A Cor da Igreja do Século Primeiro

A Cor da Igreja do Século Primeiro

by Stephen Davey

A Cor da Igreja do Século Primeiro

Atos 2.40–46

 

Introdução

Meu coração está muito feliz com os eventos que comemoramos em nossa igreja nos últimos dias – aniversário de dez anos de nossa igreja. Hoje adoramos num terreno que, outrora, foi dedicado a colheitas de plantações; agora, esse mesmo terreno é dedicado para a colheita de frutos espirituais; para a semeadura de sementes espirituais e a nutrição de homens e mulheres, meninos e meninas para o reino de Deus.

E a ocasião é bastante propícia para revisarmos a diferença entre trabalho de igreja e trabalho para a igreja; entre um ministério eficaz e um ministério medíocre; entre o estado presente e o sobrenatural.

Era cedo de manhã no dia quatro de julho de 1952. Ainda com muita neblina no ar, uma jovem moça, Florence Chadwick, entrou na água na costa da Ilha de Catalina, próxima à Califórnia, Estados Unidos. Ela queria ser a primeira a atravessar o canal entre a ilha e a costa da Califórnia. Nadar aquela distância não era algo novo para Florence. Ela foi a primeira a atravessar o canal inglês – e em ambas as direções. Ela nadou por quinze horas sob a neblina, coberta pela água extremamente gelada, cheia de tubarões; até que pediu para ser retirada. Ela estava a apenas trinta minutos de finalizar o trajeto. Mais tarde, ela disse numa entrevista: “Se eu tivesse pelo menos avisto a terra, creio que teria conseguido.”

Não foi o frio, nem o cansaço, nem o medo dos tubarões que a fez pedir para ser retirada – foi a neblina.

  Estou convencido de que a razão pela qual mais e mais crentes têm pedido para ser retirados das águas do crescimento e desafio não é por causa do frio, cansaço, medo ou falta de apoio – mas por causa da neblina que tomou conta. Uma neblina que obscurece a nossa visão e não permite que vejamos os alvos de Deus para as nossas vidas em particular e para o ministério posto à nossa frente.

Em nosso último estudo de Atos 2, vimos o sermão poderoso que Pedro pregou. Nessa mensagem, ele desafiou seus ouvintes a se arrependerem e, portanto, mudarem publicamente seus pensamentos por meio do batismo nas águas.

Lemos em Atos 2, verso 40:

Com muitas outras palavras deu testemunho e exortava-os, dizendo: Salvai-vos desta geração perversa.

A mensagem da igreja primitiva é a mensagem da igreja do século vinte e um. A sociedade, como um todo, nunca será redimida – ela é controlado pelo príncipe da potestade do ar. Mas, temos o dever de resgatar da sociedade aqueles que serão redimidos.

A tarefa da igreja é semelhante à tarefa de um bote de salva-vidas no qual estamos em busca de pessoas numa missão de resgate. Como o próprio Jesus disse em Mateus 18, verso 11: Porque o Filho do Homem veio salvar o que estava perdido.

A igreja de hoje parece preocupada mais com as águas da sociedade do que com os milhões que estão se afogando. A igreja parece preocupada com a temperatura da água, se pode, de alguma forma, torná-la mais confortável para navegar sobre ela. A igreja parece mais preocupada com seu relacionamento com os tubarões que nadam ao redor, com o desenvolvimento de estratégias para minimizar o impacto das ondas no barco. Essas preocupações têm tomado o lugar de nossa missão primária, que é pregar como Pedro e puxar para dentro do barco quantos pudermos.

Continue até o verso 41.

Então, os que lhe aceitaram a palavra foram batizados, havendo um acréscimo naquele dia de quase três mil pessoas.

Isso é impressionante; é sobrenatural! Três mil bebês espirituais acabaram de nascer em um só dia!

Imagino que os apóstolos se sentiram como qualquer pai ou mãe  quando olham no rosto de seu filho recém-nascido, pensando: “E agora? O que fazemos?”

Eles não tinham manuais de organização eclesiástica. Eles não tinham materiais de discipulado. Eles não tinham as epístolas do Novo Testamento para explicarem todos os detalhes da forma e função da igreja.

Então, como era a igreja do Novo Testamento?

 

 

Como Era
A Igreja do Novo Testamento?

Um homem viu, certa vez, um garoto fazendo um desenho. Ele tinha um semblante nervoso e coloria a sua pintura. O homem perguntou ao menino: “Filho, o que você está pintando?”

O garoto replicou: “Uma pintura de Deus.”

Daí o senhor disse ao garoto que ninguém sabe ao certo qual é a aparência de Deus. E o menino confiantemente respondeu: “As pessoas saberão quando eu terminar.”

“Ei, Pedro e João, como é a igreja?”

“Não sabemos ainda direito, mas, quando terminarmos, vocês verão.”

Assim, o Novo Testamento completo pintou de fato um retrato da igreja com cores bem vibrantes.

  • Primeiro, existe a vibrante cor do entusiasmo na igreja neotestamentária.

Existem quatro nuanças dessa cor que podemos observar. Elas aparecem no verso 42.

E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações.

  • Primeiro, eles se devotavam às doutrinas dos apóstolos.

Meus amigos, a marca de uma igreja não é a altura de seu pináculo ou o tamanho de seu auditório. O elemento que define uma igreja é a sua doutrina. O que a igreja crê determinará como ela se comportará.

O motivo por que a igreja nada numa neblina hoje é porque não sabe mais no que crê. Vivemos numa geração que considera doutrina algo muito volumoso e que divide as pessoas. Mas essa igreja vibrante e animada do Novo Testamento se devotava ao ensino das doutrinas.

Temos que lembrar que a igreja local do Novo Testamento tem a responsabilidade de repassar a sã doutrina à próxima geração. Temos que fazer muito mais do que a realização de cultos, cantar músicas e recitar alguns versículos. Pedro declarou, sob a direção divina, que a igreja do Novo Testamento é a coluna e base da verdade.

Entretanto, a igreja do Novo Testamento não fazia somente estudar.

  • Segundo, eles se devotavam à comunhão.

A palavra “comunhão” é o termo grego “koinonia” e basicamente significa “parceria ou compartilhamento.” Aqueles que receberam a Cristo se tornaram parceiros com Ele no cumprimento da missão da igreja, como também parceiros uns dos outros. A Bíblia nunca retrata um crente separado do corpo de crentes.

Aproximadamente um século atrás, o pastor G. Campbell Morgan visitou um membro de sua igreja que a algum tempo não ia à igreja. Estavam sentados perto da lareira e o fogo queimava ardente com brasas vivas. O homem disse ao pastor que não precisava mais da igreja em sua caminhada espiritual. Sem dizer nada, o pastor Morgan pegou um tiçoeiro e se chegou ao fogo. Ele separou uma brasa e trouxe para perto deles. Daí se sentou e ambos ficaram observando como a brasa, num curto espaço de tempo, perdeu o seu fogo.

Agora, muitos de nós quando pensamos em “koinonia,” pensamos em comida e sociais. Contudo, essa era uma palavra relacionada diretamente ao compromisso que tinham com os outros irmãos a fim de conquistarem e realizarem o propósito posto à frente da igreja. Então, em Jerusalém existe um bando de crentes quentes que se juntaram em comunhão ou parceria para verem a tarefa terminada.

Veja a profundidade da comunhão daqueles irmãos nos versos 44 a 46.

Todos os que creram estavam juntos e tinham tudo em comum. Vendiam as suas propriedades e bens, distribuindo o produto entre todos, à medida que alguém tinha necessidade. Diariamente perseveravam unânimes no templo, partiam pão de casa em casa e tomavam as suas refeições com alegria e singeleza de coração.

Note, agora, no verso 42 que existem mais dois tons nessa brilhante cor da devoção.

  • Eles também se devotavam ao partir do pão ou ceia e às orações.

Por que essa igreja do Novo Testamento se devotava ao partir do pão? Porque não havia nada mais importante do que se recordar do sacrifício de seu Senhor. Então, quando eles se reuniam para fazer suas refeições, eles separavam uma porção do pão e do fruto da videira e celebravam a morte do Senhor, até que Ele viesse.

E, eles também se devotavam às orações! Como assim, o ingrediente ausente na vida de grande parte da igreja?! Será que realmente cremos que a oração é o nervo que move o braço onipotente? Deixe-me colar isso desta forma, você acha, por um momento, que poderíamos realizar um ministério sobrenatural sem um envolvimento sobrenatural?

Alguns anos atrás, um estudo foi realizado numa escola agrícola no estado de Iowa, Estados Unidos. O relatório mostrava que a produção de uma determinada quantidade de milho exigia 1800 quilos de água, 3 mil quilos de oxigênio, 2300 quilos de carbono, 72 quilos de nitrogênio, 56 quilos de potássio, 34 quilos de enxofre, bem como muitos outros elementos. Além desses ingredientes, chuva e sol eram necessários em tempos adequados. Apesar de muitas horas de trabalho do fazendeiro serem necessárias, estimou-se que apenas cinco por cento do produto da fazendo pode ser atribuído aos esforços humanos.

A mesma coisa é verdade no mundo espiritual – Deus dá o crescimento, como 1 Coríntios 3, versos 6 e 7 dizem. Davi também escreveu no Salmo 127, verso 1a, palavras que podemos aplicar não somente aos nossos lares, mas também à nossa igreja: Se o SENHOR não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam.

Nossa igreja não sobreviverá nenhum dia de operação sem o poder, a liderança e a sabedoria de nosso Pastor Chefe, o Senhor Jesus Cristo.

Note, agora, a segunda cor que Deus usa para pintar o retrato de Sua nova criação, a igreja do Novo Testamento.

  • Segundo, a igreja do Novo Testamento tinha a cor do poder.

Veja o verso 43 de Atos 2.

Em cada alma havia temor; e muitos prodígios e sinais eram feitos por intermédio (observe atentamente) dos apóstolos.

Todos tinham um senso de medo e temor. Sinceramente, eu não quero abrir mão do que eu sinto hoje – temor e alegria ao ver Deus realizando coisas maravilhosas. Esses irmãos viviam assim diariamente.

A palavra “temor” vem do termos grego “phobos,” que também pode ser traduzido como “medo.” Havia um senso de que Deus estava poderosamente trabalhando. E esse era um temor santo – eles estavam na presença de Deus.

Sinceramente, meus amigos, sem o poder de Deus em nossas vidas e ministérios, estamos destinados à formalidade e mediocridade. Podemos construir templos, mas jamais iremos aumentar o reino de Deus. Podemos nos envolver nos trabalhos da igreja, mas falharemos em cumprir nossa missão como igreja.

O que nossas cidades precisam é o testemunho poderosos da igreja que é totalmente devotada a missões, totalmente dependente do seu Messias e totalmente capacitada pelo Deus vivo e verdadeiro.

Alguns anos atrás, eu estava assistindo a um desfile no dia de ano novo. Era um torneio anual de rosas televisionado para milhões de pessoas. De repente, no meio do desfile, um carro alegórico deu um estalo e parou. Os construtores e trabalhadores que fizeram o carro alegórico prestaram atenção meticulosa a tudo relacionado à beleza do carro, mas ignoraram um detalhe importante – a gasolina. Acabou a gasolina do caminhão que carregava a alegoria. O torneio ficou paralisado até que resolvessem o problema trazendo gasolina para o caminhão.

A igreja hoje está se esticando para se segurar no barco – impossibilitada de continuar nadando; perdida no nevoeiro; desprovida de forças diante de seus inimigos e ineficaz diante da cultura, e, ao mesmo tempo, representa o poderoso criador do universo.

A igreja primitiva tinha poder por meio da obediência ao Espírito de Deus que a capacitava. Como resultado, a igreja virou o mundo do avesso pela causa de Jesus Cristo.

  • A terceira cor que vejo pintada nessa tela do primeiro século da igreja do Novo Testamento é a cor do louvor.

É impossível não notarmos que era uma igreja eletrizante, contagiante, animada. E qualquer pessoa que observava a igreja balançava a cabeça e dizia: “Não é possível! Isso tem que ser de Deus!”

Veja os versos 46 e 47.

Diariamente perseveravam unânimes no templo, partiam pão de casa em casa e tomavam as suas refeições com alegria e singeleza de coração, louvando a Deus e contando com a simpatia de todo o povo. Enquanto isso, acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos.

Havia mais de três mil convertidos cheios de animação e famintos. Encontravam-se no templo, assim como nós fazemos hoje, e o pensamento que enchia seus corações e os seus lábios, e os nossos hoje, era: “Não tem como ficar melhor do que isso. Deus seja louvado por causa das coisas maravilhosas que tem realizado em nosso meio.”

Três Princípios

Três princípios emergem desse texto.

  • O que Deus começa sobrenaturalmente, deve operar sobrenaturalmente.

A igreja foi criada no dia de Pentecostes por ocasião da descida do Espírito Santo. Dois mil anos depois, o nascimento de qualquer igreja neotestamentária é algo milagroso.

Se pudéssemos contemplar as batalhas que varrem os céus em nossas cabeças, oraríamos mais, investiríamos mais e serviríamos com muito maior intensidade como igreja, chamada por Deus, para alcançar nossas cidades para Jesus Cristo.

  • Quando a igreja trabalha com poder, seu ministério pode ser inexplicável.

Em 1988, os primeiros diáconos de nossa igreja se reuniram na casa que eu e minha esposa alugávamos na época. Eles tinham acabado de ser eleitos para o cargo e estavam se reunindo para orar e traçarem estratégias para o futuro. A igreja, na época, tinha uma média de cento e setenta pessoas todo domingo. Isso incluía adultos, crianças, bebês no berçário e até uns gatos que andavam no estacionamento. Em minhas anotações, escrevei o que havíamos discutido sobre o que gostaríamos de ver Deus fazer em nossa igreja. Chegamos à conclusão de que gostaríamos de ver acontecendo algo que não conseguiríamos explicar plenamente.

E, hoje, desejo isso ainda mais – um ministério inexplicável. E eu posso dizer: “Não sei como, mas eu sei Quem!”

Um dia dessas, eu e minha esposa fomos jantar com aqueles homens que haviam servido como diáconos e suas esposas. Eu trouxe as pautas de nossas primeiras reuniões de diáconos. Numa das pautas de 1988, o assunto era que precisávamos comprar uma máquina de xérox melhor, já que estávamos, agora, fazendo setecentas e cinquenta cópias por semana. Hoje, fazemos cópias de nossas anotações de estudos bíblicos, músicas do coral, materiais diversos, currículos e muitas outras coisas, amontoando cerca de dezesseis mil por semana.

Em outubro de 1990, nossa congregação, com média de trezentas e cinquenta pessoas por domingo, votou unanimemente perseguir o alvo de um milhão em nosso orçamento anual. Esse era um alvo inacreditável para uma igreja que anualmente tinha um orçamento de 169 mil.

Eu creio que Deus continua a conduzir a igreja na qual sirvo a um território inexplicável. Não temos como explicar como apenas oito meses depois de termos nos mudado para nosso novo prédio, quinhentas novas pessoas começaram a frequentar nossa igreja e a congregação decidiu recomeçar todo o processo de desafios.

Sem Deus movendo nossos corações para seguir a Sua vontade, tudo isso é inexplicável.

  • Mais um princípio é que, quando a igreja ministra com poder piedoso, os resultados são inegáveis.

Nós, como igreja, temos a responsabilidade de fazer nada mais que carregar a missão à nossa frente com zelo e ardor – nosso objetivo é ganhar nossas cidades e vizinhanças para Jesus Cristo.

Que nossas igrejas mandem um sinal – não ficaremos satisfeitos apenas com um passado maravilhoso; recusamos a caminhar por vista e não por fé; nossa luz não será escondida; estamos aqui para colher frutos e encher nossas cidades com o evangelho de Jesus Cristo.

Os historiadores preservaram para nós uma resolução. Foi escrita e assinada pelos construtores da famosa Catedral de Sevilla, na Espanha, construída em 1401. A resolução dizia o seguinte: “Construamos aqui uma igreja tão grandiosa de maneira que aqueles que vierem depois de nós pensem que somos loucos por termos um dia pensado em construí-la.”

 

 

Este manuscrito pertence a Stephen Davey, pregado no dia 10/11/1996

© Copyright 1996 Stephen Davey

Todos os direitos reservados

 

 

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