Nada lhe foi conferido.
Agora, isso é completamente estranho aos costumes persas. Ele já havia recompensado almirantes fiéis dando-lhes porções de terra; ele havia transformado um outro homem em governador da Cilícia por haver salvo a vida do seu irmão. O pai e o avô de Assuero haviam recompensado cidadãos fiéis com joias e roupas. Seu tataravô, Ciro, havia recompensado um general fiel com um cavalo e um freio de ouro, bem como um punhal de ouro e um belo manto persa. Os recipientes dessas honrarias ganharam até um título especial: eles eram conhecidos como os “Beneficiários do Rei.”
E agora, nessa ocasião, o rei Assuero não tinha cumprido uma tradição da realeza. E, veja bem, com essa leitura ele descobre que Mordecai era um judeu. Agora, isso cria um certo dilema, não é? Como ele promoveria alguém que anteriormente já havia condenado à morte? Existem duas possibilidades aqui. A primeira, por causa de sua completa falta de atenção, o rei não percebera a conexão entre a linhagem de Mordecai eu o edito que ele havia assinado algumas semanas antes. A segunda possibilidade e a mais possível, é que Hamã não revelou ao rei a identidade do povo que seria destruído. Na verdade, o que chamou minha atenção ao ler o capítulo 3 novamente, foi que o próprio Hamã escreveu o edito e usou o anel do rei para selá-lo como ordem real.
Por causa da sua falta de valor a vida, Assuero nem sequer buscou descobrir qual era o povo que ele estava autorizando ser destruído por Hamã! E exatamente na hora que o servo ia informar ao rei que o seu súdito leal Mordecai – que nunca havia sido recompensado – era judeu, adivinha quem aparece na câmara do rei? Hamã, o cabeça de balão!
Ele acabou de construir a forca; ele está animado demais depois de dormir e decide começar o serviço logo cedo pela manhã. E ele também está nas alturas; sua grande esperança é a de que conseguirá se livrar do homem que se recusa a se dobrar diante dele. Além disso, ele tem um jantar particular agendado com o rei e a rainha. Este realmente será o melhor dia de sua vida!
Note o verso 6:
Entrou Hamã. O rei lhe disse: Que se fará ao homem a quem o rei deseja honrar? Então, Hamã disse consigo mesmo: De quem se agradaria o rei mais do que de mim para honrá-lo?
Obviamente, Hamã pensa que o rei está falando sobre ele. Então ele responde nos versos 7 e 8:
Quanto ao homem a quem agrada ao rei honrá-lo, tragam-se as vestes reais, que o rei costuma usar, e o cavalo em que o rei costuma andar montado, e tenha na cabeça a coroa real;
Vamos parar por um momento aqui. Não dê ao homem somente um cavalo; dê-lhe um cavalo no qual você montou. Está evidente que Hamã pensou bem como ele gostaria de ser honrado pelo rei. A lista de presentes dele já estava pronta!
Apesar de já ter muito, ele ainda não tem uma coisa – o papel de rei. Ele tem muito dinheiro, poder e prestígio, mas não é o rei. Portanto, ele basicamente pede ao rei que honre esse homem ao deixá-lo agir como rei e ser tratado como rei por toda a tarde: “Dê a este homem uma de suas roupas pessoais! Não lhe dê uma simples roupa; dê-lhe uma roupa que você já vestiu enquanto sentado no trono!”
Deixe-me ainda adicionar o seguinte sobre a cultura do Oriente Médio. As vestes eram consideradas parte do corpo, uma parte do ser; elas representavam quem a pessoa era.
- As vestes sacerdotais de Arão foram passadas ao seu filho para que as vestisse quando herdou o ofício sacerdotal (Números 20);
- Eliseu recebeu um manto, a capa de Elias, simbolizando que agora ocupava o lugar de Elias como profeta (2 Reis 2.14);
- Os oficiais do exército colocaram as suas roupas nas escadas para que Jeú andasse sobre elas, significando que ele tinha autoridade sobre suas vidas; suas roupas representavam suas vidas (2 Reis 9.13);
- Quando Jesus entrou em Jerusalém montado em um jumento enquanto as pessoas gritavam “Hosana”! e abanavam ramos de palmeiras – um símbolo de aceitação de sua realeza como Filho de Davi – o Evangelho de Lucas também nos informa que as pessoas deitaram suas roupas na estrada para Jesus andar sobre elas. Em outras palavras, elas estavam simbolicamente rendendo suas vidas a Jesus (Lucas 19).
Fica evidente que Hamã já tinha pensando em tudo isso antes. Ele já tem tudo “na ponta da língua” pronto para imediatamente dizer ao rei como aumentar a honra desse súdito merecedor. Realmente, este está prestes a ser o melhor dia de sua vida!
A Grande Mudança
O que ocorre em seguida é o que chamamos simplesmente de uma mudança radical. Acompanhe comigo o verso 10:
Então, disse o rei a Hamã: Apressa-te, toma as vestes e o cavalo, como disseste, e faze assim para com o judeu Mordecai, que está assentado à porta do rei; e não omitas coisa nenhuma de tudo quanto disseste.
Estas palavras arrasaram com Hamã. A construção hebraica indica que o próprio Hamã vestirá Mordecai com os mantos reais, o colocará no cavalo real e conduzirá o cavalo pela praça da cidade, declarando que Mordecai é honrado de tal forma conforme o desejo do rei. Mordecai saiu de pano de saco e lamento a esplendor, enquanto Hamã saiu de esplendor para lamento. Essa é a grande mudança.
Hamã volta para casa a fim de trocar de roupa para comparecer ao jantar no palácio. Seu humor está completamente transformado. Sua esposa e amigos se juntam e, ao invés de ajudá-lo a lamber suas feridas, eles lhe dizem no verso 13:
Se Mordecai, perante o qual já começaste a cair, é da descendência dos judeus, não prevalecerás contra ele; antes, certamente, cairás diante dele.
Eles mal terminaram de proferir essas palavras e a limusine pessoal do rei chega para levar Hamã para o segundo jantar. Somente Deus é capaz de orquestrar a hora desses acontecimentos.
Outro dia, um amigo meu fez o seguinte comentário a respeito deste estudo no livro de Ester: “Quando você mencionou outro domingo que as peças do xadrez pertencem a Deus, o que chamou mais minha atenção é que Deus pode mover um rei com a mesma facilidade com que pode mover um peão. Ele pode mover a rainha para um lugar com a mesma facilidade com que ele pode mover um bispo; o jogo pertence a ele.”
E nessa história as peças estão sendo movidas com precisão divina:
- Um rei que não consegue dormir;
- Uma rainha que demora até o segundo jantar para poder fazer seu pedido;
- Um servo que lê a página certa do livro das crônicas dos reis;
- O homem que salva a vida do rei, mas que não é recompensado até momentos antes de ser executado sem nem mesmo saber;
- Um homem no topo do mundo que agora conduz um cavalo como um escravo por meio da praça pública, tendo seu maior inimigo sobre o cavalo.
Somente Deus pode orquestrar todos esses detalhes em apenas uma noite de insônia.
Existem três considerações profundas a respeito da providência de Deus a aprendemos nesta passagem que estudamos.
- Primeiro, Deus está agindo mesmo quando as circunstâncias parecem estar fora de controle.
Sinceramente, eu tenho poucas dúvidas que, nessa noite de insônia, possivelmente a notícia foi levada a Mordecai – e talvez até Ester – de que a forca estava sendo construída – e o porquê de estar sendo construída.
- Segundo, Deus está agindo mesmo quando a vida é imprevisível.
Você consegue imaginar a situação emocional de Mordecai?
- Ele é apenas um “Zé-ninguém;”
- Depois, ele é promovido a trabalhar diretamente para o rei dentro do prédio administrativo do palácio;
- Daí, ele é sentenciado à morte pelo edito de Hamã;
- Depois, ele está do lado de fora do palácio lamentando em pano de saco;
- Finalmente, ele é recompensado pelo rei e vestido em traje real.
Meu amigo, estabilidade na vida nunca vem da própria vida, mas da confiança naquele que nos dá a vida.
- Terceiro, Deus está agindo mesmo quando o pecado parece ser implacável.
O edito foi escrito pela lei dos medos e dos persas que não pode ser revogada. E essa forca tem sete andares de altura. As coisas nunca pareceram piores, mas Deus estava trabalhando.
Assim como o salmista que escreveu no Salmo 121.4: É certo que não dormita, nem dorme o guarda de Israel. Então, quando você tem problemas de insônia, Deus está acordado com você; quando você finalmente consegue dormir, ele não dorme, mas continua trabalhando. Porque Deus nunca se cansa, você pode se cansar; porque Deus nunca dorme, você pode dormir. Você não precisa controlar as situações, circunstâncias ou pessoas. Deus já controla tudo. Mesmo quando as estrelas são visíveis e o sol desapareceu, seus mensageiros angelicais executam sua vontade. Os eventos da vida são seus cavaleiros montados sobre os ventos de sua vontade. Suas ações e planos se movem pelo universo com precisão perfeita e poder implacável.
- Deus está agindo mesmo quando as circunstâncias parecem estar fora de controle;
- Deus está agindo mesmo quando a vida é imprevisível;
- Deus está agindo mesmo quando o pecado parece ser implacável.
Existe uma forca de 20 metros de altura, mas, por algum motivo, o rei não consegue dormir.
William Cowper foi amigo de John Newton, antigo mercador de escravos que se converteu e escreveu o famoso hino Graça Sublime. Numa bela noite, ele pediu por uma carruagem e mandou que o motorista o levasse até à beirada de um rio, onde planejava se jogar e se afogar. O motorista, percebendo o estado emocional do seu passageiro, deu graças a Deus por uma neblina densa que de repente tomou conta da região. Ele, propositadamente, se perdeu no caminho dentro daquela neblina, manobrando a carruagem de uma estrada a outra, até que William adormeceu. Várias horas se passaram até que o motorista retornou à casa de William: “Por que estamos na minha casa?” O motorista explicou: “Senhor, nos perdemos na neblina; desculpe-me.” William pagou o que devia, entrou em sua casa e ficou ponderando sobre como a providência de Deus o havia protegido de si mesmo. Naquela mesma noite, ele compôs o famosos Hino do Cantor Cristão, Fonte Divina.
Este manuscrito pertence a Stephen Davey, pregado no dia 30/10/2011
© Copyright 2011 Stephen Davey
Todos os direitos reservados
Add a Comment