
Confusão Santa
Confusão Santa
Atos 8.14–17
Introdução
Nunca irei me esquecer da primeira vez em que ouvi de um púlpito o que eu sabia ser não somente errado mas também perigoso. Eu estava sentado num auditório enorme, ouvindo um pastor convidado que pastoreava uma das maiores igrejas evangélicas do país. Eu era apenas um universitário na época e já tinha ficado desiludido com a falta de conteúdo bíblico em grande parte daquela pregação.
Esse pastor visitante estava pregando no livro de Jeremias. Sem nem sequer abrir a Bíblia ou nos instruir a fazê-lo, ele pregou na passagem onde Jeremias diz: O profeta que tem sonho conte-o como apenas sonho (Jeremias 23). A partir dessa frase, esse homem fascinou o auditório ao encorajar que as pessoas pedissem a Deus sonhos especiais para desafiá-los e guiá-los. Depois ele contou alguns de seus sonhos e como se tornaram realidade.
Eu decidi abrir minha Bíblia em Jeremias. Fiquei admirado ao ver que Jeremias estava, na realidade, condenando os falsos profetas que simplesmente contavam seus sonhos. Eu li o parágrafo inteiro e Deus diz: “Tenho ouvido o que dizem aqueles profetas, proclamando mentiras em meu nome, dizendo: Sonhei, sonhei. O profeta que tem sonho conte-o como apenas sonho; mas aquele em quem está a minha palavra fale a minha palavra com verdade.”
Creio que os crentes de hoje vivem numa era bem parecida com a de Jeremias. Estamos cercados por pessoas que compartilham seus sonhos, visões e sinais. Esses indivíduos não são desmentidas porque lideram as igrejas de forma convincente com as suas conversas de encontros sobrenaturais. Eles não se comprometem com a palavra da verdade se ela discorda de suas experiências.
Poderíamos facilmente definir nossa geração como a era da “confusão santa.”
Já ouvi de tudo, desde moedas milagrosas até galinha de estimação voltando à vida. Ouvi pregadores falarem sobre viagens fora do corpo ao céu e visitações angelicais durante a noite.
Artigos de revistas evangélicas e programas de tv relatam multiplicação de notas de dinheiro, máquinas de lavar louça sendo curadas e outras aberrações. Experiências fantásticas parecem ser o foco do dia-a-dia. Alguns vão longe demais, afirmando que o evangelismo é ineficaz sem a presença de tais sinais.
Até mesmo a Bíblia é vista agora como uma varinha mágica. Li um artigo numa revista carismática que dizia:
Milhares dão relatos de cura, salvação e libertação! Em nossa série de Terapia da Palavra, a Palavra de Deus é lida em voz alta para que não somente seja ouvida por nosso ouvido consciente mas também penetre nosso subconsciente no momento que dezenas de milhares de mensagens subliminares das Escrituras são ouvidas em apenas uma hora. A leitura da Palavra é acompanhada por belas músicas ungidas que criam a atmosfera da fé. Todos os dias vemos relatórios incríveis de curas, vidas transformadas, salvação e milagres.
Vivemos numa época em que as pessoas desejam ardentemente evidências, milagres e provas. Esquecemos de que Jesus Cristo disse em Mateus 12, verso 39: Uma geração má e adúltera pede um sinal. Em outras palavras, a evidência de uma fé fraca e superficial é vista na demanda ou sede por expressões milagrosas. Pessoas que ficam cativadas pelo último “milagre” evidenciam uma fé superficial.
Ao mesmo tempo, muitos de meus colegas e amigos se recusam a expressar preocupação e discordar abertamente de igrejas e pregadores do movimento da “Terceira Onda.” Esse é o movimento carismático e neopentecostal de supostos sinais e maravilhas. “Terceira Onda” significa que o Espírito Santo está varrendo o país com sinais, poder, milagres, línguas, visões, etc. E, juntamente com essa proliferação de coisas miraculosas, existe a ideia de que questionar a prática é errado.
A verdade é que não há nada de errado em analisar ensinos à luz das Escrituras. Os bereianos foram louvados por terem feito isso ao receberem os ensinos até mesmo do próprio Paulo. Infelizmente, ao invés de pensar mais criticamente, a igreja evangélica tolera cada vez mais, abre mais e mais concessões à experiência em suas declarações doutrinárias.
A melhor coisa que teria acontecido na igreja em que o pregador visitante que recomendou que as pessoas tivessem sonhos, seria se o pastor da igreja tivesse se levantado depois da mensagem e dito: “Tudo o que vocês acabaram de ouvir é antibíblico e os desviará da verdade. Desconsiderem tudo o que ele disse.”
Essa teria sido uma repreensão vergonhosa! Mas não teria sido nem um pouco mais vergonhoso do que o episódio em que Paulo repreendeu Pedro por criar confusão na igreja com suas atitudes incoerentes diante dos gentios, como vemos em Gálatas 2.
Simplesmente, é hora de os crentes começaram a fazer perguntas! É hora de parar de acreditar em toda voz que se ouve na tv ou palavras que se lê escritas num papel, só porque são pregadores, evangelistas e operadores de milagres. O desafio para o crente de hoje não é evitar verdade que é controversa, mas seguir as palavras de Paulo registradas em 2 Timóteo 2, verso 15:
Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade.
O maior problema surge neste ponto: manejar bem ou interpretar a verdade, especialmente a palavra da verdade encontrada no livro de Atos.
Confusão Santa sobre
O Batismo do Espírito Santo
Uma das porções mais controversas do livro de Atos se relaciona ao batismo do Espírito Santo. Existem diferentes interpretações bíblicas a respeito do batismo e ministério do Espírito Santo. Essas interpretações criam diferentes expectativas no cristão em geral.
De imediato, quero deixar bastante claro que eu não estou questionando a salvação dos pentecostais. Não duvido da sinceridade dos pentecostais. Parte do problema é que, embora o mundo pentecostal esteja cheio de crentes comprometidos e sinceros, sinceridade não é o teste determinante.
Como uma ilustração, penso num episódio na vida de meu irmão. Ele viaja constantemente para treinar pastores na Romênia. Após o treinamento, esses pastores retornam para suas igrejas ansiosos para ensinar o que acabaram de aprender. Meu irmão me disse que, antes de ir para a Romênia, ele tem que tirar sua aliança e seu relógio. A razão é que esses acessórios são vistos como sinais de materialismo pelos crentes romenos. As mulheres das igrejas romenas não usam maquiagens porque creem ser um tipo de vida da igreja de Laodicéia. Eles são sinceros, mas sinceridade não significa precisão ou exatidão.
Minha preocupação repousa sobre a natureza do entendimento pentecostal ou carismático acerca:
- do papel do Espírito Santo;
- da natureza do evangelismo;
- da necessidade de sinais e maravilhas visíveis;
- da aceitação de “revelação adicional;”
- da valorização da experiência acima da doutrina;
- e da busca pela “união com outras crenças” por meio da experiência ao invés de pela verdade.
Apesar de o nosso entendimento sobre a obra do Espírito Santo na vida do crente não ser uma questão de céu ou inferno, nossa crença sobre o ministério do Espírito Santo afetará praticamente todas as áreas de nossa vida cristã.
Quem é o Espírito Santo? O que ele faz? Bom, se você já decidiu que ele faz a, b ou c, talvez nunca descobrirá que ele também faz x, y e z. O que você sabe sobre o Espírito Santo? Sua perspectiva sobre ele afetará como você ora, o que espera que Deus faça, sua perspectiva sobre sofrimento, sua segurança eterna, seus desejos espirituais e a medida do seu crescimento espiritual.
Apesar de grande parte dos assuntos envolvendo o Espírito Santo não ser uma questão de céu ou inferno, o que a Bíblia ensina sobre o Espírito Santo não é insignificante.
Agora, a primeira coisa que precisamos descobrir e entender é o papel do livro de Atos no Novo Testamento. Precisamos entender que Atos serve como uma ponte entre a Antiga Aliança e a Nova Aliança; entre o Judaísmo e o Cristianismo; entre a vida de Cristo e a vida da igreja; entre a introdução da igreja e a instrução que a igreja recebe. O livro de Atos descreve muitas transições que ocorreram na vida dos novos e primeiros convertidos da igreja.
Por exemplo, na Antiga Aliança (Antigo Testamento), o povo de Deus não vestia, praticava, dizia ou comia determinadas coisas. Hoje, eu e você podemos comer presunto sem colocar em risco a nossa segurança de salvação. Por quê? Porque nesse livro de transição, o livro de Atos (capítulo 10), Pedro recebe uma visão de Deus relacionada às comidas impuras do Antigo Testamento. Agora, elas são consideradas puras. Então, não há nada de errado com uma bisteca. Pode até entupir suas artérias, mas não condenará sua alma!
O livro de Atos revela vários eventos, milagres e experiências que fizeram parte do plano de Deus para o seu povo à medida que um novo período era iniciado.
A reação carismática ao fato de o livro de Atos ser uma ponte
Agora, o mundo carismático responde imediatamente a essa afirmação com uma ou duas declarações.
- Uma declaração é: “Não coloque Deus numa forma; não limite Deus!”
Uma pergunta: isso significa não limitar Deus em todas as áreas ou apenas nas áreas que eles pensam que eu o estou restringindo?
Fico muito feliz com o fato de Deus impor sobre si mesmo certas limitações. Ele escolheu limitar a fúria de sua ira contra mim a um lugar de mais ou menos dois metros de altura e um metro e meio de largura, a saber, a cruz de Jesus Cristo e sobre o Salvador lá pendurado.
Sou infinitamente grato porque ele escolheu limitar sua memória, lançando no esquecimento as minhas iniquidades. Sou grato porque Deus escolheu restringir divinamente a revelação de sua brilhante glória neste momento; doutra sorte, todos nós explodiríamos com uma luz incrível e ficaríamos cegos ou seríamos reduzidos a cinzas.
Então, quando você diz: “Olha, não gosto quando você limita Deus,” sejamos honestos o suficiente para admitir que você está falando de não limitar Deus apenas em áreas que interessam a você.
- Outro pensamento é: “Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje e para sempre.”
Esse é, na verdade, um verso das Escrituras, encontrado em Hebreus 13.8. Essa passagem define a imutabilidade de Cristo. Em outras palavras, em essência e por sua existência eterna, Jesus era Deus na eternidade passada, é Deus e será Deus por todo o futuro. Jesus Cristo é a encarnação física e visível de Deus. Como Colossenses 2.9 diz: Porque nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade.
Todos nós, inclusive a comunidade carismática, concordamos com esse ensino. Contudo, a comunidade carismática pega esse verso para provar a continuidade do ministério de Jesus por meio de sinais e maravilhas. Ou seja, o que Jesus fez em Atos por meio da igreja é exatamente o que ele faz hoje, pois é o mesmo ontem, hoje e para sempre.
Todavia, quando afirmamos isso, não estamos mais falando da natureza (divindade e humanidade) de Jesus, mas de sua função.
Mudanças Relacionadas à Função de Cristo
Existem pelo menos cinco mudanças significantes relacionadas à função de Cristo.
- Primeiro, existe uma mudança na posição de Jesus—sua esfera ou lugar.
João 16, verso 28, diz: Vim do Pai e entrei no mundo; todavia, deixo o mundo e vou para o Pai.
Veja o verso 7 de João capítulo 16:
Mas eu vos digo a verdade: convém-vos que eu vá, porque, se eu não for, o Consolador não virá para vós outros; se, porém, eu for, eu vo-lo enviarei.
Veja também Efésios 2, versos 4 a 6:
Mas Deus... nos deu vida juntamente com Cristo... e, juntamente com ele, nos ressuscitou, e nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus;
Além disso, existe uma variedade de aparições e focos da pessoa e ministério de Cristo:
- no Antigo Testamento, ele era o Anjo do Senhor;
- nos Evangelhos, ele é o Messias que ensina e morre;
- em Atos, ele é o Filho que comissiona e ascende aos céus;
- nas Epístolas, ele é o Grande Pastor intercessor; e
- em Apocalipse, ele é o Rei conquistador e que reina.
- Segundo, existe uma mudança no comissionamento de Jesus.
Mateus 10, verso 5, nos diz:
A estes doze enviou Jesus, dando-lhes as seguintes instruções: Não tomeis rumo aos gentios, nem entreis em cidade de samaritanos;
Mas Cristo muda seu comissionamento em Atos 1, verso 8b, quando ordena:
...e sereis minhas testemunhas, tanto em Jerusalém, como em toda Judeia e Samaria...
Será que Jesus mudou? Será que ele finalmente sentiu pena dos samaritanos, de maneira que finalmente disse: “Está certo, acho que agora está na hora de vocês irem para os samaritanos!”? Não! Entendemos que houve simplesmente uma mudança em seus planos para a evangelização do mundo.
- Terceiro, existe uma mudança na revelação e influência de Jesus.
- Nos Evangelhos, sua vida é revelada;
- em Atos, seu poder é revelado;
- nas Epístolas, sua liderança é revelada; e
- em Apocalipse, seu julgamento é revelado.
- Quarto, existe uma mudança na atividade de Jesus.
- Nos Evangelhos, ele é crucificado e ressurreto;
- em Atos, ele ascende aos céus;
- nas Epístolas, ele intercede; e
- em Apocalipse, ele retorna.
- Quinto, existe também mudança na forma de instrução de Jesus.
- Nos Evangelhos, Cristo é um modelo de religião pura e autêntica;
- em Atos, a igreja recebe um exemplo de Cristianismo;
- nas Epístolas, a igreja recebe uma explicação do Cristianismo; e
- em Apocalipse, a igreja recebe o cumprimento do Cristianismo.
Será que Jesus é o mesmo ontem e hoje e para sempre? Em relação à sua divindade e decretos, sim! Isso é o que chamamos de “imutabilidade de Cristo.” Mas em relação ao seu programa para a humanidade e à sua própria função, lugar e ministério, existem vastas mudanças ensinadas na sua revelação progressiva da palavra escrita.
Agora, existem movimentos que querem colocar a igreja nos tempos do Antigo Testamento. Mas estou convicto de que não encontramos a igreja no livro de Levítico. Por esse motivo, pude desfrutar de um delicioso café da manhã que incluía pão com queijo e presunto. Também esse é o motivo por que adoramos a Deus no domingo e não no sábado. E quando foi a última vez que você ofereceu um sacrifício?
Com bastante frequência, pregadores do evangelho da prosperidade utilizam ordens e promessas do Antigo Testamento que foram dadas especificamente aos judeus e as aplicam à vida cristã do Novo Testamento. Contudo, isso não leva a lugar algum, exceto ao desespero.
Abraão recebeu a promessa de prosperidade como resultado de sua obediência. No Novo Testamento, vemos a maturidade como resultado do sofrimento.
Deus disse a Adão: governai sobre os peixes do mar e sobre as aves dos céus, como lemos em Gênesis 1, verso 26. Adão, de fato, tinha controle perfeito sobre o reino que havia acabado de ser criado. Eu tenho um passarinho—um periquito. Com certeza, eu não tenho domínio sobre aquela criatura rebelde. Ele nem se impressiona com o fato de eu ser um pastor! Quando eu passo perto dele, ele grita e balança as asas. Eu não tenho nenhum controle sobre ele, da mesma forma que não tenho controle sobre o clima. Mas Adão tinha perfeito controle sobre a criação.
Existem outros movimentos que desejam colocar a igreja no livro de Apocalipse, entre os capítulos 4 e 18, quando a ira de Deus é derramada dos céus sobre o mundo. Se fosse esse o caso, eu deveria estar preparando um abrigo subterrâneo para mim e para minha família com um grande estoque de alimentos para resistir o período da tribulação.
Existem movimentos que colocam as experiências do livro de Atos dentro da vida da igreja. Daí, vivem frustrados por não conseguirem experimentar o poder dos apóstolos e da igreja primitiva.
Três Princípios Básicos
de Interpretação Bíblica
Precisamos ter um entendimento de alguns princípios básicos de interpretação bíblica. Sem eles, seremos como um barco a remo num mar tempestuoso e sem nenhum leme ou remo, lançados ao redor por todo o vento de doutrina.
- O primeiro princípio é que devemos seguir os ensinos dos apóstolos e não ensinar as experiências dos apóstolos.
Talvez você esteja pensando: “Ah, mas você diz isso porque não crê em operadores de milagres e nos que falam línguas.”
Bom, vamos dar uma olhada na lista de alguns sinais e experiências dos apóstolos. O Evangelho de Marcos nos fornece essa lista no capítulo 16, verso 20, ao se referir à comunidade apostólica.
E eles, tendo partido, pregaram em toda parte, cooperando com eles o Senhor e confirmando a palavra por meio de sinais, que se seguiam.
Volte para os versos 17b e 18:
...em meu nome, expelirão demônios; falarão novas línguas; pegarão em serpentes; e, se alguma coisa mortífera beberem, não lhes fará mal; se impuserem as mãos sobre enfermos, eles ficarão curados.
Esses versos incluem cinco sinais, dons ou maravilhas usadas durante o período de transição para confirmar a mensagem pregada pelos apóstolos. Não podemos escolher alguns desses; ou estão todos em operação hoje, ou nenhum deles é mais ativo. Eles foram sinais confirmatórios do passado.
- O segundo princípio é que na ausência da palavra escrita de Deus, sinais sobrenaturais confirmaram a mensagem de Deus.
Hebreus 2, versos 3 e 4, diz:
Como escaparemos nós, se negligenciarmos tão grande salvação? A qual, tendo sido anunciada inicialmente pelo Senhor, foi-nos depois confirmada pelos que a ouviram; dando Deus testemunho juntamente com eles, por sinais, prodígios e vários milagres e por distribuições do Espírito Santo, segundo a sua vontade.
Eu creio que os cinco sinais e milagres listados em Marcos 16, versos 17 e 18 estão entre aqueles aos quais Hebreus 2 se refere.
Será que isso significa que Deus não cura as pessoas milagrosamente hoje? Não, ele ainda cura. Isso significa que Deus não liberta mais as pessoas da prisão demoníaca do inferno no momento da salvação? Não, ele ainda liberta.
É interessante como podemos entender por meio de passagens posteriores que até mesmo os apóstolos mudaram o uso de sinais e maravilhas. Por exemplo, Paulo continuamente curou em seu ministério. Na verdade, Atos 19.11 nos diz que aventais usados por Paulo podiam curar pessoas. Contudo, mais tarde em ministério, Paulo oferece conselho médico a Timóteo que estava doente (1 Timóteo 5.23). Por que Paulo não tocou nele simplesmente e o curou? Outro companheiro de Paulo, Epafrodito, quase morreu doente (Filipenses 2). Por que Paulo não deu para ele o seu avental? No último livro que Paulo escreveu, ele diz: Quanto a Trófimo, deixei-o doente em Mileto (2 Timóteo 4.20).
- O terceiro princípio é que, quando a Palavra de Deus escrita foi completada, o testemunho dos apóstolos por meio de milagres foi diminuindo.
Aplicar esses sinais e poderes milagrosos (a cura, por exemplo) como parte permanente dos ministério dos apóstolos é inconsistente com o relato bíblico. E, com certeza, não pode ser aplicado à comunidade carismática também.
Alguns anos atrás, os pentecostais realizaram um conferência em Jerusalém para comemorar o “contínuo milagre do Pentecostes.” O irônico foi que todos os representantes tiveram que usar intérpretes e fones de ouvido a fim de entenderem em seu próprio idioma o que era falado, exatamente o contrário daquilo que aconteceu no primeiro e último Pentecostes de Atos 2.
Quero ainda ir um pouco mais além. Aplicar as experiências dos apóstolos a todos os crentes é não somente impossível mas também perigoso. Por quê? Uma criança morreu ano passado porque os pais se recusaram a receber ajuda médica. Ao invés disso, descansaram somente na sua oração de fé para a cura. Dois anos atrás, li sobre os líderes de uma igreja que morreram envenenados depois de mexerem com serpentes em seus cultos. Existem relatos até mesmo de pessoas que morreram porque beberam veneno para tentar provar o seu batismo no Espírito Santo e seu poder.
Para esses, concedo até o reconhecimento da consistência desconhecida de muitos no meio carismático; muitos selecionam alguns sinais e milagres para hoje, enquanto deixam os sinais mais dramáticos de lado.
Quatro Ocorrências do Batismo
no Espírito Santo
Vamos lidar, agora, com a questão dos capítulos 8, 10 e 19 de Atos. Esses capítulos incluem três ocorrências do Espírito Santo entrando em cena com a imposição de mãos dos apóstolos. Existem quatro passagens, incluindo Atos 2, que se referem ao derramamento ou manifestação do Espírito Santo no livro de Atos.
Primeiramente, precisamos entender que cada uma dessas ocorrências é diferente. Na verdade, o motivo por que existe tanta divisão até mesmo dentro do movimento carismático ou pentecostal a respeito da fórmula do poder do Espírito Santo é que Atos não fornece nenhuma fórmula.
Pentecostes (Atos 2.1-4)
- A primeira manifestação do Espírito Santo foi no dia de Pentecostes, como vemos em Atos 2.1–4.
Dê uma olhada nesses versos:
Ao cumprir-se o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar; de repente, veio do céu um som, como de um vento impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam assentados. E apareceram, distribuídas entre eles, línguas, como de fogo, e pousou uma sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e passaram a falar em outras línguas, segundo o Espírito lhes concedia que falassem.
Pule para o verso 38:
Respondeu-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo.
A ordem dos eventos inclui: pregação em línguas pelos apóstolos, arrependimento, batismo nas águas e o recebimento do Espírito Santo.
Samaria (Atos 8.14-17)
- O segundo derramamento do Espírito Santo está registrado em Atos 8.14–17.
Abra sua Bíblia nessa passagem e acompanhe comigo a leitura:
Ouvindo os apóstolos, que estavam em Jerusalém, que Samaria recebera a palavra de Deus, enviaram-lhe Pedro e João; os quais, descendo para lá, oraram por eles para que recebessem o Espírito Santo; porquanto não havia ainda descido sobre nenhum deles, mas somente haviam sido batizados em o nome do Senhor Jesus. Então, lhes impunham as mãos, e recebiam estes o Espírito Santo.
A ordem dos eventos inclui: pregação, arrependimento, batismo nas águas, oração pelos apóstolos, imposição de mãos e recebimento do Espírito Santo. Não houve o falar em línguas; houve batismo nas águas e houve até uma demora para a descida do Espírito Santo após a conversão até que Pedro e João chegassem.
Cesaréia (Atos 10.44-48)
- A terceira manifestação do Espírito Santo ocorre em Atos 10.44–48.
Veja esse texto comigo:
Ainda Pedro falava estas coisas quando caiu o Espírito Santo sobre todos os que ouviam a palavra. E os fiéis que eram da circuncisão, que vieram com Pedro, admiraram-se, porque também sobre os gentios foi derramado o dom do Espírito Santo; pois os ouviam falando em línguas e engrandecendo a Deus. Então, perguntou Pedro: Porventura, pode alguém recusar a água, para que não sejam batizados estes que, assim como nós, receberam o Espírito Santo? E ordenou que fossem batizados em nome de Jesus Cristo. Então, lhe pediram que permanecesse com eles por alguns dias.
A ordem dos eventos inclui: pregação, recebimento do Espírito Santo, falar em línguas e batismo nas águas. Não houve nenhuma imposição de mãos, nenhuma espera, nenhuma oração para receberem o Espírito Santo e nenhum batismo nas águas após as línguas.
Éfeso (Atos 19.1-6)
- O quarto derramamento do Espírito Santo é encontrado em Atos 19.1–6.
Vamos ler essa passagem:
Aconteceu que, estando Apolo em Corinto, Paulo, tendo passado pelas regiões mais altas, chegou a Éfeso e, achando ali alguns discípulos, perguntou-lhes: Recebestes, porventura, o Espírito Santo quando crestes? Ao que lhe responderam: Pelo contrário, nem mesmo ouvimos que existe o Espírito Santo. Então, Paulo perguntou: Em que, pois, fostes batizados? Responderam: No batismo de João. Disse-lhes Paulo: João realizou batismo de arrependimento, dizendo ao povo que cresse naquele que vinha depois dele, a saber, em Jesus. Eles, tendo ouvido isto, foram batizados em o nome do Senhor Jesus. E, impondo-lhes Paulo as mãos, veio sobre eles o Espírito Santo; e tanto falavam em línguas como profetizavam.
A ordem dos eventos inclui: pregação, arrependimento, batismo nas águas, batismo no Espírito Santo, o falar em línguas e profecia. Não houve nenhuma influência de Pedro e João; não houve nenhuma demora do Espírito Santo esperando pela imposição de mãos de Paulo; e as línguas vieram depois do batismo no Espírito Santo.
Dizer que Atos fornece um modelo para o crente é criar profunda confusão. Deixe-me levantar algumas perguntas sinceras que surgem quando analisamos essas passagens.
- Precisamos da imposição de mãos?
- Batizamos os novos convertidos primeiro em água e dizemos para eles que serão batizados no Espírito depois?
- Devemos esperar que os novos convertidos sejam batizados no Espírito para, depois, batizá-los nas águas?
- Devemos esperar que o novo convertido que foi batizado pelo Espírito fale em outras línguas ou não?
- Devemos esperar que o novo convertido que foi batizado pelo Espírito profetize e fale em línguas?
- E se o novo convertido batizado pelo Espírito profetizar mas não falar em línguas, será que o batismo foi genuíno?
- Será que outras pessoas devem orar pelo batismo no Espírito Santo ou deveriam simplesmente seguir a pregação e o arrependimento?
A razão para tanta confusão é que o livro de Atos não foi projetado para servir de modelo contínuo para nós. Essas foram experiências únicas durante o período de transição quando o povo de Deus foi transferido da Velha para a Nova Aliança, do sábado para o domingo, da lei para a graça, do sacrifício de animal para o sacrifício de Cristo, do Judaísmo para o Cristianismo.
O que as epístolas ensinam e explicam? Vou dar vários exemplos:
- arrependimento e conversão;
- batismo simultâneo por meio do Espírito para o corpo; e
- batismo nas águas, que identifica (não salva) o crente com Cristo.
Romanos 8.9 nos diz que é impossível ser salvo sem a obra do Espírito Santo. Olhe este verso:
Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se, de fato, o Espírito de Deus habita em vós. E, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele.
Três Ilustrações de Unidade Espiritual
Então, qual foi o motivo para a dependência nos apóstolos, a demora do Espírito Santo e a manifestação das línguas em pelo menos três ocasiões nos novos convertidos conforme narrado em Atos?
- Primeiro, as passagens que lemos revelam e ilustram a unidade da igreja nova por meio da autoridade apostólica.
Em:
- Atos 2, os doze apóstolos falam em línguas que nunca aprenderam;
- Atos 8, Pedro e João presidem sobre o avivamento samaritano;
- Atos 10, Pedro preside sobre o batismo espiritual do primeiro gentio;
- Atos 19, Paulo é visto com igual autoridade quando preside sobre o batismo espiritual em Éfeso.
Os apóstolos conferiram o Espírito em conversões de judeus, samaritanos e gentios. Isso nos revela a unidade desse novo organismo chamado de igreja.
- Segundo, a autoridade de Paulo (Atos 19) é vista como igual à de Pedro (Atos 10).
As palavras de Paulo à igreja foram confirmadas pelo seu poder e autoridade da mesma maneira que as de Pedro. Aqueles que buscam o posterior batismo do Espírito como um ato de emoção, ou buscam o dom de línguas e alegam que Atos capítulos 10 e 19 são experiências para o crente hoje, têm negligenciado o fato de que não existe nenhum apóstolo morando em Jerusalém que pode fazer isso por eles.
Nós temos unidade na igreja hoje por meio de nossa confissão e crença nos ensinos dos apóstolos que se encontram no Novo Testamento. Temos as cartas inspiradas dos apóstolos, enquanto a igreja antiga tinha os apóstolos vivos. A unidade vem da nossa aderência, obediência e compromisso à escritura infalível.
- Terceiro, o sinal do dom de línguas foi manifesto por ambos judeus (Atos 2) e gentios (Atos 10, 19).
Não devemos considerar estes três acontecimentos como Pentecostes adicionais. O Espírito não desceu para depois subir, para depois descer para Samaria, depois para Cesareia e finalmente para Éfeso. O Espírito desceu uma vez só no dia de Pentecostes. O Pentecostes foi um evento histórico que nunca se repetiu, assim como Cristo foi crucificado uma vez por todas. Cristo não é crucificado todas as vezes que alguém coloca sua fé nele. Assim também o Espírito não desce cada vez que alguém confia em Cristo. O Espírito Santo desceu uma vez. Na verdade:
- O Espírito Santo veio em Atos 2 para o judeu;
- o Espírito Santo entrou em cena em Atos 8 para a raça mista de judeus e gentios (os samaritanos); e
- o Espírito Santo veio em Atos 10 e 19 para o gentio puro.
Esses eventos em Atos mostraram que a igreja não era nem dos judeus nem dos gentios.
O Ministério do Espírito no Presente
Então o que faz o Espírito Santo para nós hoje? Aproximadamente trinta e cinco ministérios diferentes têm sido identificados como obra do Espírito Santo no Novo Testamento. Eu vou mostrar seis deles hoje, cada um com uma referência para você estudar.
As primeiras duas coisas que o Espírito faz precisam ser contrastadas a fim de serem entendidas. O movimento Carismático, da Terceira Onda e Vineyard têm consistentemente confundido o batismo do Espírito com o enchimento ou plenitude do Espírito. O que você crê sobre essas duas atividades tem muitas implicações. Temos aqui um diagrama para mostrar as diferenças:
Batismo do Espírito |
Controle/Plenitude do Espírito |
Um ato passado 1 Coríntios 12:13: “Pois, em um só Espírito, todos nós fomos batizados em um corpo, quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres. E a todos nós foi dado beber de um só Espírito.” (Isso é um fato, não um sentimento.) |
Uma experiência presente e contínua Efésios 5:18: “E não vos embriagueis com vinho (sob sua influência), no qual há dissolução, mas enchei-vos do Espírito (sob influência dele)” |
Imersão no corpo de Cristo Romanos 6:4: “Fomos, pois, sepultados com ele na morte pelo batismo; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também andemos nós em novidade de vida.” |
Cooperação com a vontade de Cristo 1 Coríntios 6:19–20: “Acaso, não sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo, que está em vós, o qual tendes da parte de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por preço. Agora, pois, glorificai a Deus no vosso corpo.” |
O fruto do batismo:
I João 2:20, 27—unção I Coríntios 2:14—instrução Efésios 1:13—selo I Coríntios 3:16—habitação |
O fruto da plenitude: Gálatas 5:22–23: “amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio.” |
Dois Outros Batismos no Novo Testamento
O Novo Testamento fala ainda sobre dois outros batismos.
- O batismo do pecado em Cristo no Calvário.
Observe em Lucas, capítulo 12, verso 50, quando Jesus, se referindo à cruz, diz:
Tenho, porém, um batismo com o qual hei de ser batizado; e quanto me angustio até que o mesmo se realize!
- Segundo, temos o batismo da ira de Deus nos descrentes.
João Batista disse que Jesus batizaria com o Espírito Santo e com fogo. Veja Mateus, capítulo 3, versos 11 e 12, que claramente nos explica sobre esse batismo. Comece no verso 11:
Eu vos batizo com água, para arrependimento; mas aquele que vem depois de mim é mais poderoso do que eu, cujas sandálias não sou digno de levar. Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo.
O movimento carismático aplica o primeiro batismo literalmente e o segundo metaforicamente. Eu creio que ambos devem ser entendidos literalmente.
Mateus responde qualquer pergunta sobre esse segundo batismo, o batismo com fogo, que não é relacionado às línguas de fogo de Pentecostes, mas a um fogo que nunca se acaba—o fogo eterno do inferno. Na verdade, você só precisa ler a próxima frase, no verso 12, para chegar à interpretação correta:
A sua pá, ele a tem na mão e limpará completamente a sua eira; recolherá o seu trigo no celeiro, mas queimará a palha em fogo inextinguível.
Está bem claro, não é?
Vamos para o livro de Apocalipse. Capítulo 20, versos 14 e 15, nos mostra o terror futuro daquele lugar de batismo:
Então, a morte e o inferno foram lançados para dentro do lago de fogo. Esta é a segunda morte, o lago de fogo. E, se alguém não foi achado inscrito no Livro da Vida, esse foi lançado para dentro do lago de fogo.
Meu amigo, Jesus Cristo prometeu que batizaria com o Espírito Santo; isso acontece com todo aquele que crê no seu nome. Ele também tem prometido um batismo vindouro com fogo, que é julgamento para aqueles que o rejeitam.
Então, todos os que estão lendo este material são divididos em dois grupos:
- aqueles que foram batizados com o Espírito Santo; e
- aqueles que serão batizados com fogo eterno.
Em que grupo você está?
Este manuscrito pertence a Stephen Davey, pregado no dia 09/02/1997
© Copyright 1997 Stephen Davey
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