
Intriga de Famílias
Intriga de Famílias
Uma Sombra de Soberania – Parte 4
Ester 2.21–3.15
Introdução
Em Ester capítulo 2, estamos prestes a testemunhar uma grande intriga entre duas famílias. E é uma intriga de tal proporção que pode ceifar as vidas de milhares de pessoas. É uma disputa entre a família de Mordecai e a família de Hamã.
Muitos estudiosos do Antigo Testamento acreditam que não é nenhuma coincidência o fato de as genealogias tanto de Mordecai como de Hamã serem explicitamente fornecidas no livro. E eu concordo. A genealogia de Hamã revela por que sua decisão de massacrar milhares de judeus é muito mais do que uma mera decisão política; é uma questão pessoal.
O sangue ruim dessa família volta até o livro de Êxodo, capítulo 17, onde os amalequitas se tornaram a primeira nação no mundo a atacar a recém-formada nação da aliança de Deus. Apesar de os amalequitas terem sido derrotados naquela batalha, eles passaram os próximos 900 anos em guerra contra os judeus.
No livro de 1 Samuel, o rei Saul recebe a ordem para executar o julgamento de Deus contra os amalequitas e o rei Agague. Mas, ao invés de obedecer a Deus, Saul poupa Agague e o melhor do gado. O profeta Samuel condena Saul por sua desobediência e ele mesmo executa Agague
(1 Samuel 15.33).
Todavia, mesmo com Aguage morto, seus descendentes ainda continuaram a se espalhar, levando consigo sua ira contra Deus e contra os judeus. Apesar de rixas entre as duas nações sempre derramarem sangue, o livro de Ester fornece o clímax terrível desse drama. A ameaça contra os judeus nunca foi tão intensa. Ester 3.10 nos diz:
Então, o rei tirou da mão o seu anel, deu-o a Hamã, filho de Hamedata, agagita, adversário dos judeus,
Você notou como as Escrituras descrevem Hamã? A Bíblia o descreve como adversário dos judeus. Por quê? Porque Hamã é descendente de Agague! Ele tem um longo histórico com esse povo judeu; então, agora, ele tentará acabar com os judeus ao redor de todo o Império Persa e ter sucesso naquilo que seus predecessores fracassaram.
Mas não ignore o verdadeiro problema aqui. O que Esdras deseja que entendamos ao escrever esse registro inspirado por Deus é que essa intriga não diz respeito a simples batalhas perdidas. A ênfase aqui é em como o povo do mundo odeia o povo de Deus.
Superficialmente, podemos voltar à história de uma nação derrotada, um rei executado, uma família despojada de sua dignidade e com orgulho ferido para descobrir as razões que Hamã tem para odiar tanto os judeus. Mas, debaixo dessa superfície, descobriremos que o motivo para esse ódio não está ligado à história da família. O ódio de Hamã é inspirado pelo verdadeiro inimigo dos judeus – o próprio Satanás – que por vários séculos tem tentado destruir a nação da aliança de Deus, a fim de assegurar que Deus não cumpra seus planos e propósitos. Isso aqui é muito mais do que uma longa rixa entre amalequitas e israelitas; aqui vemos a constante batalha entre o reino das trevas e o reino da luz. Hamã, assim como Agague antes dele, é apenas um peão nas mãos de um diabo desesperado que passará toda a história tentando destruir o amado povo de Deus. O rei Agague não foi o primeiro a atacar os judeus e, como bem sabemos, Hamã não será o último.
Tendo esse contexto em vista, vamos continuar nossa história em Ester 2.21.
A Desejada Promoção de Mordecai
Imediatamente notamos que Mordecai foi promovido ao palácio – sem dúvidas devido à influência de Ester. É-nos dito em 2.19 que Mordecai estava assentado à porta do rei.
Agora, isso pode soar como se Mordecai estivesse sentado à porta da garagem do rei, checando as placas dos carros que entravam e saíam do palácio, o que não soa muito com uma promoção no emprego. Mas quando entendemos o significado da porta do rei, nossa perspectiva muda.
Essa porta era, na verdade, uma sala grande dentro do complexo real. Esse era o prédio administrativo onde transações legais, civis e comerciais eram realizadas em favor do rei. Quando arqueólogos escavaram o palácio de Susã, eles descobriram que o tamanho da porta do rei era de mais de mil metros quadrados. Eles até acharam uma inscrição feita por Assuero, revelando que a porta havia sido construída pelo seu pai, o rei Dario.
Portanto, estar do lado de dentro dessa porta significava fazer parte dos grandes líderes e poderosos do reino, fazer parte do círculo de amigos íntimos do rei, ser convidado para as festas do escritório na casa do rei e até receber presente de Natal das mãos do rei – talvez uma toalha ou uma taça chinesa com as iniciais do rei Assuero.
Mordecai é oficialmente apresentado. Mas, enquanto ele trabalha diligentemente nos negócios do rei, um dos seus colegas do escritório lhe informa a respeito de um complô para assassinar o rei.
O Complô Mortal do Eunuco
O complô, ou trama, é revelado no capítulo 2, verso 21:
Naqueles dias, estando Mordecai sentado à porta do rei, dois eunucos do rei, dos guardas da porta, Bigtã e Teres, sobremodo se indignaram e tramaram atentar contra o rei Assuero.
Esses homens não queriam apertar a mão do rei; eles queriam lançar as mãos contra o rei!
E quem eram esses homens exatamente? Bom, o verso no diz que eles eram guardas da porta, o que significa que ficavam de pé do outro lado da porta do escritório do rei. Eles eram a última linha de defesa para o rei.
Não nos é dito por que eles queriam matar o rei, mas o fato de serem eunucos pode fornecer uma pista. Heródoto registra que cerca de 500 garotos eram, todos os anos, levados de nações subjugadas para a sede do império a fim de servirem o rei como eunucos. Era um ato brutal que evidenciava como os povos conquistados estavam à mercê do rei.
Os eunucos eram sempre encarregados de cuidar do harém do rei. Muitos deles eram de bastante confiança e se tornavam oficiais de liderança em impérios da antiguidade. Um dos eunucos mais famosos nas Escrituras foi o profeta Daniel, que foi levado por Nabucodonosor, rei da Babilônia, quando Jerusalém foi destruída. Ao invés de ficar tomado de amargura e ira por causa de sua castração e escravidão forçadas, Daniel se tornou um embaixador fiel e diligente para o seu Deus vivo e verdadeiro. No futuro, ele ainda conduziria líderes políticos à fé no seu Deus por causa de seu serviço diligente. Mas Daniel foi um caso raro. Frequentemente na história antiga, eunucos se envolviam em motins. Portanto, não é surpresa saber que no capítulo 2 de Ester esses eunucos planejam assassinar o rei.
Todavia, a tentativa deles fracassa. Josefo nos informa que os servos de um dos eunucos ouviu a conversa dessa conspiração e contou para Mordecai. Ester 2.22 continua a história e nos diz Mordecai o revelou à rainha Ester, e Ester o disse ao rei, em nome de Mordecai. Ester fez questão de mencionar o nome do administrador fiel do rei.
Mordecai é um herói! Ele salvou a vida do rei! Pensaríamos que o rei lhe daria um relógio de ouro, um aumento no salário ou uma semana de férias. Mas o que o rei faz? Nada! Por algum motivo estranho, o rei totalmente ignora Mordecai. O verso 23 de Ester 2 diz:
Investigou-se o caso, e era fato; e ambos foram pendurados numa forca. Isso foi escrito no Livro das Crônicas, perante o rei.
Só isso. Nada de aumento de salário para Mordecai, nenhuma tapinha nas costas por causa de sua lealdade; nada de “Obrigado por ter salvo a minha pele.” Isso é muito estranho porque, de acordo com a história, atos de lealdade eram geralmente recompensados pelos reis da Pérsia imediata e generosamente. Portanto, não existe nenhuma explicação lógica ou histórica para a ausência de recompensa para Mordecai.
Mas existe uma explicação teológica. Deus não quer que o rei faça nada fora do momento adequado. Esse tempo chegará no capítulo 6, quando Hamã estará perto de suceder em sua conspiração demoníaca de aniquilar o povo de Deus. O Senhor trará à mente do rei o ato heroico de Mordecai quando o diabo estiver pensando que venceu. O rei mandará Hamã recompensar Mordecai, apesar de, sem o conhecimento das outras pessoas, Hamã ter acabado de construir a forca para pendurar Mordecai.
Deus está movimentando as peças no tabuleiro de xadrez da história humana exatamente para onde deseja; e, no momento certo, Deus dará o xeque-mate no reino das trevas. Essa é a boa notícia; mas é somente daqui a quatro capítulos. Então, vamos voltar às más notícias.
A Postura Desobediente de Mordecai
Ao invés de honrar ou até mesmo promover Mordecai, note o que o rei faz em Ester 3.1-2:
Depois destas coisas, o rei Assuero engrandeceu a Hamã, filho de Hamedata, agagita, e o exaltou, e lhe pôs o trono acima de todos os príncipes que estavam com ele. Todos os servos do rei, que estavam à porta do rei, se inclinavam e se prostravam perante Hamã; porque assim tinha ordenado o rei a respeito dele. Mordecai, porém, não se inclinava, nem se prostrava.
Precisamos entender que isso aqui é muito mais do que mero protocolo ou cortesia do palácio. Na verdade, todas as vezes que os verbos hebraicos “se inclinavam” e “se prostravam” são colocados lado a lado no Antigo Testamento, eles sempre se referem a adorar e reverenciar a Deus.
Podemos sentir a tensão subindo no ar, não é mesmo? Mordecai arrisca perder tudo o que já conseguiu até agora ao recusar se inclinar diante de Hamã. Por quê? Bom, eu já li várias interpretações dadas por estudiosos do Antigo Testamento sobre o porquê de Mordecai não ter se prostrado diante de Hamã:
- ele era arrogante e estava chateado porque Hamã foi promovido ao invés dele;
- ele não tinha interesse na política do palácio;
- ele não gostava de Hamã;
- ele gostava de irritar Hamã que, em contrapartida, queria que todos o tratassem como um deus.
Apesar de poder existir verdade nessas opiniões, a razão mais importante por que Mordecai recusa se prostrar se encontra no verso 4; nem precisamos tentar adivinhar. A Bíblia claramente nos diz que, quando os servos do rei perguntaram a Mordecai por que ele não se prostrava, ele respondeu dizendo que ele era judeu.
Portanto, Mordecai não reage contra o protocolo persa. Sua reação é contra o fato de Hamã querer que o povo basicamente adore o chão onde ele pisa. Um judeu fiel jamais prestaria esse tipo de reverência a outro além de Deus; e Mordecai não aceita aquilo.
Mas espere um pouco. Esse não é o mesmo Mordecai que havia recusado voltar para Jerusalém? Não é esse o mesmo judeu que enviou sua filha adotiva para o harém pagão e mandou que ela mantivesse sua nacionalidade em segredo? Sim. Então, o que aconteceu com ele? Ele manteve sua herança em segredo por cinco anos e fez Ester manter a dela em segredo também: “Não podemos deixar ninguém saber que somos judeus; isso irá atrapalhar suas chances de conseguir a coroa e minhas chances de subir de posição social.” Agora, de repente, ele revela o segredo. Por quê? Mordecai finalmente conseguiu o que tanto desejara—ele fez um nome para si. Por que sacrificar sua posição e reputação neste momento? E isso para não mencionar a reputação de Ester. As pessoas sabem que Mordecai a criou. Ele fez parte da celebração e a carreira dele se beneficiou com a vitória dela. O que acontecerá com Ester?
Felizmente, Deus fecha os olhos de Hamã para o parentesco de Mordecai e Ester. Se ele tivesse percebido isso, teria tentado assassinar a rainha antes de passar o seu edito. Mas ele não percebeu; ele não ligou os pontos até que já era tarde demais; e a sua falta de percepção lhe custaria a vida.
Só pode existir algumas poucas razões por que Mordecai esperou até esse momento para revelar sua identidade. A primeira razão pode ser que ele descobriu como as demais coisas eram insignificantes. Ele era um homem que tinha subido a escada do sucesso e chegou até o topo só para descobrir que ela estava encostada contra a parede errada. Seu prato estava cheio, mas seu estômago vazio.
Certa vez eu conversava com um amigo meu que é diretor do Ministério de Esportes em nossa igreja. Ele me contou como Deus o salvou: “Pastor, eu tinha uma grande carreira profissional e muito dinheiro, mas ainda estava vazio. Então, conheci a verdade.” Depois ele começou a me dizer como buscou uma igreja que ensinava a Bíblia. Apesar de ter crescido na igreja católica, ele visitou igrejas católicas e protestantes—dezenas delas. Ele me contou que várias vezes dirigiu em frente à nossa igreja, até que finalmente decidiu nos visitar. Quando nos visitou, viu a congregação inteira e o seu pastor com as Bíblias abertas, e ele ficou pensando: “Eles estão estudando a Bíblia!” Ele sorriu e disse que uma senhora sentada atrás dele começou a conversar. Alguns meses depois, descobriu que aquela querida senhora era minha esposa! Até hoje me lembro de ele ter vindo até mim algumas semanas depois de ter nos visitado, pedindo que eu orasse com ele. Nós nos ajoelhamos e ele entregou sua vida a Jesus Cristo. Daquele momento em diante, o vazio dentro dele foi preenchido.
Já faz pelo menos quatro anos que Mordecai está no palácio; ele tem até um escritório particular, e possui servos, prestígio e poder; além disso, sua filha adotiva é a rainha da Pérsia. Ele tem tudo, mas esse tudo parece nada.
Meu amigo, será que essa é a sua história hoje? Talvez você esteja pensando: “Tem que existir algo mais... algo diferente!” Mordecai sabia do que precisava. Ele estava fugindo do Deus vivo e verdadeiro, o Deus de Abraão, Isaque e Jacó. Ele já viu de tudo neste mundo para saber que existe um reino maior do que o reino da Pérsia. A Pérsia era uma bagunça liderada por um rei emocionalmente adolescente que não fazia nada mais além de acrescentar mulheres ao seu harém no palácio. Um autor disse muito bem quando escreveu: “A decepção é a enfermeira da sabedoria.”
Talvez você também já tenha visto muito neste mundo para saber que deve existir algo mais além deste mundo. Mordecai sabe o que é e, pela primeira vez no livro, não se envergonha de revelar o que é. Portanto, essa deve ser a primeira razão por que Mordecai decide contar seu segredo.
O segundo motivo por que Modecai revela sua herança judaica é um pouco mais evidente do que o primeiro: ele sabe que se prostrar diante de outro ser que não Deus significa violar a Lei de Deus. Em outras palavras, ele finalmente decide se posicionar a favor da Palavra de Deus. J. Vernon McGee escreveu: “A essa altura na história, estou pronto a jogar meu chapéu para cima e dizer: ‘Parabéns Mordecai!’ Pela primeira vez ele se posiciona ao lado de Deus – e isso poderá lhe custar tudo.”
Toda vez que Hamã pomposamente entrava no palácio, todos se curvavam. Até o momento, Mordecai deve ter encontrado maneiras interessantes para evitar se curvar. Talvez ele entrava rapidamente no banheiro quando Hamã ia passar, ou se curvava para beber água no bebedouro. Mas não dessa vez. Mordecai não se esconderá mais. Ao ver a familiar carruagem de Hamã estacionando no palácio, Mordecai se ajeita. Ele está preparado para encarar Hamã.
O Edito de Morte Pronunciado por Hamã
Hamã reage nos versos 5 e 6:
Vendo, pois, Hamã que Mordecai não se inclinava, nem se prostrava diante dele, encheu-se de furor. Porém teve como pouco, nos seus propósitos, o atentar apenas contra Mordecai, porque lhe haviam declarado de que povo era Mordecai; por isso, procurou Hamã destruir todos os judeus, povo de Mordecai, que havia em todo o reino de Assuero.
Até onde Hamã sabe, o desrespeito de Mordecai é algo perfeito. Agora ele usará esse desrespeito como desculpa para acertar os problemas entre as famílias de uma vez por todas. E ele não quer a vida de apenas um judeu; ele deseja erradicar a vida de todos os judeus vivendo no reino – e isso, a propósito, incluía Jerusalém.
Daí, Hamã busca o conselho dos deuses a fim de saber o que fazer em seguida. Ester 3.7 diz:
No primeiro mês, que é o mês de nisã, no ano duodécimo do rei Assuero, se lançou o Pur, isto é, sortes, perante Hamã, dia a dia, mês a mês, até ao duodécimo, que é o mês de adar.
Essas sortes foram lançadas para determinar qual seria o melhor dia para exterminar o povo judeu. O verso 13 nos conta qual foi a data revelada pelas sortes: no dia treze do duodécimo mês, que é o mês de adar.
Hamã é o único a pedir conselhos dos deuses sobre o que fazer. De acordo com o costume persa, ele chama os feiticeiros para lançar sortes, ou o Pur, a fim de determinar a vontade dos deuses. A palavra pur é um termo acadiano que significa “pedra.” Essas pedras eram feitas de barro queimado e tinham o formato de nossos dados de hoje. Cada lado desses dados tinha marcações e eles eram lançados de dentro de uma tigela.
Então, Hamã lança os dados e eles caem no dia 13 do mês de Adar. E esse acontece de ser um dia muito importante para os judeus. O dia 13 é a véspera da celebração da Páscoa, o feriado no qual eles, como nação, se recordam de como Deus os libertara da escravidão no Egito 900 anos antes. E agora os judeus terão um lembrete inesquecível de que Deus não é somente um Salvador no passado, mas também o Salvador no presente.
Hamã joga os dados na sala de sua casa e pensa que deu sorte com os números, mas ele não leu as palavras de Salomão em Provérbios 16.33: A sorte se lança no regaço, mas do Senhor procede toda a decisão. Deus determinou que aqueles dados fossem jogados. Ele está prestes a realizar um milagre nesse dia em particular porque deseja atrair o coração de seu povo de volta para si. Você consegue ver amor de Deus por trás dessa cena? É impossível não enxergar, não é verdade? Os judeus não fazem ideia alguma da tragédia que está prestes a lhes ocorrer, mas Deus sabe, e Deus tem um plano para salvá-los.
Note como o inteligente Hamã se apresenta ao rei em Ester 3.8:
Então, disse Hamã ao rei Assuero: Existe espalhado, disperso entre os povos em todas as províncias do teu reino, um povo cujas leis são diferentes das leis de todos os povos e que não cumpre as do rei; pelo que não convém ao rei tolerá-lo.
Obviamente, Hamã sabe o que dizer. Lembre-se de que o rei ainda nutre certo ressentimento por causa da rebelião de Vasti, duas derrotas militares e uma tentativa de assassinato por parte de dois de seus oficiais confiáveis. Hamã sabe que o rei está vulnerável. O menor sinal de rebelião o incitará a tomar uma atitude imediatamente.
Mas ele ainda propõe mais coisas ao rei. Seu discurso fica ainda mais atraente ao adicionar no verso 9 a promessa de pagar ao rei 10 mil talentos de prata uma vez que o genocídio se completar. Isso é quase 40 toneladas de prata – equivalente a milhões de dólares em nossa economia atual. Mas onde Hamã acharia todo esse dinheiro? Você adivinhou bem: os judeus. Da mesma maneira que o terceiro Reich se enriqueceu durante a Segunda Guerra Mundial ao arrancar dos judeus suas riquezas e posses, Hamã enriquecerá a Pérsia ao saquear os judeus.
A resposta do rei no verso 10 é um tanto esquisita, porque ele diz a Hamã: “Eu não quero sua prata, nem o povo.” Contudo, os estudiosos acreditam que essa era apenas uma postura comum no Oriente Médio. De fato, depois descobrimos no capítulo 4 que o rei esperava ser pago, sim, com toda aquela prata.
Portanto, o edito passa e é enviado para todo reino: os judeus morrerão na véspera da Páscoa. Não existe nenhuma brecha ou saída nesse edito. O rei deixa suas intenções bem claras no verso 13:
Enviaram-se as cartas, por intermédio dos correios, a todas as províncias do rei, para que se destruíssem, matassem e aniquilassem de vez a todos os judeus, moços e velhos, crianças e mulheres, em um só dia, no dia treze do duodécimo mês, que é o mês de adar, e que lhes saqueassem os bens.
A ordem é para que todo o reino se prepare para o dia da matança. Os judeus haviam escapado do Egito, mas não escaparão da Pérsia. O reino das trevas cruza os braços e se prepara para assistir a essa cena em deleite.
O plano de Hamã funcionou. Podemos até vê-lo em pé ao lado do rei cochichando em seu ouvido: “Rei Assuero, os judeus não pertencem a este lugar. Eles não são como nós; representam uma ameaça para você porque seguem outro líder. Eles estão nos atrapalhando. Vamos logo nos livrar deles.” O povo judeu na Pérsia será discriminado e tratado com suspeitas; amizades terminarão; os negócios dos judeus fecharão as portas. O povo de Deus será evitado, temido, odiado, invejado e depois assassinado. Isso é bastante semelhante àquilo que lhes aconteceu na Segunda Guerra Mundial.
Na noite de 9 de novembro de 1938, uma erupção espontânea de violência começou contra os judeus por toda a Alemanha e Áustria. Essas revoltas ficaram conhecidas como “Noite dos Cristais” por causa do estilhaçar dos vidros das janelas de lojas dos judeus.
A tensão havia crescido. Por vários meses o povo judeu havia sido marginalizado. Espalhou-se na Alemanha o boato de que os judeus eram diferentes, representavam uma ameaça ao país e atrapalhavam o progresso da nação. Himmler ecoou as palavras de Hitler ao dizer: “Eles não pertencem à espécie humana, mas apenas imitam os seres humanos. Eles são tão diferentes de nós como os animais.”
Enquanto as tropas de Hitler marchavam contra os judeus, elas cantavam a seguinte música:
Afiem suas espadas nas pedras do pavimento;
Enfiem suas facas na carne e osso dos judeus,
Que o sangue deles jorre livremente.
Qual é a origem desse tipo de ódio e violência? A origem não é o coração do rei da Pérsia ou do primeiro-ministro; a fonte é o coração do rei das trevas. Satanás é o maior inimigo dos judeus. Seu último suspiro de afronta contra Deus encontra-se em Apocalipse 20. Nessa ocasião, ele realizará seu último holocausto em Jerusalém. É por isso que as páginas da história estão manchadas com o sangue dos judeus.
Portanto, enquanto Deus trabalha de maneiras misteriosas, Satanás não trabalha em segredo. Sua mensagem é sempre a mesma e suas ações sempre previsíveis. Ele odeia a ideia de um Messias judeu, de um Deus que guarda suas alianças com Abraão, Isaque e Jacó. Ele não suporta a ideia de redenção. Por isso, guerreia contra Deus e seu povo. Os Hamãs e Hitlers da história vêm e vão, mas o verdadeiro gênio por trás dos genocídios realizados por esses homens continua. Por esse motivo, é importante entendermos a conexão entre Hitler, o ocultismo e o satanismo.
Hitler odiava Jesus Cristo e a igreja. No corajoso livro de Erwin Lutzer intitulado A Cruz de Hitler, Lutzer cava a fundo os registros históricos e revela como Hitler se envolvia profundamente com o diabo.
De acordo com a pesquisa de Lutzer, o namoro de Hitler com Satanás começou na Biblioteca de Hofsberg, em Viena, Áustria. Nessa biblioteca, havia uma lança que diziam ser a lança que perfurara Jesus na cruz. Por volta dos vinte anos de idade, Hitler avistou essa lança pela primeira vez enquanto fazia um tour pela biblioteca. Durante a visita, o guia turístico disse: “Esta lança é cheia de mistérios; quem desvendar esses mistérios poderá governar o mundo.” Essas palavras mudariam a vida de Hitler. Naquele mesmo dia, ele se colocou diante da lança e jurou seguir Satanás. Daquele momento em diante, ele passaria a visitar a biblioteca a fim de fixar o olhos naquela lança, convidando os poderes ocultos para invadir sua alma. Ele cria que essa antiga arma era uma ponte entre o mundo natural e o espiritual.
Walter Stein, um amigo de Hitler naquela época, afirmou que Hitler se colocava diante daquela lança “como homem em transe, ou como um homem sobre o qual uma maldição havia sido lançada.” Ele continuou: “O próprio local onde Hitler ficava de pé se tornava iluminado com alguma luz misteriosa. Ele parecia transformado como se um poderoso espírito agora habitasse sua própria alma, criando dentro e ao redor dele uma transformação maligna.”
O que mais explica seu domínio encantador sobre as massas? O que faria com que os líderes mundiais tremessem diante desse homem? Ele estava transformado com sua única paixão – uma paixão demoníaca. Ele era apenas um outro Hamã.
Quando Hitler finalmente marchou vitorioso para Viena, ele entrou na biblioteca, tomou a lança e disse: “Eu agora sustento o mundo inteiro em minhas mãos.” E ele quase conseguiu. Porém, fracassou em se tornar o último anticristo de Satanás. Em seu leito de morte, ele ouviria o sussurro da providência divina, dizendo: “Xeque-mate.”
Deus é o dono das peças de xadrez; ele também é o dono do tabuleiro de xadrez, o proprietário de cada mesa sobre a qual os tabuleiros se assentam em cada nação; ele é o dono da terra onde as mesas se encontram. A humanidade move as peças de acordo com sua própria vontade, mas no final todos descobrem que seus movimentos e jogadas cumprirão o desígnio de Deus.
Então, o que Deus estava fazendo ao mover essas peças para cumprir seu plano? Ele preparava seu povo para lhes lembrar de que, mesmo na Pérsia, ele era o Soberano. Ele traz o povo judeu de volta à moral da história—à moral de que não encontrarão segurança no governo, em seus amigos ou em suas contas bancárias; eles não podem se esconder na Pérsia. Não há nada que possam fazer. É exatamente nessa situação onde Deus deseja colocá-los.
Deixe-me ler para você outra história do livro de Erwin Lutzer, A Cruz de Hitler, para ilustrar esse ensino. Em junho de 1937, um pastor chamado Dr. Niemoller corajosamente pregou as seguintes palavras para a sua congregação nos dias do terceiro Reich:
Assim como os apóstolos do passado, não pensamos em escapar das autoridades usando nossas próprias forças. Não manteremos silêncio por causa do pedido de um homem enquanto Deus nos manda falar. Por isso, permanece verdade que nos importa mais obedecer a Deus do que aos homens.
Sete dias depois, Niemoller foi levado preso. Ele passou sete meses na solitária antes de enfrentar seu julgamento em 7 fevereiro de 1938. Todo o processo contra ele tinha 14 páginas. Niemoller foi acusado de falar contra o Reich com crítica provocativa e mal-intencionada. Ele havia violado a lei e foi condenado por “Abuso de Púlpito.”
No dia 7 fevereiro, um soldado o escoltou até o tribunal. Enquanto caminhava para o tribunal, ele ficou tomado de terror e solidão. Mas o que ele não sabia era por que ninguém havia aparecido para se juntar a ele. Onde estavam seus familiares e amigos? Onde estava a congregação que liderava? Ele não fazia ideia de onde estavam. Mas enquanto se perturbava com esses pensamentos, algo muito interessante de repente aconteceu. O soldado, que até então havia permanecido calado e com um olhar insensível, começou a falar, embora tão baixo que a princípio Niemoller mal conseguiu entendê-lo. Mas quando aquelas palavras ecoaram mais e mais ao longo das paredes do túnel, Niemoller finalmente as compreendeu. Eram as palavras de Provérbios 18.10: Torre forte é o nome do SENHOR, à qual o justo se acolhe e está seguro. Pela primeira vez seu medo se dissipou; medo foi substituído por um novo senso de esperança e confiança. Niemoller seria condenado pelo Terceiro Reich e enviado a um campo de concentração por 7 anos, mas sobreviveu e foi libertado no final da guerra para contar sua história.
Como Niemoller, essa geração de israelitas está prestes a andar pelo túnel mais sombrio e tenebroso pelo qual já haviam passado. Mas eles também descobrirão a verdade de Provérbios 18.10:
- enquanto todos são injustos, Deus permanece justo;
- enquanto todos desistem, ele permanece fiel;
- enquanto ninguém parece notar, ele percebe tudo;
- enquanto ninguém parece se preocupar, ele sempre se preocupará;
- mesmo quando Deus parece distante; ele está presente;
- mesmo quando Deus parece removido da situação, ele permanece soberano e fiel.
Você sabe o que Deus está fazendo em Ester capítulo 3? Ele está movendo as peças da história para que seu povo uma vez mais descubra que ele é a Rocha deles, ele é a Torre forte. Talvez seja essa exatamente a lição que Deus deseja que você reaprenda hoje.
Este manuscrito pertence a Stephen Davey, pregado no dia 09/10/2011
© Copyright 2011 Stephen Davey
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