
Gálio: Essa Era a Sua Vida!
Gálio: Essa Era a Sua Vida!
Atos 18.12–23
Introdução
Eu recebi um artigo outro dia que relatava lições que pessoas jovens e velhas já aprenderam em suas vidas. Algumas são profundas; outras são engraçadas. Deixe-me ler algumas delas.
- Um garoto de doze anos disse: “Eu aprendi que exatamente quando arrumo o meu quarto do jeito que eu gosto, minha mãe me manda limpá-lo.”
- Uma mãe aprendeu que netos e avós são aliado naturais.
- Um outra mulher disse: “Aprendi que você sabe muito de um homem pela maneira como ele lida com três coisas: dia chuvoso, bagagem perdida e árvore de Natal embaraçada.”
- Um viajante maduro deu um pouquinho de conhecimento quando disse: “Aprendi que os colchões de pousadas de beira de estrada são mais confortáveis no lado que fica longe do telefone.”
- Um outro viajante disse: “Aprendi que, para onde quer que eu vá, os piores motoristas do mundo me seguirão até lá.”
- Um garotinho disse a minha predileta: “Aprendi que não se pode esconder um pedaço de brócolis num copo de leite.”
Um homem chamado Peter Lynch disse algo que é citado por muitas pessoas ao redor do mundo: “Ninguém em seu leito de morte irá dizer: ‘Como eu gostaria de ter passado mais tempo no meu escritório’.”
Desde essa declaração dele há alguns anos atrás, antecipar os sentimentos de morte de alguém se tornou um passatempo popular. Uma seguinte pergunta foi feita a empresários de cinquenta anos para cima: “Olhando para o passado, se você pudesse mudar uma coisa, o que seria... o que você aprendeu sobre a vida?” As respostas incluíam:
- Um executiva disse: “Eu teria ido para uma atividade na escola de minha filha quando ela estava na sexta série.”
- Um outro presidente de uma empresa disse: “Gostaria muito de ter entendido a importância de um jogo de futebol de meu filho numa quinta-feira à tarde. Mas, eu estava me dedicando ao meu trabalho [acima de tudo].”
- Outro executivo respondeu: “Consigo me recordar de umas decisões ruins que tomei quando meus filhos eram mais novos, quando não fui assistir a um jogo deles porque meu compromisso com os negócios entrava em conflito com o jogo. O irônico é que, vinte e cinco anos depois, me lembro do evento que não estava presente, mas não consigo me recordar da atividade de negócio na qual estava envolvido – na verdade, em alguns casos, mal consigo me lembrar aonde eu estava trabalhando na ocasião.”
E foi exatamente isso o que aconteceu na vida de um homem que parecia estar de bem com a vida. Ele aparece rapidamente no livro de Atos, mas, contudo, nos ensina a mesma lição profunda que pessoas ainda estão aprendendo hoje; ou seja, é possível construir uma vida, mas não viver uma vida digna.
Revisão: Paulo na “Cidade-Pecado”
Em nosso estudo anterior no livro de Atos, capítulo 18, viajamos com Paulo a uma cidade pagã e imoral, a “cidade-pecado” chamada Corinto. Foi aqui que Paulo chegou perto de jogar a toalha. Talvez você se recorde de o Senhor vindo a Paulo com a promessa numa visão nos versos 9 e 10.
Teve Paulo durante a noite uma visão em que o Senhor lhe disse: Não temas; pelo contrário, fala e não te cales; porquanto eu estou contigo, e ninguém ousará fazer-te mal, pois tenho muito povo nesta cidade.
E o resultado disso se encontra no verso 11: E ali permaneceu um ano e seis meses, ensinando entre eles a palavra de Deus.
Somente em duas outras ocasiões Paulo permaneceu longo tempo na cidade para ensinar. Essa foi uma mudança notória de eventos para Paulo, que veio para Corinto e estava cheio de medo e fraqueza. Agora, essa cidade ímpia se torna o local de uma grande campanha de dezoito meses e o estabelecimento de um ministério significante na Europa.
A Primeira Vida: Um Espectador Indiferente
Note, agora, os versos 12 a 17 de Atos 18.
Quando, porém, Gálio era procônsul da Acaia, levantaram-se os judeus, concordemente, contra Paulo e o levaram ao tribunal, dizendo: Este persuade os homens a adorar a Deus por modo contrário à lei. Ia Paulo falar, quando Gálio declarou aos judeus: Se fosse, com efeito, alguma injustiça ou crime da maior gravidade, ó judeus, de razão seria atender-vos; mas, se é questão de palavra, de nomes e da vossa lei, tratai disso vós mesmos; eu não quero ser juiz dessas coisas! E os expulsou do tribunal. Então, todos agarraram Sóstenes, o principal da sinagoga, e o espancavam diante do tribunal; Gálio, todavia, não se incomodava com estas coisas.
Se Gálio sabia ou não, ele era, nesse momento, um espectador indiferente em relação a questões de vida e mor, céu e inferno, esperança e desespero, perdão e culpa.
Lembro-me de uma propaganda que eu vi que dizia: “Imagem é tudo.” Em nossa cultura, imagem é tudo; caráter não significa nada. Contudo, na cultura cristã, imagem é incidental. É a imagem de Cristo através de você que é o elemento significante.
A nossa cultura não é diferente da cultura de Roma. E, se imagem era tudo, Gálio tinha tudo.
Gálio era filho de um advogado proeminente chamado Lúcio Sêneca. Um de seus irmãos pegou o nome do pai e ficou conhecido em todo o império simplesmente como Sêneca – o tutor de Nero; o brilhante político e filósofo. O outro irmão de Gálio era um poeta famoso. Esses três garotos estavam destinado à grandeza e todos eles a conquistaram.
No dia 1º de maio de 52 AD, Gálio foi designado pelo imperador para ocupar o ofício político mais elevado em Corinto. Essa era uma responsabilidade política de grande peso num centro comercial importante.
Dois motivos por que Gálio era um seguidor e não um líder
Gálio pode ter ocupado a posição de liderança, mas, na realidade, ele era um seguidor! Deixe-me dar duas razões para isso.
- A primeira razão - Gálio era indiferente em relação a questões fora do ambiente politicamente correto.
Nos dias de Gálio, os judeus eram sem importância. Na verdade, de acordo com o verso 2 desse capítulo, o imperador havia, recentemente, expulsado todos os judeus de Roma. O consenso geral era que, “Os judeus causam problemas desnecessários; ficamos melhor sem eles.”
Olhe novamente o desprezo com que Gálio trata os judeus no verso 14b:
...Se fosse, com efeito, alguma injustiça ou crime da maior gravidade, ó judeus, de razão seria atender-vos
Em outras palavras, “Vocês estão desperdiçando meu tempo. Eu sou um juiz importante; e se Cláudio acha que vocês não possuem uma causa digna de confusão, tampouco eu irei entrar em disputa por causa de vocês.”
O fato de uma pessoa ocupar a posição de liderança não significa que ela esteja liderando. Pode ser que elas estejam simplesmente dançando conforme a música tocada por outros!
Eu li a respeito de um grupo de líderes da região que foram convidados a um jantar particular com o ex-presidente. Esses homens estavam meio nervosos querendo usar as regras adequadas da etiqueta a fim de ganhar o respeito do presidente. Então, eles decidiram, enquanto estavam na sala de espera, que iriam se sentar para a refeição e observar cuidadosamente o presidente e seguir o mesmo comportamento dele. Finalmente, eles se sentaram à mesa daquele banquete e café foi servido. O presidente, para a surpresa deles, colocou café no seu pires. E os convidados fizeram a mesma coisa. Daí, ele adicionou um pouco de açúcar e leite. Os convidados fizeram o mesmo. Então, o presidente se abaixou e deu o café para o seu gato.
Você se imagina na posição de um daqueles líderes? “Aqui, gatinho, mais café, tenho café para você também...”.
Uma pesquisa foi feita na população e descobriu-se que, se colocadas numa situação em que tivessem que ou seguir a multidão ou ser diferente, a vasta maioria seguiria a multidão.
Qual é o consenso hoje? Pense numa questão qualquer e considere como o consenso difere radicalmente do ensino das Escrituras.
Pense no pensamento popular sobre os ainda não nascidos. Nossa sociedade os rebaixou a uma posição que nãos os considera como pessoas. O pensamento comum é que são tecidos de feto, não uma vida.
Qual seria o consenso para um pastor e sua esposa que são bastante pobres, já têm catorze filhos e descobrem que ela está grávida do décimo quinto? Eles estão vivendo em tremenda pobreza. Considerando a extrema pobreza e a enorme população mundial, você sugeriria que ela abortasse? E você responder, “Sim,” você acabou de matar João Wesley, um dos maiores evangelistas do século dezenove e fundador por princípio das igrejas Metodistas.
Também existe o casal que o homem está doente com gripe e a mulher com tuberculose. Eles têm quatro filhos – o primeiro é cego, o segundo acabou de morrer, o terceiro é surdo e o quarto tem tuberculose. Ela descobre que está grávida de novo. Dada a situação extrema, você pensaria em recomendar o aborto? Se sua resposta é, “Sim,” você acabou de matar o Beethoven.
Uma jovem engravidou, mas ela não é casada. Seu noivo não é o pai da criança e está muito chateado. Você recomendaria o aborto? Se sua resposta é, “Sim,” você acabou de decretar o assassinato de Jesus Cristo.
O senso popular destrói a vida até do Salvador!
O pensamento popular diz: “Gálio, aquele judeuzinho que apanhou e foi trazido à sua presença é um “Zé Ninguém.” Nem permita que ele fale. Essas pessoas vêm até você argumentando um monte de coisas, levantando...” (veja o verso 15a): questão de palavra, de nomes e da vossa lei... Elas não são dignas de seu tempo.”
Acho interessante que Gálio mencionou três coisas sobre as quais ele não está nem um pouco interessado. Elas são:
- Palavras – a palavra grega “logos” pode ser uma referência à alegação do Cristianismo de que Cristo é o “logos” de Deus (João 1.1 – “No princípio era o Verbo [‘logos’], e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.”);
- Nomes – essa pode ser uma referência ao nome de Cristo declarado como o único nome que salva (Atos 4.12);
- A lei (ou Torah) – essa pode ser uma referência ao debate acalorado no qual Paulo declara que Jesus Cristo cumpriu perfeitamente a Lei e se tornou o Cordeiro sem mácula sacrificado pelos pecados do mundo.
- A segunda razão - Gálio era indiferente em relação a qualquer coisa fora do seu perímetro de vida e interesse.
Veja o verso 17.
Então, todos agarraram Sóstenes, o principal da sinagoga, e o espancavam diante do tribunal (em outra palavras, Gálio mandou que todos saíssem, e eles saíram, exceto Sóstenes, o principal da sinagoga, que evidentemente permaneceu para argumentar sobre o veredito e acabou levando uma surra) Gálio, todavia, não se incomodava com estas coisas.
Essa é a prova final de que você é alguém de importância – você não mexe com coisas que não quer; tudo problema dos outros; e o mundo gira em torno de você. Aí está você!
Essa era a sua vida, Gálio!
Mas, você consegue se colocar no lugar dele, sabendo o que ele sabe agora? Dá para imaginar você pensando por toda a eternidade que Paulo, o grande embaixador de Jesus Cristo, estava diante de você e não permitiu que ele falasse? Você tem todas as conexões e, agora, diante de você, está sua conexão a Deus, mas, você é importante demais para ouvi-lo.
Nesse momento, meus amigos, Gálio deixou a vida escapar.
A Segunda Vida: Um Crente Fervoroso
Agora, a fim de fazermos um contraste, as lentes da Escrituras se focalizam novamente em Paulo. enquanto Gálio era um espectador indiferente, Paulo era um crente fervoroso.
Três observações sobre Paulo
Eu gostaria de fazer três observações sobre Paulo.
- Primeira observação - Paulo estava preocupado com seu compromisso pessoal com Cristo.
Acabamos de ver Paulo no tribunal indisposto a se retratar e se misturar com os judeus, mas pronto para defender a honra de Cristo. O fato que ele permanece em Corinto, como o verso 18 nos informa, “muitos dias,” revela sua disposição para ser diferente, odiado e mal entendido; falar a verdade e defender Cristo.
Veja o verso 18.
Mas Paulo, havendo permanecido ali ainda muitos dias, por fim, despedindo-se dos irmãos, navegou para a Síria, levando em sua companhia Priscila e Áqüila, depois de ter raspado a cabeça em Cencréia, porque tomara voto.
- Segunda observação: Paulo estava preocupado com seu relacionamento pessoal com Jesus Cristo.
Lucas insere um comentário pessoal. Você percebeu? Ele não nos dá detalhes. Ele não nos dá os motivos de Paulo para fazer esse voto e nem nos diz por que Paulo fez uma visita a um barbeiro na pequena cidade de Cencreia. Lucas apenas quis que soubéssemos do fervor de Paulo por Cristo. Isso permeou profundamente sua vida.
Sabemos que o voto de Paulo, uma vez que envolvia o corte de cabelo, era o voto do nazireu. Esse voto poderia ser tanto para a vida inteira, como por apenas trinta dias. O cabelo crescia e depois era cortado a fim de ser oferecido com outros sacrifícios em Jerusalém como um ato de ação de graças. Já que era um ato puramente voluntário, Paulo não estava violando a graça pela lei quando decidiu fazê-lo. Esse voto não era para a salvação, mas para devoção.
Acho interessante que Lucas não nos dá detalhes. A verdade é que, se ele tivesse dado detalhes, todos nós tentaríamos imitar Paulo. As pessoas realmente mais espirituais seriam aquelas que fariam o voto Paulino. Estaríamos perguntando: “Você já fez o voto Paulino?” A resposta: “Já sim, eu faço três vezes por ano.”
“Beleza, pessoal, quero ver todo mundo no retiro anual do voto Paulino. Este ano, teremos um pregador de fora, contando sobre sua vasta experiência de vida com o voto Paulino.”
Graças a Deus não nos deram muitos detalhes. Se formos imitar alguma coisa, devemos imitar o fervor profundo de Paulo e não seu plano devocional. Continue nos versos 19 a 21.
Chegados a Éfeso, deixou-os ali; ele, porém, entrando na sinagoga, pregava aos judeus. Rogando-lhe eles que permanecesse ali mais algum tempo, não acedeu. Mas, despedindo-se, disse: Se Deus quiser, voltarei para vós outros. E, embarcando, partiu de Éfeso.
- Terceira observação - Paulo estava preocupado com sua obediência pública a Cristo.
Existe uma ótima expressão nesses versos: “...Se Deus quiser...”.
Precisamos aprender a pensar dessa maneira. Tudo está debaixo do controle de um Deus soberano. Paulo estava dizendo: “Se Deus quiser que eu volte, estou convencido, voltarei!”
Que confiança e certeza!
Precisamos reconhecer que isso vem de um homem que era pessoalmente comprometido com Cristo, um homem que tinha feito um voto pessoal a Cristo, um homem publicamente obediente a Cristo. É esse tipo de pessoa que pode viver na confiança e certeza que, “Se Deus quiser, voltarei.”
Conclusão
Dois homens, dois retratos diferentes!
Gálio tinha posição, prestígio, riquezas, conexões e tinha intimidade com os poderosos. Você lia sobre Gálio no jornal. Na verdade, quatro escritores romanos mencionam com decoro sobre Gálio ser um grande homem. Mas, da perspectiva temporal, podemos dizer: “Ele não tinha nada.”
Cerca de dez anos depois dessa cena no tribunal, Gálio foi chamado a Roma pelo “quase-doido” Nero. Ele foi condenado como um conspirador juntamente com seus irmãos famosos, Sêneca e Melas. Os três foram forçados a tirar suas próprias vidas bebendo veneno. O homem que não deu espaço à conversas sobre Cristo em seu tribunal não recebeu nenhuma defesa na corte de Nero.
Quanto a Paulo, quem, em sua época, desejaria ler sobre sua vida? Ele abriu mão do prestígio, abandonou suas conexões com homens poderosos como Gamaliel e o Sinédrio e perdeu o potencial de conforto e riqueza. Mas, da perspectiva da história e à luz da eternidade, diríamos sobre Paulo: “Ele tinha tudo.” De fato, temos grande alegria hoje em ler e estudar a vida de Paulo.
O que a história dirá sobre você? Se fosse escrita, “Essa foi a Sua Vida,” qual seria a descrição da sua vida? Deixe-me colocar isso de outra maneira: “Existe algo em sua vida que realmente valha a pena registrar?”
Dá para imaginar chegar no fim de sua vida e perceber que você não se preocupou com o que deveria e nem fez o que deveria? Dá para imaginar olhar para trás e perceber que o que ocupou o primeiro lugar em sua vida foram, à luz da eternidade, coisas insignificantes quando comparadas às coisas que você negligenciou?
Naquela lista de coisas que lemos antes onde as pessoas falaram alguma lição que aprenderam, uma pessoa de sessenta e dois anos escreveu: “Aprendi que às vezes a vida te dá uma segunda chance.”
Estou feliz que Deus dá segunda chances! Sua misericórdia se renova a cada manhã; grande é a Sua fidelidade!
Talvez para você essa segunda chance começa hoje. A vida que você está no processo de publicar não vale a pena registrar. Mas, hoje, você começa:
- Um compromisso pessoal com Cristo;
- Um relacionamento pessoal com Cristo;
- Uma obediência pública a Cristo.
“Só uma vida cedo passará; só o que fizermos para Cristo durará.”
Este manuscrito pertence a Stephen Davey, pregado no dia 01/02/1998
© Copyright 1998 Stephen Davey
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