
Últimas Palavras
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Atos 1.6–14
Introdução - Revisão
Começamos a nossa última discussão vendo a promessa do Senhor aos discípulos encontrada no “Livro das Ações” ou Atos, capítulo 1. Enquanto os discípulos estavam em pé sobre o Monte das Oliveiras com o seu Senhor ressurreto, o vento batendo em suas túnicas e a emoção apertando seus corações, eles ouviram o Mestre deixando Suas palavras finais.
A Promessa!
Jesus disse aos discípulos que eles não deveriam tentar antecipar o tempo da vinda do reino, mas esperar a descida do Espírito Santo. Como vemos em Atos 1, verso 8a, Jesus disse:
Mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas...
O Poder!
Note que Jesus não disse aos discípulos: “Quando o Espírito descer sobre vocês, vocês começarão a testemunhar.”
Jesus Cristo está preocupado com quem somos antes de nos dar a ordem para fazer alguma coisa.
A igreja em nosso país é primariamente ineficaz, mas não porque não esteja fazendo nada. Na verdade, a igreja hoje está fazendo mais barulho e está mais ocupada do que nunca, mas está progredindo lentamente. Nos últimos anos, mais material tem sido escrito sobre a criatividade, organização e procedimento da igreja do que nos cinquenta anos anteriores. A igreja tem se tornado assunto em noticiários com mais frequência do que vinte e cinco anos atrás. A igreja hoje tem manual para tudo, desde propaganda até grupos de terapia.
Alguns anos atrás, um homem disse: “A igreja nunca antes entrou tanto na sociedade como tem entrado agora, mas, ao mesmo tempo, tem feito pouquíssima diferença.”
A Pessoa!
Grande parte do problema da igreja de hoje gira em torno do fato de que ela esqueceu um princípio bastante importante. Esquecemo-nos de quem somos. Temos trocado a Pessoa por programações.
Por isso que eu acho bastante interessante que Jesus não disse no verso 8: “Mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e desenvolvereis métodos e estratégias e declarações de propósito; começareis uma indagação de porta em porta; começareis uma campanha evangelística para a grande Jerusalém...”.
A Prioridade!
Jesus disse no verso 8 do capítulo 1: “Existe uma Pessoa vindo; e quando essa Pessoa descer (essa é a prioridade), será uma ocupação que durará a vida inteira. Quando Ele vier: sereis minhas testemunhas...
Talvez você esteja pensando: “Então quer dizer que não devemos testemunhas ou fazer campanhas etc.”
Não, não é isso que estou dizendo. Apesar de termos oportunidades para testemunhar, Jesus nos informa que devemos ser testemunhas. Na verdade, Jesus está dizendo: “Estou concedendo a vocês algo muito mais exigente.”
Você não pode sair somente numa quinta à noite ou sábado para visitar e dizer: “Fiz evangelismo.” Não é simplesmente colocar o símbolo de um peixe no sue carro e dizer: “Uau, sou uma ótima testemunha.” Também não é simplesmente dar cem reais de oferta e dizer: “Pronto, já fiz minha parte.”
Jesus Cristo está dizendo que temos uma ocupação para o resto de nossas vidas – testemunhar.
Você já parou para pensar que Jesus nunca mandou você se tornar sal e luz? Ele nunca disse: “Alguém, por favor, pode se voluntariar para a missão do sal...?” Em Mateus 5, verso 13a, Jesus diz: Vós sois o sal da terra.
O que o sal faz? Ele produz sede; ele evita que algo estrague; ele limpa; dá sabor à comida. É interessante que Jesus não disse que somos açúcar,.
Lembro-me de quando estava ensinando meus filhos a comer aveia. A princípio, eles não queriam comer aveia: “Ah, não, credo!” Depois, veio a parte que eles gostavam – quando você joga açúcar por cima, adiciona leite e pronto. Eles comiam e repetiam duas vezes. Por que? Porque agora estava doce! Eles diziam: “Pai, é gostoso; posso sentir o gostinho do açúcar.”
Ninguém diz: “Gostei muito daquela comida porque deu para sentir bem o gosto do sal.”
Diferente do açúcar, o sal é bom somente até o ponto em que ele chama a atenção para a comida. E, a propósito, o sal não é para se juntar tudo num lugar, mas para espalhar por cima. O que temos na igreja é um ajuntamento de sal. Tudo bem, já que precisamos nos reunir a fim de melhorar nossa capacidade de salgar. Contudo, o mundo não pode ser impactado de dentro da igreja. Como um livreto que li dizia certa vez: “Precisamos sair do saleiro e pular para dentro do mundo.”
Jesus também nunca pediu que Seus discípulos considerassem a possibilidade de se tornarem luz! Ele disse em Mateus 5, verso 14a: Vós sois a luz do mundo.
O propósito da luz é dispersar a escuridão para você poder ver o caminho. Você, meu amigo e amiga, é o sal e luz. O que você faz flui daquilo que você é!
Volte agora e veja a palavra-chave em Atos 1, verso 8. Circule a palavra “testemunhas”. Essa é uma palavra-chave em todo o livro de Atos. Ela e seus derivados aparecem vinte nove vezes no livro.
A palavra “testemunhas” no coloca no cenário de um tribunal. Tem a plateia, o júri, o advogado de acusação e o advogado de defesa. E o drama em um tribunal se desenrola com os depoimentos das testemunhas.
Essa palavra, escolhida por Deus para representar quem somos, implica que o crente é chamado para dar um depoimento. Quem está sendo julgado? Jesus Cristo. Nessa metáfora, o Advogado de Defesa é o Espírito Santo; o de acusação é Satanás. O mundo é o júri que precisa decidir com base nos depoimentos das testemunhas à medida que elas testificam a verdade.
Agora, vamos continuar nesse cenário do tribunal. Em qualquer tribunal, a principal tentativa do advogado de acusação é descreditar as testemunhas da defesa. Como ele faz isso? descreditando o caráter da testemunha. Como aquela testemunha vive, fala e age fora do tribunal influencia diretamente o seu testemunho dentro do tribunal.
Muito do testemunho da igreja é descreditado no tribunal por sua falta de caráter. Como Warren Wiersbe disse muito bem: “A igreja que dizia para o mundo se arrepender, agora ouve do mundo a ordem para que ela se arrependa.”
Jesus Cristo nos dá a responsabilidade de vivermos de tal forma que nosso testemunho como não possa ser descreditado. A questão então se torna: “Se você fosse chamado hoje para depor a favor de Jesus, será que haveria algo em sua vida que tiraria a sua credibilidade como testemunha?”
Duas formas de servir como testemunha
Deixe-me sugerir duas formas de servirmos como testemunhas. Você pode servir de testemunha:
- Pela forma como você vive;
- Pelas palavras que você diz.
Perguntar qual dos dois é mais importante seria como perguntar a um piloto qual asa do avião é mais importante. Precisamos dos dois. E, quando o assunto é falar, precisamos escolher cuidadosamente as nossas palavras.
Nós, as testemunhas de Jesus Cristo, vivemos numa época que se tornou “pós-Cristã”. Ou seja, a Bíblia e os valores e ética judeu-cristãos não são mais o padrão. Na verdade, começar uma frase dizendo “A Bíblia diz” não traz mais respeito ou atenção.
O desafio do primeiro século... e do século vinte e um!
George Hunter, que foi deão de um seminário conhecido nos Estados Unidos, escreveu dizendo que a igreja hoje possui várias coisas em comum com a igreja primitiva em seu testemunho do evangelho. Dessa forma, podemos aprender com os crentes da igreja primitiva. Vamos discutir os vários desafios enfrentados por eles e também por nós agora.
- Primeiro, eles encararam uma população com pouco ou nenhum conhecimento do evangelho.
Nossa sociedade não sabe o que significa ser lavado no sangue do Cordeiro ou que precisamos nos render à cruz do Calvário.
Hoje, não é suficiente deixar um folheto no para-brisa do carro de alguém e pensar: “Eles vão entender!” Não estou dizendo que não existe poder na Palavra de Deus, estou simplesmente dizendo que não podemos abordar as pessoas mais hoje sem nenhum entendimento de que elas não sabem nem os ensinos básicos da Bíblia!
Essa história que li uma vez e vou contar agora ilustra bem essa realidade.
Um pastor estava ensinando na turma das crianças na Escola Dominical e perguntou: “Quem derrubou as muralhas de Jericó?”
Um menino respondeu: “Não fui eu!”
O pastor se virou para a professora da turma e perguntou: “Isso é comum?”
Ela disse: “Pastor, esse menino é uma criança honesta – eu realmente não acho que ele tenha feito isso.”
Essa resposta da professora realmente incomodou o pastor que ele foi direto ao superintendente da Escola Dominical e disse acerca do acontecido. O superintendente disse: “Pois bem, conheço o menino e a professora já faz alguns anos e não consigo imaginar nenhum dos dois fazendo algo tão terrível.”
Já em desespero, o pastor convocou uma reunião de emergência com a liderança da igreja e relatou toda a história. Depois de um instante de silêncio, um dos diáconos disse: “Ouça, pastor, simplesmente descubra quanto custa para consertar isso e iremos arcar com os prejuízos.”
Uma geração atrás, o público conhecia pelo menos as histórias mais famosas da Bíblia. Deixe-me contar uma história verídica de como isso fazia diferença.
Durante a Segunda Guerra Mundial, depois de Hitler já ter atravessado a França demandando a rendição das Forças Aliadas da Europa, milhares de soldados britânicos e franceses cavaram trincheiras ao longo da costa norte da França na tentativa de conter o avanço das forças alemãs. Presos na costa de Dunkirk, eles sabiam que a qualquer momento seriam derrotados pelos nazistas.
Os soldados ingleses começaram a enviar mensagens para o outro lado do canal inglês. Só três palavras: “E se não.” Será que era algum código – uma mensagem secreta? Não. Era uma referência ao Antigo Testamento, à história de Sadraque, Mesaque e Abede-Nego quando foram lançados na fornalha ardente pelo rei furioso e disseram: “Nosso Deus pode nos livrar, e se não, permaneceremos fiel a Ele de qualquer forma.” Por mais inacreditável que isso pareça hoje, aquela mensagem foi imediatamente entendida pelo povo britânico. Nos dias seguintes, barcos de pesca, navios cruzeiros, iates e barcos a remo saíram da costa da Inglaterra e resgataram 338 mil soldados das tropas Aliadas.
Nossa geração jamais teria entendido a mensagem. Na verdade, quando você se aproxima de um descrente dizendo: “A Bíblia diz...”, apenas um dentre três pessoas sabe o que isso significa.
- Segundo, a sociedade dos cristãos da igreja primitiva era uma sociedade pluralista com muitos deuses e religiões.
Pluralidade de religiões e deuses é algo bastante comum em nossa sociedade. E muito do que está ocorrendo ao nosso redor ocorre ao mesmo tempo em que a comunidade evangélica dos crentes parece estar menos interessada em doutrina. Doutrina divide; o amor une. Abaixo a teologia; abaixo as muralhas doutrinárias – o que vale é o amor e a união, abraços e beijos – abaixo toda teologia que divide.
Isso se tornou bastante evidente numa conversa que minha esposa teve com uma senhora outro dia. A mulher disse que era mórmon e que estava tentando ser uma boa crente. Mas como Mórmon e crente acaba na mesma frase?
Também existe o católico evangélico. Quando que essas duas partes passaram para o mesmo lado? Os reformadores que tanto lutaram contra a deificação de Maria e a necessidade dos sacramentos para a salvação devem estar se remexendo nos túmulos agora.
Enquanto nossa sociedade como um todo parece se interessar em coisas espirituais, ao mesmo tempo a comunidade evangélica parece confusa a respeito da verdadeira espiritualidade.
- Terceiro, as testemunhas do primeiro século encararam um sociedade hostil com a potencialidade de perseguição.
Os que crêem na Bíblia estão passando a ser vistos como a comunidade radical, ala da direita, politicamente incorreto. Sustentar a Bíblia e publicamente declarar a verdade das Escrituras irá, em algum ponto, nos levar aos tribunais por criarmos angústia emocional.
Outro dia estava conversando com um pastor de uma igreja influente em nosso país. A igreja dele tem um programa de rádio que transmite suas mensagens. Ele me disse: “Nosso ministério da rádio tem três advogados que lidam com os processos movidos por pessoas que ouvem as pregações e se ofendem com o conteúdo bíblico, dizendo que não temos o direito de dizer o que estamos dizendo.”
Chegará o dia em que teremos que dizer: “Importa a nós obedecer a Deus e não aos homens e iremos continuar pregando e ensinando a Bíblia.”
Como podemos alcançar o primeiro e o vigésimo primeiro séculos? Jesus Cristo disse: “Vocês não podem!! Então, irei enviar o Espírito que os capacitará, para que Ele, através de vocês, possa ganhar o mundo.”
O Plano!
Mas, qual é o plano? A última parte do verso 8 nos diz o plano. Veja o verso novamente.
...e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém...
(essa é a nossa própria cidade ou comunidade),
...como em toda a Judeia...
(isso é alcançar os interiores de nosso próprio país),
...e Samaria...
(essa é uma cultura diferente, mas no mesmo continente que o nosso),
...e até aos confins da terra.
(isso é todas as culturas).
Você pode estar pensando: “Mas, espere um pouco, isso não é exatamente um plano; isso é geografia, não estratégia!”
Todavia, esse é o gênio de nosso Deus que sabia que as estratégias viriam e passariam; métodos eficientes mudam e se transformam. Ele simplesmente disse: “Vai.” E, através do poder e iluminação do Espírito Santo, você desenvolverá suas próprias estratégias – para sua própria cidade e grandes centros do Brasil, para a Amazônia, para os centros industriais da China, vilas da África e florestas de concreto de Los Angeles e Nova Iorque. Jesus simplesmente disse: “Vai.”
Pista chave para o plano – Mateus 28
Agora, as palavras de Jesus em Mateus 28 nos dão uma pista gigante ao nos fornecer o resultado. Em outras palavras, se você quiser saber se está ou não realizando o plano, dê uma olhada no produto final. Em Mateus 28, verso 19a, Jesus disse: Ide... e fazei discípulos.
Qual o resultado? Discípulos; outras testemunhas.
Você pode perguntar: “Mas, Senhor, isso não vai levar muito tempo? Não seria mais rápido dizer para nós irmos e ganhar almas?”
Nós devemos fazer discípulos.
E a igreja, em grande parte, se esqueceu desse plano.
Devemos começar em Jerusalém – nossa casa. Nossa casa é o local mais difícil de alcançar. As pessoas conhecem você, cresceram com você, trabalham com você. Mas, não pare aí!
Neste momento, minha igreja tem novecentas famílias, o que significa um pouco mais de duas mil pessoas. Em um ano, se cada família alcançar uma pessoa, poderemos alcançar novecentas pessoas. Em seis anos, poderemos alcançar trinta mil pessoas. Em onze anos, teríamos alcançado um milhão de pessoas. Em uma geração, alcançaríamos a população do planeta terra.
Então, qual é a resposta dos discípulos? Volte para Atos 1, versos 9 a 11.
Ditas estas palavras, foi Jesus elevado às alturas, à vista deles, e uma nuvem o encobriu dos seus olhos. E, estando eles com os olhos fitos no céu, enquanto Jesus subia, eis que dois varões vestidos de branco se puseram ao lado deles e lhes disseram: Varões galileus, por que estais olhando para as alturas? Esse Jesus que dentre vós foi assunto ao céu virá do modo como o vistes subir.
Em nossa linguagem de hoje, seria: “O que vocês estão fazendo aí em pé parados? Ele vai voltar. Mas, lembrem-se, Ele mandou vocês irem para Jerusalém e esperar. Então, voltem e esperem.”
Continue lendo os versos 12 e 13a.
Então, voltaram para Jerusalém, do monte chamado Olival, que dista daquela cidade tanto como a jornada de um sábado. Quando ali entraram, subiram para o cenáculo onde se reuniam...
A palavra “cenáculo” é a palavra grega utilizada para se referir ao local de estudo e oração de um rabino. Existe grande possibilidade de um rabino ou até mesmo um membro do Sinédrio, que tinha vindo a Cristo, tenha cedido seu local de estudo aos discípulos.
Veja o que eles faziam. Versos 13 e 14 dizem:
Quando ali entraram, subiram para o cenáculo onde se reuniam Pedro, João, Tiago, André, Filipe, Tomé, Bartolomeu, Mateus, Tiago, filho de Alfeu, Simão, o Zelote, e Judas, filho de Tiago. Todos estes perseveravam...
(fazendo estatutos da igreja, discutindo quem podia fazer um discípulo em trinta dias, escrevendo em seus diários: “Conheci Jesus pessoalmente. Eu estava lá quando Ele subiu!”... Não, eles estavam todos juntos perseverando na...)
...unânimes em oração, com as mulheres, com Maria, mãe de Jesus, e com os irmãos dele.
Simples! Não havia nenhuma bagagem, nenhuma das coisas que geralmente carregamos conosco. Eles apenas oravam.
Daquela reunião de oração sairiam homens e mulheres prontos para o Pentecostes – quando o Espírito de Deus se moveria e impactaria a cidade inteira para Cristo. Esses homens transtornariam o mundo de cabeça para baixo.
Onde é a sua Jerusalém? Onde Deus colocou você, uma testemunha para prestar depoimento, para testificar em defesa do Senhor por meio de sua vida e seus lábios?
A igreja precisa voltar à verdade básica. De acordo com essa passagem, você não é um técnico em computação, um vendedor, um executivo, um pintor, uma secretária, uma professora – isso é o que você faz. Ao invés disso, você é uma testemunha, uma pessoa chamada para tomar a posição de testemunha em seu tribunal de influência e testemunhar pelo nome e causa de Jesus Cristo.
Este manuscrito pertence a Stephen Davey, pregado no dia 29/09/1996
© Copyright 1996 Stephen Davey
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