
Mais do que Um Monumento
Mais do que Um Monumento
Atos 17.16–24
Introdução
Um livro de discipulado conta uma história real até que engraçada sobre o fato de que coisas e dinheiro não importam mais – pelo menos para uma mulher.
Um jovem rapaz tinha uma paixão pelos carros da Porsche. Todos os dias ele olhava nos classificados para ver os Porsches que estavam em promoção, apesar de ele saber que jamais conseguiria comprar um. Um belo dia, ele ficou maravilhado ao ver um Porsche na promoção por mil reais. Logo, ele percebeu que havia sido um erro de digitação – Porsches não custam apenas mil reais. Mas, no dia seguinte, o mesmo anúncio apareceu. Daí ele decidiu ligar para o número do telefone do anúncio, apesar de se sentir como um bobo, pois estava evidente que havia sido um erro no anúncio.
A mulher que atendeu o telefone assegurou que o anúncio estava correto – um Porsche novinho poderia ser seu por apenas mil reais. Ele simplesmente não pôde acreditar, mas, ao chegar na casa do dono do carro, viu a beleza do Porsche estacionado na frente da garagem. Ele saiu do seu carro e examinou o Porsche cuidadosamente e pensou consigo mesmo: “Deve estar sem motor.”
A mulher saiu de dentro de sua casa e, de novo, garantiu que estava à venda; o carro novinho e ela estava pedindo apenas mil reais. Daí, ele fez um teste-drive. O carro estava ótimo. Ele não podia acreditar. Ele pagou os mil reais e saiu de lá o mais rápido possível, com medo de a dona pensar melhor e voltar atrás no negócio.
O carro estava com estado de novo, mas o incomodava o fato de ele ter pago à mulher apenas mil reais pelo carro. Então, depois de dirigir o Porsche por uma semana, ele ligou para ela, identificou-se e disse: “Dona, você está ciente que o preço de mercado desse carro é de milhares de reais?”
“Sim”, ela respondeu.
“Bom,” ele perguntou, “por que você o vendeu para mim por apenas mil reais?”
Sem hesitar um segundo, ela respondeu: “Vou dizer a você o porquê. Três semanas atrás, meu marido fugiu para as Bermudas com sua secretária e a última que ele me disse foi: “Venda o Porsche e me mande o dinheiro. Então, eu vendi.1”
Desde que li essa história real fico olhando os classificados!
Quando estava numa loja recentemente, uma frase na blusa de uma mulher me chamou a atenção. Na parte da frente da camisa dessa senhora estava escrito com letras grandes e chamativas: “Quero tudo.”
Gostaria muito que ela descobrisse antes que seja tarde demais que, mesmo que ela tenha tudo, ainda esse tudo não será suficiente.
Quero levar você hoje comigo à cidade que tinha tudo. Por volta da época que Paulo chegou em Atenas, a cidade já era renomada no mundo conhecido como a capital filosófica do mundo. Lá foi o local de nascimento de sistemas democráticos, os quais seguimos ainda hoje, leis e liberdades individuais.
Atenas também era o lugar da universidade mais famosa do mundo. Sócrates e seu aluno brilhante, Platão, ensinaram lá, bem como o famoso pupilo de Platão, Aristóteles. Tudo, desde hidrostática até biologia, foram formulados para o consumo ocidental nessa incrível cidade de Atenas.
Essa cidade era rica e abastada – até hoje, as ruínas contam de suas glórias debaixo do sol. O Parthenon é considerado a obra-prima da arquitetura antiga. A cidade ao lado do Monte Olympus, onde Homero e Hesíodo viveram, era uma joia brilhante na idade de outro da Grécia.
Atenas havia descoberto muitas verdades – mas ainda não conheciam a verdade. Atenas tinha tudo – mas, como veremos, ainda não era suficiente. Eles não tinham Deus; eles não sabiam quem Ele era.
Quando a princesa Elizabeth e o Duque de Edinburgo se casaram em 1947, o Rei Faisal, o monarca do Iraque que tinha apenas doze anos de idade, estava entre os dignitários que visitaram Londres para ver aquele casamento espetacular. As pessoas estavam enfileiradas na rua principal de Londres que leva à catedral para, talvez, conseguir ver o casal real quando passassem. O Rei Faisal não estava muito interessado, mas queria ver também os cavalos que levavam as carruagens na estrada. Então, ele se vestiu com seu manto oriental, passou pelo meio da multidão para ver melhor. Daí, um policial o pegou pelo braço e mandou que ficasse fora do caminho. Isso era o que um policial naturalmente diria a um menino de doze anos que não se encaixava na cena. Somente depois descobriram que o garoto de doze anos era o rei do Iraque e os pedidos de desculpas vieram em grande número. Nos principais jornais de Londres naquele dia, as matérias das capas foram: “Desculpe-nos, Rei Faisal, não sabíamos que era você.”
Atenas irá, em grande parte, ignorar a apresentação que Paulo fará do Rei do Céu, assim como a nação de Israel havia ignorado anos antes. Jesus Cristo não se encaixava no cenário real; Ele não tinha aparência de rei. Seus pais eram plebeus, Ele nasceu num estábulo sujo e, depois, foi envolto em panos. Ele cresceu sem ser notado pelo mundo, maltratado e, por último, crucificado. Eles poderiam ter dito: “Não sabíamos quem Você era!”
Até o presente momento, a mensagem ainda pode ser ouvida em nosso país: “Não cabemos quem Você é!”
Essa verdade não é somente vista em nossa cultura, mas está se tornando cada vez mais aparente dentro das igrejas. A igreja hoje está fraca e mundana; está rica, mas ineficaz; parece estar fora de compasso com sua missão.
A solução não é:
- Uma série de campanhas;
- Exercícios pietistas;
- Maiores contribuições;
- Jejuns mais demorados;
- Métodos mais inteligentes.
A solução para as doenças da igreja é um entendimento renovado da natureza e do caráter de Deus.
O escritor puritano Stephen Charnock escreveu há duzentos anos sua obra clássica A Existência e os Atributos de Deus. Ele proferiu as seguintes palavras: “Um Deus esquecido é tão bom para nós quanto nenhum Deus.2”
Nunca houve uma geração tão desesperada e necessitada de uma apresentação de Deus como a nossa geração. E nunca houve um período na história da igreja necessitada de uma reapresentação de Deus como o nosso período.
Ouça as palavras de Charles Spurgeon ao pregar em sua congregação há mais de 150 anos. Ele disse:
Você vai parar com suas tristezas? Você vai enterrar seus cuidados? Então vai, mergulhe sua cabeça no mar profundo da Triunidade; perca-se na Sua imensidão; e você retornará como se tivesse descansado em um sofá, renovado. Não há mais nada que possa confortar a alma, tranquilizar os vagalhões da dor e tristeza, trazer paz aos ventos das provações, como um devoto se regozijando em Deus.3
Portanto, em nosso próximos dois estudos, mergulharemos profundamente no texto da pregação de Paulo ao apresentar a Atenas o Deus Desconhecido. Creio que nós também descobriremos muitas coisas a respeito de nosso Deus maravilhoso, soberano e gracioso.
Abra sua Bíblia em Atos 17. Nesse capítulo, vimos que a verdade já foi rejeitada em Tessalônica e pesquisada em Bereia. Hoje, veremos a verdade ridicularizada em Atenas.
O que Paulo Faz do Seu Tempo Desocupado
Vamos voltar à segunda viagem missionária de Paulo em Atos 17, verso 16.
Enquanto Paulo os esperava em Atenas, o seu espírito se revoltava em face da idolatria dominante na cidade.
Duas palavras-chave
Existem duas palavras interessantes escolhidas pelo Espírito Santo para nos falar algo sobre Paulo.
Paulo está na bela cidade de Atenas. Ele acabara de escapar de Bereia e agora aguarda Timóteo e Silas se reunirem a ele. Ele tem um tempo de descanso em suas mãos e a forma como ele usa seu tempo desocupado nos fala muito sobre Paulo.
Recentemente, li o desafio: “Encontre sua sorte na vida e construa algo sobre ela.”
Paulo tinha um desejo ardente de construir o reino de Deus e nunca o veremos longe de suas ferramentas de trabalho.
Em face da
A última parte do verso no diz que Paulo estava “em face da” idolatria da cidade. Você poderia escrever na margem de sua Bíblia a palavra “theatro,” pois é a palavra original e que dá origem à nossa palavra em português.
Paulo não simplesmente chegou e percebeu todos os ídolos, mas ele estudou a cidade; caminhou de rua a rua; parou e observou as pessoas, como fazemos no shopping quando nos sentamos nos bancos e vemos as pessoas passando. As pessoas não são esquisitas? Eu poderia dizer mais, mas sou uma delas! Paulo fez longas caminhadas e longas observações – ele viu tudo.
Revoltava
Também existe a frase: “...seu espírito se revoltava...”. A segunda palavra-chave é “revoltava,” que pode ser traduzida como “irava-se; movido profundamente; perturbado.” O que ele deve ter visto, não é!
Um autor grego que foi a Atenas cinquenta anos depois de Paulo escreveu que era mais fácil encontrar um deus em Atenas que encontrar uma pessoa.
Eu li que Atenas tinha 30 mil estátuas de deuses e deusas. Essas estátuas literalmente ficavam enfileiradas nas ruas. A construção central da cidade era o prédio do conselho, que era o ídolo Apolo. O prédio que guardava os registros públicos era dedicado à mãe dos deuses.
Do Parthenon até a Acrópolis, Paulo estava cercado por ídolos. Ele estava irado porque os atenienses estavam seguindo a mentira. Ele foi profundamente movido porque cada um daqueles ídolos testemunhava da fome pela verdade espiritual.
Atenas... Brasil
Podemos fazer um contraste entre Atenas e o nosso Brasil.
- A primeira palavra que vem à minha mente é “pluralista”.
Atenas nunca parava de ter novos deuses. Os caminhos eram infinitos.
No Brasil, o percentual de pessoas que crêem em Deus está cada vez menor e cresce o número de pessoas que se entregam a deuses falsos. Temos em nossa moeda a frase: “Deus seja louvado.” Mas, como nação, não concordamos qual deus deve ser louvado.
- Segundo, Atenas, assim como o Brasil, era intolerante.
Acho interessante que Lucas faz um comentário pessoal sobre os atenienses. Veja o verso 21.
Pois todos os de Atenas e os estrangeiros residentes de outra coisa não cuidavam senão dizer ou ouvir as últimas novidades.
Parece muito tolerante, não é? Mas espere até que alguém chegue e comece a compartilhar do evangelho de Jesus Cristo! Eles chamam Paulo de “tagarela.” Ele é levado ao superior tribunal de Atenas e, depois de terminado, metade da população zomba dele.
Mas eu pensei que eles gostavam de ouvir as novidades! Eles gostam desde que a novidade não os convença de pecado e os lembre que, depois da morte, o homem deve comparecer a um julgamento.
Eu ouvi há alguns anos atrás que uma escola numa pequena cidade estava tendo dificuldades para colocar um presépio em uma mesa que já continha símbolos do que outras religiões fazem durante a época do Natal.
Interessante que eu pesquisei na Enciclopédia Britânica o significado de Natal. E ela diz: “Natal – feriado cristão que comemora o nascimento de Jesus Cristo.4” Mas não lembre ninguém disso!
Está ficando cada vez mais evidente que o Brasil está com a mente mais e mais aberta, desde que os crentes ficam com a boca fechada.
- A terceira palavra que vem à mente é “incerto.”
Atenas tinha um constante incômodo de que talvez estivesse lhe faltando alguma realidade espiritual; então, eles fizeram um monumento para o deus desconhecido.
E Paulo ficou movido ao ver esse monumento. Ele sabia que tinha a resposta.
- Mais uma palavra que penso ao comparar Atenas ao Brasil é “vazio.”
Atenas já tinha ouvido de tudo. Estava saturada com filosofias e especulações; estava cercada de espiritualidade, mas ainda estava vazia.
Atenas tinha tudo, mas ainda não era suficiente.
Você teria ficado incomodado com aquilo – tão profundamente movido a ponto de levá-lo a tomar uma atitude? Você teria ficado movido a ponto de não somente descrever a escuridão, mas se disposto a derramar uma luz?
Muitos crentes são movidos, mas não se movem.
A Apresentação que Paulo Faz da Mensagem Eterna
Veja o que Paulo faz em seguida. E veja os tipos de pessoas que ele está lidando. Veja os versos 17 e 18 de Atos 17.
Os adoradores
No verso 17a, lemos: Por isso, dissertava na sinagoga entre os judeus e os gentios piedosos.
Os compradores
Continue no verso 17b: também na praça, todos os dias, entre os que se encontravam ali.
Chamaremos essa categoria de os “compradores.”
Epicureus e Estóicos
Veja o verso 18a: E alguns dos filósofos epicureus e estóicos contendiam com ele Esse é o terceiro grupo de pessoas, os Epicureus e Estóicos. Continue no verso 18b.
...havendo quem perguntasse: Que quer dizer esse tagarela? E outros: Parece pregador de estranhos deuses; pois pregava a Jesus e a ressurreição.
Vamos parar nesse verso por um instante. Eu aprendi com meus estudos muitos mais sobre os Epicureus e Estóicos do que você deseja saber. Mas quero que você saiba que, na verdade, você deveria escrever na margem de sua Bíblia uma palavra ao lado de cada escola de pensamento.
Ao lado da palavra “epicureus,” escreva a palavra “indulgentes.” Eles criam que satisfazer o prazer e evitar a dor eram as principais buscas do homem. Eles criam que as pessoas viviam apenas uma vez e, já que não havia nada depois disso, então deveriam aproveitar tudo o que pudessem desta vida.
Se de um lado os epicureus eram indulgentes, os estóicos eram indiferentes. Eles criam que a busca do homem não era nem o prazer e nem a dor. A vida era, na verdade, controlar as circunstâncias, situações, emoções, etc.
Apesar de esses dois grupos serem bastante diferentes, eles estavam unidos em seu ódio contra Paulo.
A abordagem de Paulo para apresentar a mensagem ao povo de Atenas
Agora, note os versos 19 a 22. Os atenienses levam Paulo ao Areópago, ou a suprema corte.
Então, tomando-o consigo, o levaram ao Areópago, dizendo: Poderemos saber que nova doutrina é essa que ensinas? Posto que nos trazes aos ouvidos coisas estranhas, queremos saber o que vem a ser isso. Pois todos os de Atenas e os estrangeiros residentes de outra coisa não cuidavam senão dizer ou ouvir as últimas novidades. Então, Paulo, levantando-se no meio do Areópago, disse: Senhores atenienses! Em tudo vos vejo acentuadamente religiosos;
Podemos aprender algo com essa abordagem de Paulo aos atenienses. Apesar de ele finalizar seu sermão com o julgamento, ele começa com a tática de construir um elo.
Veja que Paulo não diz: “Percebi que vocês estão descontrolados com essa idolatria; vi como vocês são ridículos.” Não, Paulo diz: “Percebi que vocês são bastante religiosos.”
Algumas traduções, infelizmente, reduziram a construção grega “acentuadamente religiosos” para “supersticiosos demais,” o que não é uma tradução, mas interpretação. A construção composta grega poderia ser traduzida: “Percebi que vocês respeitam o sobrenatural.”
Veja mais à frente o verso 23.
porque, passando e observando os objetos de vosso culto, encontrei também um altar no qual está inscrito: AO DEUS DESCONHECIDO. Pois esse que adorais sem conhecer é precisamente aquele que eu vos anuncio.
Seiscentos anos antes da visita de Paulo, a história relata que Atenas sofreu com uma praga. Centenas de pessoas ficaram doentes e morreram e Atenas estava desesperada por uma cura. Um poeta famoso de Creta, Epimênides, veio com um plano para fazer as pazes com os deuses que estavam causando a praga.
Epimênides foi até o Areópago e soltou um rebanho de ovelhas. O plano era deixar que as ovelhas pastassem livremente pela cidade. Quando uma ovelha se deitava sozinha, ela deveria ser sacrificada para o deus do templo mais próximo. A hipótese era que o deus irado atrairia as ovelhas para si. Quando as ovelhas foram soltas, contudo, muitas delas se deitaram em locais onde não havia nenhum templo por perto. As pessoas não sabiam o que fazer. Então, a fim de garantir todas as possibilidades de deuses, eles construíram um monumento e escreveram nele simplesmente: “AO DEUS DESCONHECIDO.”
Paulo chega na cena e diz: “Estou aqui para dizer a vocês o nome desse Deus que está faltando a vocês. Estou aqui para apresentar a vocês o Deus desconhecido.”
Continue no verso 24.
O Deus que fez o mundo e tudo o que nele existe, sendo ele Senhor do céu e da terra, não habita em santuários feitos por mãos humanas.
Paulo está dizendo: “Meu Deus é muito mais que um monumento. Ele é muito mais que um ídolo de mármore ou pedra. Meu Deus é o único Deus vivo e soberano e desejo contar tudo a vocês sobre Ele.”
Conclusão
Vamos parar por aqui hoje e dar continuidade em nosso próximo estudo. Entretanto, quero finalizar com um pensamento irônico, caso não tenha sido planejado para que nós, estudantes da Bíblia e história, descobríssemos. Do local exato em que Epimênedes soltou aquelas ovelhas para os sacrifícios a fim de encontraram seu caminho para os deuses irados, o apóstolo Paulo pregou à cidade de ouro da Grécia que um Cordeiro havia sido sacrificado, de fato, a um Deus irado; ou seja, o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. O Cordeiro voluntariamente caminhou em direção à ira de Deus e morreu a gim de curar a humanidade da praga do pecado e da epidemia da mor eterna.
Paulo disse: “Deixe-me apresentá-los ao Cordeiro que voltou à vida – Seu nome é Jesus Cristo. Ele é mais que um monumento, Ele é o Senhor dos céus e da terra.”
__________________________________
1 Dr. Mark Bailey, To Follow Him (Multnomah Books, 1997), p. 119.
2 Stephen Charnock, The Existence and the Attributes of God (Klock and Klock Publishers, 1997), p. 67.
3 Charles Spurgeon, citado pelo Dr. John MacArthur, Jr. Em Acts Commentary (Moody Press).
4 “Christmas,” Britannica Junior Encyclopaedia (1981 ed.), vol. 4, p. 992.
Este manuscrito pertence a Stephen Davey, pregado no dia 21/12/1997
© Copyright 1997 Stephen Davey
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