
O Deus das Causas Perdidas
O Deus das Causas Perdidas
Atos 9.32–43
Introdução
Voltamos, hoje, ao “livro das ações” ou Atos. Estamos na última parte do capítulo 9. Contudo, antes de começarmos o estudo em Atos, quero que você abra sua Bíblia em Mateus 10.
O nome de Pedro reaparece no capítulo 9 do livro de Atos após ter passado três capítulos sem ser mencionado. Ele poderia até ser considerado um “causa perdida.” É interessante que Deus, em Sua graça, usará Pedro novamente no ministério para lidar com duas causas perdidas, a despeito de seu passado de falhas e insensatez.
Gostaria de compartilhar com vocês uma história que alguém me enviou.
Num belo dia, Larry teve uma ideia brilhante – ele decidiu voar. Foi até uma loja de materiais militares e comprou quarenta e cinco balões especiais e vários tanques de gás hélio. Os balões, quando totalmente inflados, mediam cada um cerca de um metro e meio de largura. Em casa, Larry amarrou os balões em sua cadeira no quintal. Também amarrou sua cadeira no para-choques de seu carro e inflou os balões com gás hélio. Ele subiu na cadeira quando ela ainda estava a poucos metros do chão. Satisfeito e contente que sua ideia funcionara, Larry organizou um lanche, pegou umas cervejas, carregou sua espingarda de chumbo no pensamento de que, quando decidisse descer, estouraria alguns balões e sentou em sua cadeira. Ele se amarrou na cadeira juntamente com suas provisões e espingarda.
O plano de Larry era de preguiçosamente flutuar sobre seu quintal, depois de ter ancorado sua cadeira e, depois de algumas horas, descer. Mas, as coisas não saíram muito como planejado. Quando ele acordou a corda que segurava a cadeira ao seu carro, ele não flutuou preguiçosamente a poucos metros de altura, mas, ao contrário, ele atingiu os céus de Los Angeles como se tivesse saído de um canhão. Ele atingiu 11 mil pés de altitude. A essa altura, ele não podia arriscar estourar nenhum balão, pois perderia o equilíbrio em sua cadeira. Ele ficou vagando pelo céu em torno de catorze horas.
Daí, Larry realmente avistou problemas. Ele começou a entrar na zona sobre o Aeroporto Internacional de Los Angeles. Um piloto avistou Larry e entrou em contato com a torre de controle, descrevendo ter visto um homem voando numa cadeira com uma espingarda à mão. E o radar confirmou a existência de um objeto flutuando à altitude de 11 mil pés sobre o aeroporto.
O serviço de emergência do aeroporto logo ficou em alerta e enviou um helicóptero para investigar. A noite estava chegando e a brisa começou a soprar e a carregar Larry para o mar com o helicóptero atrás dele perseguindo-o. a muitos quilômetros já distante da costa, o helicóptero avistou Larry. Quando a equipe percebeu que Larry não representava nenhum perigo, eles começaram tentativas de resgate. Contudo, quando helicóptero se aproximava de Larry, o vento causado pelas hélices empurrava Larry para longe, dificultando o resgate. Finalmente, o helicóptero sobrevoou Larry e lançaram uma corda para iça-lo. Larry agarrou a corda e foi levado e resgatado.
Assim que chegou ao solo, ele foi preso por violação de espaço aéreo. Quando estava sendo levado algemado, um repórter perguntou por que ele tinha feito aquilo. Larry parou, se virou e respondeu: “Ah, ninguém pode ficar parado com os braços cruzados sem fazer nada.”
Existem coisas que jamais esqueceremos e Larry jamais esquecerá desse momento! De uma forma parecida, Pedro é um homem que não espera jamais esquecer sua insensatez e fracassos. Todavia, como veremos, ele será usado no ministério pelo Deus das causas perdidas.
Entendendo seu contexto histórico
Agora, antes de apreciarmos Atos 9 e entendê-lo corretamente e, amis importante, aplicá-lo – e existe muita aplicação errada hoje, como já discutimos antes – precisamos lidar especificamente com o assunto da cura hoje. Gostaria de fornecer a você cinco princípios ou observações que continuam a confirmar a natureza de transição do livro de Atos.
Se você não vê Atos como uma espécie de ponte entre a Antiga Aliança e a Nova Aliança, ou se você vê Atos como algo que a igreja deveria estar aplicando hoje em seus mínimos detalhes, então, você está em grande confusão. Da mesma sorte, se você não enxerga a natureza dos dons apostólicos como algo temporário, você ficará frustrado ao seguir homens que dizer possuir esses dons hoje. Deixe-me dar os princípios e dar uma olhada nas passagens bíblicas.
- Primeiro, curar pessoas e levantar pessoas dos mortos eram dons específicos dos apóstolos.
Tanto a cura como a ressurreição de pessoas irão acontecer em Atos 9. Os que dizem possuir o dom apostólico da cura também precisam reivindicar o dom de ressuscitar pessoas dos mortos. Jesus Cristo fez essas coisas; Pedro fez; Paulo fez. Esses eram dons especificamente delegados aos apóstolos.
Veja Mateus 10, versos 5 a 7.
A estes doze enviou Jesus, dando-lhes as seguintes instruções: Não tomeis rumo aos gentios, nem entreis em cidade de samaritanos; mas, de preferência, procurai as ovelhas perdidas da casa de Israel; e, à medida que seguirdes, pregai que está próximo o reino dos céus.
Imagine como essa mensagem era radical. É algo novo. É uma mudança do judaísmo, da Antiga Aliança para mensagens sobre a nova salvação e o novo reino. Eles deveriam provar que existia um reino próximo. Ele os dá essa habilidade. Veja o verso 8.
Curai enfermos, ressuscitai mortos, purificai leprosos, expeli demônios; de graça recebestes, de graça dai.
Note o verso 9 e o aplique para hoje: Não vos provereis de ouro, nem de prata, nem de cobre nos vossos cintos.
Li outro dia sobre uma cruzada evangelística acontecendo perto de minha cidade. O líder da cruzada disse ao auditório que as primeiras dez pessoas que chegassem à frente com um cheque de mil dólares receberiam uma bênção especial de Deus. Mentira!
Obviamente, nesses versos, o Senhor não os teria ordenado realizar esses milagres sem ter dado a eles o poder necessário para realizá-los. Por que era tão importante que o ministério apostólico fosse acompanhado de sinais milagrosos? Deixe-me responder essa pergunta com um segundo princípio e uma outra passagem.
- Segundo, antes de a Bíblia ser escrita, tais sinais milagrosos foram usados pelos apóstolos como prova de que eles realmente haviam sido comissionados por Deus para revelar Seu novo plano de salvação ao mundo.
Veja Hebreus 2, verso 3:
como escaparemos nós, se negligenciarmos tão grande salvação? A qual, tendo sido anunciada inicialmente pelo Senhor, foi-nos depois confirmada pelos que a ouviram;
Note que “foi-nos confirmada” está no passado. E, quem são “os que a ouviram”? Os apóstolos – aqueles que pessoalmente ouviram os ensinos de Jesus. Continue até o verso 4.
dando Deus testemunho juntamente com eles, por sinais, prodígios e vários milagres e por distribuições do Espírito Santo, segundo a sua vontade.
Acabamos de ler uma lista de milagres: cura de doentes, expulsão de demônios, ressurreição dos mortos, cura de leprosos. Todas as circunstâncias eram situações que ninguém poderia intervir – exceto Deus. Então, essa confirmação passada desse novo evangelho foi por meio de certos milagres, sinais e maravilhas passados (por inferência) realizados por aqueles que ouviram, ou seja, os apóstolos.
- Terceiro, depois que a igreja recebeu a Bíblia, o último teste de autenticidade passou a ser a doutrina bíblica.
Depois que a igreja recebeu as Escrituras, o teste de autenticidade deixou de ser eventos miraculosos. Veja Gálatas 1, versos 6 a 9. Essa é uma passagem interessante porque Paulo explicitamente relaciona determinados dons com o ofício apostólico. E nós não temos apóstolos hoje. Como já estudamos no passado, um verdadeiro apóstolo teria que ter visto o Senhor Jesus ressurreto e recebido os ensinos diretamente Dele. É claro que Paulo não tinha nenhuma dificuldade com isso porque as pessoas diziam: “Espere aí! Você veio depois de Jesus. Você veio à fé depois que Cristo já tinha subido aos céus.”
Daí, Paulo os relembra: “Não, eu O vi na estrada de Damasco. E eu também fui pessoalmente instruído por Ele na ‘Universidade’ da Arábia.” (Vimos sobre sua ida à Arábia em nosso estudo anterior).
Note, agora, Gálatas 1, versos 6 a 9. Novamente, Paulo se defende:
Admira-me que estejais passando tão depressa daquele que vos chamou na graça de Cristo para outro evangelho, o qual não é outro, senão que há alguns que vos perturbam e querem perverter o evangelho de Cristo. Mas, ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema. Assim, como já dissemos, e agora repito, se alguém vos prega evangelho que vá além daquele que recebestes, seja anátema.
Acho isso interessante porque, na cultura em que vivemos hoje, tudo o que a pessoa tem que fazer é relacionar alguma mensagem que ouviu a alguma crença e o fato de que a receberam de alguma fonte sobrenatural ou mística. Quer seja uma visão, uma viagem de ida e volta ao céu, ou mensagem canalizada, seja o que for, se, de alguma forma uma relação pode ser estabelecida - a mensagem ensinada e o fato de que veio de uma fonte sobrenatural – então, deve receber crédito e ser considerado autêntica – tem que ser, veio de algum lugar.
Bom, Paulo usa essa mesma ilustração e diz: “Ouçam, se um anjo viesse do céu e vocês o vissem e ouvissem e ele pregasse um corpo de verdades diferente daquilo que os apóstolos ensinaram a vocês, que ele seja amaldiçoado!”
Essas são palavras fortes. O teste final não são milagres, mas o corpo de verdade que seguramos em nossas mãos – a Palavra de Deus completa.
Charles Swindoll comenta o seguinte no livro de Atos:
Hoje, Deus não opera milagres através de nós como fez com Moisés, os profetas, Jesus Cristo e os apóstolos. Ao contrário, nós temos algo que, antes, estava indisponível e que nos ajuda a discernir se a presença de Deus valida um ministério – temos a palavra de Deus finalizada.
John Walvoord, o antigo chanceler do Seminário Teológico de Dallas, no Texas, Estados Unidos, adiciona:
Com o término do Novo Testamento, a necessidade de uma demonstração a mais de obras milagrosas cessou. O pregador de hoje não necessita de uma evidência externa de habilidade de curas para substanciar a validade do evangelho. Ao contrário, a Palavra escrita fala por si mesma e é aplicada pela convicção do poder do Espírito.
- Quarto, apesar de a cura de doentes e a ressurreição dos mortos serem dons sobrenaturais dados por Deus, não foi da vontade de Deus que os apóstolos curassem ou ressuscitassem todas as pessoas.
Isso é algo interessante de se considerar porque, mesmo no início dessa era de milagres, em Atos 7, Estêvão, o amado e corajoso líder da igreja de Jerusalém, foi apedrejado à morte. Se havia alguém que a igreja precisava de volta, esse alguém era Estêvão. Se havia alguém digno por causa de sua fé, essa pessoa era Estêvão! Contudo, eles não o ressuscitaram dos mortos.
Na verdade, das quatro ilustrações além do livro e Atos que se referem a crentes doentes, em apenas uma o crente é restaurado:
- Epafrodito – foi curado, contudo, não sabemos como (Filipenses 2.25-27);
- Timóteo – recebeu a indicação do uso medicinal dada por Paulo (1 Timóteo 5.23);
- Trófimo – não foi curado, mas deixado para trás doente quando Paulo prosseguiu sua viagem (2 Timóteo 4.20);
- Paulo – não foi curado, apesar de ter orado fervorosamente para que Deus o curasse (2 Coríntios 12.7-10).
- Quinto, o ministério de milagre de Cristo e Seus apóstolos nunca teve um fim em si mesmo, mas serviu como um sinal de validação da aprovação de Deus.
Você pode se lembrar que curar milagrosas nunca eram permanentes. Doenças e a morte retornavam e todas as pessoas que foram curado, eventualmente morreram. Então, por que curar? A cura estaria apenas prolongando o inevitável.
Veja Atos 2, verso 22, que nos diz explicitamente que Jesus Cristo curou.
Varões israelitas, atendei a estas palavras: Jesus, o Nazareno, varão aprovado por Deus diante de vós com milagres, prodígios e sinais, os quais o próprio Deus realizou por intermédio dele entre vós, como vós mesmos sabeis;
Deus não somente provou que Jesus Cristo era o Messias por meio dos Seus milagres, mas também provou que os apóstolos tinham sido enviados por Ele.
Note 2 Coríntios 12, versos 11b e 12. Paulo se defende como o apóstolo genuíno e relaciona esses milagres e sinais com o ofício apostólico
...Eu devia ter sido louvado por vós; porquanto em nada fui inferior a esses tais apóstolos, ainda que nada sou. Pois as credenciais do apostolado foram apresentadas no meio de vós, com toda a persistência, por sinais, prodígios e poderes miraculosos.
Se a cura tinha um fim em si mesmo ou se Jesus Cristo e os apóstolos curaram simplesmente porque as pessoas estavam doentes, como vemos pessoas dizendo hoje, então eles forma cruéis. Por que? Porque eles não curaram todos os doentes.
Jesus e os apóstolos estavam cercados de pobres e doentes. Por que eles não montaram uma tenda e convocaram todos para vir? Por que não andaram pelas enfermarias curando os doentes todos? Por que não purificaram colônias de leprosos por completo? Por que não esvaziaram os cemitérios? Porque doença e morte são resultados da queda da humanidade; é o lembrete irrefutável de que nossa redenção está além desta terra que geme esperando salvação. Retirar doenças e morte da humanidade seria reverter as consequências do pecado. Seria dizer que redenção espiritual é desnecessária.
Então, Jesus curou apenas um homem no tanque de Siloé. Seus milagres de curas eram sinais para o povo de que Deus estava instituindo uma nova era chamada de a dispensação da graça.
Veja, não estou dizendo que Deus não cura milagrosamente hoje. Ele ainda cura. A comunidade médica chama isso de “remissão espontânea” porque não sabem o que acontece. Na verdade, é um milagre e pode ser reposta de orações de irmãos. Estou dizendo que não devemos orar por curas hoje? Não! Devemos orar hoje, assim como Paulo orou três vezes para que Deus removesse seu espinho na carne. E, mesmo assim, Deus escolheu não remover o espinho para que, como o próprio Paulo escreveu, parafraseado: “A graça e a força de Deus ficassem evidentes na minha fraqueza.”
Os apóstolos eram operadores de curas divinos
O que estou tentando ajudá-lo a discernir é a diferença entre cura divina e operadores de curas divinos. Os apóstolos eram operadores de curas divinos. Existem pelo menos quatro diferenças.
- Um operador de cura divino não exigia oração e fé por parte do doente.
Essa é uma diferença gigantesca do que tem ocorrido hoje com os tais “curandeiros da fé.” Os apóstolos não perguntavam: “Você tem fé suficiente?” Na verdade, grande parte das curas em Atos envolvem pessoas quem nem era m salvas ainda. Não foi a fé deles que os curou, doutra sorte não teria sido um sinal do poder apostólico – mas um sinal da fé dos doentes.
- Um operador de curas divino pode ou não ter orado antes da cura.
Eles podem mesmo nem sequer ter clamado o nome de Jesus Cristo em oração antes da cura, mas simplesmente dito: “Levanta-te e anda.” Eles tinham a habilidade inerrante de curar – era uma cura divina. O que ocorre em nossos dias não é divino. Deus pode escolher curar, mas cura por meio de um indivíduo dizendo ter o dom como um apóstolo não é cura divina.
- Um operador divino de curas tinha cem por cento de êxito.
Não havia nenhum incidente: “Eita, não deu certo,” ou, “Bom, acho que você não tinha fé o suficiente,” ou, “Acho que seria bom se você buscasse um outro operador de curas ou mesmo um médico.” Esses apóstolos eram como os profetas de antigamente que diziam ser profetas de Deus e pronunciavam eventos futuros. Os israelitas testavam um homem que dizia ser um profetas pedindo que profetizasse algo do futuro próximo. Quando ele profetizava e a profecia se cumpria, eles confiavam nele para algo mais distante. Se a profecia imediata não se cumprisse, eles o levavam fora da cidade e o apedrejavam até a morte por ser um falso profeta.
- Um operador de curas divino curava enfermidades físicas externas e evidentes; como lepra, cegueira, deficiências físicas e o que seria mais visível que levantar alguém dos mortos?
Por que as curas tinham que ser observáveis? Porque era um sinal para o povo de que aqueles que curavam eram mensageiros de Deus.
O ponto crítico aqui para aqueles que crêem que operadores de milagres devem existir hoje simplesmente porque os apóstolos curaram no livro de Atos, é que os apóstolos não somente curavam, mas ressuscitavam pessoas dos mortos. Alguém que diz: “Olha, Pedro curou um paralítico, então nós podemos fazer o mesmo também,” ignora a última parte de Atos 9 onde lemos que Pedro ressuscitou uma mulher dos mortos.
Faço um desafio hoje. Que todos os que dizem ter poder de curar se encontrem comigo hoje na funerária. Vamos parar de dizer que temos o dom apostólico da cura porque curamos uma pressão alta ou uma tendinite; vamos parar de expulsar demônios de cigarros e de chocolates. Vamos realmente fazer o que os apóstolos faziam e esvaziar um ou dois caixões hoje.
Por que é tão importante entendermos o caráter temporário dos dons que os apóstolos tinham? Porque está ligado à natureza e ao propósito da igreja hoje. Nossa missão é milagrosa, mas gira em torno do milagre de transformar vidas; o milagre da redenção, da cura da alma. E se a única coisa com a qual estamos preocupados é a com a cura de nosso corpo e a eliminação da dor e do desconforto, então o evangelho não passa de uma cirurgia ou um super Tylenol. Poderíamos até esquecer da natureza espiritual de nossa missão, que é seguir nossa comissão de ir e fazer discípulos de todo o mundo.
Duas Causas Perdidas
Os apóstolos tinham os sinais milagrosos para provar sua mensagem. Nós temos o Espírito Santo para validar a Palavra de Deus. Os resultados deveriam ser os mesmos, ou seja, pessoas vindo à fé em Cristo como Seu Messias Salvador.
Esse é exatamente o resultado de Atos 9. E isso revela duas causas perdidas. Intervenção humana não trazia esperança. Apenas um milagre de Deus poderia mudar o curso das vidas desses dois indivíduos.
- A primeira causa perdida em nosso parágrafo das Escrituras é provavelmente a pior de todas as deficiências. Não nos é dito como aconteceu, apenas quanto tempo ele tinha passado daquele jeito. Um homem que esteve paralisado por oito anos.
Veja Atos 9, versos 32 e 33:
Passando Pedro por toda parte, desceu também aos santos que habitavam em Lida. Encontrou ali certo homem, chamado Enéias, que havia oito anos jazia de cama, pois era paralítico.
Esse homem estava paralisado havia oito anos. Evidentemente, houve algum acidente, pois ele não era deficiente desde seu nascimento. Não sabemos bem o que aconteceu, mas ele esteve paralisado durante um tempo suficiente para que as pessoas de sua vila saberem que sua situação não tinha mais esperança nos médicos – ele era uma causa perdida.
Oito anos é muito tempo para se passar doente numa cama – dias após dia, semana após semana, mês após mês, ano após ano – sem nenhum sinal de cura. Sem dúvidas, esse homem havia buscado ajuda de todos os médicos ao seu alcance. Aparentemente, todos eles haviam chegado à mesma conclusão – não há esperança. Adicione a isso o sentimento de inutilidade, de ser um fardo a outras pessoas; a pergunta era: “Por que eu?”
Minha esposa e eu tivemos o privilégio de conversar com Joni Erickson Tada. Joni é uma mulher paralisada do pescoço para baixo. Ela escreve sobre suas lutas e triunfos em seu livro. Ela é uma crente que entendeu que o propósito de Deus para a vida dela é que ela permaneça paralisada. Ela escreveu em um de seus livros sobre a sua esperança e oração por cura:
Numa tarde chuvosa no início do verão de 1972, umas quinze pessoas haviam se reunido numa pequena igreja não longe de minha casa. O grupo era formado por amigos, familiares e líderes da igreja que eu tinha chamado para orarem por minha restauração. Quando o pequeno culto terminou, a chuva passou. Saindo pelas portas d afrente da igreja, recebemos os cumprimentos de um belo arco-íris no horizonte nebuloso. Aquilo me deu mais uma convicção de que Deus tinha ouvido nossas orações. Deus tinha realmente ouvido... mas Ele não curou.
Se você já a conheceu ou ouviu falando em alguma ocasião, com certeza, você ficou surpreendido com a paz de Cristo que emana de sue rosto durante seu testemunho. Entretanto, para esse homem chamado Enéias, a história seria completamente diferente. Veja o verso 34: Disse-lhe Pedro: Enéias, Jesus Cristo te cura!
(Pedro não perguntou qual era o tamanho da sua fé. Ele não disse: “Senhor, será que o Senhor poderia, conforme a Sua vontade, curar esse homem?” Ele simplesmente disse: “Jesus Cristo te cura...” E depois disse...)
...Levanta-te e arruma o teu leito. Ele, imediatamente, se levantou.
Dá para você imaginar “imediatamente, se levantou”?! Fazia oito anos que ele não andava, mas, agora, sua circulação é imediatamente restaurada, sua coordenação motora retorna imediatamente, músculos atrofiados imediatamente restaurados, memória muscular imediatamente apagada e reorganizada imediatamente. Esse é um milagre incrível! Continue até o verso 35:
Viram-no todos os habitantes de Lida e Sarona (E se maravilharam com o dom de Pedro! Se o dom de cura fosse um fim em si mesmo, Pedro teria apenas revelado seu poder de curar. Mas, cura era um meio para um outro fim, a saber, a salvação de muitos. Então o texto continua...) os quais se converteram ao Senhor.
- A segunda causa perdida é revelada nos versos 36 a 39 de Atos 9.
Havia em Jope uma discípula por nome Tabita, nome este que, traduzido, quer dizer Dorcas; era ela notável pelas boas obras e esmolas que fazia. Ora, aconteceu, naqueles dias, que ela adoeceu e veio a morrer; e, depois de a lavarem, puseram-na no cenáculo. Como Lida era perto de Jope, ouvindo os discípulos que Pedro estava ali, enviaram-lhe dois homens que lhe pedissem: Não demores em vir ter conosco. Pedro atendeu e foi com eles. Tendo chegado, conduziram-no para o cenáculo; e todas as viúvas o cercaram, chorando e mostrando-lhe túnicas e vestidos que Dorcas fizera enquanto estava com elas.
Imagine essa cena! A igreja cheia de viúvas chorando e mostrando a Pedro as roupas: “Ela costurou essa roupa para mim.” Por meio de suas lágrimas, elas contam a ele sobre o ministério e amor de Dorcas por elas. A igreja em Jope teve uma perda muito grande. Por que? Um presbítero morreu? Não. Um diácono... um professor com um dom brilhante de ensino? Não. Uma senhora que tinha uma agulha e fazia roupas para as viúvas.
Lições aprendidas no funeral
Deixe-me fornecer algumas lições aprendidas nesse funeral.
- Primeiro, se você deseja que sua influência dure, coloque Jesus Cristo em primeiro lugar, outras pessoas em segundo e você mesmo em último.
Dorcas poderia ter costurado roupas e vendido e ganhado um dinheiro para seu uso próprio. Creio que podemos inferir pelo texto que ela era um viúva também. Não há nenhuma menção de sua família ou marido. Evidentemente, ela era rica o suficiente para comprar tecidos e sua vida era uma constante fonte de ofertas.
- Segundo, as pessoas não lembrarão de você no futuro por algo que você não é no presente.
Se você:
- Quer ser lembrado por ser gracioso, então seja gracioso agora;
- Quer que as pessoas lembrem de seu amor e perdão, então ame e perdoe agora;
- Quer que a equipe pastoral lembre de você como alguém comprometido e envolvido, então comprometa-se e se envolva agora;
- Quer que sua família lembre de você como alguém fiel e agradável, então seja isso hoje.
Como você será lembrado?
- Terceiro, viva de tal maneira que, quando a morte chegar, os lamentadores sejam mais do que os festejadores.
Veja os versos 40 a 42 de Atos 9.
Mas Pedro, tendo feito sair a todos, pondo-se de joelhos, orou; e, voltando-se para o corpo, disse: Tabita, levanta-te! Ela abriu os olhos e, vendo a Pedro, sentou-se. Ele, dando-lhe a mão, levantou-a; e, chamando os santos, especialmente as viúvas, apresentou-a viva. Isto se tornou conhecido por toda Jope, e muitos creram no Senhor.
Note no verso 42 que os habitantes de Jope não construíram um santuário a Pedro ou que Pedro começou um ministério de cruzadas, mas, “muitos creram no Senhor.”
Aplicação
Vamos fazer algumas aplicações agora.
- Você pode confiar em Deus, o grande Médico, para cuidar de sua saúde. Ele, o grande Médico, tem milhares de anos de experiência.
Ele pode escolher doença ou saúde para você. Eu tenho um amigo que, durante a faculdade, escorregou num despenhadeiro. Estava de noite e ele estava com seus amigos fazendo trilha, mas não sabia que estava em perigo. Ele andou diretamente para a beirada e quebrou sua coluna. Ele ficou paralisado da cintura para baixo. Hoje, ele é pastor de uma igreja numa grande cidade do país. Ele confiou sua saúde ao Senhor – o que quer que isso lhe trouxesse.
- Você pode confiar em Deus, o grande Confortador, com suas tribulações. Ele, o grande Confortador, geralmente revela Seus maiores tesouros somente depois da escuridão.
Você já descobriu essa verdade?
- Você pode confiar em Deus, o grande Pastor, com sua vida. Ele, o grande Pastor, nunca tropeça ao conduzir você pelas montanhas e vales profundos.
Não é maravilhoso o fato de Deus se deleitar em trabalhar em pessoas e através de pessoas que nós consideramos causas perdidas? Será que Ele ainda trabalha milagrosamente hoje? Com certeza, amigos. O Deus das causas perdidas ainda trabalha em onipotência hoje. Ele trabalha em corações, operando milagres invisíveis, como:
- Regeneração, quando pessoas encontram a vida Nele;
- Restaurando saúde emocional a pessoas paralisadas pelo medo e falta de esperança;
- Consertando os corações despedaçados daqueles que experimentaram a morte de sonhos e planos.
Com Deus não existe causa perdida. Quer seja uma pessoa deitada num leito doente ou num caixão morta, o que consideraríamos casos perdidos, são, na verdade, lições criadas para que aprendamos com a natureza de Deus, Sua graça, Sua vontade, Sua perspectiva e Seu poder. Então, a questão não é: “Senhor, como você pode me tirar dessa?” mas, “Senhor, como você deseja me ensinar em meio a isso?”
Ele é o Deus das causas perdidas – como Simão Pedro; como Marcos; como Raabe; como o rei Davi; como eu e você à medida que entregamos nossas vidas a Ele e deixamos que Ele tome as decisões e nos submetemos a Ele. Dessa maneira, finalmente, minha vida pode ser uma reflexão de Sua vida e poder para que as pessoas em minha cidade, empresa e família O conheçam como o grande Redentor e Salvador da humanidade.
Este manuscrito pertence a Stephen Davey, pregado no dia 04/05/1997
© Copyright 1997 Stephen Davey
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