Um Pouco Acima do Trono Real

Um Pouco Acima do Trono Real

by Stephen Davey Ref: Esther 1–10

Um Pouco Acima do Trono Real

Uma Sombra de Soberania – Parte 1

Ester 1.1–4

Introdução

Ravi Zacarias, um apologista famoso, uma vez disse que, em todas as suas palestras e debates em grandes universidades como Princeton e Oxford, ele nunca sequer uma vez defendeu a existência de Deus sem ter sido questionado a respeito do problema do mal.

O problema do sofrimento e do mal é um fenômeno universal e ambos crentes e descrentes lutam para entender por que Deus permite o mal e o sofrimento.

A diferença, contudo, é que o sofrimento empurra o descrente para ainda mais distante da fé em um Deus imanente, cuidadoso e Todo-Poderoso, enquanto que o sofrimento aproxima o crente de Deus.

Geralmente, o argumento sobre o mal é baseado em quatro pontos principais:

1o ponto: O mal e o sofrimento existem no mundo.

2o ponto: Se Deus é Todo-Poderoso, Ele poderia prevenir o mal e o sofrimento.

3o ponto: Se Deus é infinitamente amoroso, Ele desejaria prevenir o mal e o sofrimento.

4o ponto: Portanto, já que o mal e o sofrimento existem neste mundo, ou Deus não é poderoso o suficiente para eliminá-los, ou não é suficientemente amoroso, ou Ele simplesmente não existe.

A solução apresenta um problema lógico e teológico. A Bíblia afirma categoricamente que Deus é Todo-Poderoso e amoroso. Ele é o Deus dos deuses e Senhor dos Senhores, poderoso e majestoso, de acordo com Deuteronômio 10.17. Ele realiza todas as coisas em conformidade com sua vontade, de acordo com Efésios 1.11. E ele é compassivo, gracioso e muito benigno, de acordo com Salmo 103.8. A Bíblia simplesmente apresenta Deus como sendo Todo-Poderoso e amoroso sem buscar defendê-lo.

Então, como reconciliamos a Bíblia com os jornais? O mundo está repleto de maldade; o que isso nos diz sobre Deus? Será que ele adormeceu? Ou está ausente? Ou será que ele não se importa conosco?

Antes de respondermos essas perguntas, é importante primeiro definirmos o que queremos dizer com “mal.” Quando as pessoas conversam sobre a questão do “mal,” elas se referem a duas categorias diferentes de sofrimento. A primeira pode ser chamada de mal moral. Sob essa categoria estão coisas como assassinato, estupro, roubo, opressão política, abuso físico, tráfico sexual, ataques terroristas, genocídio e pobreza causada por corrupção. Essas são apenas algumas.

A segunda categoria é o que os teólogos chamam de mal natural. Sob essa categoria estão coisas como a brutalidade no reino animal, desastres naturais, câncer, epidemias, tsunamis e tornados que destroem nações e causam seca e fome.

Ninguém nega que o mundo está cheio de mal moral e mal natural.

Um autor escreveu dizendo que se pudéssemos ver pelo menos uma fração do mal e do sofrimento ocorrendo em um dado momento, entraríamos em colapso por causa do horror de tudo.

Outro autor disse que a história da humanidade não é nada mais que a história do mal e sofrimento.

Todos sabemos que estamos vivendo em um mundo bagunçado. O que não conseguimos entender bem é por que Deus permite que as coisas continuem dessa forma. Toda vez que ocorre algum desastre as pessoas param e fazem a mesma velha pergunta de sempre: “Onde está Deus?”

Depois do tsunami de 2004, quando centenas de milhares de pessoas morreram e cidades inteiras foram devastadas do mapa, um porta-voz das Nações Unidas disse que, em termos de áreas afetadas – da Indonésia ao Quênia – aquela foi a maior catástrofe natural na história do mundo. A quantidade de mortos foi grotesca.

Um jornal resumiu o pensamento de muitas pessoas quando um dos jornalistas declarou: “Aqueles com crença religiosa devem considerar esse desastre como um teste para a sua fé. Será que as coisas realmente não indicam que, se existe um Deus, ou ele é maligno, ou louco ou morto?”

Muitos se lembram de onde estavam no dia 9 de setembro de 2001 quando as Torres Gêmeas foram atacadas e caíram.

Eu estava na Índia e jamais me esquecerei. Eu estava sentado na casa do presidente de uma faculdade assistindo com ele e sua esposa às imagens dos dois aviões colidindo de frente contra aqueles prédios. Materiais de escritório, papeis e corpos choviam nas ruas ao redor.

Uma hora e meia após a colisão dos aviões contra os prédios, as duas Torres sucumbiram, causando a morte de 3 mil homens, mulheres e crianças. Aquele foi o dia mais sangrento na história dos Estados Unidos desde a Guerra Civil do final do século 19. Como um jornal acertadamente disse: “A história nunca mais será a mesma.”

Mas antes de você chegar à conclusão de que Deus é maligno, louco ou que está morto – algo que muitos americanos afirmaram naquele dia – você precisa primeiro fazer algumas perguntas. A primeira é uma pergunta lógica; a segunda é uma pergunta teológica.

A pergunta lógica é por que o sofrimento humano nos incomoda. Se o filósofo evolucionista britânico Bertrand Russel estava certo ao afirmar que o homem é “um acidente de uma poça d’água,” então por que deveria nos incomodar se pessoas morrem lenta ou repentinamente, em paz ou em dor?

Se o professor de Oxford, Peter Atkins, estiver certo em chamar a humanidade de “um mero lodo no planeta,” por que deveríamos nos preocupar com as demais pessoas?

Pense nisto: para começar, de onde tiramos o próprio conceito de mal?

Existe algo inerente à consciência humana que nos leva a cuidar das pessoas que amamos e a alimentar os famintos e a condenar a injustiça das classes sociais e a combater o racismo. Podemos com nossa boca negar a existência de algum Ser que decretou Leis Morais, mas nossas ações nos traem.

A questão é a seguinte: mal moral não exclui a existência de Deus. O simples fato de conseguirmos identificar algo como moralmente errado aponta na direção de um Ser que decretou Leis Morais e que criou nossa consciência.

Essa bússola moral inerente a todos nós é também algo que nos distingue e separa do reino animal. Minha cadela é um clássico exemplo disso.

Quando ela está deitada no quintal observando o beija-flor beber água dos bebedouros artificiais que minha esposa colocou no quintal, minha cadela não está lá deitada pensando em todos os demais beija-flores do mundo que possivelmente estão morrendo de sede. Minha cadela nunca chega até a varanda onde minha esposa gosta de se sentar e se pergunta se estamos tendo um dia proveitoso. Ela nem se preocupa se eu e minha esposa nos relacionamos bem em nosso casamento. Ela só quer saber se é hora de comer! Ela late até morrer para o cachorro do vizinho que chega farejando a cerca sem nem sequer pensar que aquele comportamento é ruim para o seu testemunho. Ela não quer nem saber do testemunho... ela não tem nenhum!

Seres humanos, por outro lado, criados à imagem de Deus, possuem uma percepção inerente de certo e errado.

Por que você se incomoda em sair do seu lugar para ajudar outra pessoa? Por que você ama a sua família e faz sacrifícios por ela? Por que você busca tratar pessoas com justiça e compaixão e espera o mesmo em retorno?

Simplesmente porque você possui a lei moral de Deus gravada em seu coração. Assim que você observa algo e rotula aquilo como “mau” ou “bom,” você revela que existe dentro de você algo além de você mesmo. E esse algo é Deus.

As Escrituras nos ensinam que Deus colocou Sua imagem na humanidade e nos deu a habilidade para discernir entre o bem e o mal, justiça e injustiça, amor e ódio. Se somos nada mais que um lodo no planeta ou um acidente numa poça d’água, então não nos importaríamos com o sofrimento de outras pessoas, assim como minha cadela não se importa com a sede do beija-flor.

Portanto, a resposta à questão lógica do porquê temos um problema com o mal é que Deus colocou dentro de nós um senso de certo e errado.

A segunda pergunta que precisamos fazer – a pergunta teológica – é: o que a Bíblia tem a dizer sobre o mal e o seu propósito? Em outras palavras, como as Escrituras conciliam a existência de Deus com a existência do mal?

A harmonização dessas duas ideias aparentemente contraditórias é o que os teólogos chamam de “Teodiceia.” “Teodiceia” é uma palavra composta formada por dois termos gregos: theos, que significa “Deus,” e dike, que significa “justiça.” Esse estudo lida com a questão de como um Deus soberano e justo pode permitir a existência da injustiça.

O apóstolo Paulo nos fornece um pouco de esclarecimento em Romanos 5.12 ao deixar claro que a morte, dor, doença e calamidades são consequências do pecado. O pecado de nossos primeiros pais, Adão e Eva, criou uma corrente de água poluída que infecciona cada ser humano em particular: “Porque todos pecaram e carecem da glória de Deus,” conforme Romanos 3.23.

Paulo escreve que todo o sistema mundial, incluindo a própria natureza, é caído. Até mesmo o universo geme aguardando o dia da redenção, conforme Romanos 8.22.

A Bíblia ainda nos informa que o nosso Deus misterioso, cujos caminhos são diferentes dos nossos e cujos pensamentos são mais elevados que os nossos pensamentos, é soberano sobre o mal. Ele nunca é pego de surpresa pelo pecado. Ele nunca tem seus planos frustrados por causa do pecado.

Apesar de Deus já conhecer cada obra maligna que seria realizada antes mesmo de os tempos começarem, ele também trabalha a despeito delas a fim de cumprir seus próprios propósitos sábios e santos.

No final, Deus é capaz de fazer com que todas as coisas – inclusive os frutos de todos os males de todas as épocas – cumpram seus propósitos finais (Romanos 8.28-29 e Efésios 1.11).

O que isso significa? Estamos dizendo que Deus na verdade planeja que as pessoas passem por sofrimento, dor, ódio, crueldade, injustiça e assassinatos? Estamos dizendo que Deus na verdade é Aquele que orquestra essas coisas na vida de uma pessoa a fim de realizar a vontade Dele?

Exato, é isso mesmo que estamos dizendo. Mas isso não é tudo o que estamos dizendo. Aquele que diz que Deus tem que ser maligno ou está negligenciando ou simplesmente interpretando errado o aspecto mais importante do Cristianismo: a crucificação de Jesus Cristo.

A angústia espiritual, física e emocional que Jesus teve que suportar não foi um acidente. Tudo foi planejado também, e com um propósito específico.

É por esse motivo que os profetas puderam descrever o sofrimento do Messias em Isaías 53 e Salmo 22 com precisão perfeita mesmo séculos antes de Cristo andar nessa Terra.

Sim, Pilatos e o povo judeu juntaram-se para tomar decisões perversas e corruptas e a soberania de Deus não anula a responsabilidade deles. Mas por trás das cenas da história do evangelho Deus estava arquitetando tudo para cumprir o plano que ele havia ordenado antes da fundação do mundo (Apocalipse 13.8).

O apóstolo Pedro entendeu isso. Quando ele pregou para os judeus no dia de Pentecostes, ele não disse: “Olha só o que vocês fizeram! Vocês arruinaram tudo. Vocês crucificaram o verdadeiro Messias! O que vamos fazer agora?”

Ao invés disso, ele pregou uma das declarações mais poderosas sobre a teodiceia encontrada nas Escrituras. Ele disse em Atos 2.23:

sendo este entregue pelo determinado desígnio e presciência de Deus, vós o matastes, crucificando-o por mãos de iníquos;

Em outras palavras, Pedro está dizendo aos judeus que algo maior estava trabalhando por trás daquelas decisões. Alguém mais poderoso que Pilatos estava em controle de tudo.

Deus sabia que tudo aquilo aconteceria. Ele preordenou aquilo. Antes mesmo do início dos tempos, ele decidiu que Jesus Cristo sofreria a ira nas mãos tanto dos homens e Deus a fim de redimir os pecadores de seus pecados. Por esse motivo, as últimas palavras de Jesus – “Está consumado” – não foram um grito de fracasso, mas um brado de cumprimento dos propósitos de Deus.

Então, o mal entrou no mundo por meio da queda de um homem e Jesus lidou com o mal na cruz. Mas esse não é o final da história. As Escrituras nos falam ainda sobre o dia em que Deus irá corrigir todas as maldades realizadas pelos homens. John Blanchard escreveu:

Existe um dia vindouro em que Deus fará uma correção universal. Justiça perfeita será executada. Os perversos não irão mais prosperar e os justos não irão mais sofrer e o problema do mal será total e finalmente resolvido muito além de qualquer dúvida ou disputa.

Quando uma torre em Jerusalém caiu e esmagou 18 pessoas, vários perguntaram a Jesus por que pessoas inocentes morreram. Em sua resposta registrada no evangelho de Lucas, Jesus mudou o foco da pergunta do porquê que aquelas pessoas em específico morreram para a questão do porquê todas as pessoas morrem.

A morte é sempre algo trágico. O problema não é que ela de repente toma a vida de alguém; o problema é que ela inevitavelmente rouba as vidas de todos nós. A morte veio por meio do mal, i.e., o pecado do homem. Então, Jesus pergunta aos questionadores se eles estão ou não prontos para morrer e encarar o grande Juiz.

Quando você ler os noticiários falando sobre desastres naturais ou atos malignos (ou mal moral), encare-os como lembretes de que a vida é frágil e passageira. A morte é certa; mas Deus é soberano até mesmo sobre a morte e um dia ele endireitará e renovará todas as coisas.

Tendo dito isso, você ainda pode estar se perguntando: “Certo, mas por que Deus não simplesmente erradica o mal no mundo enquanto isso?” E eu dou a você pelo menos uma boa razão. Se Deus for erradicar todo o mal no mundo, ele terá que destruir você... e me destruir também. Quando você deseja que ele comece?

O ponto é que Deus compreende o problema do mal muito melhor do que eu e você conseguimos entender. Se existe alguém que sabe o significado de sofrimento, esse alguém é Jesus. Se existe alguém que sabe o que significa ser abandonado e mal entendido, esse alguém é Jesus. Se alguém teve um dia o direito de dizer que a vida era “injusta,” esse alguém foi Jesus. Por isso que, apesar de jamais totalmente entendermos o problema do mal nesta vida, servimos um Deus que compreende todas as implicações do mal. E isso deve nos confortar.

As Escrituras deixam claro que Deus é rico em misericórdia. Por causa de seu amor e sua graça, ele concede à humanidade uma oportunidade após a outra para crerem nele, o aceitarem, o amarem, para virem à cruz de Cristo e ver os braços da justiça carregando a nossa injustiça.

A cruz é o ponto central da teologia e da teodiceia.

Apesar de marcar o maior ato de injustiça na história da humanidade, ela também marca o maior ato de justiça divina na história. E Deus preordenou tudo. Na verdade, Deus orquestrou todo o caos e corrupção para cumprir Seu plano de redenção. Deus estava em controle. Essa verdade é fácil de pregar, mas confesso que é difícil de entender. E é ainda mais difícil de viver, não é?

Uma coisa é crer que Deus é soberano sobre as calamidades da vida, algo que a maioria dos crentes geralmente aceita. Mas é outra coisa completamente diferente crer que Ele é soberano sobre as calamidades da minha vida.

Essa é a verdade mais maravilhosa e misteriosa sobre a soberania de Deus. Mesmo quando parece que Ele perdeu o controle, Ele ainda possui o controle de tudo. Mesmo quando torres desmoronam pelo chão e nações se incendeiam, Deus ainda ocupa o Seu trono. Mesmo quando tsunamis varrem milhares de pessoas inesperadamente, Deus ainda é misericordioso. Até mesmo em nossa labuta diária da vida, Deus está no controle.

Quando você não vê a mão de Deus; quando você não ouve a Sua voz; quando você não consegue entender todo o caos ao seu redor, Deus continua realizando todas as coisas para a glória Dele e para o nosso bem.

O apóstolo Paulo disse em 2 Timóteo 2.13: “...se formos infiéis, ele permanece fiel.” E é essa verdade que vemos profundamente revelada no livro de Ester. É por isso que iremos mergulhar nesse drama do Antigo Testamento com grande expectativa porque, apesar de o nome de Deus nunca ser mencionado no decorrer de toda essa história, ainda assim testemunharemos Sua fidelidade em cada página.

O livro de Ester, mais do que qualquer outro livro nas Escrituras, nos relembra que, mesmo quando Deus parece ausente do drama da história, Ele permanece o personagem principal.

Portanto, vamos mover nossa atenção, saindo de questionamentos sobre o mal e a providência de Deus e analisar como eles se desenvolvem nesse drama da vida real no livro de Ester.

Na época em que a história de Ester começa, os judeus estavam lutando para entender suas próprias perguntas a respeito do mal. Por vários séculos eles vinham sendo mantidos cativos por causa de sua desobediência a Deus. Deus, que por muito tempo falara por meio dos reis e profetas, agora se encontra em silêncio.

Durante esse tempo de silêncio, os judeus foram levados para o cativeiro. Eles haviam sido levados para a Babilônia pelo rei Nabucodonosor, o mesmo rei responsável pela destruição dos muros de Jerusalém e saque das riquezas do templo. Daí, cinquenta anos depois, o rei Ciro capturou a Babilônia em um ataque inteligente. Ao ver que parte do muro externo da Babilônia havia sido construída sobre o rio Eufrates, Ciro mudou o curso do rio e passou a chão seco por debaixo dos suportes de ferro que faziam parte da estrutura do muro.

Pouco antes de Ciro aparecer com seu exército, Belsazar, o filho de Nabucodonosor, estava dando uma festa em seu palácio com muita bebedice e orgia. A Bíblia registra que uma mão de repente apareceu do nada e começou a escrever na parede letras que ninguém conseguia entender. Não precisa nem dizer que isso acabou com a festa.

Então, mensageiros convocaram o profeta Daniel de sua aposentadoria e ele interpretou a mensagem para Belsazar. A mensagem dizia: “Você está frito!”

E a interpretação de Daniel se tornou realidade. Naquela mesma noite, Belsazar foi morto e os persas derrotaram os babilônios. Ciro o Grande se tornou o governante do mundo conhecido.

Deus estava orquestrando tudo isso. Ele moveu o coração de Ciro para mostrar misericórdia para com o povo judeu e ele os permitiu retornar à terra deles nas décadas seguintes. Infelizmente, muitos se recusaram. Esses haviam se persianizado;  eles estavam tão imersos na cultura pagã ao seu redor que nem mais tinham desejo de retornar a Jerusalém.

Para muitos desses, as promessas de Deus não passavam de fantasias. Eles eram os netos daqueles que haviam sido exilados. O senso de nacionalismo estava enfraquecido já que nunca tinham sequer pisado a planta do pé na terra de Jerusalém. Na mente deles o lugar de Deus era em Jerusalém. Deus era uma relíquia do passado, assim como a cidade destruída que no passado levara o nome de Deus. A Pérsia se tornou para esses a “nova” Jerusalém.

Por esse motivo, o livro de Ester nunca menciona a Aliança Abraâmica, a Páscoa ou Yahweh. O nome do rei será mencionado 190 vezes em 167 versículos. O nome de Deus não será mencionado nem uma vez.

Então a pergunta que encaramos logo no início dessa história não é se Deus se mostrará soberano sobre Seu povo em Jerusalém, mas se Ele se mostrará soberano sobre Seu povo na Pérsia. É algo natural pensar que Deus liderará e direcionará aqueles que escolheram voltar para Jerusalém; mas será que Ele guiará e direcionará os que escolheram não voltar? Sim!

No decorrer de toda a história, seremos relembrados que apesar de o povo de Deus se esquecer de Deus, Deus não se esquece de Seu povo.

Então, tendo essa introdução, vamos mergulhar e descobrir essa verdade maravilhosa para as nossas vidas. Veja Ester 1, verso 1:

Nos dias de Assuero, o Assuero que reinou, desde a Índia até à Etiópia, sobre cento e vinte e sete províncias,

Nas primeiras linhas desse drama, somos imediatamente apresentados ao neto de Ciro, Assuero. Mas esse não era o nome próprio do rei. Esse é apenas um título real como “Faraó,” no caso dos egípcios, e “César,” no caso dos romanos. “Assuero” significa “Chefe dos governantes.”

O nome real desse rei era Xerxes, que significa “Soberano sobre os homens” ou “Herói dos heróis.” Mas, já que a Bíblia sempre se refere a esse rei pelo seu título, nós também iremos nos referir a ele a partir deste ponto como “Assuero.”

Nos dias de Assuero, o Assuero que reinou, desde a Índia até à Etiópia, sobre cento e vinte e sete províncias,

Logo no início dessa história somos surpreendidos com o poder e influência desse rei. O ponto é óbvio: Assuero está em controle.

Uma inscrição foi descoberta na qual o rei escreveu o seguinte a respeito de si mesmo: “Eu sou Xerxes, o grande rei, o único rei, o rei de toda esta terra, tanto de longe como de perto.”

Heródoto, um historiador grego que viveu logo após a queda do Império Persa, escreveu que Xerxes foi o rei mais alto e mais bonito de todos os reis da Pérsia; ele era ambicioso, impiedoso e ciumento.

Prova de sua impiedade é encontrada em alguns registros de guerras nas quais ele se envolveu.

Uma das histórias é sobre um homem chamado Pythius que deu a Assuero uma enorme soma de dinheiro para auxiliar Assuero em suas expedições militares contras a Grécia. Assuero, movido pela lealdade desse homem, também deu muitos presentes a Pythius. Contudo, quando Pythius pediu que Assuero permitisse que seu filho mais velho ficasse em casa e não fosse à guerra, o rei Assuero, extremamente enfurecido por esse pedido, deu ordens para que o filho de Pythius fosse cortado em duas partes e mandou o exército marchar entre elas em seu caminho à batalha.

Outra história ocorreu em uma de suas expedições contra a Grécia – a mesma expedição na qual mais de 100 mil soldados sofreram a heroica resistência de Leônidas e os 300 soldados espartanos corajosos por uma semana na batalha de Thermopylae. Assuero tentou construir duas pontes para atravessar um rio e acomodar suas tropas. Apesar de conseguirem construir as pontes,  uma tempestade se levantou durante a noite e destruiu as pontes.

Furioso e desiludido, o rei mandou um soldado dar 300 chicotadas no rio enquanto outros soldados gritavam e xingavam a água. Ele também deu ordens para lançarem um par de algemas no rio simbolizando sua soberania sobre as águas – apesar de ter fracassado em sua tentativa de atravessar o rio. Para completar, ele mandou decapitar os engenheiros que haviam projetado as pontes.

Em outra ocasião, ele estava viajando de volta a Susã e passou o inverno em Sardis, onde tentou seduzir sua cunhada. Ela recusou suas investidas. Como resultado, depois ele mandou que ela e seu marido – que era seu próprio irmão – fossem torturados à morte.

Esse é um rápido retrato do rei que ocupará o papel principal na história de Ester. Arrogante, irado, impiedoso, Xerxes queria controlar tudo. E, aparentemente, ele havia conseguido. Seu reino incluía um território vastíssimo, englobando o que hoje são a Turquia, Iraque, Irã, Paquistão, Jordânia, Líbano, Israel, Egito, Sudão, Líbia e Arábia.

Heródoto registra que as riquezas de Xerxes eram lendárias. Na verdade, o tributo recebido pelas nações subjugadas ao redor totalizava mais de 700 toneladas de ouro e prata por ano.

Milhões de pessoas de todas as culturas, religiões e etnias entregaram sua lealdade a Xerxes. Ele era conhecido como o Grande Rei – o Rei dos reis – o único rei sobre a terra.

Ele se assentava na grande cidade de Susã, no palácio onde Daniel havia sido enterrado e o palácio onde seu próprio filho seria um dia servido por Neemias. Várias vezes nos primeiros versos de Ester somos informados que Assuero reinava e que ele ocupava o trono.

Ele parecia ser o grande estrategista e comandante no reino da Pérsia. Mas, por trás das cenas, ele era apenas um peão nas mãos do verdadeiro Estrategista e Comandante.

Meu amigo, se você não aprender nada mais nesta série de estudos no livro de Ester, quero que você aprenda o seguinte: Deus é invencível, mesmo quando ele é invisível.

Os eventos no mundo, quer bons ou ruins, são nada mais que uma coreografia de nosso Deus Criador que cumprirá perfeitamente a sua vontade. Talvez você não consiga entender a coreografia, mas pode confiar no Criador.

No capítulo 1 de Ester Assuero parece ser o homem que detém todo o poder. Ele ocupa o trono na cidade de Susã no reino mais poderoso da terra. Mas, quando olhamos mais cuidadosamente, vemos a sombra da providência de Deus pairando sobre aquele trono insignificante.

  • Deus pode permanecer escondido, mas ele não está ausente;
  • Deus pode ser invisível, mas ele é infalível;
  • Deus pode estar em estranho silêncio, mas ele ainda possui todo o controle;
  • Deus pode ser ignorado, mas ele nunca é frustrado;
  • Deus pode passar despercebido, mas ele ainda permanece inconquistável.

Daniel 4, versos 34 e 35, diz:

…bendisse o Altíssimo, e louvei, e glorifiquei ao que vive para sempre, cujo domínio é sempiterno, e cujo reino é de geração em geração. Todos os moradores da terra são por ele reputados em nada; e, segundo a sua vontade, ele opera com o exército do céu e os moradores da terra; não há quem lhe possa deter a mão, nem lhe dizer: Que fazes?

Salmo 135, verso 6, diz:

Tudo quanto aprouve ao SENHOR, ele o fez, nos céus e na terra, no mar e em todos os abismos.

O livro de Ester não foi nos transmitido para ficarmos admirados com Ester; ele foi nos dado para ficarmos maravilhados com Deus. Essa história foi nos dada não para dizermos: “Ah, veja como Ester e Mordecai foram inteligentes!” Não. Essa história serve para nos levar a dizer: “Nossa, veja como a sabedoria de Deus é profunda!”

Minha oração e desejo é que, à medida que estudarmos esse drama chamado “Ester,” você não ame mais essa mulher, mas se veja amando Deus cada vez mais. Deus é o Autor dessa história. Deus é o Herói nesse drama. Deus é o Rei soberano por detrás dessas cenas visíveis.

 

 

 

Este manuscrito pertence a Stephen Davey, pregado no dia 11/09/2011

© Copyright 2011 Stephen Davey

Todos os direitos reservados

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